Em um impulso, pegou o celular para ligar para Taylor. Precisava que a amiga lhe lembrasse de todas as desvantagens de se envolver com um Uckermann. Mas, pensando bem, onde a loira estava naquele exato momento senão em seu encontro com o cafajeste original?
Ainda cheia de dúvidas sobre ter falado demais, feito a coisa errada e estar perdendo a cabeça de vez, seus dedos acabaram por discar o número que ela sabia de cor, o da pessoa para quem ela sempre pode correr no meio da tempestade. Contudo, ela hesitou em apertar o botão para concluir a chamada. Conversar com Daniel tornaria tudo aquilo mais real. Acima de tudo, ela não queria que ele a repreendesse, que se decepcionasse com ela.
Havia muitos anos que ela apagara qualquer vestígio da paixão secreta que um dia sentira por seu melhor amigo. Também, pudera, com tudo o que aconteceu entre os dois, fora inevitável sufocar o sentimento. Agora restavam apenas histórias demais, dores demais e uma amizade mais forte e indestrutível do que qualquer coisa no mundo. Porque agora o amor entre os dois era de igual para igual, era o amor que sentiam por Laura que os unia.
Como sempre, pensar em sua menina fazia seu coração se contrair de saudades. Ao mesmo tempo, foi o impulso que faltava para fazê-la apertar o botão verde e aproximar o aparelho do rosto, ouvindo o chamado rítmico.
– Alô?
Dulce sorriu involuntariamente ao ouvir a voz dele.
– Ei, Dan. Tudo bom com você? Como está a mamãe?
– Boas notícias, Dul. Os médicos fizeram alguns exames e disseram que ela está estável e com uma boa atividade cerebral. Há esperança. Ela pode acordar a qualquer momento.
– Ah, Dan, essa é a melhor notícia que eu poderia pedir! – ela suspirou aliviada. – Muito obrigada por estar sendo tão prestativo.
– Está brincando? É o mínimo que eu poderia fazer por vocês, Dul... Mas e você, como está?
– Bem melhor, depois dessa notícia. – ela parou um momento, hesitando.
– Mas?
Dulce sorriu do outro lado da linha, mesmo sabendo que ele não poderia ver.
– Não sei bem, estou confusa, Dan. Muitas coisas acontecem por aqui, o Poncho está enfiado na casa da ex-mulher do meu patrão há dias, e... eu sinto tanto a sua falta! Sinto falta de te ver todos os dias, mesmo naqueles nossos uniformes ridículos do cinema. Sinto falta de te contar todos os detalhes dos meus dias e de ouvir os dos seus. Sinto falta de você me abraçando quando eu choro, me dizendo que tudo vai ficar bem. Sinto falta de continuar abraçada com você, mesmo depois de chorar, e de o seu silêncio compreensivo ser o maior acalento do planeta inteiro... Céus, Dan... – ela passou a mão no rosto, secando lágrimas que nem havia percebido que se formavam, então rindo. – Nem eu sabia que sentia tanto a sua falta.
– Eu também sinto a sua falta. – para a surpresa dela, a voz dele também tinha um tom embargado, com se resistisse às lágrimas. – Mais do que as palavras podem expressar. Você é tudo para mim, ruivinha. Sabe disso, não sabe?
Os dois ficaram em silêncio por um instante, daquela forma que apenas pessoas que se conhecem bem o suficiente conseguem fazer significar tanto.
– Dan?
– Sim?
– Acho que estou prestes a cometer um erro.
– O que foi? É o Poncho? Aliás, por que raios ele está na casa da ex do seu patrão?
Dulce riu brevemente, lembrando que soltara aquela informação.
– Estranhamente, acho que eles são um casal perfeito.
– E o seu patrão não se importa que o irmão da empregada dele esteja dormindo com a ex-mulher e mãe dos filhos dele?
– Não é como se Anahí fosse muito seletiva, de qualquer maneira... Mas eu também esperava que ele ficasse um pouco incomodado de perder a atenção e idolatria de uma de suas amantes, mas ele não parece dar a mínima para isso.
– Uau. Onde raios você foi se meter, hein?
– Pois é...
– E essa atmosfera de loucuras está começando a te envolver, não é?
– Talvez. Não sei, Dan, realmente não sei. Minha cabeça está totalmente bagunçada e não há ninguém em plena sanidade mental para me dar conselhos.
– ... Eu queria estar aí com você.
– Eu queria muito que você estivesse aqui comigo.
– Dul...
– Não.
– Você nem sabe o que vou dizer!
– Claro que sei. Vai dizer que minha mãe está bem, que está estável e que você pode vir ficar comigo. Mas não. Não quero que ela acorde e não encontre ninguém.
– Eu deixarei meus dados com o pessoal e voltarei caso qualquer coisa mude no quadro dela, eu juro. Deixe-me ir aí, por favor.
– Não faça isso, Dan...
– Certo, ótimo. Não vou. Mas você também não vai cometer o tal erro que está prestes a cometer.
– Daniel. – ela revirou os olhos, mesmo sabendo que ele não podia ver. – Não... Não depende de mim.
– Só me diga, me prometa, que você não está prestes a se tornar a nova amante do seu patrão. – Dulce ficou em silêncio e Daniel gemeu. – Você está brincando comigo, não está, Dulce María?!
– Eu não disse nada!
– Exato!
– Não vou me tornar amante de ninguém, Daniel, não seja idiota.
– Mas?
– Mas... Ele vai romper o noivado e...
– E você caiu nessa?!
– Não estou dizendo que algo vai acontecer entre nós. Mas talvez aconteça. E eu sei que não deveria, mas se ele estiver solteiro, pelo menos...
– O que deu em você?! Nem parece mais a minha garota.
“Eu nunca fui sua garota, fui?” – pensou ela um pouco amargurada, calando o pensamento com todas as forças.
– Não me importa o que você pensa.
– Então porque ligou para me contar isso?
– Não liguei para contar isso. – sua voz ficou mais aguda com a mentira, mas ela se recompôs rapidamente, emendando: – Só senti falta do meu melhor amigo que, por acaso, está sendo um grande idiota neste momento.
– Dulce... – ele suspirou. – Sinto muito, ok? Mas, honestamente, você merece mais do que isso.
– Talvez eu mereça. Mas eu também mereço poder ter um relacionamento errado e complicado sem que ninguém se meta. Você, acima de qualquer outra pessoa, deveria entender isso.
Daniel se calou por um segundo, mas ela quase podia vê-lo abaixar o olhar.
– Certo. – disse ele exausto. – Eu só não quero que você se machuque mais...
– Exatamente o que estou dizendo, Dan. Quantas vezes você, eu e o Poncho nos metemos uns nas vidas dos outros para impedir que nos machucássemos, e apenas acabamos piorando tudo?
– Você não está fazendo essa comparação, Dulce María! Eu não permitirei!
– Mas é a verdade!
– CHEGA!
Dulce fechou os olhos e se encolheu com o susto. Raras eram as vezes que ouvia o melhor amigo se exaltar. Ele, por sua vez, devia estar com as mãos na têmporas, engolindo quaisquer verdades que lhe coçassem a língua naquele momento. Porém, quando voltou a falar, sua voz voltara ao tom normal, embora ainda houvesse resquícios de amargura.
– Não vamos mais falar disso. Eu te amo, Dul, você sabe, mas eu não vou mais falar disso com você. Então vá, fique com o seu patrão, mas você sabe que está sendo tola. Porque há um motivo para nós nos metermos um na vida dos outros todas as vezes, independente de sabermos quão mal as coisas costumam terminar: nós nos importamos uns com os outros, acima de qualquer coisa. Mas faça o que quiser, afinal, essa é outra característica nossa, não é?
