Quando Taylor chegou da casa de Leighton naquela noite, encontrou Dulce chorando na cozinha, totalmente sozinha. Se tivesse chegado alguns minutos antes, teria presenciado tudo. Mas como não foi o caso, ela apenas conduziu a amiga de volta ao seu quarto e esperou que ela se acalmasse o suficiente para lhe contar os fatos. Mesmo assim, tudo que conseguiu arrancar de Dulce foi uma palavra.
“Acabou.”
Taylor tinha um bom palpite sobre o que aquilo queria dizer, mas não conseguia entender como tudo fora da lua-de-mel que ela presenciara no café da manhã às lágrimas que presenciava em primeira-mão. Até para os padrões de Christopher, aquele era o relacionamento mais rápido da história.
Dulce, por sua vez, não queria mais falar no assunto. Por mais que fosse tortura com a sua curiosidade, Taylor deu o espaço que a amiga pedia e respeitou o seu silêncio.
– Posso ficar aqui hoje?
Taylor virou o rosto. Ela e a amiga estiveram deitadas de costas, cada uma para um lado, na pequena cama de casal da loira, em completo silêncio, apenas observando os feixes de luz que entravam pela janela e se projetavam no teto. Estiveram assim por pelo menos meia hora. Ainda assim, a voz de Dulce continuava frágil.
– Claro. Sempre que quiser... – Taylor hesitou. – Você quer que eu te faça companhia? Por que se quiser ficar sozinha, eu...
– Você pode ir para o meu quarto, se quiser. – Dulce suspirou pesadamente. – Mas eu agradeceria muito se ficasse.
Taylor abriu um pequeno sorriso e esticou a mão para encontrar a da amiga, à sua frente.
– Está decidido então.
...
O fim de semana foi terrível.
Lucas e Guilherme chegaram no sábado pela manhã, mas Christopher dissera que precisava adiantar algumas coisas e por isso iria até a empresa.
Obviamente, ninguém acreditou. Poncho, claro, teve a delicadeza de ser o porta-voz e externar o que todos pensavam. Christopher optou por fingir que ele não existia e saiu da mesa do café da manhã, sem dizer mais nenhuma palavra nem aos próprios filhos.
Assim, depois do café, Poncho também saiu. A julgar pela mochila que arranjara, ele passaria o fim de semana com Anahí, aproveitando que a casa estaria vazia.
Portanto, mais uma vez, cabia à Dulce e Taylor cuidar dos pequenos Uckermann.
Elas decidiram ligar para Leighton e pedir reforços.
Assim, irmã mais velha de Christopher entrou pelo apartamento ao mesmo tempo em que as empregadas e as crianças acabavam de arrumar as louças do café da manhã e os quartos.
– Vamos dar o fora dessa casa. – anunciou ela. – Tudo aqui cheira à confusão, e isso não é um ambiente saudável para os meus sobrinhos. Um dia na praia fará bem a todos. Vão se trocar, todos vocês!
– Não soa como um convite porque não é um convite. – Taylor cochichou para Dulce.
A vantagem de passarem um dia na praia, era que os meninos podiam brincar e elas podiam conversar. Afinal, tinham muito sobre o quê conversar. No dia anterior, Taylor só contara sobre o rompimento do noivado. Agora, porém, a situação de Dulce seria discutida, por decisão da própria ruiva. Além disso, por ser uma das herdeiras da famosa grife com a qual dividia sobrenome, “praia”, para Leighton, não tinha o mesmo significado que tinha para os meros mortais.
Os cinco entraram no carro e ignoraram a praia bem à frente para irem à outra cidade, vizinha, onde havia uma praia particular. Ironicamente, Leighton não entendia bem os limites impostos pela palavra “particular”. Terrivelmente direta e acostumada a ter tudo sempre, ela não se satisfez com a versão resumida de Dulce e a pressionou até Taylor mandá-la calar a boca.
