Fanfics Brasil - Capítulo 04: A única que ele amou Uckermann ♥

Fanfic: Uckermann ♥


Capítulo: Capítulo 04: A única que ele amou

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Christopher fora um cavalheiro. Pela primeira vez, sequer tentara roubar um beijo de Dulce. Sabia que não adiantaria. Caminhou com ela até o prédio da irmã e se despediu apenas com um `boa noite`.


Não queria lidar com o drama pendente de Belinda, mas já estava conformado com sua sorte ao chegar à cobertura. Porém, não a encontrou lá, o que lhe provocou estranhamento. Desde quando era ela quem fugia dele, e não o contrário? Ainda mais depois do que acontecera aquele dia na empresa? Muito, muito estranho.


Preocupado — afinal, independente de qualquer coisa, a conhecia há anos e tinha o mínimo de carinho para com a noiva —, ligou para o celular dela. Direto para a caixa postal. Ele andou pela casa, procurando algum indício do paradeiro da loira, mas não encontrou nada. Começando a ficar tenso, já ia tornar a ligar, quando recebeu uma mensagem:


"Ficarei no meu apartamento esta noite.Será melhor para nós dois. Amanhã conversamos, ok? Eu te amo.


- Beli"


Era estranho, mas era um alívio bem-vindo. Se ela estava bem e deliberadamente escolhera dar um tempo para ambos, só podia aproveitar a folga. Tomou uma ducha e foi se deitar. Pela primeira vez em mais tempo do que podia se lembrar, estava feliz em estar sozinho naquela cama. Assim, adormeceu enquanto repassava sua conversa com Dulce na cabeça.


...


Daniel fora para o apartamento de Christian. Os dois aparentemente ficaram bem amigos naquele dia. Não era algo realmente surpreendente, afinal, ambos eram simpáticos e fáceis de conviver.


Quando a ruiva chegou ao apartamento de Leighton, surpreendeu-se que as amigas não estivessem na sala, rindo de forma conspiratória. Será que não estavam cientes do plano de Christian? Ao ir para o quarto, percebeu uma luz fraca acesa em um deles, e aproximou-se lentamente. Apoiou-se contra o batente, observando Taylor concentrada em seu livro.


— Não sabia que você usava óculos.


— Ei, Dul! — Taylor assustou-se, mas logo abriu um sorriso e cruzou as pernas, batendo no espaço à sua frente, indicando que amiga se sentasse. — Então, como foi a noite?


Pelo sorriso que a loira tentava conter, Dulce soube que ela no mínimo já sabia com quem ela estivera.


— Você estava envolvida nisso?


— Nisso o quê? — fez-se de inocente.


— Christopher.


— Oh,você estava com ele? Não me diga!


Dulce puxou uma almofada e bateu na amiga com ela, fazendo as duas não aguentarem mais segurar o riso.


— Vamos, deixe de ser criança! Você sabe que queria isso. Então, como foi? Já podemos começar a cancelar o casamento?


— Taylor!


— Oi?


— Conversamos apenas. Foi bom, porque não sei se aguentaria aquele silêncio carregado em que estávamos... Mas foi apenas isso. Não tem nada a ver com a Belinda.


— RÁ! — riu irônica. — Tem tudo a ver. E se você não estiver interessada em nos ajudar, teremos que recorrer a métodos extremos. O arsenal pesado, mesmo. Mas ninguém quer começar o apocalipse, é claro. Então, por favor, seja honesta: Você ainda gosta dele?


— Como eu vou saber? — respondeu rápido demais, então recomeçou: — Tay, não é simples assim. Três anos não são três dias. Ele ficou noivo da Belinda. Não importa quem a Belinda seja, ela ainda merece o mínimo de respeito.


— O meu problema com ela não tem nada a ver com respeito! Eu a respeito na mesma proporção em que ela me respeita. A questão é que esses dois são um casal fundamentalmente errado. Você acha que ela será uma boa madrasta para os meninos? Você acha que Christopher será feliz e desistirá das outras mulheres? Você acha que isso não vai refletir na empresa?


— Não há nada que eu possa fazer sobre isso. Comece o apocalipse sozinha, se quiser... — ela se jogou de costas na cama, então franziu o cenho. — Aliás, como você faria isso? O que quer dizer com `arsenal pesado`?


— A única mulher que todo mundo sabe que ele verdadeiramente amou. Na época mais ingênua, antes de ele se fechar completamente e esconder os sentimentos. A mulher que ele teria se casado, se a situação tivesse sido diferente.


— Naomi? — perguntou, e o nome pareceu estranho em sua língua. — Ainda não sei o que aconteceu entre eles. Quem é essa mulher, afinal?


— A primeira paixão de Christopher, aquela que escapou... Há muitas coisas que ela é, mas o mais importante é que ela é a certeza de que esse casamento pode ser encerrado. Ela é como aqueles botões de `em caso de emergência`, sabe? Autodestruição.


— Tá,mas o que eu quero entender... — Dulce balançou a cabeça, afastando o pensamento e jogando-se de costas na cama. — Quer saber? Não me interessa. Chame-a, se for preciso. Mas eu nãoentrarei nesse plano de vocês.


Taylor suspirou, mas parecia conformada, apesar da tristeza.


— Posso te fazer uma pergunta? — começou a loira cautelosamente, brincando distraidamente de desenhar padrões em seu edredom. — Sobre outro assunto?


Dulce virou a cabeça na direção da amiga e algo em sua expressão a fez sentar-se novamente.


— Vá em frente.


— É sobre... O Daniel.


— Sim...?


