Fanfics Brasil - Capítulo 03: Ninguém se compara a você Uckermann ♥

Fanfic: Uckermann ♥


Capítulo: Capítulo 03: Ninguém se compara a você

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A manhã começou cedo demais. Sempre seria cedo demais para o que aguardava Dulce naquele dia.


— Bom dia, raio de sol.


Ela levantou o rosto do peitoral nu do amigo e o encontrou sorrindo.


— Há quanto tempo está acordado? — perguntou esfregando os olhos e sentando-se de costas na cama.


— Um tempinho. — ele hesitou. — Você estava inquieta. Passou a noite inteira sussurrando coisas.


— C-coisas? — ela virou-se para olhar a expressão do amigo.


Ele deu de ombros, levantando-se também.


— Não dava para entender. Mas estou preocupado. Você está bem?


— Um pouco atordoada, claro... Mas vou sobreviver. Quer tomar o seu banho antes? Eu vou lavar o cabelo.


— Pode entrar comigo, se quiser.


Ela negou com a cabeça, mas sorriu, agradecendo. Ele deu um beijo na testa dela e pegou uma toalha, entrando no banheiro da suíte.


Dulce precisava de um tempo sozinha, de um tempo longe até mesmo de Daniel, mesmo que pela curta duração de um banho. Os fatos das últimas horas ainda estavam sendo digeridos e a perspectiva de ficar novamente cara-a-cara com Christopher não acalmava em nada.


A verdade é que ela temia falar com o ex-patrão. Na noite anterior, ele lhe lançara um olhar que ainda estava gravado em sua retina, perturbando-a. Se ele conseguira lhe acertar sem palavras, imagine se carregasse uma arma de ofensas e mirasse nela?


Dulce passou novamente a mão pelo rosto e pelos cabelos, nervosamente. Levantou-se e saiu do quarto. Sem sequer pensar bem no que estava fazendo, parou na frente da porta do quarto em que os meninos dormiam. A porta estava aberta e as cortinas também, o que indicava que alguém já começara a árdua tarefa de tentar acordá-los. Mesmo assim, ambos continuavam deitados, e por isso, a ruiva pode observá-los por alguns instantes.


Lucas se virou na cama, já de olhos abertos, e o olhar dos dois se encontraram. A respiração de Dulce ficou presa na garganta, esperando a reação do pequeno. Mas ele apenas continuou encarando-a, com seus olhos inquisidores e tristes.


Por fim, ele se levantou, pegou suas coisas e já ia entrar no banheiro do quarto quando se virou para ela novamente.


— Dulce? — sua voz era tão baixa que ela acharia ser a própria imaginação, se não tivesse visto a boca dele se mover. — Eu senti sua falta.


Ele se virou e fechou a porta atrás de si rapidamente, deixando-a com o coração ainda mais partido. Ela secou uma lágrima que escapara, e olhou uma última vez para Guilherme que ressonava tranquilo e inabalável em sua cama, antes de se virar para sair dali.


— Tudo bem, Dul? — a voz de Taylor a assustou. — Sinto muito. Não quis interromper o seu momento.


— Você ouviu?


— O quê?


Dulce balançou a cabeça, deixando para lá.


— Vou só escovar os dentes e já te ajudo com o café.


— Não se preocupe, já preparei. Pode usar o banheiro da Leighton, ela só está se trocando.


Concordando, ela entrou no quarto para pegar suas coisas e ir tomar seu banho. A água morna seria seu último momento de relaxamento antes de caminhar diretamente para dentro do furacão dos Uckermann novamente.


...


 


O motorista de Leighton levou Guilherme e Lucas para a escola, e a herdeira pegou o outro carro para ir para a empresa com os amigos.


Dulce descobriu que Taylor também estava fazendo trabalhos para a Uckermann`s agora, como modelo. Não era um emprego fixo, mas naquele dia, por sorte, ela tinha uma sessão de fotos. Era confortante saber que todos os seus amigos estariam à distância de alguns andares.


Taylor acompanhou Daniel até a nova sala dele e Leighton levou a ruiva até a sala do pai.


— Não se preocupe, você vai se sair bem. — disse, assim que chegaram ao corredor. — É aquela porta ali. Eu não vou entrar, porque como você viu, eu e meu pai não estamos muito bem... Mas te vejo no almoço, ok? Taylor e eu viremos te pegar aqui. Estaremos no andar de baixo, junto com Daniel, caso precise de algo.


— O-ok. Obrigada.


Leighton piscou e saiu em direção ao elevador. Dulce se virou, preparada para marchar até sua nova sala.


— Ei! — ela ouviu uma voz familiar, animada.


— Ei! — ela sorriu ao ver o loiro. — Christian, não é?


— Sim. É um prazer revê-la, Dul.


Ela ia esticar a mão para cumprimentá-lo, mas ele a puxou para um rápido abraço, sussurrando contra seus cabelos.


— Caminhe comigo.


Conforme se separaram, Christian permaneceu com um braço passado pelos ombros da ruiva, e ela abraçou a cintura dele, acompanhando-o pelo corredor.


— Maite me contou o que aconteceu. Sinto muito pela sua mãe, de verdade. Mas fico feliz que você esteja de volta. Você não faz ideia do quanto a sua chegada foi conveniente.


— Foi, é?


— Sim. Você sabe que dia foi ontem, não sabe?


— O noivado. Sim, as garotas me contaram.


— Exato.  — Christian parou em uma mesa, pegando café. — Servida?


— Aceito.


— Bom, Christopher perdeu o juízo de vez. Graças a você, recuperei meu melhor amigo. Quando você partiu, ele falou muito sobre você... Mas mesmo assim eu tento colocar alguma noção na cabeça dele agora, e ele não escuta.


— Céus... — Dulce suspirou, aceitando o copo descartável que ele oferecia. — Por favor, não me diga que você também está envolvido nessa teoria da conspiração.