Guilherme brincou um pouco com o irmão mais novo e outras crianças, mas logo se isolou e ficou sentado sozinho, próximo ao mar. Dulce o observava de longe, preocupada. O que estaria passando na mente dele agora? Era triste como ele passava pela infância mais preocupado com problemas de adultos do que qualquer outra coisa.
Eles almoçaram em um restaurante à beira-mar, em um horário mais digno de lanche da tarde. Depois, voltaram ao carro e Leighton os devolveu ao prédio de número 29, mas recusou o convite para subir, alegando que se visse o irmão naquele momento o faria em pedacinhos.
Ela não precisaria ter se preocupado. Christopher estava em casa, sim, mas trancado no quarto, de onde não saiu nem aquela noite nem durante todo o dia seguinte.
Poncho e Anahí foram buscar os meninos no domingo à noite. Na verdade, Poncho apenas pegou carona, mas ela voltou sozinha com os filhos para casa.
Taylor, por melhor que fosse como amiga, estava empolgada demais para disfarçar, pois sairia com Paul naquela noite. Dulce sorriu e ficou papeando com ela enquanto ela se arrumava, e por fim desejou boa sorte quando ela pegou o elevador.
Novamente sozinha, podia admitir que sua cabeça doesse. Tudo estava errado, e ela só queria um banho, um chá e uma cama.
Quando por fim se deitou, muito antes do seu horário habitual, perguntou-se quanto tempo Christopher continuaria a ignorá-la. Não poderia durar muito, não é? Se ele não quisesse voltar à fase da amizade, pelo menos poderiam ter uma relação cordial, era o que ela pensava.
Os próximos cinco dias provariam que ela estava errada.
...
Quando Dulce abriu os olhos na sexta-feira, a primeira coisa que pensou foi que uma semana atrás estava sendo acordada pela perplexidade de Taylor, com Christopher em sua cama, resmungando. Em compensação, eles não falavam mais do que duas palavras por vez, evitavam se dirigir diretamente um ao outro e até se olharem. No dia anterior, inclusive, pelo menos até a hora em que ela fora para o quarto, Christopher ainda não tinha voltado para casa.
Por que estava pensando isso? Ela se repreendeu mentalmente, mas era tarde demais.
– Ei, que milagre! – Dulce sorriu, levando as coisas do café para a mesa e encontrando Lucas já sentando em seu lugar. – Onde está o Guille?
– Dormindo, acho.
– E por que você caiu da cama hoje?
– Hoje é o nosso jogo. Você vai, não vai?
– Eu não perderia por nada. – ela sorriu.
– Dul... você acha que o papai vai? Ele prometeu, mas... ele estava legal aquele dia. Agora ele está... de volta ao normal, acho. Não gosto do normal dele. – o garoto suspirou, sincero. – Eu preferia ele antes.
– Eu também, Lu. Eu também. – ela acariciou os cabelos do menino. – Mas se ele prometeu, é provável que vá. Pedirei para a Taylor lembrá-lo, ok?
– Certo...
– Anime-se, meu amor. Afinal, você tem que marcar muitos gols para mim, não é?
Ele riu, o que alegrou a ruiva, mas ela estava tão temerosa quanto o pequeno, senão mais. Porque ela não tinha a esperança que ele ainda nutria. Ela sabia que Christopher, sendo Christopher, não iria comparecer ao jogo do filho.
...
Leighton viajaria para a Europa naquela noite, e Taylor estava na casa dela ajudando. Depois, a loira iria a outro encontro com Paul; algo que se tornara rotina na última semana. Taylor negava, mas Dulce tinha fortes suspeitas de que eles não estavam apenas saindo para jantar todas aquelas noites.
Portanto, Dulce foi sozinha até a escola dos meninos naquela tarde. Pedia a qualquer força do universo ou divindade capaz de escutá-la para que Christopher estivesse lá. Sabia o quanto aquilo, por menor que fosse, alegraria imensamente os filhos do herdeiro.