— Mesmo sentindo o que sinto pelo Paul, cada vez mais tenho certeza de que não é amor. É algo, sem dúvida, mas... Não é o sentimento certo, sabe? Cada coisa me afasta mais dele, e depois de todo esse tempo e de tudo que aconteceu entre nós dois... É como se eu estivesse tentando guardar o sentimento. Apegar-me a lembrança boa do que nós dois éramos, ou do que eu costumava imaginar que poderíamos ser. Mas o sentimento mesmo? Não parece mais o mesmo. Não é mais o mesmo.


— Você ainda não fez uma pergunta sobre o Dan. — assinalou a ruiva e Taylor sorriu, como se tivesse sido pega no flagra.


— Você acha que eu teria outra chance com ele? Quero dizer, imagino que ele tenha estado com uma ou mais pessoas nesse tempo, mas... Agora que vocês estão aqui, que nós estamos aqui. Você acha que eu tenho chance?


Dulce sorriu, mas uma pontada de culpa perfurou seu estômago.


— Eu genuinamente acho que vocês seriam perfeitos juntos. — ela hesitou. — Mas eu seria uma péssima amiga se te omitisse que, sim, ele esteve com outra pessoa nesses anos. Comigo.


...


Christopher teve uma ótima noite sem a noiva. Estava sorridente ao passar pela porta do escritório do pai, com dois copos de café.


— Bom dia, Dul. — ele colocou um copo na mesa dela. — Não sei como você gosta do seu café, mas nada mais justo que eu te servir uma vez, não é?


Dulce não compartilhava do bom-humor matinal do herdeiro, mas teve que rir daquilo.


— Vai lavar minha roupa e cozinhar para mim também, para ficarmos quites?


— Eu não saberia lavar uma louça se a minha vida dependesse disso... Mas eu sei fazer uma ou outra loucura gastronômica que é de morrer.


— Não seria de matar? — apressou-se a alfinetar.


— Ha ha. Fique falando assim e você nunca experimentará.


Dulce revirou os olhos, mas ainda sorria.


— Porque você está tão animado, afinal?


— Porque você está tão desanimada, é a pergunta certa. — rebateu, sem querer admitir nenhuma das razões de sua alegria.


— Acho que Taylor me odeia. — suspirou, pegando seu copo de café e olhando-o como se a resposta do universo estivesse por baixo daquele líquido escuro.


— Não seja boba. Ela não poderia te odiar. É bem difícil te odiar, na verdade. Falo por experiência. — ele deu de ombros e se sentou na cadeira de frente à secretária. — Até por que, o que você poderia fazer para que ela te odiasse?


Dulce mordeu o lábio inferior, hesitante. Não tinha certeza do quanto daquilo deveria ou queria compartilhar com Christopher. Ainda assim, precisava desabafar com alguém.


— Eu fiz algo que eu disse que nunca faria. E eu posso ter deixado as coisas estranhas entre nós duas por isso. Quero dizer, ela não me odiaria apenas por ter feito, mas por que... — ela fechou os olhos balançando a cabeça. — Quer saber? Deixa para lá.


— Você... — agora era Christopher quem se concentrava em seu copo de café, já pela metade, revirando com a colherzinha de plástico. — Ficou com ele, não ficou?


Involuntariamente,ela endireitou a postura, pega totalmente de surpresa e ficando sem saber o que dizer.


— Vocês sempre foram amigos, eu lembro de você falando dele antes... E ontem, quando conversamos... Quando você falou sobre a Laura e ele, eu vi em seus olhos. Quero dizer, ele era a pessoa ao seu lado nos momentos difíceis. Quando você foi embora, foi ele que esteve com você e secou suas lágrimas através de toda a barra com a sua mãe. E é óbvio que você foi apaixonada por ele na adolescência, não é? Você é linda, Dul. Ele é apenas humano. É óbvio que isso aconteceria em algum momento. — ele balançou a cabeça como se quisesse afastar o pensamento. — A questão é: por que Taylor te odiaria por isso?


— Eu os apresentei. — disse após nova hesitação. — Eu disse que eles eram perfeitos um para o outro, depois eu fugi com ele e passei três anos dormindo com o cara.


— Cara de sorte. — Christopher não conteve o comentário e Dulce esforçou-se para ignorar.


— Ela não ficou histérica nem nada, sabe? O que é ainda pior. Ela só está desapontada, eu acho. Ele é o cara perfeito para ela. Ele é o Sr. Perfeito dela, não o imbecil do se... — ela pigarreou bem a tempo, disfarçando ao perceber o que estava prestes a falar. — Eu fui fraca e idiota. É minha culpa.


— Você o ama?


— Perdão?


— Você o ama? — repetiu ele, olhando-a com intensidade.


— Daniel? É claro que o amo, mas não assim.


Christopher tentou ignorar a sensação de alívio que aquelas palavras lhe causavam. Esquecera-se a força das coisas que aquela mulher o fazia sentir.


— Então? — continuou ele, desafiador.


— Então o quê, Christopher?


— Estou tentando entender. E sabe o que eu acho?


— Vou querer saber?


— Bom,eu acho que não é sobre a Taylor. Você está projetando a Laura nela. Você se culpa por ter ficado com o ex-namorado da suairmã, você acha que falhou com ela e que ela está desapontada com você. Não é sobre a Taylor. Ela não teria nenhum motivo racional para segurar isso contra você e guardar remorso. Se os dois quiserem, eles podem muito bem ficarem juntos agora ou no futuro. Mas a Laura não, e esta é a questão, não é?


A ruiva apoiou a cabeça e piscou lentamente, encontrando os olhos inquisidores de Christopher esperando pacientemente. Sentiu as pinçadas que aquelas palavras provocavam e estava tentando não deixar lágrimas se acumularem pela culpa que reprimira nos últimos anos.