— Você precisa parar esse casamento, Dulce. Sei que não nos conhecemos o suficiente, eu talvez nem devesse estar te pedindo isso, mas... Por favor. Isso é uma tragédia esperando para acontecer. Ninguém sairá feliz.


— Christian, eu não vim aqui para isso. Eu não voltei pelo Christopher. Ele pode se casar com quem quiser, não me interessa.


— Até onde eu sei, você também dizia isso quando chegou aqui da primeira vez. Que não tinha vindo para se envolver com ele. Três anos depois, olhe onde estamos.


— Em lugar nenhum! — protestou ela.


— Christopher nunca admitiu, ainda mais pela forma como tudo terminou entre vocês, mas ele se apaixonou por você. Perdidamente. Ele nunca foi daquele jeito antes. Nunca. Nem mesmo com a Naomi.


— Que seja. Isso foi há anos. Você mesmo disse, as coisas não terminaram bem.


— Ele se recusa a falar de você... Todos esses anos, e ele ainda não fala. Toda vez que tentei tocar no seu nome, ele fugia. Ele estava machucado. A dor faz as pessoas agirem de forma estúpida. A estupidez de Christopher se chama Belinda.


— Não há nada que eu possa fazer, Christian. Nem mesmo se eu quisesse.


— Não estou te pedindo para literalmente causar uma cena no casamento. Não estou te pedindo para se jogar nos braços dele. Céus, eu nem quero isso, Dul! É que você não ficou para ver, mas ontem, depois da surpresa que as garotas aprontaram, depois que Christopher te viu... Tudo mudou. Normalmente, ele apenas acalmaria Belinda. Ontem, ele brigou com ela. Ele ficou inquieto e irritadiço. Ele ficou olhando por cima do ombro o tempo inteiro. Ele fechou a cara, ele mudou. Você ainda causa efeito nele. A história de vocês ficou inacabada, independente de qualquer coisa. E uma história inacabada tem uma força inacreditável.


— O que você quer de mim, afinal?


— Apenas fale com ele. Para o bem ou para o mal, mas fale com ele. Coloquem os pingos nos is. É só o que te peço.


— Christian... — Dulce sentia seu estômago retorcer, e colocou o copo de café na mesa sem sequer tocá-lo. — Ele sabe por que eu fui embora. Eu posso ter errado, mas ele nunca sequer ligou para perguntar como estavam as coisas.


— Ou seja, você também tem questões pendentes com ele. Vocês só poderão resolver essas coisas um com o outro. Falando francamente, cara a cara. Não adianta ficarmos com `ele disse, ela disse`. São vocês dois que precisam conversar. E, com sorte, isso talvez salve a todos nós da onda de terror que esse casamento tem potencial para se tornar.


Dulce apenas forjou um meio sorriso e disse que tinha que se apresentar na sala de Paul, afinal, era seu primeiro dia. Conseguiu fugir do colega, mas não das palavras que ele deixou rodopiando em sua mente.


Ao entrar na antessala de Paul, ela encontrou o patrão sentado ali, à mesa que ela logo ocuparia.


— Bom dia. Perdão pelo atraso, senhor.


— Bom dia, querida. Não se preocupe, eu estava apenas esperando você chegar para lhe explicar algumas coisas. Preparada para começar?


— Acho que sim.


Paul lhe explicou alguns detalhes sobre a função e Dulce se reconfortou um pouco. Havia algo nele que a fazia relaxar, sentir-se bem. Era quase como um dia fora ficar ao lado de Christopher, era fácil.


Eventualmente, Paul voltou a sua sala e Dulce ficou sozinha novamente com seus pensamentos. A manhã foi um pouco agitada, mas bem menos assustadora do que ela previra. Ela estava surpresa com a aptidão que tinha para aquilo, parecia que já trabalhava ali há tempos quando, na verdade, nunca fizera nada nem parecido.


Na hora do almoço, elas foram à um pub ali perto, onde a ruiva contou que seu dia ia bem, mas deixou as amigas discorrerem sobre suas sessões de fotos. Daniel, que trabalhava com Christian no mesmo andar que as outras duas, estava bastante envolvido na conversa. Aparentemente, ele e Christian invadiram a sessão em algum momento e ficaram bagunçando por lá.


De qualquer forma, Dulce sabia que Daniel sempre fizera amizades mais facilmente, e vendo-o interagindo daquela forma com as amigas, Dulce lembrava porque quisera apresentá-lo a Taylor, em primeiro lugar. Os dois riam como se o primeiro encontro que tiveram tivesse sido no dia anterior, como se o hiato de três anos entre eles nunca tivesse ocorrido. Eles eram perfeitos um para o outro, só não sabiam disso ainda.


Depois do almoço, Dulce voltou solitária para sua sala. A tarde começou mais calma, mas ela deveria ter previsto que aquilo era apenas a famosa calmaria que precedia a tempestade.


Christopher apareceu na sala do pai, o que os forçou a ficarem sozinhos pela primeira vez desde que tudo aconteceu. Era inevitável pensar que da última vez que estiveram a sós, havia poucas palavras sendo ditas e muitas roupas sendo tiradas.


Portanto, naquele momento na antessala de Paul, a situação não poderia ter sido mais desconfortável e estranha. Era evidente que Christopher não queria olhar na direção de Dulce, mas, ao mesmo tempo não tinha muitas opções. Assim, a ruiva quase podia ver a batalha que se travava em sua mente, entre o orgulho e a curiosidade.


— Meu pai está? — perguntou por fim, após quase dois minutos parados à porta.


— Sim, senhor. Vou anunciá-lo.


Era incrível que aquelas fossem as primeiras palavras que eles trocavam em tanto tempo. Parecia forçado, errado.


Ela pegou o telefone, ligando para o ramal da sala atrás de si e avisando que o filho dele estava ali para vê-lo. Paul pediu para esperar, porque estava com alguém. Dulce estranhou. Voltara do almoço há quase uma hora, e não vira o patrão. Estivera com alguém esse tempo todo?


Dulce pediu que Christopher esperasse um pouco, ao que ele se sentou no lugar mais distante do pequeno sofá que ficava ao canto.