– Dan... Eu sinto muito, eu...
– Eu tenho que desligar. Boa noite, Dulce.
E sem sequer esperar que amiga falasse mais outra palavra, ele desligou. Dulce permaneceu um instante com o aparelho ainda colado ao rosto, suspirando.
– Boa noite, Dan...
Dulce poderia dizer que sua amizade com Daniel começou a mudar quando ela saiu de sua cidade e foi trabalhar na cobertura dos Uckermann, mas estaria mentindo. Há muito tempo seu relacionamento com o amigo não era mais o mesmo... Poderia até ter continuado a se levar por aqueles pensamentos, mas um barulho esquisito chamou sua atenção. Levantou-se, então, e foi atrás da origem do som.
Chegando à sala, sentiu o frio percorrer seu corpo em uma mistura de pânico e agitação. Maite tentava puxar sua mala escada abaixo, entre lágrimas, com uma expressão nada amigável no rosto.
– P-precisa de... ajuda? – perguntou Dulce, incerta, sentindo sua boca totalmente seca pela ansiedade.
– Dul! – assustou-se Maite, mas logo concordou com a cabeça, ao que a empregada foi encontrá-la no meio da escada para ajudar.
– Se me permite... – o coração de Dulce batia acelerado e ela torcia para que Maite não pudesse ouvir. – Está tudo bem?
A morena não respondeu, mas uma lágrima silenciosa escorreu por seu rosto. Quando finalmente chegaram ao andar de baixo, ela suspirou.
– Christopher e eu terminamos. – ela revirou os olhos, sorrindo sem alegria. – Acho que não é nenhuma novidade para você.
Dulce gelou novamente com o comentário.
– O q-que quer dizer? – balbuciou.
– Todos sabem, Dulce. Sobre as traições. Não me diga que você era a única outra pessoa cega como eu, porque eu sei que não é verdade... Eu só gostaria que você tivesse me contado. Teria sido melhor descobrir por uma amiga.
– Perdão, ainda não entendo.
– O nome Belinda Peregrín significa algo para você? – Dulce arregalou os olhos e Maite sorriu, concordando. – É, como eu disse, todos sabiam... Foi ela quem me contou tudo. Não o meu noivo, não você, nem a Taylor ou a Leighton. Belinda, a famosa amante. A única a quem Christopher foi fiel por tantos anos.
– Maite...
– Por que ninguém me disse nada? Por que você não tentou me contar, Dulce? Eu achei que podia confiar em você...
Dulce sentiu seu coração se contrair um pouco com o olhar de remorso que a patroa lhe lançava.
– Sinto muito. Mas não era algo que cabia a mim. Era um assunto seu e do Christopher, eu não podia me intrometer.
– Sabe o que é pior? Que eu já não sei em quem confiar. Você escolheu tomar o lado dele nessa história. Escolheu acobertar as mentiras dele, ser leal a ele. E eu não posso evitar de me perguntar o porque disso. Belinda disse... Bom, ela disse muitas coisas. Algumas ela pode provar, outras não. Mas por ter sido a única que me disse a verdade, fico pensando se ela estava certa nas acusações que fez mesmo sem provas. Fico me perguntando se ela estava certa sobre você.
Dulce engoliu a seco, recebendo um olhar gelado. Não conseguia encontrar sua voz, sua cabeça estava perdida em um turbilhão de pensamentos e seu coração batia tão forte que poderia muito bem quebrar-lhe uma costela.
– S-sobre m-mim? O que e-eu...?
– Diga a verdade, Dulce. Por favor, apenas me diga a verdade dessa vez. Alguma vez houve algo entre você e Christopher?
– Maite, eu realmente...
– Não venha com essa de que não pode se meter nessa história, porque o meu noivado já está acabado! Não há mais reparo, Dulce. Eu só quero saber o quanto a minha ingenuidade me fez parecer uma idiota. Então, por favor, diga a verdade para mim. Pelo menos desta vez.
– Não. – A própria Dulce se surpreendeu com a mentira que lhe escapou, mas não conseguia evitar. – Nunca houve nada.
Maite sorriu triste, porém, desta vez, com um vestígio de alegria.
– Eu sabia. Eu não quis acreditar quando ela disse que vocês tinham algo. De fato, Christopher é diferente com você, como nunca foi com nenhuma mulher... Ele genuinamente se importa. Você consegue fazê-lo assistir filmes com os meninos e perder dias de trabalho! Mas eu sabia que independente de qualquer coisa, você era confiável. Você não cederia... Mas, Dulce, me sinto na obrigação de alertá-la. Se ele investiu e você recuou ou se ele simplesmente se controlou, isso eu não quero saber; só que você precisa saber que agora ele provavelmente vai cair em cima de você. Então, tenha cuidado. Porque ele não é confiável e ele mentirá para qualquer pessoa para conseguir o que quer. Christopher não entende nada de sentimentos e não se importa com quem vai machucar. A única pessoa com quem ele se importa é com ele mesmo, não se deixe enganar, porque... bom, você sabe como a história termina.
– Maite, eu não iria...
– Você vai. – outra lágrima cortou a face da mulher. – Talvez não hoje ou amanhã, mas vocês vão ficar juntos. Ele está totalmente atraído por você e depois de tantas histórias que ouviu aqui, você também cederá à curiosidade. Não sei como isso vai terminar, mas espero que você seja mais esperta do que eu e que não se deixe iludir. E, se precisar de ajuda, procure-me, ok?
Sem esperar resposta, Maite se virou e apertou o botão do elevador, que se abriu após alguns instantes. Lançando um último olhar tristonho para a empregada, a morena acenou com a cabeça em despedida, enquanto as portas se fechavam novamente.
Christopher Uckermann estava oficialmente solteiro.
Porém, não fora ele a terminar. Nem mesmo fora Maite. Fora Belinda. E perante às verdades lançadas por ela, Maite não teve opção... Será que se não fosse pela amante, algum dos dois teria tido coragem de terminar o relacionamento, mesmo que fosse apenas uma grande farsa?
Ainda parada no mesmo lugar, Dulce não queria pensar nisso. Mas suas mãos estavam geladas pela ansiedade. Não podia subir até a suíte para perguntar como Christopher estava, mesmo que quisesse. Contudo, se ficasse ali embaixo, sabia que não conseguiria parar quieta, muito menos dormir. Porque parte dela, aquela parte que ela queria ignorar, queria que Christopher fosse procurá-la. Mesmo que fosse apenas para se lamentar e conversarem. Ela não se importava. Só queria dissolver a sensação ruim que corria por suas veias. O sentimento causado pelas últimas palavras agourentas de Maite. Queria poder provar a si mesma que não seria apenas a amante substituta, apenas mais uma das garantias na longa lista de Christopher. Queria ser uma amiga, por mais idiota que isso fosse.
...
Em seu quarto, Christopher ainda travava uma batalha mental. Queria ver Dulce de uma vez, finalmente estava livre para poder beijá-la e não havia mais motivos para que ela o afastasse. Mas algo dentro dele o impedia. Se conseguisse ser sincero consigo mesmo a tal ponto, entenderia que estava com medo, porque pela primeira vez em muitos anos, quebrara sua promessa de não se envolver sentimentalmente.
Suspirou. Tinha muita coisa a perder, e independente do que dissera antes quando estava com Dul, sua coragem já se esvaía naquele quarto solitário que ainda cheirava terrivelmente a uma mistura de discussão e o que sobrara do perfume da ex-noiva no ar.