Ela chegou cedo e pegou um bom lugar na arquibancada, deixando sua bolsa ao lado para guardar um lugar para o patrão, caso ele quisesse se sentar com ela. Não conseguia ver seu irmão em parte alguma, nem Anahí. Mas eles poderiam estar apenas atrasados, não é?
Os garotos avistaram Dulce, e o sorriso que Lucas abriu já valeu tudo. Guilherme, por sua vez, não parecia tão empolgado e era impossível culpá-lo. Afinal, por mais que recriminasse e ressentisse as atitudes do pai, ele ainda era seu pai, e Guilherme com certeza queria uma aproximação, mesmo que não fosse admitir. Dulce conseguia entender isso perfeitamente, pois já estivera do outro lado.
A empregada se segurou à esperança mesmo quando a partida foi iniciada. Mas a cada minuto que passava, sua agonia aumentava. No meio período, ela já estava devastada, pensando em como lidaria com o fato de ter que inventar uma mentira para que os dois irmãos perdoassem que nem seu pai nem sua mãe foram à partida.
No fim das contas, Lucas realmente ficou no banco de reservas durante a maior parte do jogo. O treinador o deixou entrar nos minutos finais, apenas para fazer a alegria do garoto. Guilherme, porém, jogou e marcou dois dos três gols de seu time, que foi vitorioso. Ele deveria estar feliz, mas parecia apenas irritado e cansado. Quando a partida terminou, ela continuou sentada na arquibancada durante algum tempo, respirando fundo e tentando se acalmar. Por fim, saiu da quadra, decidida a esperar os meninos saírem dos vestiários na calçada em frente, para poderem ir para casa. Talvez os levasse para tomar sorvete.
Ela riu de si mesma. Como se sorvete resolvesse algo. “Seu pai não veio ao jogo mesmo depois de vocês terem pedido com mais de uma semana de antecedência e ele ter prometido, e sua mãe provavelmente está ocupada demais transando com meu irmão em todos os cantos da casa e nem se lembra que vocês existem, mas, ei, aqui tem um sorvete para compensar!”. Simplesmente patético. Lastimável, até.
Ainda envolta na amargura de seus pensamentos, ela se surpreendeu quando os dois irmãos saíram e Lucas correu não para os braços dela, mas para os de um loiro de terno e gravata que o pegou no colo, também sorridente.
– Quanto tempo, seu pestinha! – Dulce ouviu o rapaz falar enquanto apertava o pequeno e bagunçava seus cabelos. – Céus, você está nojento!
Lucas riu, os olhinhos brilhando com expectativa.
– O papai veio com você? Vocês me viram jogar?
– Ah, eu não perderia! – ele colocou o menino no chão. – Você fez mais em cinco minutos do que o time todo em dois tempos! Com vocês dois em campo, nem precisava de outros jogadores. Mas acho que ser a estrela do time subiu à cabeça do seu irmão. Ele nem fala mais comigo, olha!
Guilherme deu de ombros.
– Eu ia marcar um gol quando apitaram. – anunciou o menor. – Ei, Dul, aqui!
O rapaz se virou, e abriu um sorriso.
– Dulce María, eu suponho? – ele estendeu a mão. – Eu sou Christian, Christian Chávez. Trabalho na Uckermann’s. Ouvi muito sobre você, especialmente nos últimos dias.
A boca de Dulce formou um pequeno ‘o’ ao entender, mas logo foi substituída pela raiva. Christopher tinha mesmo mandado um empregado fazer seu papel no jogo dos filhos?
– Ah, sim, é claro que você nunca ouviu meu nome, né?
– Sinto muito...
– Eu já deveria imaginar... Bom, o que me dizem de irmos tomar um lanche? Esses pestinhas devem estar com fome.
– Eu... acho que deveria levá-los para casa.