O silêncio reinou enquanto eles faziam de tudo para ignorar a presença um do outro. Mas na mente da secretária, os pensamentos gritavam tão alto que ela só podia se perguntar se ele podia ouvi-los, se ele também sentia o nervoso pulsando em suas veias. É claro, Christopher era um bom jogador e, por isso, bom em manter suas feições neutras. Seja o que for que estivesse sentindo, nunca deixou transparecer o suficiente para que ela pudesse lê-lo.


Os minutos se estenderam. O silêncio dos dois perdurava, como se um desafiasse o outro a ceder primeiro frente àquela pressão. Christopher se endireitava no sofá e mexia uma perna, agitado. Dulce tentava ignorá-lo e segurar sua boca fechada. Quando ela achava que não aguentava mais, que precisaria ser a primeira a acabar com aquela cena patética, ouviu a voz quebrada dele, incerta e confusa:


— D-Dulce... — ele olhava para as próprias mãos quando os olhos dela miraram na direção dele. Ele finalmente levantou o rosto para encará-la de volta, com uma ruga de confusão se formando entre suas sobrancelhas apesar da decisão irritada que seus olhos transpareciam. — Eu...


Mas fosse lá o que ele quisesse dizer, as palavras foram cortadas pelo som da porta do escritório de Paul se abrindo e fazendo ambos se sobressaltarem.


Antes que ela conseguisse fazer seu coração voltar ao ritmo normal, três vozes começaram a se sobrepor rapidamente.


— Você só pode estar brincando. — a voz feminina era fria e ácida ao mesmo tempo, e Dulce reagiu sentindo aflição, como se unhas arranhassem uma lousa, apenas segundos antes que ela pudesse confirmar com os próprios olhos a quem a voz pertencia.


— O que ela está fazendo aqui? — Christopher levantou-se de um salto e o momento com a secretária tinha passado completamente. A voz dele transbordava seu incômodo e ele se dirigia ao pai um pouco mais alto que o necessário.


— Christopher, o tom. — Paul, inabalável como sempre, apenas alertou.


— Eu sou sua noiva. — Belinda parecia indignada quando apontou na direção da ruiva de forma ameaçadora. — O que ela está fazendo aqui? Já não basta a cena que ela aprontou ontem?


Dulce piscou lentamente e ergueu as sobrancelhas na direção da loira.


— Perdão? — perguntou incrédula antes que pudesse se conter. — Eu aprontei?


— Não me dirija à palavra quando eu não estiver falando com você. — resmungou entredentes.


— Deixe-a fora disso, ela não teve...


— Oh! É inacreditável! — Belinda deu uma risada histérica e sem humor. — Depois de todo esse tempo, depois de tudo, você ainda sai em defesa dela? Ao invés de mim, Ucker?


— Belinda. — Paul segurou-a pelo cotovelo e ela fechou os olhos, soltando uma lufada de ar pela a boca, enquanto engolia com amargura o que quer que pretendesse dizer. — Christopher, leve os seus problemas para o seu escritório.


Christopher também parecia indignado, olhando do pai para a noiva enquanto balançava a cabeça.


— Não ouse se referir a mim como `problema`. — Belinda virou-se na direção de Paul, o dedo em riste a centímetros do nariz dele que, por sua vez, continuava tranquilo.


— Eu preciso falar com o senhor. — Christopher resmungou. — Lido com ela depois. Podemos?


Belinda fez um som como se estivesse ofendida, mas ambos os Uckermann a ignoraram.


— Estou de saída, Christopher. Lide com ela agora. Ela é sua noiva, afinal. E família é família.


Paul não esperou o filho dizer mais nada e entrou em sua sala novamente para pegar seu paletó, vestindo-o enquanto saía, passando pelo casal sem dar mais nenhuma indicação de notá-los ainda parados ali irritados.


Christopher revirou os olhos e olhou de esguelha para a noiva.


— Minha sala. Vamos.


Ele olhou uma última vez em direção à ruiva, agora de forma mais discreta. Ela quase podia jurar que ele tentava dizer algo com o olhar, mas fosse verdade ou sua imaginação, ela nunca descobriu.


Belinda, por sua vez, passou jogando o cabelo, de queixo erguido e toda a postura de alguém que se acha superior.


Quando se viu sozinha, Dulce só conseguia pensar em bater a testa compulsivamente contra o tampo da mesa. Mas os gritos que logo começaram a emergir da sala ao lado tiraram o seu foco.


...


 


— Porque raios você estava na sala do meu pai? — Christopher perguntou irritado, assim que fechou a porta atrás dele e da noiva, em sua sala.


—Porque alguém tem que fazer algo! Você ainda não tinha chegado do almoço, decidi levar minha reclamação ao seu superior.


—Reclamação sobre o quê?!


—Sobre ontem, Ucker!


— E oque ele tem a ver com isso, Belinda? Não era um evento da empresa, era o nosso noivado! Isso não vem ao caso enem deve ser discutido aqui!


— O nosso noivado não vem ao caso? — ela reclamou alteradae ele tinha certeza que a voz aguda poderia ser ouvida muito além das paredes da sala. — Aquelas idiotas estragaram o nosso dia!


—"Aquelas idiotas" são minhas irmãs, então preste muita atenção como fala.


— Sua irmã.— assinalou, pronunciando o singular com ênfase. — A outra é uma empregadinha metida à família.


—Escute bem, porque eu só vou te explicar isso uma vez: Taylor é família, Belinda. E se você pretendeser uma Uckermann, acostume-se com esse fato. Eu levo de forma muito pessoal qualquer desrespeito a ela.


—Assim como leva com aquele espantalho ruivo, não é? — ela ria ironicamente e falava alto. Christopher não sabia mais dizer se ela apenas estava alterada ou se fazia questão de que a secretária, na sala ao lado, pudesse escutá-los também e saber quem mandava ali.


— Nãose meta com elas. Eu estou te avisando. Não avisarei duas vezes.