Desta vez aquilo também importava. Nunca levara suas amantes ao seu quarto, de qualquer forma, pois precisava traçar seus limites em algum ponto. Mas mesmo que levasse, como poderia ficar com a ruiva ali, no exato lugar que mais o consolidaria como canalha?
Por outro lado, ir ao quarto dela mostraria suas segundas intenções. E não podiam haver segundas intenções. Mesmo que lhe custasse, uma vez que já se acostumara com a praticidade de ter várias amantes, ela era diferente e, portanto, ele também deveria agir diferentemente. Ainda era o mesmo Christopher Uckermann que não queria um relacionamento, sim. Mas tomaria o caminho mais longo daquela vez, se fosse necessário. Se havia uma coisa que sabia, era que independente de como as coisas ficassem entre Dulce e ele depois – e ele evitava pensar em qualquer tipo de “depois”, porque aquilo o apavorava quase ao ponto de desistir – ainda gostaria de manter uma amizade com ela. Jamais poderia ser o cara a partir seu coração... Mesmo que aquilo fosse uma das coisas que ele fazia melhor.
“O que você está fazendo com a minha cabeça, Dulce María? Eu deveria correr enquanto posso... Mas talvez seja ilusão minha pensar isso. Está óbvio que eu já não posso mais correr.”
...
Dulce estava olhando pela janela de seu quarto escuro, ansiosa. Àquela hora, a área de lazer do prédio estava vazia, então ela não tinha muito com o que se entreter. Ainda assim, ela se assustou com a leve batida em sua porta. Em resposta, seu coração começou a bater pesadamente. A batida tão discreta e rápida em sua porta lhe deixou em dúvida se não era apenas sua imaginação, manifestando seu desejo secreto.
Devagar, Dulce caminhou por seu quarto e colocou a mão na maçaneta, respirando fundo.
– Ei... – Christopher parecia confuso e angustiado.
– Ei... – respondeu ela, se sentindo um pouco idiota.
Ele não podia falar sobre o término, pois ela poderia entender que ele só estava ali por isso.
Ela não podia falar do término, pois ele veria isso como uma brecha e acharia que ela seria como as outras.
Um silêncio pesado e conturbado reinou entre os dois por alguns instantes em que eles olhavam para qualquer ponto, menos nos olhos um do outro.
Ao perceber a situação em que se encontravam, Christopher não pode evitar deixar uma risadinha escapar. O que raios estava fazendo?
Dulce olhou para ele, o cenho franzido de curiosidade. Desta vez, ele não desviou o olhar.
– O que estamos fazendo, exatamente? – perguntou ele.
– Criando um momento muito constrangedor. – ela deu de ombros, e sorriu.
– Com certeza... Se importa se eu, erm, entrar?
– N-não, à vontade.
Ela deu um passo para o lado, mas ele parou no meio de um passo para dentro do quarto, percebendo que a luz estava apagada.
– Sinto muito, te acordei?
– Não, eu estava no telefone...
A tensão se liberou de seus ombros e ele entrou, ao que Dulce fechou a porta atrás dos dois e acendeu a luz.
– Podemos ficar com a luz apagada? – perguntou, um pouco encabulado, sentando na cama dela.
O coração de Dulce pulou um batimento, e ele percebeu a dúvida em seu rosto.
– Prefiro conversar no escuro. – emendou rapidamente. – É mais fácil de... sabe, ser sincero. Mas se quiser deixar ligada, sem problemas também.
– Não... você tem razão. – ela apagou a luz novamente. – É melhor para conversar.
Dulce, ainda incerta, sentou-se ao lado dele.
– Então... você disse que estava no telefone. Notícias de casa? Sua mãe está bem?
Ela sorriu. Parte pela alegria que sentia ao saber que, sim, sua mãe estava bem, parte por ele fazer aquela pergunta.
– Os médicos disseram que ela está estável e com boa atividade cerebral. Segundo o Dan, eles disseram que ela pode acordar a qualquer momento.
– Fico feliz em saber disso. – disse com sinceridade, porém havia um gosto amargo em sua língua. – E esse... Dan? É da sua família?
O sorriso de Dulce se alargou ao ver a forma como ele pronunciou o nome de seu amigo, como fosse uma palavra que ele não conseguisse entender o significado. De certa forma, era bem isso mesmo.
– Sim e não.
– Preciso que elabore um pouco mais. Se quiser, claro...
– Daniel é meu melhor amigo há muitos anos.
– Hm...
– Não é assim. – Dulce revirou os olhos, embora ainda sorrisse e soubesse que ele mal podia ver uma coisa ou outra pela luz restrita que entrava através da cortina. – Ambos começamos a trabalhar jovens, para ajudar em casa. E em uma cidade pequena, o cinema era bastante parado e acabávamos conversando muito mais do que trabalhando... E assim nos aproximamos. Ele me apoiou em todos os meus momentos difíceis.
– E, aí, você se apaixonou.
– Não! – respondeu rápido demais, uma oitava acima, denunciando a própria mentira. – Não exatamente. É complicado. Foi complicado...
Ela sentia o olhar de Christopher tocando-a no escuro, querendo saber mais sobre o que ele provavelmente achava ser um suposto oponente. Porém, não queria falar disso. Fazia parecer que Daniel estava no canto do quarto, observando-a e repreendendo-a por simplesmente estar sozinha em um quarto escuro com Christopher. E quem era ele para julgá-la, afinal?
– Relacionamentos sempre são... – Christopher disse, para incentivá-la a continuar.
– Por isso você foge deles? – tentou contornar.
– Acho que sim. – respondeu objetivamente, percebendo a intenção da garota e dissolvendo-a. – Mas você não parece o tipo que foge. Isso me deixa curioso...
– Nunca tive um relacionamento problemático. Já vi muitos, claro... Na verdade todos que vi foram altamente problemáticos. Porém, não posso fugir de algo que eu mesma não vivi. “Eu prefiro me machucar tentando, do que viver com medo de algo que nunca sequer senti.” – Dulce sorriu tristemente e abaixou os olhos para as mãos, entrelaçando-as em seu colo. – Era o que Laura sempre dizia.
Christopher surpreendeu-se com a luz que se acendeu em sua memória ao ouvir novamente aquele nome. Quase se esquecera que Dulce falara sobre a mesma garota quando ele tentou ensiná-la a andar à cavalo, nos dias em que ficaram no interior, na casa de seus pais. Na época, o pensamento foi apagado por várias outras coisas, inclusive, o beijo e o afastamento dos dois.
– Você nunca me disse quem é a Laura. É a garota que tem medo de cavalos, não é? Por algum motivo, na minha mente eu achei que ela fosse uma criança...
– Não... Bom, para mim ela sempre será uma criança. O mesmo bebê que peguei no colo pela primeira vez, aquela criaturinha chorosa e frágil que eu enfrentaria o mundo para defender...
O alerta na mente de Christopher soou. Poderia Laura ser filha de Dulce? Aquilo era um grande “fuja”, na mente dele. Ao invés disso, ele colocou os braços ao redor dos ombros de Dulce, trazendo-a para perto. Sentiu a manga de sua camisa molhar quando ela apoiou o rosto em seu ombro.
– Dulce... está tudo bem?
Ela respirou fundo.
– Desculpa. A saudade machuca.
– Ela ficou no interior? Com sua mãe e seu amigo, Daniel?
– É... ela ficou...
– Você sabe, pode trazê-la para cá, se quiser. Ela pode ficar no quarto dos meninos, quando eles não estiverem, e no seu quando eles vierem para cá. Quero dizer, sua mãe, mesmo estando melhor agora, não está exatamente em condições para cuidar dela. E Daniel... – ao dizer o nome, Christopher percebeu que havia chances de que o tal melhor-amigo-cuja-história-com-Dul-era-complicada-demais-para-explicar poderia ser o pai da garota.