— Christopher... — ela queria explicar, ou contestar, ou dizer algo. Mas simplesmente não sabia o quê.


Ele deu um meio sorriso, carinhoso e compreensivo, esticando a mão pela mesa para pegar a dela e apertando-a levemente. Os dois ficaram naquele silêncio confortável por algum tempo. Assim que a ruiva se recompôs e puxou sua mão com um meio sorriso, ele sorriu de volta e desejou-lhe um bom dia, indo para a própria sala. Era difícil para ele conter o impulso de ir até o outro lado da mesa e tocar seu rosto, abraçá-la, beijar sua testa... Mas era o certo, por isso, foi o que ele fez.


Ao abrir a porta de sua sala, porém, seus pensamentos desabaram completamente. Seu estômago estava em cacos no chão e seu cérebro poderia muito bem fazer parte da pintura da parede naquele instante. Porque sentada em sua cadeira giratória de espaldar alto, à sua mesa, uma mulher loira sorria brilhantemente.


Coma boca seca, era difícil encontrar palavras. Era difícil olhá-la e mais difícil ainda desviar o olhar. Ela abaixou os olhos, alargando o sorriso ao ver o silêncio perturbado em que o colocara.


— Olá, Christopher. Quanto tempo, não?


— Naomi. — ele conseguiu balbuciar por fim, em um sussurro débil.


— Acho que devo dar-lhe os parabéns, não é? Pelo noivado. Com a minha irmã. — ela evidenciou. — Sinto muito não ter chegado atempo para a festa, mas parece que houve um problema de comunicação.


Christopher sabia que Belinda jamais convidaria a própria irmã para qualquer lugar em que o noivo pudesse enxergá-la.


— Ela sabe que você está aqui? — repentinamente preocupado com a noiva.


— Belinda? Sim, fiz uma visitinha ao seu apartamento ontem à noite. Eu teria te esperado, mas ela me convidou para ficar no apartamento dela... E, francamente, todos nós sabemos que suas noitadas não acabam cedo.


— Naomi...


Como era possível que houvesse tanto a ser dito e nenhuma palavra lhe chegasse aos lábios? Talvez elas simplesmente não fossem o suficiente para englobar todas as pontas soltas entre eles.


A loira esperava que ele dissesse algo, mas vendo-o debater-se com a própria mente, apenas levantou-se e deu a volta à mesa. Foi até a porta e olhou rapidamente antes de fechá-la e passar a chave, voltando lentamente até ele. Um dedo passeou pelo ombro dele, até alcançar a gravata. Ela podia ver a respiração dele ficando superficial. Sorriu de sua forma sedutora e misteriosa. Puxou-o um pouco pela gravata, até seus lábios estarem tão próximos que roçavam conforme ela pronunciava as palavras:


— Tudo bem, já esperamos treze anos por essa conversa. Podemos esperar mais um pouco.


Jogando a cautela pela janela,ele a puxou contra seu corpo e beijou-a como se os lábios dela tivessem o remédio que ele precisava para viver. Ele a empurrou contra uma parede entre gemidos abafados. Sua mente estava um turbilhão. Mas Naomi estava ali. Ela realmente estava ali, ele a estava beijando, estava tocando seu corpo... Céus como ele esperara e sonhara com aquilo!


...


Paul entrou sorridente em sua sala naquela manhã, e Dulce se perguntou se ele era surdo e não ouvia os gemidos que vinham do outro lado da parede. Fosse quem fosse, não era Belinda. Estranhamente, isso incomodava ainda mais a ruiva. Porque não importava quanto ele aparentasse ter se regenerado, ele ainda era Christopher Uckermann, o conquistador, o canalha, o mulherengo.


É claro, nada aconteceu no escritório naquela manhã e, por isso, Dulce teve que se focar em qualquer coisa que a distraísse das atividades agitadas e completamente não relacionadas com a empresa que aconteciam na sala ao lado. Felizmente, não foi algo tão longo, embora bastante desconfortável.


Christian veio salvá-la uma hora antes de seu horário de almoço, mas ela o seguiu de volta para a sala dele agradecida, sem questionar a visita.


— Com quem raios ele estava esta manhã? — perguntou antes mesmo de entrar no elevador. — Foi desagradavelmente barulhento.


— Confie em mim, você não vai querer saber.


Dulce estava confusa, mas, se fosse sincera consigo mesma, realmente não queria saber. Por isso, deixou o loiro bombardeá-la de perguntas sobre a noite anterior, lembrando-se de brigar com ele pela armação, mesmo sem estar realmente brava. Taylor, Leighton e Daniel chegaram à sala do diretor de marketing juntos, na hora do almoço.


— Bom, meninas, bom almoço para vocês então. — disse Christian, levantando-se.


— Você não vai conosco?


— Não, Daniel e eu vamos ter uma conversa de homens.


— Ou seja, Christian tentará transformá-lo no novo Christopher. — Leighton riu. — Não deixe ele te tornar um cafajeste, Dan!


— Vou tentar. — ele riu. — Até mais, Dul.


Ele deu um beijo no topo da cabeça da amiga ao sair, ao que a ruiva procurou os olhos de Taylor. A loira apenas revirou os olhos e passou o braço pelo da amiga, enlaçando-os.


— Você sabe que eu só saí com ele uma vez, não é? Ele pode ser doce e ridiculamente lindo, mas ele é apenas um cara. Você é minha amiga, Dul. Eu não estou brava com você, eu não ficaria brava com você por um homem. Código das mulheres! A menos, é claro, que fosse Você-Sabe-Quem.