– Não, Dul, vamos tomar um lanche com o tio Chris! – pediu Lucas. – Tio Chris, cadê o papai? Ele foi pegar o carro?
– Ah... – ele olhou de relance para Dulce. – Ele não pode vir, sinto muito, Lu. Mas ele ficou muito chateado por isso, de verdade. Foi um problema de última hora na empresa e ele...
– Ele e as emergências, né? – Guilherme falou pela primeira vez. – Engraçado, o pai do Hugo estava aqui. E ele é bombeiro. Com emergências de verdade.
– Guille...
– Não, Dul. Pare de arrumar desculpas por ele. Ele não está aqui porque não quis. Eu avisei que ele não ia vir, ele nunca vem. É assim que ele é. Ele e a mamãe, também. Eles não se importam de verdade. Nós somos só a obrigação deles. Eles compram as coisas, nunca dizem não a nada que pedimos... pelo menos, nada que o dinheiro possa comprar, né? Mas se o pirralho pede para eles virem em um jogo, uma vez na vida, aí é o fim do mundo!
– Ele estava ocupado, Gui... – Lucas tentou tocar no braço do irmão, mas este se desvencilhou.
– Não, pirralho, ele não estava. Ele nunca está. Ele simplesmente não se importa conosco. Nem se importa de arrumar outra desculpa, pra variar. Então cresça e pare de se iludir, porque quanto antes você fizer isso, melhor. Quanto antes você parar de esperar algo deles, mais cedo você vai parar de se decepcionar.
– Chega, Guilherme. – Christian usou um tom sério, porém, calmo. – Eu não admito que fale assim do seu pai. Na minha frente você não vai falar mal dele, estamos entendidos?
– E você, como é melhor, tio Christian? – o garoto carregou a palavra com sarcasmo e raiva. – Você é tão passageiro quanto as várias namoradas do papai. Antes de hoje, quando foi a última vez que você nos viu? Quando foi a última vez que tentou falar conosco?
– Gui, o seu pai e eu...
– Não me interessa! Não me interessa o que meu pai aprontou. Eu só queria alguém que não nos desse as costas quando o papai apronta. Eu só queria alguém que ficasse. Alguém que ficasse, quando toda a confusão está acontecendo. Porque quando ele apronta das dele, sou eu quem fica sozinho. Sou eu quem tem que aguentar. Sou eu que tenho que distrair o pirralho chorão, e sou eu que tenho que aguentar, sozinho. Sempre.
Lucas olhava assustado para o rosto vermelho e coberto de lágrimas do irmão. Ele fez outra tentativa de se aproximar, mas novamente o mais velho se esquivou, passando o braço no rosto e secando as lágrimas de qualquer jeito, frustrado por ter se deixado levar pelas emoções. Christian o olhava impassível, mas Dulce só queria abraçá-lo.
– Pronto? – perguntou por fim. – Você precisava ventilar, descarregar tudo isso. Já acabou? Se sente melhor agora?
– Não. – respondeu ríspido. – Não me sinto.
Christian colocou a mão no ombro dele e apertou um pouco, para que ele não fugisse.
– Olhe para mim, Guilherme.
Apesar de resistente, ele acabou olhando.
– Eu não deveria ter deixado os problemas com o seu pai me afastarem de vocês, você tem toda a razão. Você é muito inteligente, e você está certo. Você não merece ter que aguentar tudo isso sozinho. E é por isso que eu estou aqui. É por isso que eu vou ficar aqui agora, independente do seu pai. Eu não estou indo a lugar algum. Não mais.
– Sou inteligente demais para acreditar nessa baboseira.
Christian sorriu da rebatida rápida do garoto.
– O tempo dirá, pestinha. Você vai ver. Por enquanto... o que me diz daquele lanche?
Guilherme deu de ombros e Lucas, ainda um pouco assustado e confuso, olhou para Dulce, como se pedisse permissão.
– É claro que a bela Dulce também está convidada.
