Fanfic: Até lhe conhecer. | Tema: Original

Cheguei em casa cedo. Minha mãe já tinha ido trabalhar, eu morava só com ela, meu pai, Carlos, morava na nossa antiga cidade. Eles se separaram anos após o meu nascimento.
Beatriz ainda não tinha chegado, então aproveitei o tempo sozinha. Coloquei os fones de ouvido no último volume e fiz as unhas da mão, as pintei de preto cuidadosamente. Depois de esperar elas secarem completamente, fiz minhas tarefas de casa. Até que o celular no meu bolso tocou.

- Ei. – A voz agora conhecida me saudou.

-Suisi? Como sabe meu número? – Perguntei confusa.

- Na aula, você deixou cair sua agenda. – Explicou. – Meus pais não estão em casa, eles só chegam à noite, quer passar a tarde aqui? Não quero ficar sozinha... – Susi acrescentou em tom triste.

Chequei minhas opções. Passar a tarde, como sempre, com Beatriz reclamando de sua vida ou passar a tarde com uma estranha que pelo menos tinha minha idade.

-Chego ai em 20 minutos.

-Estou esperando. – Disse Susi animada.

Desliguei e fui tomar um banho, vesti um jeans escuro e blusa lilás com decote em V bem justa. Escrevi um simples bilhete para Beatriz que dizia:

Estou na casa de uma colega. Se minha mãe ligar avise a ela. Qualquer coisa tô com meu celular.

Peguei o primeiro ônibus para o bairro de Susi. Lembrando que não havia comido nada além de uma maçã senti meu estômago me corroendo por dentro. Agradeci por ter pego algum dinheiro, chamaria Susi para um lanche. Liguei para ela.

- Vai me deixar na porta? – Falei rindo.

-Estou descendo. – Disse empolgada.

Dois minutos depois estávamos subindo as escadas rumo ao apartamento de Susi. Ele era simples, mas perfeitamente decorado. Mostrando bom gosto total dos pais dela. A sala tinha dois sofás de estofado cinza, um de dois e um de três lugares. Sob a mesa de centro se encontravam rosas vermelhas em um vaso que me pareceu muito caro, cortinas brancas e TV de tela enorme e plana junto com outros vários aparelhos eletrônicos.

- Uau. – Comecei. – Você não disse que era rica. – Ri.

- Eu não sou, Baby. Minha mãe é perfeccionista. Nariz empinado. Odeio isso. – Ela disse fazendo cara de nojo e rindo depois.

-Ok. Entendi.

- Vem.

Segui Susi por um corredor decorado com quadros. Chegamos a uma porta com placas de ‘Não entre’ e ‘Não perturbe’, típico , pensei. Susi não gostava do jeito esnobe da sua mãe, provavelmente revidava sendo rebelde.

-Eu realmente estou morrendo de fome, vamos sair para comer algo? – Convidei Susi enquanto me acomodava em um pufe roxo e a via ligar o som. Um rock alto começou a tocar.

- Ah. Espere ai, eu já tinha feito o pedido do nosso almoço numa lanchonete aqui perto. Hambúrguer com fritas?

- Com a fome que estou qualquer coisa seria maravilhoso! – Falei gargalhando.

- Me espera aqui. Eu já volto.

- Quer que eu vá com você?

- Não, não precisa! Você é minha convidada!

- Tá bom, tá bom! – Levantei as mãos e assenti brincando.

Vi Susi sair pela porta e olhei seu quarto. Diferente do meu, as paredes decoradas com várias fotos, posters de bandas de rock, tudo decorado nos tons de preto e roxo.
Meus olhos pararam na porta quando os olhos dele prenderam os meus. Meu coração saltou descontroladamente.

- Que...Quem é você? – Gaguejei assustada. Susi disse que estaria sozinha então, quem seria ele?

- Calma. – Disse com a voz paciente e entrando no quarto. – Sou irmão da Susi.

- Ela me disse que estaria sozinha, eu não sabia que ela tinha irmãos, a conheci hoje.

Percebi tarde demais que estava nervosa. Minhas mãos suavam, meu coração estava acelerado.

- Fique calma. – Ele disse novamente dessa vez rindo.

E que sorriso. Passava do brincalhão para o sedutor. Seu corpo era definido, ele usava uma calça jeans que pendia bem abaixo da cintura, estava sem camisa o que me deixava bem mais nervosa, pois seu abdômen era perfeitamente definido, o cabelo era negro como o céu à noite. Seus olhos eram azuis, claríssimos. Ele exalava um cheiro doce, mas não enjoativo.

- Eu sou o Tyler. – Disse estendendo sua mão para que eu apertasse.