— Voldemort? — provocou Leighton.


— Céus, se ela saísse com ele eu realmente ficaria chateada. — Taylor riu.


Dulce sorriu para a amiga, aliviada.


— Obrigada, Tay. Mas o Dan é mais que um cara. Ele é o cara certo para você. Sabe como eu sei disso?


— Você não sabe disso, tolinha.


— Porque eu não me senti traindo a Laura quando o apresentei para você.


Taylor parou, olhando-a.


— Você se sentiu traindo-a quando...?


— Quando ficamos? Céus, o tempo todo. Mas era prático. E eu sei que isso é terrível, mas nenhum de nós estava pensando em compromisso ou...


— Pera! — Leighton cortou, o braço enlaçado do outro lado da ruiva. — Você ficou com Daniel? E quem raios é Laura? Eu estou totalmente excluída dessa conversa, como foi que isso aconteceu?


Dulce e Taylor sorriram, sabendo que tinham muito a informar à amiga.


— Depois eu te explico tudo, Lê. — Taylor acalmou-a. — Você está bem, Dul?


— Sim, claro. Christopher e eu já tínhamos conversado sobre isso, hoje de manhã.


— Ah, sim, o encontro! — Leighton estava aliviada. — Finalmente um tópico de que estou ciente! Por falar nisso, que louco não é isso, né? Vocês ouviram?


— Ah, eu adoraria que fosse verdade. — Taylor opinou rapidamente. — Mas só acredito vendo-a com os meus próprios olhos.


— Quem? — era a vez de a ruiva ficar confusa.


— Naomi, é claro.


— Naomi como em a Naomi? A única que Christopher amou?


— Sim. Você não ouviu?


— Eu certamente o ouvi com alguém, mas não sabia quem era.


— Ew, que nojo. — Leighton fez careta. — Eu me referia aos boatos. Todos estão falando disso na empresa. Algum dos funcionários antigos a viu e reconheceu, e obviamente a história se espalhou como fogo em gasolina.


— Por que raios ela voltou logo agora? Perto do casamento? Não pode ser coincidência.


— Ah não, não é mesmo. — Leighton levantou um dedo, pedindo para esperarem, pois seu celular tocava. — Alô? Guille? Você está bem? Aconteceu algo com o Lucas? O quê? Ah, inacreditável! Sim, sim, já estamos indo, querido.


— O que houve?


— Está tudo bem?


— Ninguém foi buscá-los na escola. — informou. — Parece que Christopher achou que era a vez da Anahí e vice-versa.


— Bom, fazia tempo que isso não acontecia.


— É. — concordou Leighton. — Céus, as coisas estão começando a ficar preocupantes por aqui... Esse casamento está virando uma guerra, isso sim. Vamos, vamos até a escola deles.


...


Leighton passou o trajeto inteiro reclamando da irresponsabilidade do irmão e da ex-cunhada, com Taylor concordando enfaticamente. A própria Dulce também compartilhava da opinião e se irritava com o descaso com o qual aquelas crianças eram tratadas... Mas parte de sua mente se recusava a soltar-se da pergunta que já lhe atormentara diversas vezes naquela família: Quem era a tal Naomi?


Quando chegaram à escola, Leighton ligou novamente para Guilherme, estranhando que os sobrinhos não as estivessem esperando no portão. O garoto respondeu algo e a tia parecia irritada ao desligar o telefone.


— Vamos entrar. A diretora quer falar com algum responsável.


— O que ele aprontou?


— Ai de mim se eu soubesse.


As garotas se apressaram pelos corredores labirínticos. Dulce percebeu que as duas já deviam ter estado no interior daquela escola mil vezes, comparecendo em reuniões e respondendo pelos garotos cujos pais não se importavam o suficiente. Talvez elas até mesmo tivessem estudado lá, quando eram jovens.


O colégio era grande e imponente, de uma forma que Dulce não esperava ver algum dia. Passaram por dois anfiteatros, uma piscina e uma quadra, além de salas de aula dignas de filme, a caminho da diretoria. Entrando na diretoria, a razão do convite ficou clara. Lucas balançava as pernas, brincando no celular, distraído, enquanto Guilherme sentava relaxado e com cara de tédio ao lado do mais novo. Porém, sua blusa estava amassada e suja, e um arranhão em seu rosto ainda brilhava avermelhado. Outro garoto, aparentemente da mesma idade do mais velho dos Uckermann, sentava na outra ponta da sala, com uma mulher abraçando-o pelos ombros, enquanto ele olhava com raiva para os irmãos. O garoto tinha uma grande mancha vermelha em um dos olhos e um fio de sangue na boca, além de muita sujeira na camiseta branca e amassada.


— Guilherme Uckermann! — Leighton ralhou assim que viu a situação.


A mãe do outro garoto fungou em seu canto, concordando com a bronca que o garoto recebia, ressentida.


A diretora saiu de sua sala e olhou para as três mulheres que acabaram de chegar.


— Qual das senhoritas é responsável pelos Uckermann?


— Eu, senhora diretora. Sou a tia, Leighton Uckermann.


A diretora assentiu, mas Guilherme arrumou-se em seu lugar e interrompeu conforme a mulher abria a boca.


— Dulce.


Todos olharam para o garoto, em um silêncio confuso.


— Dulce... — continuou ele, sem olhar para nenhuma das três. — É a namorada do meu pai. Eles vão se casar e ela vai ser minha madrasta. Dulce é a minha responsável.


