Fanfic: Até lhe conhecer. | Tema: Original

Depois de reencontrar Susi naquela noite, voltei para casa e dormi exausta. O resto da semana passou calmamente. Eu e Susi saímos algumas vezes, estudamos juntas, mas não voltei a casa dela e não voltei a ver nem o Eduardo nem o Pablo. E, infelizmente, também não vi o Tyler.

Na manhã de sábado acordei especialmente animada. Minha mãe, que havia me ignorado a semana inteira por eu não passar muito tempo em casa, tinha ido viajar na sexta. Ela fora visitar a família na nossa antiga cidade. Mamãe sabia que não adiantaria me perguntar se eu gostaria de ir, pois a resposta certamente seria não. Isso significava que eu teria o final de semana inteiro sozinha. Não totalmente sozinha. Beatriz passaria no sábado a tarde para ver como eu estava e organizar algumas coisas na casa.
Aproveitei a manhã sozinha para resolver os exercícios de Matemática. No almoço comi lasanha requentada que minha mãe havia deixado na geladeira. Enquanto eu lavava as louças Beatriz apareceu à porta.

- Olá. – Disse sorrindo.

- Oi. – Falei acenando.

- Tem muito trabalho para mim aqui hoje? – Perguntou Beatriz em tom cansado. Ela beirava os 60 anos, mas podia limpar uma casa em menos de uma hora.

- Acho que não! – Respondi sorrindo – Mamãe deixou tudo em ordem antes de viajar.

Bem talvez mamãe só tivesse enchido a geladeira e deixado limpa a cozinha, mas eu queria que Beatriz fosse embora. Queria ficar sozinha. Queria realmente que a noite chegasse e só.

- Bom – Começou Beatriz – Vou dar uma olhada na casa, ver se tem roupa suja ou outra coisa. – Terminou e saiu andando pela casa.

-Ok.

Assim que Beatriz subiu as escadas para o segundo andar, liguei para Susi.

- Acho que vou me atrasar.

- Por quê? Ah espere um pouco! Tyler! – Gritou – Saia do meu quarto! Agora! Pronto querida, fale.

- Beatriz está aqui em casa, ela está inspecionando cada canto de cada cômodo.

- Relaxe. Ainda está cedo.

- Se eu estou dizendo que vou me atrasar é porque conheço Beatriz. Ela vai ficar aqui quanto tempo puder! Tenho que desligar, ela está me chamando.

- Vá lá! E dê um jeito de se livrar dela! – Susi falou caindo na gargalhada.

Depois de desligar o celular e guardar no bolso traseiro do short subi as escadas de dois em dois degraus. Encontrei Beatriz com um cesto de roupas, provavelmente sujas, nas mãos.

- Tudo em ordem não é? – Falou ironicamente.

- Eu não sabia dessas roupas. – Eu disse rindo, pedindo mentalmente para que ela só tivesse encontrado aquilo de errado.

- Tudo bem, vou levar para lavanderia e vou embora de lá.

Comemorei internamente por isso. Logo estaria livre para sair com Susi.

As 6 em ponto fiquei feliz de subir para meu quarto. As horas naquele sábado, depois que Beatriz fora embora se arrastaram terrivelmente, talvez por eu estar tão animada com a noite, em especial com a festa em que iria. Onde eu morava, eu frequentemente saia com meus amigos, claro, antes do que aconteceu. Mas ao conhecer Susi minha vida começou a mudar. A cada dia nossa relação parecia se tornar mais forte, a cada risada a cada conversa, a cada confissão de amigas...
 Escolhi uma blusa preta com detalhes em strass prata, um jeans claro e sapatilhas. Graças aos céus não tive problemas em definir as ondas do meu cabelo e os deixei solto.

Quando acabava de passar um batom rosa claro, ouvi um barulho de buzina.

- Anda logo Lucy! - reconheci a voz de Susi.

Desci as escadas de dois em dois degraus e quando dei por mim estava no banco traseiro ao lado de Susi.
- Que carro é esse? - Disse, mas logo reconheci quem estava atrás do volante.

- Oi, Lucy. - Eduardo falou.

- Olá. - Dei um olhar a Susi que significava: O que é isso? E ela deu de ombros.

- Precisávamos de carona. - Susi falou debochando.

Percebi logo depois que Pablo estava no banco ao lado do motorista. Por fim acabei concordando.
A quadras da casa de Rebeca, a anfitriã, já se ouvia o som alto. Chegando lá vi que a luz era pouquíssima, só reflexos coloridos refletiam nas paredes, as pessoas dançavam animadamente em uma sala que não era tão grande assim.

Susi e eu nos esprememos entre os corpos para chegar ao quintal atrás da casa, Eduardo e Pablo se movendo atrás de nós.
A casa estava uma bagunça, o chão molhado com líquidos não identificados, mas o cheiro de álcool era forte.

- Então Edu, vamos dar uma volta? - A voz de Susi soou animada e pelo sorriso de Eduardo, acreditei que ele ficara animado com a proposta.

Assim que eles saíram, se instalou um silencio mórbido. Silêncio em relação a mim e a Pablo, que não falávamos absolutamente nada. Sem me importar, sai dali e fui procurar algo para beber. Por sorte consegui um refrigerante. Sentei-me num canto, tinha perdido Susi, Eduardo e Pablo de vista. Sozinha ali, involuntariamente (ou não) meus pensamentos vagaram até Tyler. O que ele estaria fazendo? E aonde? Ao olhar em volta tive minha pergunta respondida. Tyler estava encostado na parede da varanda. Os olhos indecifráveis. Vestia um jeans desbotado e uma camisa azul com listras brancas. Até então ele não havia percebido minha presença, mas depois que eu derrubei a lata de refrigerante, toda atrapalhada feito uma idiota, seus olhos pousaram em mim. Um sorriso malicioso brotou em seus lábios. Ele veio. A cada passo dele, uma batida descompassada do meu coração. Tentei reprimir isso, mas era mais forte que eu. Eu havia passado pouco tempo com Tyler, mas desde nosso primeiro encontro, eu mudei.
Eu tentava, tentava demais, manter aquele rosto longe de meus pensamentos, mas parecia algo impossível. Não entendia o que estava acontecendo comigo. Tyler, com toda certeza, exercia algum poder sobre mim.

- Lucy? – Sua voz calma, um sorriso malicioso se formando em seus lábios. Ele estava diferente essa noite. Me perguntei se ele havia bebido, mas desconsiderei essa hipótese. Percebi tarde demais que ficara hipnotizada pelos olhos dele. Ele esperava minha resposta.

- Oi. – Disse.

- Onde está Susi? – Fiquei desapontada. Ele só queria saber da irmã.

- Vá procurá-la se quiser falar com ela. – Soltei, indiferente.

- Na verdade, queria falar com você. Mas queria que estivéssemos a sós por isso perguntei sobre Susi.

Pela primeira vez desde que conheci Tyler, vi uma ponta de tristeza lampejar por seus olhos, mas durou pouco.

- Desculpe. – Foi o que consegui dizer enquanto fitava o chão.

- Tudo bem, vi que não está interessada. – Ele falou e virou as costas, foi se afastando, caminhando rápido demais.

O que fiz quando o vi indo, foi algo que não consegui evitar. Levantei-me e sai correndo atrás dele. Só parei quando, sem entender como, cai batendo a cabeça com força no chão. Desmaiei.