— Ou o quê? Vai me bater? —desafiou, aproximando-se dele enquanto falava. — Vai cancelar o casamentou? Do que exatamente você acha que eu tenho medo, Uckermann? Com o que você acha que pode me ameaçar?


Elefechou os olhos, tentando manter o foco. Não podia cair nos jogos de Belinda. Ela, porém, viu o silêncio como sua deixa e continuou o seu monólogo:


— Vocêestá comigo porque eu sou a única quete aceita como você é. Com as suas canalhices, com as suas idiotices e com o que mais vier! Não existe ninguém neste mundo que seja tão boa para você quanto eu. Não existe ninguém que possa te fazer tão feliz quanto eu. Não existe ninguém disposto a calar a boca eengolir tudo que eu engulo para estar ao seu lado. Você está comigo porque eu sou o mais perto do paraíso que você pode chegar! Então, diga-me, com o que você acha que pode me ameaçar? Se eu te deixar, será mais um dos seus relacionamentosfalidos para estampar os jornais e revistas, e mais anos de solidão que você terá que aguentar. Eu posso ir embora e te tirar o último vestígio de alegria que você tem! — a centímetros dele, ela abaixou o tom para quase um sussurro. — Você pode me ameaçar com a merda que quiser, mas ainda sou eu quem tem o poder aqui.


—Então você sabe que eu só estou...


— Não.— cortou ela, sorrindo perigosamente. — Você diz isso para si mesmo, mas você não está comigo apenas porque ela te deixou. Você não está comigo apenas porque eu te lembro ela. Eu não sou a substituta do amor que você perdeu. Eu sou o amor que você sente, mas se recusa a admitir. É por isso que eu persisto e permaneço ao seu lado. Você me ama. É por isso que você sempre volta a mim. E eu sou a única que te ama o bastante para permanecer aqui, te esperando, enquanto você percebe isso. Ninguém te obrigou a casar comigo, querido. Você me ama, Ucker. Não adianta mentirpara si mesmo. Você é tão meu quanto eu sempre fui sua.


Sepessoas tivessem um botão de autodestruição, Christopher teria apertado o seu naquele momento e se explodido voluntariamente. Qualquer coisa para não ter que lidar com aquilo.


Eraincrível que mais uma vez Dulce produzisse aquela inércia em sua vida. Não adiantava negar. Fora a chegada dela, menos de vinte e quatro horas atrás, que fizera tudo sair do rumo tranquilo e estável que vinha percorrendo. Fora ela quem alterara a trajetória retilínea e colocara em perspectiva o grande erro que ele estava cometendo. Infelizmente, porém, Belinda tinha razão em boa parte de seu discurso. Ninguém no mundo ficaria ao lado dele através de tantos altos e baixos quanto ela própria. Ela fora a única que estivera com ele desde o princípio... E provavelmente a única que estaria até o final. Ele preferia um relacionamento caótico à solidão da própria mente, às conquistas vazias e extenuantes de cada dia.


— Vápara casa, Beli. — ele suspirou derrotado. — Nos falamos mais tarde.


— E tedeixar aqui sozinho com aquela ali? — ela apontou para a parede que os separava da sala de Dulce.


— Vápara casa. — repetiu, enfatizando cada uma das palavras.


Osolhos de Belinda eram como os de um animal que fora ferido. Ela se aproximou, fazendo um biquinho de tristeza infantil, e tentou beijar os lábios do noivo, mas ele virou o rosto e se afastou, passando para o outro lado da mesa e se acomodando em sua cadeira, começando a mexer em alguns papéis.


— Eute amo, Christopher. — sussurrou ela em uma voz amolecida pela tristeza. Embora tenha registrado o inusitado uso de seu primeiro nome, que ela ainda usava apenas em raríssimas ocasiões, ele continuou ignorando-a porque, afinal, não podia responder o mesmo sem soar falso, especialmente naquele momento.


Derrotada,Belinda se retirou da sala sem mais dizer nada.


...


 


O resto do dia transcorreu sem maiores imprevistos. Mas, também, era difícil que algo pudesse superar o ápice que fora a visita de Belinda. Ainda assim, Dulce respirou aliviada quando, no fim da tarde, Paul disse que ela estava liberada.


Porém, ficar entre os Uckermann era desgastante. Nada que ela não fosse se readaptar rapidamente, é verdade. Mas por enquanto, ela apreciaria um momento sozinha. Sabendo que não conseguiria isso no apartamento de Leighton, com Taylor e Daniel em sua cola, ela estava tentada a inventar alguma mentira para os amigos, mesmo que não tivesse ideia aonde ir e mal conhecesse a cidade (afinal, praticamente todas as vezes que saiu, anos atrás, estava acompanhada).


Christian apareceu à porta, com um sorriso que deveria tê-la deixado em alerta, mas que naquele momento era apenas o atendimento de seus pedidos.


— Quais os planos para hoje, Dul?


— Casa da Leighton, acho.


— A Tay não está ficando lá?


— Sim.


— E o Daniel?


— Também.


— Os garotos?


— Não sei. Dormiram lá na noite passada, mas...


— Anahí e Christopher não se aguentam duas noites seguidas. — completou, compreensivo. — Também acho. De qualquer forma, você está com cara de que poderia sair um pouco. Uma bebida, talvez? Alguém para conversar...


— Você está me chamando para sair?


— Por que não? Tem um pub aqui perto. Se chama Cheers. É bem legal, e eu estou indo para lá daqui a pouco. Só estou esperando a Mai terminar, mas você sabe como ela é...


— Ok, ótimo. — concordou sorrindo, agradecida. — Chamo os outros?


— Nah... — ele dispensou com um aceno de mão. — Você poderia desabafar com alguém diferente esta noite, não acha?


— É, acho que sim...


— Beleza. — ele deu um pulo da cadeira, puxando um bloco de anotações e uma caneta. — Nos encontramos lá em uns quinze, vinte minutos? Passe uma mensagem para mim quando chegar, tá?