Dulce não sabia se sorria de alegria ou explodia de pânico e confusão. Taylor lhe lançou um olhar de esguelha, desconfiada. Leighton a fitou intensamente por um instante, sem contradizer o sobrinho, então acenou uma única vez com a cabeça, seus lábios contraindo-se em uma linha reta.


— Dulce, então. — a diretora concordou, virando-se para a ruiva. — Suponho que seja a senhorita, certo? Lembro das outras duas, mas é a primeira vez que a vejo. Se importa de me acompanhar com os garotos? Senhora Paiva, a senhora e João Augustus também podem entrar.


Dulce concordou e olhou para os garotos, mas Guilherme apenas se levantou e jogou a mochila por cima de um dos ombros, entrando na sala.


— Lucas não tem nada a ver com a história, ele fica. — anunciou o menino.


— Lucas também. — a diretora rebateu, e o mais novo levantou-se suspirando e entrou arrastando os pés.


Dulce os seguiu, olhando uma última vez para as amigas antes de a porta se fechar.


— Bom, como podem perceber — começou a mulher, que segundo a placa em sua mesa se chamava Otaviana Seixas. — houve uma briga entre João e Guilherme. Este é um colégio de elite, não o Clube da Luta.


— Claro, porque a primeira regra do Clube da Luta é que você não fala sobre o Clube da Luta. — Guilherme deu de ombros, e Dulce teve que segurar uma risada, surpresa que o garoto conhecesse o filme. Mas ele percebeu a reação da ruiva e lhe lançou um sorriso maroto, antes de lembrar-se que estava com raiva dela.


— Dulce, Guilherme tem passado dos limites. João não foi a primeira vítima que ele fez aqui...


— Vítima? — Dulce interrompeu, chocada. — Ele também não é um assassino em série.


Foia vez de Guilherme reprimir um riso. A diretora fungou, sentida.


— Ainda não. — assinalou. — Mas com essa tendência violenta que tem apresentado, quem pode prever?


— É, mas ninguém nunca me perguntou por que eu bati neles, não é?


— Não importa, a violência...


— Eu concordo. — a ruiva interrompeu novamente. — A violência nunca é a resposta. — ela olhou para o menino enfaticamente. — Nunca, Guille. Mas acho justo que ele possa contar a sua versão dos fatos também.


— Ora! Como assim a versão dele? — a mãe de João parecia ofendida. — É óbvio que ele vai tentar jogar a culpa no meu filho!


— Porque a culpa foi dele! — o garoto saltou para a ponta de sua cadeira, irritado. — Ele estava pedindo para apanhar!


— Não, Guilherme, você está errado em bater nele. Mas o que todos nós — ela olhou para as outras mulheres, em busca de aprovação. — queremos saber, foi porque você fez isso.


O garoto se jogou contra o encosto da cadeira, cruzando os braços e resmungando baixinho, ao que a ruiva suspirou.


—Fale em voz alta. — a diretora ordenou. — E arrume a postura.


— Eu disse: Ele foi um babaca.


— Você terá que ser mais específico. — Dulce colocou a mão no ombro do garoto, mas ele se esquivou. — Estamos te dando uma chance de explicar, Guille.


— Não tem explicação! — a mãe de João falou, afetada.


— Pois então saiba que ele estava zoando o meu irmão!


Todos olharam para o garoto mais novo, que olhava para baixo em silêncio.


— Todos esses babacas estão implicando com o pirralho. — continuou o garoto, o rosto ficando gradualmente vermelho de raiva. — Porque eles sabem que nossos pais não vão fazer nada a respeito. Eles acham que podem tirar sarro só porque ele é molenga e chorão. Mas só eu posso implicar com ele. E se alguém mexer com ele, eu vou meter a porrada mesmo!


— Guilherme Uckermann! — a diretora repreendeu. — Linguagem, mocinho.


Ele deu de ombros e se jogou na cadeira novamente, agora contrariado e emburrado.


— O que o seu irmão falou é verdade, Lucas? — a mulher perguntou. — Os outros garotos tem implicado com você?


Lucas mexia as mãos no colo, mas não olhou para cima. Guilherme suspirou cansado e jogou a cabeça para trás, passando a fitar o teto.


— Lucas? — Dulce tentou, tocando no braço do garoto, que a olhou. — Precisamos que você diga algo. É verdade o que o Guilherme falou? Os garotos mais velhos estão te perturbando?


— Eles não gostam muito de nós. — ele disse em um fio de voz.


— Por que você nunca disse nada antes, Lucas? — a diretora perguntou, a voz mais suave agora. — Por que nunca veio falar comigo?


— Porque... — ele olhou para João, mas o garoto não o olhava de volta. — Eles disseram que se eu contasse, iam me bater. E aí sim o Guille ia entrar numa briga feia e ser expulso. Eu não quero que ele seja expulso. Ele é meu único amigo aqui.


Dulce desviou o rosto dos olhos lacrimejantes do mais novo e fechou os olhos. Seu coração se partia mais a cada instante. Como tivera a coragem de abandonar aquelas crianças por tanto tempo?


— O que exatamente o João fez, Lucas?


— Ele sempre pega o meu dinheiro. Diz que meu pai é muito rico, então não tem problema. Semana passada ele me prendeu no banheiro depois da aula de educação física. Ah! E outro dia ele e os outros ficaram tirando sarro de mim porque eu estava chorando... Eles ficaram rindo e me chamando de um monte de coisas... Também teve uma vez, duas semanas atrás...


— Hoje, Lucas. — a diretora cortou o relato e seu olhar agora passara para a pena. — Eu quis dizer o que o João fez hoje.