– Eu...
– Maite está nos esperando. Ela não conseguiu vir antes, para o jogo, mas vamos nos encontrar com ela na lanchonete. Vamos, Dul, vai ser legal... Ela queria mesmo te ver. Foi ela que me disse para te procurar, que você estaria aqui.
Dulce engoliu em seco perante a informação. Por que Maite teria ido ver os meninos? Por mais atenciosa que fosse, ela nunca passara esse tipo de imagem; a madrasta que vai torcer nos jogos? Definitivamente não parecia com ela. E por que ela queria falar com Dulce? Não tinha como ela saber do brevíssimo relacionamento entre a empregada e seu ex-noivo, certo?
– O que me diz, vamos lá?
– Ok. Acho que não fará mal...
Lucas foi pegar a mão de Dulce e Christian sorriu, colocando a mão no ombro de um Guilherme ainda carrancudo.
Eles foram andando lentamente, afinal, iam à uma lanchonete a poucas quadras de distância.
Christian era simpático e sua presença era confortante. Lucas parecia totalmente à vontade com ele, e a julgar pela explosão de Guilherme, Christian tinha, em algum momento, sido uma parte importante da vida dos garotos. Puxando pela memória, ela achava ter ouvido o nome em uma ou duas ocasiões, mas ainda estranhava o fato de estar virtualmente no escuro em relação à alguém tão próximo da família Uckermann. Afinal, nem mesmo por parte de Taylor, a enciclopédia ambulante, lhe contara. E o que Christian quisera dizer quando falou que já ouvira muito dela, “especialmente nos últimos dias”? Quem teria falado dela? Maite? Ou Christopher?
Chegando à lanchonete, eles logo avistaram Maite que, para a surpresa e alívio de Dulce, abriu um sorriso e acenou para eles. Lucas correu para abraçá-la e Guilherme, apesar do mau-humor, também foi falar com ela.
– Entre eu e você, Dul? – Christian sussurrou em tom de segredo, enquanto caminhavam lentamente até a mesa. – Acho que em parte ela se sente aliviada. Por mais que ame os meninos, ela nunca seria boa como mãe. Tentar a destruiria. É mais fácil amá-los de longe. Pelo menos, para ela.
– Acho que somos muito diferentes nisso. – Dulce abriu um pequeno sorriso, involuntário. – Não me imagino msid longe deles.
Christian a olhou com um sorriso intrigado.
– Ora, ela tem razão.
– Ãhn?
– Nada, esquece. – ele riu e foi até à mesa, dando um rápido beijo na testa de Maite. – Ei! Esperou muito?
– Não, acabei de chegar. – ela se levantou e beijou as faces de Dul. – Como está, querida?
– Bem, obrigada. E a senhora?
– Pelo amor de Deus! – Maite olhou indignada, e Dulce percebeu que sua pergunta tinha sido insensível. Mas a julgar pela risada de Christian, o problema não era esse. – Quantas vezes eu já te disse para não me tratar por “senhora”? Parece uma discussão interminável! Ainda mais agora, que nem sua patroa sou. Vamos lá, Dul!
– Ah, sim, claro... Perdão, Maite.
– Melhor assim. E não esqueça mais, hein? – ela sorriu. – E, respondendo à sua pergunta, estou muito bem. Melhor do que deveria, na verdade.
Maite lançou um olhar significativo para Christian, que entendeu o pedido sem palavras e chamou os meninos para irem com ele pedir os lanches.
– Então, como estão as coisas? – perguntou a morena ao ver-se sozinha com a empregada.
– Como está o Christopher, você quer dizer? – Dulce suspirou. – Mas temo que eu não saiba dizer.
– Perdão?
– Não temos conversado muito. Digo, ele tem estado bastante concentrado no trabalho agora e... – ela deixou a frase morrer, pois não sabia terminá-la.
– Oh. – Maite parecia ter entendido tudo. – Já aconteceu, não aconteceu?