– Não se preocupe, Christopher. – ela se afastou um pouco, secando o rosto. – Está tudo sob controle.
– Certo. Mas saiba que para o que precisar...
– Sim, obrigada. – ela hesitou. – Vi a Maite esta noite. Ainda há pouco, quando desliguei o telefone.
Ela disse aquilo mais pelo desespero de mudar de assunto, mas sentiu a mudança desconfortável de Christopher, endireitando a postura e removendo o braço dos ombros dela.
– É? Ela falou com você?
– A ajudei com a mala... Sinto muito.
– Ora, não foi culpa sua...
– Nem sua, até onde entendi.
– Ela te contou, não foi?
– É. A famosa Belinda... – Dulce se lembrou da noite da festa, em que a ouviu entre sussurros com Christopher, pela porta entreaberta. Afastou-se mais um pouco, por reflexo. – Qual a história com ela, afinal?
– Agora, nenhuma. Liguei para ela assim que Maite foi embora... E não faça essa cara...
– Você não está me vendo! – cortou, rindo.
– Oh, eu te conheço o suficiente já. – ele riu também. – Mas não foi por nada do que possa estar pensando. Fui tirar satisfações. Infelizmente, Belinda é louca. Eu não percebi isso antes, mas agora sei que demorei muito para tomar essa decisão. Eu preciso me afastar dela. Eu nunca deveria nem ter me aproximado, na verdade, mas isso não posso mais mudar. Mas é, decidi nunca mais vê-la.
– E quem acredita? Você, pelo menos?
– É sério, Dul. Tenho muita história com ela e isso a ilude. Se ela é desvairada assim, a culpa é minha, que sempre alimentei esses delírios, apenas para satisfazer minhas próprias necessidades.
As palavras de Maite estavam ali novamente. Tudo naquela cena estava errado. Eles não deviam estar sozinhos ali, naquele quarto escuro...
Dulce decidiu usar aquilo como defesa.
– Maite disse isso. Que você mente, finge sentimentos que não tem, apenas para conseguir o que quer.
Embora fosse verdade, ouvir aquilo de Dulce foi como uma pequena agulha em seu ego.
– Bom, acho que é verdade. Tenho dificuldade com mulheres, como já percebeu... É cansativo e frustrante. Eu queria que todas as mulheres pudessem ser fáceis como você! – ele parou, percebendo o que dissera. – Espera, isso soou totalmente errado...!
Dulce caiu na gargalhada dessa vez.
– Christopher Uckermann, o romântico! – zombou ela. – Muito me admita que você consiga ter tantas mulheres, dizendo coisas assim. Francamente, eu deveria ficar ofendida, não acha?
Ele agradecia mentalmente pelo escuro, pois pela primeira vez desde que se lembrava, uma mulher o fizera corar. Dulce entendera o que ele dissera, mas mesmo assim ele se sentia envergonhado pela frase. Péssimo começo.
– Chega, vai...
– Oh, eu consegui deixar Christopher Uckermann genuinamente envergonhado? – ela ria mais ainda. – Você está com as bochechas vermelhas? Eu preciso ascender a luz!
Ele revirou os olhos, mas riu também, segurando-a, pois ela ameaçara se levantar.
– Não vai não!
Ela tentou se desvencilhar e, ainda rindo, os dois caíram embolados na cama, ao que Dulce rapidamente rolou para sair de cima dele. Apesar disso, os dois continuaram se olhando enquanto paravam de rir, sem sequer cogitar se sentarem novamente.
Ele se arrumou na cama, mais próximo dela. Os braços de ambos esticados o lado dos corpos, se tocaram, causando uma rápida corrente elétrica no local de contato. Nenhum deles desviou o olhar, apenas ouvindo a respiração um do outro.
– O que estamos fazendo? – perguntou Christopher novamente.
– Não tenho a menor ideia.
Ele se levantou um pouco, virando de lado e apoiando-se em um cotovelo. Hesitou. Então, lentamente decidiu se aproximar, estudando a reação de Dul. Pela primeira vez, ela não se afastou. Assim, seus lábios se tocaram e após o primeiro toque, e para a surpresa dele, a ruiva passou seus braços pelo pescoço dele, seus dedos adentrando por seus cabelos, puxando-o para mais perto de si.
Ele abriu os lábios de Dulce com os seus e suas línguas se encontraram, explorando suas bocas e entrelaçando-se na mais perfeita sincronia, fazendo o corpo dele ser tomado por pequenos impulsos elétricos. O cheiro que emanava da pele dela o envolvia e ele a queria mais e mais. Cuidadosamente, ele arrumou seu corpo para aproximar-se mais e maximizar a área de contato, suas mãos descendo do rosto dela, percorrendo sua silhueta e entrando cuidadosamente por baixo de sua blusa, sentindo a pele quente das costas e trazendo-a mais para perto. Porém, perto nunca seria perto o bastante. Precisava sentir cada milímetro de seus corpos se tocando, precisava beijá-la até fazê-la perder o ar, e então beijá-la novamente para dar o seu ar a ela.
Se pudesse ouvir os pensamentos de Christopher, Dulce concordaria plenamente. Porque ela também o queria tanto que chegava a assustá-la. O que mais a assustou, porém, foi quando ele mordiscou o lábio inferior dela e se afastou um pouco. Eles estavam extremamente próximos, suas testas ainda se tocando e suas respirações descompassadas podiam ser ouvidas e sentidas pelo outro. Dulce olhou-o, confusa. Ele agora mordia o próprio lábio inferior, olhando para a boca dela. Finalmente ele levantou o olhar para encontrar o dela, então sorriu torto.
– Se continuarmos, eu não vou conseguir me controlar mais. Só Deus sabe o quanto está me custando me separar de você agora.
Em sua mente, Dulce estava confusa e falava para ele não se controlar. Seu cérebro, sabiamente, jamais permitiu que aqueles pensamentos ganhassem voz ou alcançassem seus lábios. Então, foi a vez dela de morder o próprio lábio, desconcertada. Todos os pensamentos, todo o mundo que fora silenciado por aquele beijo agora voltava a acusá-la pelo que estava fazendo.
– Dul...? – Christopher não sorria mais, pelo contrário, parecia alarmado e preocupado. – Eu fiz algo errado? Te machuquei? Te ofendi?
– Não, não... – ela empurrou levemente os ombros ele, pedindo mudamente que ele lhe desse um pouco de espaço.
– Então...?
– Eu só... Fui pega de surpresa, eu acho. Desculpa.
– Pelo que está se desculpando?
– Por... pelo beijo, por não ter te afastado, por...
– Dul – ele sorriu, passando a mão pelo rosto dela. –, você não estava se aproveitando da minha fragilidade nem nada do tipo. Só não me pareceu certo... Você sabe, a Taylor ou o seu irmão podem chegar. E nós já passamos da idade de sermos pegos no flagra, então, é, seria altamente constrangedor. Não quero que seja assim.
– Aposto que você é pego no flagra o tempo inteiro. – ela se odiou por como sua voz saiu acusadora. Ela não queria ser pega no flagra, porque aquele tom ofendido então?
– Até que não. – ele sorriu. – Mas a questão é que você não é mais uma. Você é você.
Ela o olhou firmemente, tentando decidir se acreditava naquelas palavras. Porém, seu ego ferido e o peso da situação pesavam na balança.
– Sei...
– Eu só não quero errar. Só não quero te machucar.