— Ah... Hoje ele veio me xingando pelos corredores. Eu corri para onde o Guille sempre me espera, pra irmos embora logo, sabe? Mas ele veio por trás e me empurrou, daí eu caí. — ele mostrou um machucado no joelho. — O Guille viu e veio me defender. Eles começaram a se empurrar e logo estavam no chão se batendo...


— Isso é verdade, João Augustus? — a mãe do menino perguntou, agora repreensivamente.


O garoto apenas abaixou a cabeça, ao que a mãe fez um som de reprovação.


— Eu sinto muito, muito mesmo! — a mulher olhava para Dulce envergonhadamente. — Peça desculpas, João Augustus! E prometa que nunca fará isso novamente, entendeu? Você vai deixar os Uckermann em paz! Vamos, quero ouvir!


— Desculpa. — o garoto falou baixinho, sem sequer olhar para os Uckermann.


— Eu não ouvi. — a mãe reclamou.


— Eu sinto muito! — falou ele mais alto. — Está bom assim?


— Não, não está. Eu não te criei para ser assim. Você não pode tratar as pessoas assim e achar que está tudo bem. Ah, mas espere até chegarmos em casa e você ver o castigo que lhe aguarda... Eu realmente sinto muito, senhora Uckermann! Garotos, por favor, perdoem o meu filho. Eu prometo que nunca mais voltará a acontecer, ok?


Lucas balançou a cabeça, concordando, mas Guilherme novamente apenas deu de ombros, descrente. Dulce ainda estava dividida entre a pena pelos garotos e a estranheza de ser referida como "senhora Uckermann".


A diretora decidiu dar um dia de suspensão para cada um dos mais velhos, por causa da briga, e um extra para João por causa do bullying. Lucas teve que fornecer o nome de todos os garotos que lhe perturbavam, para que a diretora pudesse conversar com eles. No mais, ela também pediu desculpas para Dulce e, falando mais baixo ao se despedir, pediu que a mulher levasse os garotos a um psicólogo, e também que tentasse fazer com que os pais fossem mais presentes na vida deles. Dulce sorriu e disse que tentaria, mas sabia perfeitamente que pouco tinha direito de opinar na questão.


Ao sair, Guilherme passou direto pela tia e por Taylor, indo em direção à saída ainda com seu jeito marrento e a mochila jogada em um ombro só. Lucas deu um beijo em cada uma delas, e foi contando o que aconteceu na sala da diretora.


...


Leighton deu um longo sermão sobre a agressividade, mas acabou por ir com os meninos ao shopping. Ela também ligou para a empresa, avisando que nenhuma das três voltaria naquela tarde. No centro comercial, Guilherme logo foi para uma loja de videogames, mas o mais novo ficou para trás com as mulheres.


— Ele tem estado assim o tempo inteiro. — confessou. — É verdade o que eu disse. Aqueles meninos são cruéis. Mas o Guille... Ele está querendo brigar. Ele nunca faz as lições, ele inventa desculpas para não jogar futebol... No outro dia, ele fez até a Marcela chorar. Não sei porque, porque eles não são da minha classe, e parece que ela disse que não era nada. Mas ele está querendo bater nos outros. Em casa, ele só quer saber de jogar videogame sozinho. Ele nem fala comigo direito. Ele só quer explodir coisas nos jogos. Ele está estranho...


— Eu vou conversar com ele. — Leighton afirmou.


— Desculpa, tia... Mas eu não acho que vai ajudar. — ele hesitou, e abaixou a voz, sem olhar para ninguém ao prosseguir. — Acho que só ela vai poder falar com ele. Foi por isso que ele quis que ela entrasse hoje. Ele confia mais nela.


Todas sabiam que ele se referia à Dulce, mas não disseram nada. Ele perguntou se podia ir para a loja em que o irmão estava, e elas concordaram.


— Parece que você realmente é parte da família — Taylor disse. —, goste ou não.


— Eu vou falar com ele. — prometeu a ruiva.


— Céus! — a loira suspirou. — Que dia, hein? Primeiro a Naomi, agora isso...


— Pelo menos essa farsa ridícula que meu irmão chama de casamento vai acabar. Ninguém fica contra a Naomi. Nem mesmo a Belinda.


— Principalmente a Belinda. — Taylor concordou, rindo.


Dulce já nem se importava mais de não saber quem era a mulher misteriosa que conseguira o amor declarado de Christopher Uckermann. No momento, os Uckermann com quem ela estava preocupada eram crianças indefesas, cada vez mais fora dos trilhos e ainda tão negligenciadas de atenção quanto ela se lembrava.


— Será que ela veio pelo Christopher? — Taylor questionou. — Para ganhá-lo de volta?


— Bom, nós sabemos que Belinda não tem escrúpulos, mas não sei se é de família...


Dulce piscou, sua atenção voltando à conversa das amigas.


— Quero dizer, ela pode ter vindo para o casamento da irmã e nada mais, não é? — Leighton continuou.


— Espera aí. O quê?!


As duas olharam para Dulce confusas, antes de lembrar o quão desinformada ela estava.


— Ah, sim. Belinda e Naomi são irmãs. — disse a herdeira, como se informasse a previsão do tempo.


Os olhos de Dulce se arregalaram e piscaram algumas vezes. E sua cabeça parecia prestes a explodir.


— Como é que é?!


— Sim, sim... — Leighton riu. — Céus, como você acha que Christopher conheceu Belinda?


— Não assim, definitivamente.


