Fanfic: Até lhe conhecer. | Tema: Original

Não faço ideia de quanto tempo fiquei desacordada. Talvez fosse pouco. Quando finalmente consegui abrir os olhos devagar, a primeira coisa que vislumbrei foram outros olhos. Olhos preocupados, olhos lindos, olhos de anjo... 

- Lucy. - Sussurrou o dono daqueles olhos. 

- Sim. - Eu não tinha certeza se minha voz soara nítida. Na verdade, nem sei se ela soara. Não sabia se ele podia me ouvir. Mas por um milagre, ele ouviu. 

- Você está bem? - Ao ouvir aquela pergunta, comecei a observar as coisas ao meu redor. Eu estava num carro, no banco traseiro, os vidros fechados, de modo que eu não via se era noite ou se já era de manha, o clima era frio, minha cabeça apoiada no colo de alguém. Eu pulei. 

- Onde estou? Que horas são? Por quanto tempo eu fiquei desmaiada? Ai! - Eu falei rapidamente e então senti uma dor forte na cabeça. Fiquei tonta. 

- Lucinda fique calma. - Olhei fixamente para ele. 

- Está doendo muito? - Ele continuou tocando de leve meu cabelo. 

- Não. Eu só fiquei tonta... Responda minhas perguntas, por favor. – Pedi. 

- Você só apagou por uns 15 minutos e eu te tirei da festa. Estamos perto da minha casa. 
Eu fiquei sentada enquanto várias outras perguntas surgiam. 

- Tyler - Chamei. 

- Sim. 

- Estou com frio... - Falei baixinho. 

- Shhh, vamos para minha casa. 

Ele afivelou meu sinto e foi para o banco do motorista. Em alguns minutos chegamos. Não era o apartamento da família dele, no qual eu fora umas três vezes ver Susi. Este era menor, não era mobilhado, a não ser por um sofá antigo e uma TV. As paredes eram azuis, várias caixas estavam espalhadas nos cantos. 

- Onde estamos? - Perguntei. Minha voz alarmada. 

- Meu apartamento. - Tyler me disse com um sorriso torto. - Euestou me mudando. 
- Ah. E por que me trouxe para cá? - Era uma pergunta que eu não podia deixar de fazer obviamente, eu me lembrava de ter batido a cabeça, mas não achava que o estrago tivesse sido tão grande que me fizesse esquecer o que sempre tive em mente. Nada de garotos. Nada de namorado. Nada de me apaixonar. 

- Lucy, você está cansada, com dor e frio. Deixa-me cuidar de você? Aqui é melhor, sem Susi para nos atrapalhar. 

Senti um aperto no estômago ao ouvir a parte final de sua frase. "sem Susi para nos atrapalhar" repeti mentalmente. O que ele pretendia fazer? 

- O que você vai fazer comigo? - Tentei manter a voz calma, mas, a essa altura, já estava assustada demais. 
- Eu já disse, quero cuidar de você. - A voz de Tyler era sincera. Cambaleei até o sofá e me sentei, minha mão na cabeça. 

- Eu já volto. - Disse saindo para outro cômodo. Fechei meus olhos e tentei espantar o medo. A última vez que fiquei sozinha com um garoto, as coisas acabaram péssimas. Nem percebi que Tyler voltara. Trazia um copo d`água uns comprimidos e uma manta xadrez de tons vermelho, roxo e azul. 
Ele me cobriu cuidadosamente com a manta, sem me tocar muito, entregou os comprimidos e disse: 

- Vão diminuir a dor, beba. - Ordenou e me deu o copo. - Você não quer ir a um hospital? 

- Não. 
Ir ao hospital poderia envolver gente demais. Inclusive minha mãe. Eu não queria isso. Coloquei a mão onde doía, um galo havia se formado. Droga, pensei. Engoli os comprimidos e entreguei o copo a Tyler, que me olhava de pé ao lado do sofá. Os olhos ainda preocupados. Ele saiu em silêncio. Voltou com um colchão e dois travesseiros. Colocou os travesseiros no braço do sofá, estendeu o colchão no chão, forrando um lençol branco sobre ele, jogou um dos travesseiros ali. 
- Você precisa descansar. - Ele me falou. Os olhos derretidos em preocupação de novo. 

- Vou fazer isso em casa! - Protestei, mas, ao levantar, fiquei tonta e senti meu corpo caindo. 
Tyler atravessou o espaço que nos separava em segundos e me apoiou contra ele. Fiquei mais tonta. O cheiro da pele dele era inebriante, o calor que emanava do seu corpo espantou meu frio e eu fiquei ali nos braços dele feito uma estátua. 

- Lucinda, tudo bem? Ele ergueu meu queixo para que eu olhasse em seus olhos, quando ele pronunciou meu nome eu estremeci. 