– Perdão – Dulce evitava encarar a ex-patroa nos olhos –, não sei do que está falando.
– Está tudo bem, Dul, você pode me contar.
Dulce fez careta e riu ao mesmo tempo, o que, percebeu tardiamente, não só era uma péssima combinação como também entregava sua culpa. Mas culpa pelo quê?
– Vamos – insisti Mai. –, ninguém entende melhor dos dramas de ser uma das mulheres do Christopher como uma ex do Christopher. E considerando suas opções, eu ainda sou a melhor ex, modéstia à parte.
– Eu... – percebendo que não adiantava mentir, a ruiva inalou profundamente e soltou tudo em uma enxurrada: – Ficamos, sim. Mas não vai acontecer de novo... nem deveria ter acontecido! Quero dizer, estamos falando de Christopher Uckermann, não é? Você mesma me avisou para ter cuidado. Ele mente, engana e só se importa com ele mesmo. Certo?
Maite sorria de forma complacente.
– Você quer que eu te diga se é certo? É realmente difícil te dar conselhos, Dul. Estando na minha posição...
– Eu sei, essa conversa é absurda! – cortou, neurótica. – Eu deveria ter mantido minha boca fechada. Sinto muito, muito mesmo!
– Estando em minha posição – continuou a morena, inabalável. –, é realmente complicado. Porque eu estive no seu lugar, e agora eu estou olhando de fora. Mas eu não olhei de fora enquanto estava dentro. Entende? É difícil, porque eu não sei quanto foi mentira ou não quando ele estava comigo. Por isso, sempre te recomendarei cautela em se tratando de um Uckermann. Isto não significa que ele seja incapaz de sentir. Ele é bom em mentir? Com certeza. Mas quando ele se apaixona... Céus, quando ele finge que se apaixona, ele já consegue o que quiser. O que quero dizer é que ele é apaixonante quando está apaixonado. E eu nunca o vi realmente apaixonado, não é? Pelo menos, não por mim.
– Mai, essa conv...
– Escute, Dul. Eu não estou dizendo que ele está apaixonado por você. Longe de mim entender o complexo mecanismo que aquele homem tem no lugar do coração! Ver Christopher apaixonado é raro. Até onde eu sei, a única vez que ele realmente se apaixonou foi pela Naomi, mil anos atrás, mas isso provavelmente Taylor já te contou.
Naomi? Christopher já se apaixonara por uma mulher chamada Naomi? Por que Taylor nunca mencionara aquele nome? Por que não contara justamente aquela história?
Aparentemente, a amiga não abria tanto sobre a vida dos Uckermann quanto a ruiva achara até então. Dulce piscou e voltou rapidamente sua atenção para Maite, que continuava falando:
– Mas com você... não sei bem como expressar, mas dá para sentir que ele se importa. Com você ele agia daquela forma, diferente. Não era para te impressionar, porque ele ainda ficava sob o seu efeito mesmo quando não estava mais perto de você. Você o fazia um pai melhor, uma pessoa mais atenciosa, mais gentil. O Christopher que eu conheci podia me levar para jantar e dizer as mais belas frases ensaiadas, trazer presentes e lembrar o meu aniversário. Mas com você ele era simplesmente ele. Sabe? Ele queria ser, inclusive, uma versão melhor dele mesmo, se é que isso faz sentido. Não é todo dia que nós vemos isso, definitivamente.
– Mas...
– Não é garantia que ele não partiria o seu coração, eu sei. Esse é o tipo de coisa que ninguém nunca pode prever, Dul. Ninguém vem com um aviso ou com garantia e manual de instruções. Você simplesmente tem que se arriscar. Ele é um risco, com certeza. Ele é um risco maior do que a maioria dos outros homens. Mas talvez valha. E independente de ser algo que te despedace ou que te alegre, você não poderá saber com certeza se não tentar. Você tem que viver para saber. É cliché, mas é verdade: você se arrepende mais do que não faz. É mais fácil superar algo tendo a certeza de que deu errado, do viver tentando dissolver as ilusões perfeitas que criamos em nossa mente. Se quer o meu conselho, arrisque-se. Você não é feita de vidro. Qual a pior coisa que pode acontecer?