- Lucinda. – Falei e não compreendi o porquê de falar meu nome não o apelido.

- Lucinda – repetiu ele. – Nome bonito, dona bonita. – Falou enquanto me observava de cima a baixo parando ao olhar o decote da minha blusa. Ótimo, pensei, ele estava gozando com a minha cara.

-Ei. – Susi apareceu na porta. – Estou atrapalhando vocês, pombinhos? – Ela disse caindo na gargalhada.

- Não. – Respondemos eu e Tyler. Em coro.

- Ok. Venha querida, vamos comer.

- E eu? – Perguntou Tyler fazendo cara de cachorro abandonado.

- Se vira! – Gritou Susi enquanto me arrastava quarto a fora.

O lanche estava maravilhoso. Eu e Susi passamos a tarde toda conversando, descobrindo muitas coisas em comum, abrindo caminho a uma amizade. E eu não sei por que motivo eu abri guarda, dando passagem para Susi conhecer minha vida, até certo ponto, claro. As coisas às vezes são como têm de ser. Eu voltei em casa para me arrumar e agora estávamos indo para a praia.

- Nossa! – Exclamou Susi. – Como é lindo.

E realmente era. Lanternas japonesas enfeitavam a areia, grupos de pessoas riam e alguns ainda brincavam na água mesmo após o entardecer. Eu vestia um short jeans desfiado na barra, regata preta e um cinto de tachinhas. Susi estava usando um vestido preto super justo, afinal, ela podia, era magra e bonita.

- Boa noite moças! – Eu e Susi levantamos os olhos para encontrar a voz que nos cumprimentava. Era um garoto que aparentava uns 19 anos. A barba por fazer dava esse ar de mais velho, tinha olhos escuros e sorriso perfeito. Seu cabelo era cor de mel e as pontas iam a todas as direções.

- Boa noite. – Respondeu Susi com um sorriso malicioso. Enquanto eu permanecia quieta.

- Sou o Eduardo, Edu.

- Susi. – Ela disse e me cutucou para que eu falasse o meu nome, como não respondi ela o fez. – E está é Lucy. – Sorri envergonhada.

- Eu e meu amigo – Disse apontando para o garoto que estava sentado na areia afastado dos outros. – Estamos procurando companhia. – Riu.

- Eu e Lucy também! – Ela disse agarrando meu braço. – Então o que vamos fazer? – Ela perguntou enquanto eu me esforçava para fazer a cara mais brava que conseguisse.

- Que tal umas bebidas, uns lanches, em baixo do cais?

Eu sabia que não era boa ideia. Talvez Eduardo e seu amigo tivessem idade para beber, mas eu e Susi não tínhamos. Não que isso importasse para ela.

- Susi – Comecei – Não estou me sentindo bem. Vamos comigo numa farmácia? – Menti.

- Ah, você vai melhorar! - Disse sem se importar. Sem escolha a segui junto a Eduardo para o cais.

Eduardo tinha 18 anos, seu amigo se chamava Pablo e tinha 17. Ambos eram altos, estavam cursando faculdade de administração, pelo visto obrigados pelos pais. Eram de famílias tradicionais, mas não eram metidos. Pablo até era bonitinho. Olhos verdes, cabelos castanhos, compridos, na altura das orelhas. Mas, não era bom de papo e mesmo assim eu não me interessaria por ele nem por cara algum.
Susi e Eduardo se deram bem, estavam ambos meio bêbados e se agarrando. Pablo adormecera num canto e eu decidi que não ia segurar vela. Levantei e segui o caminho para a escada do cais. Subi e caminhei até seu final. Olhei para o céu. A lua era cheia, e várias estrelas enfeitavam o céu de Vale dos Anjos.

- Onde eu morava quase não via as estrelas. – Falou uma voz vinda de trás de mim. Olhei pra trás e meus olhos se prenderam aos de Tyler.

- Você me assustou de novo. – Consegui falar, sentia meu sangue pulsando em minhas veias.

- Desculpa. – Disse com sua voz grave e paciente.

- Está procurando sua irmã? –Perguntei casualmente.

- Não estou procurando ninguém. – Respondeu e senti uma ponta de alegria e desapontamento ao mesmo tempo. Alegria por ele não ter alguém importante para encontrar. Desapontamento, pois no fundo e sem nenhuma explicação convicta eu queria que Tyler estivesse me procurando.

- Ah. – Falei e virei as costas para ele, nervosa.

- E você? Está procurando alguém?

- Não. – Respondi rapidamente.

- Sozinhos então. – Ele disse olhando o céu.

- Sozinhos. – Eu disse fazendo o mesmo.