– Você só pode me machucar se eu permitir que você faça isso. E, te conhecendo, não se preocupe, eu vou guardar meus sentimentos lá no fundo de um cofre. Assim, independente de qualquer coisa, poderemos continuar como estávamos até então: amigos.
Aquela era a proposta perfeita, mas ainda o incomodou.
– Então... – ela continuou, perante o silêncio dele. – O trato é que nenhum de nós se apaixone. Simples. E eu sei que você pode fazer isso.
– É, ok, certo. – disse ele e forjou um sorriso, tentando espantar a sensação estranha. – Mas logo aviso, Dul, que sou muito apaixonante.
Ela riu e ele relaxou um pouco,
– Então será um jogo justo, porque eu também sou. – sua voz era totalmente brincalhona. – Cuidado, patrãozinho!
– Ei... Você acha que seria quebrar as regras se eu... Dormisse aqui? Não estou a fim de voltar lá para cima, e, honestamente, aqui também está bem mais interessante.
Ela riu novamente.
– Você é um babaca. Mas acho que pode, sim. Afinal, é a sua casa, não é?
– A questão é: você se incomoda?
– Não, acho que não... Qualquer coisa, eu te chuto para fora da cama.
– Parece razoável para mim. – ele riu e beijou-a, desta vez com mais suavidade. – Droga, você tem razão... eu terei que ter cuidado.
Ela revirou os olhos, mas ele sorriu e beijou-a novamente. E assim passaram a noite, entre conversas e beijos, até que adormeceram na pequena cama de solteiro.
...
– OH. MEU. DEUS.
A luz do dia entrava pela porta e feria os olhos piscantes de Dulce. Tentando manter os olhos abertos, ela via a silhueta de alguém – pela voz, Taylor – parada na porta. Dulce tapou os olhos com uma mão, apoiando-se no cotovelo com o outro braço. Algo se moveu ao lado dela, gemendo e ela assustou-se.
Droga!
Como raios ela se esquecera que Christopher Uckermann dormira em sua cama?
– Tay... – começou Dulce cautelosa, levantando-se no susto e ficando de joelhos na própria cama. – Eu juro que não é o que parece!
– Céus! C-Christopher... D-ulce! AAAAAH!
– AAAAH! – Christopher rosnou, sentando-se. – Você não sabe que não se acorda as pessoas antes das 10h?
– O que raios...?!
– Não é o que parece. Infelizmente.
Dulce deu um tapa no braço dele pela palavra extra na frase. Ele riu.
– Meu Deus...
– Controle-se, Tay! – ele reclamou.
– Ele apenas dormiu aqui. Estávamos conversando. Eu juro que nada aconteceu.
– Ah-ah, não jure, Dul. – ele riu maroto e levou outro tapinha.
Os olhos de Tay estavam tão arregalados que Dulce temeu que fossem cair de seu rosto.
– Agora não, Chris!
– Eu e a Mai rompemos o noivado. Bom, a Beli fez isso, então a Mai me largou. De qualquer forma, eu não queria dormir no meu quarto. Desci para conversar com a Dul, a beijei, o que você saberá depois quando espremer dela cada mínimo detalhe sobre a textura da minha boca, o quanto de língua eu uso, e seja lá mais o que você costuma usar para interrogar as mulheres com quem eu fico. Mas foi só isso. Nós dormimos depois. De olhos fechados e totalmente vestidos.
– Ei! – Tay saiu do estado de choque com o comentário. – Não interrogo... não todas.
– Bom, agora você sabe tudo. Pode nos dar dez minutos antes de roubá-la pelo resto do dia e mantê-la longe do terrível predador que você ama como um irmão, por favor?
Taylor revirou os olhos, mas concedeu.
– Dez minutos. Cronometrados.
Ela fechou a porta atrás de si.
– Não vale ficar ouvindo atrás da porta!
– Não estou! – disse ela com a voz abafada, perto demais, ao que eles riram.
– Certo. – Christopher falou para Dulce. – E agora?
– Não faço ideia.
– Estamos bem, né?
– Acho que sim.
– Vamos... fazer isso? Nós dois... nos darmos uma chance, eu quero dizer. Não sei como descrever.
– Com aquela condição. Nada de sentimentos.
– Você está sendo boba.
– Não, estou sendo precavida. E você não quer me machucar, então terá que concordar com isso.
– Que seja.
– Bom, não é como se... – ela ia dizer “como se vocês fosse se apaixonar, de qualquer forma”, mas não quis ouvir a resposta dele ao comentário, então apenas meneou a cabeça e deixou a frase pela metade. – Deixa pra lá. Vamos tomar café? Não se esqueça que hoje ainda é sexta, você tem que ir para a empresa. Essa coisa de ir um dia, faltar outro vai acabar causando uma úlcera ao seu pai...
Dulce piscou.
Paul Uckermann.
Precisava saber como fora o jantar de Taylor... E porque diabos a amiga só fora procurá-la na manhã seguinte. Teria voltado tarde demais e achara melhor esperar a manhã seguinte? Não parecia nada com Taylor. Teria chegado agora? Parecia muito com a atitude esperada de um Uckermann.
– Sim – Christopher gemeu, e Dulce se assustou –, eu vou subir e tomar um banho, e deixar você nas mãos da Tay. Sinto muito. Eu te sequestraria dela e passaria o dia com você, mas ela me mataria depois. Junto com o meu pai, é claro. Por trás daquele rosto de anjo ela é um verdadeiro monstrinho. E ele também.
– Ela é um pesadelo vestido de sonhos, eu sei. – Dulce riu, concordando.
Christopher riu e então fitou a ruiva, que quase se assustou com a intensidade daquele olhar. Ele abriu um sorriso leve, diferente de tantos que ela já vira. Por fim, ele se aproximou lentamente, roçando os lábios no dela, mas, então, mudando de ideia, subiu os lábios ainda sorrindo e plantou um beijo na testa dela.
– Até mais tarde então, Dul.
– Até mais, pat... – ela sorriu também e apenas respondeu: – Até mais, Christopher.
Assim que ele saiu, ela ouviu-o trocar umas palavras em tom de reclamação com Taylor, e a amiga entrou esbaforida no quarto.
– Dulce María, você vai me contar segundo a segundo do que aconteceu do momento em que eu saí até a hora em que eu abri aquela porta!
– Com certeza. Mas, antes, uma dúvida: por que você abriu aquela porta naquela hora?
– Atrapalhei algo? – tentou sorrir marota, mas dava para ver que estava desconcertada.
– Taylor Alison Swift, não brinque comigo. Você passou a noite fora, não passou?
– Não é o que você está pensando.
Dulce fungou.
– Nunca é, aparentemente.
– Céus... Isso é de todos os níveis de bizarro possíveis. Nós duas dormimos com Uckermanns essa noite.
– O QUÊ?!
Taylor arregalou os olhos, percebendo o que dissera.
– SHHH! – ela olhou para a porta, e começou a sussurrar irritada. – Não assim, boba.
– Relaxa, Tay, eu não vou te julgar.
– Porque você não está em posição para isso.
– Oi?
– Você dormiu com o Christopher!
– Exato! Dormimos. Como ele disse “de olhos fechados, totalmente vestidos”.
– Ele só te beijou, então? Nem segunda base nem nada?
– Eu nem sei o que isso significa.
Taylor suspirou, sorrindo.
– Sabe, desde que você chegou eu soube que você seria uma competidora forte. Mas agora... agora eu acho que você realmente pode ganhar isso, Dul.
– Ganhar o quê? – Dul começava a se irritar. – Não me venha com mais metáforas, eu imploro!
– Ganhar o Uckermann. Esses jogos mentais, as conquistas... Você está ganhando no jogo dele.