Vidro.
Dulce fechou os olhos e respirou pesadamente. Quando encarou novamente a mulher à sua frente, um sorriso leve ergueu os cantos de seus lábios. Tinha vontade de abraçá-la. Ao invés disso, tentou carregar suas palavras para que refletisse o quanto seu sentimento era sincero:
– Obrigada, Maite. Muito obriga, de verdade.
...
Christian e Maite estavam com o carro estacionado ali perto, então deixaram Dulce e os meninos no apartamento à beira-mar, horas mais tarde. Após certificar-se de que Christopher ainda não havia chegado, Maite subiu ao apartamento para pegar algumas coisas que havia deixado para trás. Ao partir, deu um abraço forte na empregada e desejou boa sorte.
– Dul? – Lucas chamou, descendo de seu quarto pouco depois que a morena fora embora. Agora ele já estava de pijama e com os cabelos molhados após o banho.
– Diga, meu amor.
– Eu sou bobo por ter ficado triste?
– Ficar triste não é bobeira, Lu.
– Eu queria muito que o papai tivesse ido nos ver hoje. – disse o pequeno, sentando-se em um degrau. – O Gui sempre fala que eu sou bobo por isso. Mas eu só queria que ele ficasse mais com a gente.
– Eu sei... – ela sentou-se no degrau abaixo. – Mas ele deve ter ficado muito ocupado. Aposto que ele queria muito ter ido, meu amor.
– Não. Não queria, não. – os olhinhos do menino estavam ficando marejados. – Ele é nosso pai. O Gui tem razão. Se ele quisesse ir, ele daria um jeito. Até o tio Christian, que a gente já não via há um tempão, foi lá hoje!
– Por que o tio Christian parou de visitar? – aproveitou para perguntar.
– Deve ter brigado com o papai. – deu de ombros, secando os olhos. – Pelo menos, é o que acontece com todas as mulheres que são amigas do papai num dia e no outro não visitam nunca mais... Dul?
– Sim?
– Você não vai brigar com o papai, né? Eu não quero que você vá embora também, como todo mundo.
Dulce se virou para olhá-lo melhor.
– Vamos fazer assim: eu não posso prometer que não brigarei com o seu pai, afinal, adultos às vezes são complicados e briguentos... Mas independente do que acontecer entre nós, isso não vai me afastar de vocês. Combinado?
– Combinado. Você promete, né?
– Prometo.
– Jura?
Dulce riu.
– Juro!
Ele sorriu e abraçou-a pelo pescoço.
– Eu te amo, sabia, Dulce?
Dessa vez o sorriso se alargou pelo rosto dela sem qualquer esforço.
– Eu também te amo, Lu.
– Eca – Guilherme fazia careta, aparecendo no topo da escada. –, se vão ficar falando de amor eu nem desço.
– Eu também amo você, mesmo com todo o seu mau-humor, Guille. Não seja ciumento.
– Que seja. – respondeu dando de ombros, descendo até o irmão e a empregada, mas Dulce viu-o tentando reprimir um sorriso. – Vamos jogar videogame?
Comentários
unavondy_, luanavondy e luanavondy: Sim, voltei a postar aqui! Pretendo postar até o fim, especialmente agora, sabendo que estão lendo! Muito obrigada por continuarem acompanhando, eu estava em dúvida se alguém apareceria, haha. Muito obrigada por todo o carinho, viu?! <3
Nota da Autora
O capítulo não está incompleto, este é apenas o título (e é mera coincidência que justamente ele tenha ficado menor que os anteriores).
- A. K. Cardoso