— Naomi e Christopher estudavam juntos. — Taylor tomou as rédeas da conversa, explicando tudo para a amiga. — Eles eram mais velhos que Belinda, é claro. Como acho que você sabe, Naomi foi o primeiro amor de Christopher. Eles namoraram quando estavam no ensino médio. Da primeira vez que ela o levou em casa, Belinda se apaixonou por ele. Quero dizer, ela era ridiculamente apaixonada por ele antes. Mas daquele jeito "Tay, quando você vai me apresentar para ele?", "Tay, você é minha melhor amiga, ele é seu melhor amigo, praticamente seu irmão! Isso não seria legal?". Em pensar que na época eu realmente achava essa ideia legal...


Taylor fez como se tivesse engolido algo azedo, mas Dulce ficava cada vez mais perplexa.


— Vocês estudaram juntas?


— Céus, Dulce... Eu quase esqueço que você não esteve presente na maior parte de nossas vidas. Sim, é claro que estudamos juntas. Éramos melhores amigas, na verdade. Porque Leighton era mais velha, e Christopher era mais velho. E Christian era da sala de Christopher, é claro... Eu precisava de uma amiga da minha idade, não é? Enfim, eu sempre a enrolei, porque sabia que Christopher jamais olharia para ela. Nós éramos pirralhas da oitava série, ele era o bonitão do terceiro ano. Faça as contas, nunca rolaria. Além disso, eu sabia que ele era interessado na Naomi, e ela era bem legal também. Na verdade... Eu a conheci quando fui na cada de Belinda, e Christopher me viu com ela depois disso, na escola. Estávamos falando sobre Belinda, que não estava indo para a escola porque ficara doente... Christopher chegou e se intrometeu na conversa, você sabe como ele é... Eles começaram a conversar, e no fim da semana já estavam um nojo. Eles começaram a namorar na semana em que Belinda voltou para a escola. Christopher foi fofo com ela quando foi na casa dela, perguntando se ela estava melhor, e realmente a notando, sabe? Para ela, aquilo era tudo. Todos sempre notavam a irmã mais velha, não ela. Ela era o patinho feio em casa. Naomi era perfeita, cheia de prêmios e beleza e de tudo que era bom. Então Belinda estava ali, em sua própria casa, com Christopher Uckermann a notando, sendo que ele fora até lá por causa de Naomi. Ela ficou feliz de ter sido escolhida, e se apaixonou mais ainda. Não demorou muito para ela ficar obsessiva depois disso...


"O ano estava no final. Naomi e Christopher estavam apaixonados, mas logo teriam que escolher para qual faculdade ir. Por conta do romance avassalador, Naomi estava em dúvida sobre aceitar uma bolsa nos Estados Unidos. Christopher simplesmente estava feliz que o pai o deixara cursar marketing junto do melhor amigo, depois de sua pequena rebelião.


"Naomi queria ir, é claro. Ela falou para Christopher que precisava ir até os Estados Unidos e visitar a universidade, conversar com o pessoal, pelo menos... Era uma chance gigantesca para ela. Mas ele ficou chateado porque achava que ela o estava abandonando. Eles brigaram, mas ela foi mesmo assim. O ano letivo nos Estados Unidos começa em setembro, o que significa que quando ela foi, Christopher já estava indo para o segundo semestre de seu curso. Enquanto ela estava nos Estados Unidos, ele se aproximou de Anahí. É claro que Anahí já estava esperando uma brecha há tempos... Mas Christopher estava apaixonado demais por Naomi para notá-la até então. Eles eram amigos e estavam cada vez mais próximos, mas ele sabia que não devia cruzar a linha. Eles até ficaram algumas vezes, mas Christopher nunca deu ilusões—não passaria de beijos.


"Daí, é claro, Belinda aconteceu. Ninguém sabe como, mas ela e Anahí se conheciam antes ou se conheceram em algum momento aí. A questão é que no aniversário de Belinda, tanto Christopher quanto Anahí foram convidados. Bebidas foram levadas para a festa, o nosso querido conquistador ficou totalmente bêbado, e finalmente cedeu totalmente às investidas de Anahí em uma noite caótica. Naomi voltou dos Estados Unidos para a festa da irmã. Ela também pretendia surpreender Christopher, mas acabou sendo surpreendida por vê-lo com Anahí. Fazia pouco mais de um mês que ela havia ido para os Estados Unidos, e toda noite Christopher ligava e dizia o quanto sentia saudade e a amava... Bom, o que ela via não indicava isso. Eles terminaram e ela partiu para a universidade, nunca mais entrando em contato com ele...


— Até, ao que tudo indica, hoje. — concluiu Taylor com um suspiro. — Quando surgiu na Uckermann`s. Se ela descobriu o que todos desconfiam e quer se vingar da irmã, ou o quê, ninguém sabe.


— Uau. — Dulce respondeu, atônita. — Estou tentando me recuperar do choque. Tudo bem, até entendo vocês não me contarem a história completa. Mas acho que dava para falar um `ah, e a propósito, a Belinda é irmã da Naomi` em algum momento, não? Céus! A chegada dela é mesmo o fim do mundo!


— Ou a salvação — Leighton deu de ombros. —, se formos otimistas.


— A não ser... — Taylor encarou a amiga daquela forma que fazia quando tentava estudar a pessoa a sua frente. — Que você tenha mentido. E apesar desses anos de distância, apesar de ter ficado com o Daniel, você ainda sinta algo pelo Christopher.


— Poupe-me, Taylor. — Dulce respondeu rápido demais, revirando os olhos. — Eu só me envolvi com ele da primeira vez porque estávamos próximos, ok? Eu não me apaixonei. E eu certamente não continuo sentindo algo. Foi algo que aconteceu, e passou. Fim. Deixe que a Naomi, a Belinda, ou qualquer outra prima ou irmã delas se case com Christopher. Eu só quero o que é melhor para as crianças.