– Ah, claro...
– Dul, preste atenção! – Taylor arrumou-se na cama, fazendo a amiga olhá-la. – Christopher terminou com a Maite.
– Na verdade, a Belinda teve uma grande partici...
– Que seja! – cortou, irritada. – Christopher terminou com a Maite. E com a Belinda. E com a Anahí. Vocês estavam sozinhos aqui. Você deixou ele te beijar. Ele não foi mais além, ou respeitou quando você não deixou. Ele não foi embora feito um menino mimado que ouviu um não. Ele continuou aqui. Ele deitou com você e ele dormiu. Christopher Uckermann deitou-se com uma mulher totalmente sexy, por quem ele está interessado desde o primeiro dia, e cada vez mais... E se deitou. E dormiu. “De olhos fechados e totalmente vestido”. Dulce! Diga que você está vendo o que eu estou vendo?
– Que você é uma tremenda maluca, estou, sim, amiga. – ela revirou os olhos. Detestava quando Taylor colocava as coisas daquele jeito. – O nosso trato foi que ficaríamos, mas sem deixar sentimentos entrarem no caminho.
– Ai. Meu. Deus.
– Taylor... eu te adoro, mas eu vou te bater se você não parar de agir como se tivesse tomado café em excesso.
– Estou animada com sua novidade... Céus, quando a Leighton souber disso!
– Ei, n-não! Nem pense nisso! – Dulce suspirou, cansada. – Sei que ela é sua melhor amiga, mas, por favor, podemos não contar nada ainda? Maite nem terminou de pegar as coisas dela, e Christopher é... bom, um Uckermann. Não quero que pensem que eu entrei no jogo. Eu não estou aqui para isso, Tay, já te disse. Ele é atraente, e agora está solteiro, então não tem nada demais ficarmos, não é? Mas eu não quero ser a próxima senhora Uckermann. Eu não quero o dinheiro, os holofotes, as roupas, a fama... nem o drama. Eu não quero entrar para esse círculo. Eu não faço parte desse mundo. Mais cedo ou mais tarde ele vai se cansar. Ou as amantes voltarão para ele. Ou ele conseguirá novas amantes. Não importa. A questão é que quando terminar, eu ficarei bem. E, se possível, continuarei aqui. Este trabalho é ótimo em tantos aspectos... Eu não quero ir embora, Tay.
Taylor olhava para Dulce seriamente agora. Não estava mais tendo tremeliques e falando de forma histérica e afetada. Havia dúvida no olhar dela, e Dulce desviou os olhos por isso.
– O que você está fazendo aqui, Dul?
– Perdão?
– Quando você chegou aqui você disse que veio porque seu irmão precisava de você. Seu irmão doente que, perdoe-me, parece totalmente bem, correndo atrás da Anahí. Não quero soar insensível, mas sua mãe está em coma. Por que você não está lá, Dul? O que você realmente está fazendo aqui?
– Ah, Taylor... – Dulce ainda não a olhava. – Você não sabe da missa um terço...
– Conte-me. Eu estou aqui, deixe-me ajudar.
Dulce a olhou, um sorriso curvando o canto de seu lábio.
– Você está tentando se livrar das minhas perguntas. Vamos lá, conte-me tudo o que aconteceu quando você saiu daqui.
Taylor corou.
– Ah... – ela piscou e foi sua vez de desviar o olhar. – Nada demais, oras. Nós jantamos, conversamos... E...
– E? – incentivou a amiga.
Taylor fechou os olhos com força.
– E eu falei.
– Falou... o quê?
– Tudo. Nada. O que eu sinto. O que eu acho que sinto. Eu não sei. Mas eu falei.
– Sério?! E ele?
O sorriso se abriu antes que ela sequer voltasse a encarar a amiga.
– Ele disse que suspeitava. Dulce... Ele disse que talvez fosse errado, mas que talvez ele também sentisse o mesmo. Ele disse: “Essa confusão de sentimentos que você diz sentir por mim... Eu fico feliz de não ser o único a senti-la”.
– Você está brincando!
– Não! – Taylor se jogou na cama, escondendo o rosto em uma almofada e Dulce riu.
– Ei, continua a história! – Dulce a cutucou.
– Ele me beijou! – ela disse em uma voz fina, abafada pelo travesseiro.
– O QUÊÊÊÊ?!
– Shhhhhhhh! – repreendeu-a, com um olhar sério.
– Você acha que se Christopher estivesse nos ouvindo já não teria derrubado a porta a ponta pés? – revirou os olhos, mas cochichou mesmo assim.
– No fim das contas, ambas temos segredos relacionados aos Uckermann que não podemos contar para ninguém. Especialmente para a Leighton.
Dulce se deitou ao lado da amiga com um sorriso maroto nos lábios.
– É, é bom ter uma aliada comigo nesses Jogos Vorazes. Você sabe, alguém que entenda sobre o vórtice dos Uckermann.
– Céus, era tão insuportável assim quando eu falava isso? – gemeu a loira, ao que a outra riu.
...
Aquele foi o café da manhã mais esquisito que Dulce já tivera naquela casa. O que, considerando os moradores dali, era dizer bastante.
Sentia-se terrível pelo pensamento, mas não podia deixar de notar que agora, sem Maite, a atmosfera parecia mais leve. Sempre teria um grande carinho pela ex-patroa que, afinal, fora quem lhe arrumara o emprego ali para começo de conversa. Porém, talvez pela quantidade de palavras reprimidas, dúvidas e desavenças entre o antigo casal, parecia que tudo sempre deveria ser totalmente formal e impessoal.
Naquele dia, contudo, Christopher desceu com os cabelos molhados, a camisa aberta, a gravata jogada pelos ombros e o paletó em mãos. Mas acima de tudo, com um sorriso gigantesco no rosto. Ele beijou a testa de Taylor ao passar por ela, enquanto as duas arrumavam a mesa, e enlaçou Dulce pela cintura, fazendo-a virar-se para ele e roçando seus lábios nos dela.
– Bom dia, raio de sol. – ele deu uma série de selinhos nela e se soltou, indo sentar-se em seu lugar como se a atitude fosse típica e rotineira.
– Como se você não tivesse dormido com ela... – Taylor revirou os olhos, mas ainda estava frenética de ter visto aquela cena com os próprios olhos.
– Por falar em dormir, fiquei pensando durante o banho... onde você estava, Taylor?
– Pensou em mim durante o banho? Eca. – ela riu. – Olha, Dul, esse daí não tem mesmo jeito.
– Não tente mudar de assunto. Você saiu para jantar e quando voltou não foi falar com a Dulce? Por que será que eu tenho uma grande dificuldade em acreditar nisso?
– Ouviu isso? – Dulce só podia admitir que a amiga era uma boa atriz. – Acho que a água está fervendo.
– Volte aqui! Tay... – ele suspirou, enquanto a outra desaparecia pela porta da cozinha. – Dá para acreditar? Aliás, o que você saberia me contar sobre isso?
– Eu? – Dulce puxou a cadeira que até então fora de Maite e sentou-se, evitando olhá-lo nos olhos. – Nada.
– Dul, você é uma péssima mentirosa. – ele arqueou uma sobrancelha, mas sorria.
– E você deveria saber que independente de qualquer coisa, eu não lhe contaria. Ela é minha amiga. Talvez a minha melhor amiga. Mesmo se eu soubesse, o que eu não estou afirmando, eu não poderia contar. O código das garotas.