- Deixe-me sentar. – Pedi. A voz fraca. Me sentei novamente no sofá com a ajuda dele. Decidi que passar a noite ali (mesmo sendo perigoso) era minha única escolha.

Puxei a manta até meu pescoço, ouvi um trovão de repente, seguido pelo som da chuva. Uma tempestade. O destino realmente queria me prender ali. As luzes sob minha cabeça piscaram e então ficamos no escuro.

- Tyler. 
- Sussurrei. - Está ai? - Minha voz tinha uma ponta de medo. Medo de estar sozinha. Medo de Tyler ter me deixado ali. 
- Claro, sempre. Já volto. - Ele disse e saiu tropeçando em algumas caixas no caminho. Ri baixinho e Tyler voltou segurando uma vela. Ele a colocou apoiada num banco que também trouxera. Sentou-se ao meu lado. Apenas centímetros separavam nossas coxas. 

- Por que vai se mudar? - Perguntei casualmente, a dor já diminuía. 

- Privacidade e também por que não aguento mais a Susi de TPM. - Nós rimos. 
A chuva lá fora, ainda forte demais. Uma porta bateu em algum lugar e eu dei um pulo segurando sem pensar o braço de Tyler. Ele passou a me olhar. Mesmo a pouca luz, seu rosto era perfeito. As pontas dos meus dedos percorreram seu rosto. Receosa, parei e afastei minha mão dele. Ele a segurou no ar e levou de volta ao seu rosto. O silêncio permaneceu enquanto eu acariciava levemente o rosto de Tyler. Seus olhos estavam fechados, sua respiração acelerada. Tirei minha mão rápido demais. 

- Lucy. - Disse abrindo os olhos - É melhor você ir dormir. 

Fiquei magoada. Será que ele não gostou? Eu não disse mais nada. Depois que ele levantou e foi deitar-se no colchão, continuei sentada fitando o vazio. 
Passaram alguns minutos, ou talvez, uma hora e eu continuava ali. Eu tinha certeza de que ele não estava dormindo, duvidava que o fizesse antes de mim. Levantei-me enfim e segui até a janela. Precisava saber em que ponto da cidade eu estava. Da janela não consegui ver muito, ainda estava escuro. Só uma rua, deserta e uma grande árvore. 

- Deveria estar dormindo. - Tyler disse atrás de mim, sua voz me fazendo pular. 

- Não consigo. - Confessei. 

Então, ele pegou minha mão e levou até seu peito. Seu coração pulsando rapidamente sob a camisa. 

- Está vendo o que faz comigo? - Ele perguntou meio triste. 

- Não entendo. – Eu falei com um mau pressentimento de como isso acabaria. Tyler colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Seu rosto se aproximava devagar. Então eu o afastei. 
- Isso está totalmente errado. – Falei sacudindo a cabeça para os lados em negação. 
- O que é errado para você pode não ser para mim. – Ele disse. Seu sorriso sedutor fazendo meu coração saltar. 
-Eu não posso, sob nenhuma circunstância. Isso já aconteceu uma vez e eu sei perfeitamente como isso acaba. 
- Aconteceu, mas não foi comigo. 
Ele sabia, com certeza, ele sabia. Sabia cada palavra que devia usar para me ganhar. Eu quis mais do que qualquer coisa deixar aquilo acontecer. Seus olhos demonstravam confiança e estavam presos nos meus. Suas mãos prenderam as minhas. E eu não resisti. 
Nossos lábios se uniram úmidos e ansiosos. O beijo começou doce e a cada segundo que passava tornava-se exigente, minhas mãos estavam no pescoço dele, as suas em minha cintura. Ele apertou mais ainda meu corpo contra o dele. Ele me guiou até o sofá sem tirar a boca da minha. Meu coração batia rápido demais, em sincronia com o dele. Ele sentou, me endireitou em seu colo, parou o beijo e me olhou.

- Lucinda... Eu... Eu...

- Você...? – O incentivei.

- Eu acho melhor você descansar agora. – Tyler falou enquanto me tirava de seu colo e me colocava sentada no sofá. Infelizmente, dessa vez, tive de concordar. O analgésico que eu tomara começava a fazer efeito, o cansaço começava a tomar conta de mim. Tyler estava se levantando, peguei sua mão o puxando de volta.

- Fique do meu lado. – Pedi.

- Lucinda, não é uma boa ideia...

- Por favor... – Meus olhos imploravam.

Ele não respondeu, só sentou-se ao meu lado. Deu um último beijo em minha testa e me cobriu. Ainda chovia; Com o barulho da chuva, no escuro e exausta, deixei a cabeça cair no ombro de Tyler, adormeci.