— Combinado.


Christian sorriu e esticou-se por cima da mesa para dar um beijo desajeitado no topo da cabeça dela, fazendo-a rir. Era incrível que mal o conhecesse e já gostasse tanto dele. Era ainda mais incrível imaginar que ele e Christopher fossem melhores amigos, ou que o herdeiro tivesse conseguido sobreviver sem seu amigo ao seu lado para animá-lo.


Ela concluiu o que estava fazendo, desejou uma boa noite para Paul quando este saiu, e arrumou a sala antes de pegar a bolsa e avisar para os amigos, por mensagem, que sairia e chegaria mais tarde em casa. Eles concordaram sem mais perguntas e assim ela rumou para o endereço que Christian lhe anotara. Chegando lá, passou uma mensagem para o rapaz, que não demorou a retornar com uma resposta breve: "no bar".


Dulce foi caminhando entre as pessoas, apreciando a falação ininteligível de vozes misturadas. O lugar não estava lotado de forma claustrofóbica, mas ainda era perfeito para se perder observando a vida alheia e se distrair da sua própria. Por isso, enquanto procurava pelos cabelos loiros de Christian no bar, ela sorria.


— Dulce?


A voz confusa veio de trás e foi como se gelo escorresse pela coluna da ruiva. Conforme se virava para encará-lo, ela começou a perceber quão ingênua havia sido.


— Christian está aqui? — perguntou de uma vez, ignorando o fato de haver uma garota pendurada ao pescoço do ex-patrão.


O entendimento se espalhou pelo rosto de Christopher, que balançou a cabeça compreensivamente.


— Eu deveria ter suspeitado. — murmurou. — Não, ele não está. Mas aposto que ele que te convidou, não foi?


— Sim. Não sei como não imaginei que... Bom, não importa. Estou indo.


— Ei, não, espere. — Christopher se desvencilhou da garota para segurar o braço de Dulce, mas logo se afastou novamente, como se pudesse levar um choque ao tocá-la. — Quero dizer... Eles não vão desistir enquanto não conseguirem que passemos algumas horas juntos, não é? Vamos acabar com isso de uma vez.


— Ou podemos mentir. — ela deu de ombros.


— Você está ficando com a minha irmã? Com Christian? Com Maite? Todos eles estão fazendo um complô para boicotar o meu casamento, caso não tenha percebido. — ele se virou para a garota e cochichou algo no ouvido dela que a fez sorrir e se afastar. — Vamos, uma bebida. É por minha conta.


Dulce o encarou por um instante enquanto fazia uma lista mental de prós e contras.


— Bom, não pode ficar pior mesmo. Dez minutos, no máximo, e eu estou indo embora.


Christopher ergueu as mãos em rendição e deixou-a passar para se sentar em uma das banquetas ao bar. Ela escolheu um lugar mais afastado, e ele se sentou ao lado dela, sinalizando para o bartender que rapidamente lhes serviu suas bebidas.


— Então... — Dulce começou, depois de um longo gole. — Belinda, hein?


Ele riu timidamente e virou seu uísque de antes de responder.


— Ela não é tão ruim quanto parece.


— Oh, claro! — a ruiva não segurou a risada. — Christopher Uckermann, o romântico!


— Tanto faz. Ela é ok. Quero dizer... — o sorriso sumiu do rosto dele, a voz ficou mais dura, mas ele ainda não levantara o olhar do copo vazio. — Ela sempre esteve ao meu lado.


Dulce se empertigou em seu lugar e bebericou novamente para ganhar tempo.


— É, imagino que seja bom. Sabe, ter alguém com quem poder contar em qualquer momento. Você está certo em querer isso... É o que todos querem, não é?


Os olhos dele finalmente encontraram os dela em um misto de dor e irritação.


— Eu nunca fui bom em ser passivo-agressivo, então vamos simplesmente colocar as cartas na mesa, ok? Eu voltei para o litoral para encontrar minha ex-mulher no hospital, meus filhos inconsoláveis, meus melhores amigos preocupados... E você tinha sumido no mapa. Com apenas um bilhete. Então, é, eu não corri atrás de você. Porque você não queria que eu corresse, queria? Você fugiu de mim, como já tinha fugido antes.


— E eu acordei para uma cama vazia, Christopher! Conveniente, não? Logo depois de você conseguir o que queria desde o primeiro instante que eu pisei no seu apartamento, você colocou um oceano de distância entre nós. Se isso não é um sinal, eu não sei o que é!


— Você não sabe, então. — ele virou o rosto para o copo vazio novamente, passando o dedo na borda distraidamente. — Era uma emergência da empresa. Você não sabe o quanto me custou ir embora naquele momento. Eu teria explicado tudo se você tivesse me dado tempo.


— Eu não tinha tempo para perder com um conquistador que podia ou não estar remotamente interessado em mim. A minha mãe não tinha tempo, Christopher. Para viver!


Ele ficou quieto por longos segundos, e Dulce balançou a cabeça, desistindo de encará-lo enquanto ele brincava com o copo, e se concentrou na própria bebida.


— Eu estava mais do que remotamente interessado em você, Dulce. — a frase saiu baixa, mas tão clara que nem a música e o falatório ao redor poderia ter abafado. — Muito mais.


Ela engoliu em seco, pega de surpresa, sem saber o que dizer.


— Mas acho que você sabia disso, não é? Você tinha medo. Eu não te culpo por ter medo, Dul. Eu sei que não sou digno de confiança... Mas você? Eu não teria te machucado intencionalmente, nem em um milhão de anos. Não você. Eu não conseguiria fazer isso sem me machucar também. Achei que tivesse deixado isso bem claro. Eu já estava muito envolvido.


— Não sei o que você espera que eu diga. — confessou. — Mas não pedirei perdão por ter ido ficar ao lado da minha mãe em seus momentos finais.