– Argh. – ele revirou os olhos, mas acabou por pegar a mão dela. – Eu entendo. É só que eu fico preocupado também. Não quero nenhum canalha bagunçando com a minha menina. Ela é a minha irmãzinha, sabe? A Taylor se apaixona fácil, eu preciso ficar esperto se vou defendê-la... Você pode me ajudar?
Dulce gostava da forma como ele falava de sua amiga, mas não entendeu o pedido. Vendo a confusão dela, ele completou:
– Apenas... – ele sorriu e abaixou os olhos, como se estivesse envergonhado, brincando com os dedos entrelaçados deles. – Tudo bem, eu suponho que tenha coisas que ela não queira me contar, e, honestamente, algumas coisas eu prefiro mesmo não saber ou imaginar... Mas você sabe. E não quero que me conte, sei que não faria e nem eu jamais te pediria. Mas certifique-se de que não partirão o coração dela. E se você achar que isso está por acontecer, bom, aí me dê um nome e eu me encarrego do resto enquanto você a consola.
Dulce mordia o lábio inferior tentando inutilmente segurar o sorriso.
– É adorável como você realmente se sente o irmão mais velho com ela.
– Eu sou totalmente adorável. – ele riu.
– Oh, uau. – Taylor voltou com a chaleira e obviamente não deixou passar as mãos intercaladas dos dois despercebidamente. – Vou viver de vela agora, é isso? Acho melhor eu me mudar.
– Como se eu fosse deixar...
– Para a casa da Leighton, oras.
– Como se eu fosse confiar em deixá-la longe da minha vista. Aliás, vou colocar um horário para você voltar para casa agora. E se quiser sair de novo, ótimo, mas o sujeito terá que vir aqui conversar comigo e dizer quais são as intenções dele e... O que foi?
Dulce não controlara a gargalhada que lhe escapara e Taylor a seguiu, apesar das bochechas levemente vermelhas. Seria, de fato, cômico ver a cara de Christopher quando Paul chegasse. Ou a conversa em que ele perguntaria ao pai quais as intenções dele com sua amiga.
...
As duas conseguiram expulsar Christopher de casa, totalmente atrasado, e mesmo assim ele ainda fazia perguntas e agia como um protetor com a loira. Depois que ele foi embora, Taylor aproveitou para ir até a casa de Leighton, o que deixou Dulce sozinha no apartamento.
Não por muito tempo.
Após dias sem dar as caras ali, o interfone tocou e Poncho foi anunciado, ao que a irmã deixou-o subir.
– O que raios você acha que está fazendo? – resmungou.
– Estamos sozinhos? – estranhou.
Dulce piscou. Odiava estar tão desacostumada com o poder de observação do irmão. Detestava ainda mais que fora provavelmente seu tom de voz que o tenha feito chegar àquela conclusão.
– É sexta. – ela tentou contornar. – As pessoas normais trabalham.
Poncho deu de ombros, convencido.
– Acho que sim. – disse ele, caminhando em direção ao seu quarto.
– Então? Vai falar comigo, ou...?
– Ah, sim, claro, bom dia, maninha! Você está terrivelmente mal-humorada. O que foi? O patrãozinho está dando mais atenção para a esposa oficial do que para o brinquedinho? Bom, suponho que é isso que você ganhe por descer tão baixo ao nível de ser a amante do ricaço.
– Alfonso... – seu tom era de alerta.
– O que? – ele se irritou. – Você é uma hipócrita, Dulce! Está incomodada que eu estava com a Any? Por que? Por que acha que ela é uma vadia? Porque se ela é, você não está em um patamar tão diferente.
A mão de Dulce parou a centímetros do rosto do irmão, os dedos de Poncho fechados em torno de seu pulso.
– A verdade machuca, maninha. – ele sorriu. – Você deveria era estar grata. Agora, pelo menos, é uma oponente a menos para você. Você deveria me agradecer.
– Eu deveria te dar uma surra.
Poncho soltou o pulso dela e algo se acendeu em seus olhos, uma raiva que queimava muito mais profundamente.
– Então venha, irmãzinha. Venha, me bata. Eu adoraria vê-la tentar.
Dulce sentiu um arrepio com as palavras. Não sabia se Poncho as dissera por saber que a irmã não acreditava em violência e, portanto, jamais faria isso com o irmão mais novo, ou se havia uma ameaça velada ali. Se ele estava disposto a revidar. Se aquela era a vontade dele de bater nela de volta que falava mais alto.
– Não vale à pena.
Ele se virou, irritado, e empurrou um vaso que ficava na mesa do hall de entrada, fazendo-o se espatifar. A respiração dele era pesada e descompassada e Dulce quase podia ver o esforço que ele tinha que fazer para reprimir a raiva. Ela encolhia-se um pouco perante a cena, o que a fazia sentir raiva de si mesma, mas ainda assim estava disposta a não se mover dali.
Poncho se virou, agora a dor tomava conta de seus olhos. Dulce odiava as mudanças de humor repentinas do irmão.
– Ele vai te usar, Dul. Você nunca será nada além da amante. E se você engravidar, ele pode até assumir seu filho, mas ele partirá para a próxima amante. Você conhece essa história.
– Ele está solteiro. – ela não sabia bem por que dissera aquilo, mas era a melhor defesa que tinha contra as palavras do irmão, o que fazia com que se sentisse ainda menor e mais estúpida.
Poncho riu, de forma anasalada e pesarosa.
– E o que isso muda? Ele não quer você, ele quer alguém. No momento, você é o alguém disponível. Mas você não será a única. Você é o sexo fácil, a transa garantida no fim do dia. Na rua ele ainda vai querer todas as mulheres que passarem por ele. Todo par de seios e bundas que ele puder colocar os olhos... ou as mãos. Você não vai aceitar isso, e ele vai te afastar. Quando você se impuser, quando não fora a submissa que aceita tudo, ele vai reagir. Toda ação gera uma reação de igual força em sentido oposto, lembra? É regra, é física. No fim, só restam gritos e lágrimas, arrependimento e dor. Você não é exceção.
– Você não acredita nisso. – ela tinha lágrimas nos olhos, mas não tinha nada a ver com Christopher. Ainda assim, a sensação de parecer frágil daquela forma, naquele contexto, a deixava ainda mais impotente. – Se acreditasse, não estaria com a Anahí.
– Dul... – ele se aproximou e acariciou o rosto da irmã, secando as lágrimas. – Ela é a regra, assim como você. Ela é diversão, passatempo. Mas ao primeiro sinal de colisão, você deve fugir.
– Quando tudo começar a cair... – as lágrimas rolavam livremente agora, quentes, e os olhos de Poncho também estavam marejados.
– Você deve correr. – completou ele.
– Quando os gritos começarem... – continuou ela.
– Você deve se esconder. – respondeu o irmão, naquela espécie de jogral terrível.
– Quando parecer o fim...
– Aguarde.
– Ou tudo recomeça...
– Ou você recomeça.
Poncho colou a testa com a da irmã enquanto ela chorava e permitiu que algumas lágrimas também escorressem por seu rosto. Ele finalmente a abraçou, trazendo-a para perto e beijou os cabelos dela.
– Eu só quero que você...
– Não se quebre. – ela respondeu entre as lágrimas. – Eu sei.
...
Christopher chegou cansado naquele final de tarde, mas estava animado como há tempos não estava em voltar para casa. Assim que entrou afrouxou a gravata e largou o paletó pelo caminho, indo até a cozinha procurar por Dulce. Foi logo beijando-a, mas ela o afastou. Para a surpresa dele, Poncho veio do corredor do quarto da empregada.
– Oh... – ele não sabia o que dizer. – Ei.
– Você é mesmo um imprestável, não é?