— Não quero que peça. Eu só queria que você tivesse esperado eu chegar. Ou me ligado antes de partir, me passado uma mensagem... Qualquer coisa menos aquele bilhete idiota com meia dúzia de palavras. — ele suspirou, encarando-a derrotado e machucado. — Eu teria ido para o interior com você, eu teria levado sua mãe para o melhor hospital da capital, eu teria pagado todas as despesas de qualquer tratamento que ela precisasse. Eu a levaria para fora da droga do país, se houvesse algo em algum lugar que pudesse dar um dia extra de vida para ela, que fosse! Eu só precisava que você confiasse o mínimo que fosse em mim, e que não tivesse nos abandonado sem nem um adeus. Eu achei que depois de tudo... Nós merecíamos mais do que aquilo.


O silêncio que se seguiu estendeu-se por muito mais tempo do que o necessário para tornar-se desconfortável. Dulce mexeu a cabeça, tentando relaxar um pouco os ombros e a tensão que se instalara neles.


— O que aconteceu com Anahí?


Christopher a encarou confuso até perceber que ela se referia ao acidente que acontecera na noite em que partira.


— Acidente de carro. Ela teve uns ferimentos leves pelo corpo, mas a concussão na cabeça foi mais séria, ela ficou inconsciente por um bom tempo. Quando eu cheguei, ela ainda estava inconsciente, na verdade. Por isso, quando acordou, não demoramos a perceber que a memória dela tinha sido afetada. Aos poucos ela recuperou uma boa parte... Os médicos dizem que é difícil dizer se ela recuperará a outra parte ou não. Talvez esteja bloqueando intencionalmente, por causa do trauma, eles não sabem dizer.


— Menos mal, acho... Mais alguém se machucou?


— O outro motorista quebrou o fêmur e desmaiou quase imediatamente por conta da dor. Mas na audiência ele parecia bem... Foi ele que causou o acidente. Ele ultrapassou o sinal vermelho. Segundo ele, ele estava devagar e o carro surgiu do nada. Mas Anahí estava bêbada e com problemas de memória, e o homem com quem ela saira nunca foi identificado. No fim das contas, o caso não deu em nada. — Christopher procurou os olhos aliviados de Dulce. — Poncho não precisava ter fugido.


Mais uma vez a ruiva sentiu gelo escorrer por suas veias, desta vez, com maior intensidade.


— Q-que?


— Foi por isso, não foi? Que vocês foram embora com tanta pressa? Sem se despedir nem nada? — ele meneou a cabeça, sorrindo tristemente para ela. — Sabe, eu posso ser rico, mas não sou burro; eu sei ligar os pontos e somar dois mais dois. Por exemplo: Poncho ficou internado durante um bom tempo antes de aparecer na minha casa. Vocês tinham essa relação estranha, cheia de rancor e alfinetadas, o que não aconteceria se ele tivesse acabado de sair de uma quimioterapia, ou qualquer outra doença, na verdade. E você não bebe. O que, é perfeitamente normal. Muitas pessoas não bebem... Por motivos religiosos, por exemplo. Mas não é o seu caso. Porque sua mãe ficou em coma e você não foi nenhuma vez à igreja ou mencionou qualquer tipo de deus ou santo. Ainda assim, muitas pessoas não gostam de beber. Mas também não era o seu caso, porque eu vi você beber algumas vezes. Você só não gosta do conceito do álcool, não é? Também, a sua tolerância à bebida não é tão alta quanto você acha, o que significa que você não bebe com frequência. Então, me diga, Poncho é ou não é um ex-alcoólatra, Dulce?


Os olhos marejados de Dulce finalmente transbordaram com um soluço que veio rasgando sua garganta contra o impulso dela de segurá-lo. Christopher entrou em pânico imediatamente ao vê-la se desfazer em lágrimas.


— Não, não, por favor... — ele tocou o braço dela, extremamente perturbado. — Eu não sei lidar com mulheres chorando... Sinto muito, Dul. Eu faço o que for, mas pare de chorar, por favor. Eu prometo não me meter mais, ok?


Com uma mão ela tapou os olhos, enquanto tentava se recompor. A mão de Christopher ainda estava em seu braço, inadvertidamente acariciando-o de forma consoladora. Ele puxou sua banqueta para mais perto dela. Agora, se estendesse os braços poderia envolvê-la e trazê-la para si. Mas não o fez, por mais que quisesse. Apenas puxou a mão dela para longe do rosto, e com um dedo gentilmente inclinou o rosto dela em sua direção novamente, para que seus olhos se encontrassem.


— Eu fui idiota. Sinto muito. Não é da minha conta.


— Não... — ela balançou a cabeça e suspirou profundamente antes de olhá-lo novamente com uma expressão de rendição. — Eu deveria tê-lo feito enfrentar as autoridades. Eu não deveria tê-lo acobertado. Ele precisa aprender a encarar os erros... Ele saiu impune de novo.


— D-de novo? Dulce... O que...?


Ela fechou os olhos. Era como estar em frente à praia e ver a maré puxando rapidamente, saber que a onda gigante de destruição viria.


Mas, pela primeira vez, ela não correu.


— É uma longa história...


— Eu não estou indo a lugar algum. Temos todo o tempo do mundo.


Ela forjou um sorriso que requeria toda a sua energia.


— Assim como você, eu também tive uma família complicada...


 Christopher se prendeu em cada uma das palavras que a ruiva disse então. Foi paciente e a apoiou como podia através da enxurrada de lágrimas que se seguiu. Ele próprio sentiu-se devastado pela história trágica da infância e adolescência daquela mulher. O romance tóxico de seus pais, a doença da irmã mais nova, o acidente fatal envolvendo o irmão alcoólatra.


Como pudera passar tanto tempo ao lado dela e nunca ter percebido nada daquilo? Como pudera ser tão egoísta e orgulhoso de achar que tinhas grandes problemas quando ela enfrentara uma vida tão dolorosa sem nunca baixar a cabeça?


De repente, era como se as conversas ao redor tivessem cessado. Ele finalmente via a mulher por trás de tantas barreiras e segredos, aquela a quem confiara tanto, finalmente retribuindo-lhe a confiança. Ela havia se desarmado e baixado a guarda para ele. E a pessoa frágil por detrás da armadura era ainda mais incrivelmente fascinante do que a versão que já havia lhe deixado de joelhos, anos antes.


— Eu sinto muito. — disse ele, depois de um instante de silêncio que se estendeu ao fim da narração.


— Você não tem culpa do meu passado problemático. Como eu já te disse, todos têm cicatrizes, Christopher.


— Sim, mas eu também sinto muito por ter sido cegamente orgulhoso. Por tê-la deixado partir. Você fugiu porque eu te deixei fugir. Eu não corri atrás de você. Eu sou um hipócrita que estava com tanto medo de qualquer coisa remotamente semelhante a um compromisso, que eu te deixei ir embora. Era mais fácil do que arriscar. Mas eu estava errado. Eu deveria ter te ligado. Ido até a sua cidade, se você não atendesse. Oferecer a minha ajuda e o meu ombro, mesmo que você não aceitasse. Eu deveria ter tentado. Sinto muito que tenha levado tanto tempo para eu perceber isso.


— Está tudo bem... — ela parou e riu. Primeiro, uma risadinha anasalada e tímida, mas que aumentou até ela ter que apoiar os cotovelos no bar e as mãos na cabeça. — Céus... Está tudo bem.


Dulce olhou para o homem confuso ao seu lado, e abriu o mais doce sorriso que ele já vira.


— Obrigada.


— Por que está me agradecendo?


— Porque está tudo bem agora. É a primeira vez que eu conto essa história para alguém, é a primeira vez que falo de Laura em anos... E é como se um peso saísse de cima de mim. — ela passou a mão pelos cabelos. — Nunca vai deixar de doer. Não tê-la comigo, pensar que eu poderia tê-la protegido mais... São muitas coisas, sabe? Mas é como se eu finalmente pudesse respirar sem o risco de sufocar em todas essas lembranças. Obrigada por isso, Christopher.


— Não agradeça. Você também já me salvou várias vezes. É o mínimo que eu poderia fazer. Eu fico feliz de poder ajudar de alguma forma.


— Bom... Quanto tempo demorou para você formular a sua teoria sobre o Poncho?


— Acho que foi em algum ponto durante a semana que se seguiu à sua partida.


— E por que não pediu que investigassem mais a fundo? Você tem os recursos para isso.


— Porque Anahí acordou. E alcoolismo também é uma doença. Imaginei que a recaída do seu irmão tivesse tido algo a ver com o fato de o quadro da sua mãe ter piorado. Então, sim, ele pode até ter machucado a Any fisicamente, sem querer. Mas só Deus sabe quantas vezes eu a machuquei de tantas outras maneiras, deliberadamente. Quem sou eu para julgá-lo, afinal?


— Mas foi por isso que você não me procurou, não foi? Porque percebeu a verdade. E sentiu raiva por eu tê-lo ajudado.


— Talvez, em parte, um pouco. Mas isso não importa agora.


— Você me odeia por ter mentido?


— Eu nunca poderia te odiar, Dul. E Anahí está bem agora. Tão bem quanto ela pode estar, pelo menos.


— Perdão por tê-lo acobertado, eu...


— Ei, shh. — ele se aproximou e colocou o indicador sobre os lábios dela. — Vamos deixar esse assunto para trás, ok?


Ela sorriu fracamente.


— Eu adoraria. Que o passado seja passado, então.


— Um brinde a isso. — ele sinalizou para o bartender. — Duas águas, por favor.


Ela abaixou a cabeça, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha na esperança de disfarçar o sorriso que se alargara em seu rosto.


— Que o passado seja passado. — Christopher estendeu um copo a ela e levantou o seu. — E a novos começos.


— Saúde!


A partir daí, a atmosfera ficou mais leve entre os dois, que começaram a conversar sobre os meninos, a empresa, o número musical das amigas durante o noivado, e, é claro, a canalhice incurável de Christopher, mesmo após noivar novamente. Dulce o repreendia em quase tudo, mas ele não se importava. Era bom tê-la de volta para repreendê-lo.


Os minutos e horas se confundiram, entrando naquele universo paralelo dos dois, se apegando e interessando verdadeiramente por tudo que o outro dizia. Eles riam enquanto se descobriam e se redescobriam. Tudo estava igual, mas tudo estava diferente. E isto era simplesmente ótimo.


— Estranho. — ele finalmente assinalou o que estivera no fundo da sua mente durante boa parte da noite. — É como se o tempo não tivesse passado entre nós. É fácil ficar com você, mas ao mesmo tempo...


— É como se estivéssemos nos conhecendo pela primeira vez. — ela completou e ele sorriu torto. — Concordo.


— Exatamente isso. Finalmente tivemos um primeiro encontro, eu acho.


— Se eu soubesse que um encontro com Christopher Uckermann era tão interessante assim, eu com certeza teria acreditado em Taylor quando ela falava sobre o famoso vórtice.


Ele olhou nos olhos dela por um segundo bastante longo, com intensidade, antes de rebater:


— Se Taylor te conhecesse como eu te conheço agora, ela também diria que você tem um vórtice.


Dulce sorriu, mas desviou o olhar. Sabia que aquilo não poderia passar dos limites novamente. Era bom que tivesse entrado em tamanha sintonia com o ex-patrão, mas ao mesmo tempo em que era como reiniciar algo, era um começo novo também. Pessoas mudam em instantes, o que dirá em anos. E Christopher era noivo. Não importava que Belinda fosse a pessoa mais insuportável do mundo, Dulce estava decidida a não fazer a ela o que não gostaria de receber para si mesma.


Vórtices atraem tudo o que está ao redor. Portanto, naquela noite, eles deviam manter uma distância segura um do outro.


...


 


Era tarde e Christopher não chegara.