– Alfonso. – Dulce contornou o patrão e foi ficar entre os dois, mesmo que ainda estivessem relativamente distantes um do outro.
– Eu já te avisei. Você é bem-vindo aqui, mas não passe dos limites, cara.
– É assim que trata a família da sua namorada?
Christopher se reteve com aquela última palavra e Poncho riu.
– É, eu te avisei que o cara não queria compromisso, mana. Você não é a exceção, é a regra.
– Cala a boca, Alfonso.
– O que raios...? – Christopher estava confuso. E irritado. – Por que não está na minha outra casa? Com a minha ex-mulher?
Dulce não precisava da expressão de alegria do irmão, pois também percebera o tom possessivo e incomodado na voz do patrão.
– O menino mimado não sabe dividir, que clichê. – Poncho riu. – Até entendo, deve ser chato não ter muitas opções... Fiquei sabendo do noivado. Você é um idiota de perder uma mulher daquela.
– Pode ir correndo atrás dela, se quiser. Você parece gostar das minhas sobras.
Dessa vez Poncho gargalhou.
– Muito romântico, cara! Minha irmã é uma mulher de sorte! – disse irônico. – Eu bem que te avisei sobre isso, Dul, não se esqueça...
– Cala. A. Boca. Alfonso.
– Uau, em pensar que tudo teria sido diferente se você simplesmente tivesse ficado com o imbecil do seu melhor amigo. Se você tivesse casado com o Daniel, e nenhum de nós estivesse aqui agora.
– Ou se você não tivesse agido como um perfeito imbecil e estragado tudo.
– Perdão por tentar defender a minha irmã de um aproveitador barato! – exaltou-se. – Aliás, parece que isso é tudo o que eu faço na minha vida, não é?
– Ninguém pediu a sua proteção, Poncho! – gritou de volta, sentindo novamente as lágrimas se formarem.
– NEM A SUA, DULCE!
Foi a vez de Christopher se interpor entre os dois, empurrando Poncho, que bateu de costas contra a parede.
– Nunca. Mais. Toque. Em. Mim. – Poncho sublinhou suas palavras, com raiva.
– Nunca mais grite com ela. – Christopher não tinha medo, e o encararia até em uma briga se precisasse.
– Hipócrita! – apesar de ainda estar irritado, o momento de ebulição passara. – Quantas vezes você não gritou com a Any?
– Ela é uma louca paranoica!
– Louca paranoica? – Poncho riu com sarcasmo. – Ela pode ser muitas coisas, mas exigir que você a respeite, que respeite osseus filhos, não me parece nem loucura nem paranoia.
– Você não sabe do que está falando, não se meta no que não entende.
– E não foi por isso mesmo que acabou o seu segundo casamento agora?
– Noivado. – corrigiu como se importasse.
– Dane-se. – Poncho resmungou. – Não foi exatamente porque você é incapaz de se manter dentro das calças? Você é um traidor patológico e nunca vai mudar!
– Isso não é problema seu, é?!
– Por mim, você pode até se explodir! – Poncho ficou perigosamente perto de Christopher, um dedo em riste contra o rosto do outro. – Mas longe da minha irmã. Ela não precisa dos seus draminhas de novela, então não a coloque no meio dessa bagunça nojenta que você chama de vida.
– Ela está grandinha o bastante para decidir sozinha, não acha? – rebateu, dando um tapa na mão do outro para tirá-la de seu rosto.
– Ela é uma causa perdida. – ele suspirou e se afastou, de modo que pudesse olhar para a irmã ao falar. – Ela é cega quando se trata de amor. Ela se faz de forte, mas não passa de uma donzela em perigo, esperando o príncipe no cavalo branco para resgatá-la. Mas a realidade tem a mania de nos acordar com um tapa ao invés de um beijo.
– Poncho, por favor...
Ele ergueu as mãos, como se se rendesse. A irmã ainda chorando atrás de Christopher.
– Não vou dizer mais nada. Ele está certo. Você é bem grandinha para tomar suas decisões... e mesmo quando não era, isso nunca te impediu, não foi? Só não se esqueça, maninha: “Quando tudo começar a cair, você deve correr”. Lembre-se disso. Lembre-se sempre disso.
E com aquelas palavras ele saiu da cozinha, deixando o clima ainda mais pesado.
Christopher demorou uns instantes, ainda de costas para Dulce, mas então virou, tentando sorrir e abrindo os braços na direção dela.
– Detesto ser a pessoa a dizer isso, mas o seu irmão...
– Está certo. – respondeu fracamente, secando o rosto e dando um passo para trás.
Christopher parou no meio de um passo, os braços caindo um pouco.
– Perdão?
– Ele está certo. Poncho... Poncho está certo.
Christopher piscou e balançou a cabeça, como se tentasse entender.
– Onde raios ele está certo?!
Dulce sorriu fracamente, tristemente.
– Você é Christopher Uckermann. Nunca vai mudar.
– E? Achei que tivéssemos combinado sem sentimentos, não?
– Foi. E está tudo ótimo agora. Mas se uma tempestade aponta, você se prepara. Você não espera um raio te atingir.
– Ok... e o que isso deveria significar?
– É o País das Maravilhas. Até alguém perder a cabeça. – Christopher continuava confuso, mas ela apenas meneou a cabeça e emendou: – Eu não vou pagar para ver. Eu já sei... Um bom sabe jogador quando se retirar. Você não aposta tudo a menos que valha à pena. E agora não vale.
Outra lágrima rolou pela face dela e apesar dos olhos embaçados, ela ainda via a mistura de frustração e confusão no rosto do patrão. Sabia como terminar aquilo, mas sabia que não seria apenas um ponto e vírgula—seria um ponto final.
– Você não vale à pena, Christopher.
O segundo em que se seguiu foi lento e preciso. Outra lágrima caiu dos olhos da ruiva, desembaçando sua visão a tempo de ver suas palavras atingindo o alvo. O ego ferido, a traição, o rancor... a temperatura caindo, a parede que se levantou entre eles. Ela viu todos os matizes se pintando no rosto dele e esperou pelas palavras gritadas, mas essas nunca vieram.
Ao invés disso, ele sorriu em sua mágoa.
– Engraçado como você está tão disposta a me pintar como o cafajeste, acreditar em todos que falem sobre o vórtice das minhas mentiras... Mas é você quem sempre foge. É você que nunca me dá uma chance. Talvez porque você tenha medo de descobrir que eu não sou esse monstro que você quer acreditar que eu seja. Porque você tem medo de se aproximar, você tem tanto medo quanto eu de sentir, de se apaixonar. Você acha que é tão corajosa, mas não. Eu nunca terei um relacionamento saudável? Eu saboto a mim mesmo? Eu sou um covarde quando se trata de sentimentos? Talvez eu seja mesmo, talvez não. Mas para você, não há dúvidas, não é? Bom... dizem que os iguais se reconhecem, Dul.
Nota da Autora: "
Eu voltei, e agora é pra ficar! Porque aqui... aqui é o meu lugar!". Sim, eu acabei de usar uma música do RC, preciso de um minuto pra aceitar que estou ficando de idade, haha. Não, agora falando sério... Caso alguém ainda leia esta fanfic, boas notícias: estarei terminando a postagem aqui! No
Yoble e no meu blog está disponível também, caso prefiram acompanhar por lá, ou salvar os links caso eu suma daqui de novo... Mas não pretendo sumir, não! É só
na remota hipótese de se caso isso acontecer um dia. Ok? Ótimo. Amanhã tento postar mais um capítulo, então!
P.s.: Se alguém ainda estiver lendo, POR FAVOR, avise-me! Isso motivará a volta da postagem aqui no site, ok?! <3