Belinda chegara ao apartamento à beira-mar horas atrás, logo depois de sair da empresa. Perdera a noção do tempo antes mesmo de o sol começar a descer no horizonte, pintando o quarto em tons alaranjados e o céu de lilás. Chorara até não poder mais, depois apenas ficou observando o quarto silencioso à meia-luz. Havia revistas de noiva e casamento por todo o quarto. Era o projeto no qual estivera trabalhando aquela manhã, antes de ir à empresa. Arrependia-se agora profundamente de ter ido.


Não temia Dulce, mas agradeceria se ela estivesse longe. Nunca gostara dela, pois percebera o carinho que Christopher sempre nutrira pela empregada. Era inacreditável que em tantos anos, ele nunca a tivesse olhado com metade daquela intensidade. Só esperava que ele continuasse odiando a ruiva com o fogo ardente que ela acreditava que ele sentia após o que fizera com Paul para afastá-los, anos atrás.


Aliás, Paul era um idiota completo. Ele a tinha ajudado a separar o filho da empregada e agora a contratava como secretária? O homem só podia estar começando a ficar senil, era a única explicação plausível. Por isso, ela fora buscar satisfações. As respostas dele, é claro, foram insatisfatórias e não compensaram a ida da loira até lá. Fora idiota e arriscado de sua parte, e resultara em uma briga desnecessária com o noivo. Mas o pior foi ver a indiferença nos olhos dele. Aquilo sempre era o que mais a machucava.


Lá de cima, no quarto que dividia com o herdeiro, ela mal pode ouvir o som distante do elevador, indicando que alguém chegara. Estava exausta de chorar e pela primeira vez em sua vida pensou em fingir estar dormindo para não ter que lidar com Christopher.


Ela demorou a perceber que os passos que subiam as escadas não pertenciam ao noivo. Nem mesmo eram de um homem. Porém, até o clique dos saltos ser o suficiente para intriga-la, fazendo se sentar na cama, pronta para sair do quarto e ver quem chegara, os passos adentraram pela porta aberta. Naquele momento, ela estava sentada de costas, e teria se virado rapidamente para encarar o recém-chegado, se a voz não a tivesse petrificado no lugar. Cada milímetro de sua pele se arrepiou ao ouvir aquela voz.


— Boa noite, Bê.


Ela fechou os olhos e endireitou as costas, respirando cuidadosamente, concentrando-se em fazer seus pulmões empurrarem o ar para o resto de seu corpo, esforçando-se para que as lágrimas que se formavam por trás de suas pálpebras jamais escorressem por seu rosto, demonstrando sua fraqueza.


— Naomi. — ela cumprimentou com amargura, em um fio de voz, engolindo a seco depois.


Finalmente, Belinda se levantou e virou-se, abrindo os olhos conforme a visitante achava o interruptor e acendia as luzes, parada perto da porta, a cabeça inclinada e um leve sorriso nos lábios. É claro que ela estava tão perfeita quanto se tivesse acabado de sair de um catálogo, enquanto a outra ainda tinha o rosto pegajoso e inchado pelas lágrimas que não poupara durante o dia.


Os cabelos loiros de Naomi estavam mais escuros e mais curtos do que da última vez que a vira. Agora, também, ao invés do liso invejável, ela ostentava cachos milimetricamente perfeitos. Sua pele bronzeada era de causar inveja e seus olhos azuis profundos ainda tinham um ar ligeiramente superior, como se ela soubesse um segredo que ninguém mais sabia.


— Como você entrou aqui?


A mulher levantou a mão para mostrar uma chave e Belinda revirou os olhos.


— Vamos, não seja assim, Bê. Sabe, eu realmente fiquei magoada com você. É chato descobrir que não fui convidada para o noivado do momento. Você também não pretendia me chamar para o casamento? Quero dizer, da parte do Christopher eu até posso entender... Mas você? Eu realmente não esperava isso, irmãzinha.


Belinda fechou os olhos novamente e inalou com força, sem saber o que fazer. Pouco mais de vinte e quatro horas atrás, tudo estava perfeito; agora, seu mundo estava colidindo e desmoronando completamente.



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Autor(a): akcardoso

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 447



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  • vondyfforever Postado em 25/05/2016 - 18:56:22

    Eeeei volte

  • ✌Ask✌ Postado em 05/10/2015 - 02:19:30

  • #Pequena_Girl Postado em 20/08/2015 - 19:03:06

    Por que você não continua????

  • jhessyvondy Postado em 18/08/2015 - 01:54:13

    Dulce só pode estar louca de ir falar coma BBelinda , deixa ela saber que a Belinda tem parcela de culpa na parte dela ir embora , ai chorei com a história do Guilherme tadinho , cara ficarei bem feliz se o Christopher desse atenção pra os filhos , pq tenho quase certeza que vondy não voltar a ficar junto por um tempo :((((( cooontinua

  • #Pequena_Girl Postado em 16/08/2015 - 21:03:05

    Oi leitora nova gatita a fanfic eh vondy quer dizer no final de tudo ele vai ficar com a Dul neh

  • vondyfforever Postado em 14/08/2015 - 14:57:32

    Que bom que vc voltoooo! Amandooo postaa maiss! Que bom que eles estao se entendendoo! *-*-*-*-**-*-*-*--*-**-

  • jhessyvondy Postado em 14/08/2015 - 14:45:31

    UAL que bom qe você voltou . Naomi ra viva ? Não creio , adorei os vondys nesse astral lindo , cooooontinu

  • PamLopes Postado em 14/08/2015 - 12:05:43

    Ainda bem que vc voltou a postar adorei....continue

  • vondyfforever Postado em 09/02/2015 - 01:11:37

    Omg! Serioo nao intendi muitok o fiNal estou confusa era o Christopher que ela estava falandoAi meu deus ansiosaa para a parte 2 e ve no que vai dar. Postee logooo

  • luanavondy Postado em 08/02/2015 - 23:39:15

    ansiosíssima pela parte 2.quantas emoções eu não esperava por isso. qual será o destino dos personagens? Posta mais!! estou muito feliz por vc ter voltado a posta. amo sua web


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