— Aliás, sobre o que foi aquilo? O Guilherme falando que você ia casar com o pai dele?


— Eu não sei. Vou falar com ele, mas preciso que vocês fiquem com o Lucas. É mais fácil eu conseguir fazê-lo se abrir se estivermos a sós. Depois eu falo com o Lu... Precisamos ficar mais atentas a esses meninos que estão implicando com ele, aliás.


— Você pode até não se importar com quem vai casar com o meu irmão, Dul. Mas você se importa com quem será a madrasta desses meninos. E eu acho que na sua mente e no seu coração, você se considera uma mãe para eles.


A ruiva não respondeu, apenas olhou para Taylor pedindo confirmação de que elas ficariam com Lucas por um tempo. A loira confirmou, e as duas foram chamar o mais novo para tomarem um sorvete. Guilherme continuava perdido nas prateleiras de videogames.


— Você sabe que precisamos conversar, não sabe? — Dulce anunciou, mexendo em jogos ao lado dele.


— RÁ! Agora você quer conversar? Volte alguns anos no tempo, aí conversamos.


— Ok, então chamarei a sua tia e ela lidará com você. Mas pela forma como você mentiu para a sua diretora para que eu entrasse com você na reunião, acho que você não quer isso, não é?


O garoto parou de mexer nos jogos, irritado. Seus olhos cheios de rancor e mágoa encontraram os da ruiva.


— Tá. Fale.


— Aqui não. Vem, vamos dar uma volta.


Ele revirou os olhos, mas a seguiu para fora da loja.


— Então, vai me contar por que você mentiu?


— Todo mundo sabe que ele vai se casar. — o garoto deu de ombros. — Mas ninguém faz tanta questão de decorar o nome da noiva. Não é como se fosse o primeiro casamento do meu pai, né? E eu pensei, bom, a tia vai implicar muito, e a Dulce está tentando se fazer de boazinha depois de ter nos abandonado, então minhas chances são melhores se ela entrar. Foi questão de estratégia.


"Tão novo e já um jogador. Talvez fosse mesmo a genética dos Uckermann.", pensou a mulher.


— Bom, você se engana. Primeiro, porque eu não os abandonei.


— Ah, tá. — cortou ele. — Apenas sumiu no mapa sem nem dizer tchau e nunca mais apareceu ou ligou durante anos. Claro.


— Minha mãe estava morrendo. Eu fui embora porque recebi uma ligação do hospital. Ela estava internada há algum tempo, mas tinha piorado. Eu peguei minhas coisas e fui ficar ao lado dela. Você não faria o mesmo?


Ele resmungou baixinho, contrariado.


— Se você tivesse contado, a gente teria ido junto. Eu, o pirralho, a tia, a Tay. Até o babaca do meu pai.


— Vocês tinham os próprios problemas para lidar. A sua mãe também ficou mal, pelo que soube.


Ela parou e se sentou em um banco. O garoto estava emburrado, mas se sentou a contragosto.


— É, e você não estava lá. De manhã nosso pai nos acorda para passearmos, passa o dia com a gente, e é o melhor dia em família que temos em sei lá quantos anos... E de madrugada você sumiu, a minha mãe idiota está internada, e o meu pai ainda está tentando pegar um avião para voltar para casa! Foi o melhor e o pior dia em um só!


— Guille, eu sinto muito, muito mesmo...


— E o pirralho chora, porque é isso que ele faz. — continuou, ignorando-a. — Ele chora, e ele está com medo, como sempre. A Tay estava mais confusa que a gente, e não tem mais ninguém para ajudar. Ela fica andando feito uma barata tonta, tentando descobrir o que aconteceu, como está a minha mãe... Enquanto liga pro vô, pra tia e pro meu pai para avisar do que aconteceu, e tenta ligar pra você pra saber onde você está e como você está e se você pode ajudar... E o Lucas chora, e chora, e chora, e eu não aguento mais ele chorando. Os médicos dizem que foi um acidente de carro, e eu imagino o vidro quebrado. O pirralho chora, e eu lembro dos nossos pais idiotas gritando, e a minha cabeça dói e está quase explodindo. Então eu pego o pirralho pela mão e puxo ele comigo até encontrarmos um canto sossegado naquele hospital. Eu ponho minha mochila no chão e mando ele deitar, e eu sento do lado dele e ele fica me olhando com aquelas lágrimas idiotas rolando em silêncio até dormir. A próxima coisa que eu sei é que a Taylor está gritando com a gente. A Taylor nunca gritou com a gente. Mas ela grita, porque estava preocupada e nós sumimos, e tudo está uma bagunça... E é assim durante dias. Porque todos estão ocupados demais pra ficar com a gente. O meu pai trabalha, o meu avô trabalha, a tia trabalha, o tio Christian trabalha, a Maite trabalha, a Tay fica com a mamãe... E o pirralho e eu ficamos nos corredores dos hospitais depois da escola. Ele chora muito e pergunta muito `cadê a Dul?` ou `será que a Dul já está vindo?`, mas eu não sei o que responder. Cada vez que passa alguém com um machucado feio, ou com tubos e fios por todo corpo, ele fica assustado e chora, e pergunta da mãe. Então ele volta a perguntar de você, e eu ainda não sei o que dizer... Porque a cada segundo eu sei com mais certeza que você não vai chegar, mas eu ainda queria estar errado. Então, é. Eu queria que você tivesse esperado um pouco. Nós teríamos ido com você visitar a sua mãe, e você teria vindo com a gente visitar a nossa. Você não precisava ficar sozinha, e a gente também não. Você não era da nossa família, mas você era família. E você nos abandonou quando a gente mais precisou. Você fez a gente acreditar que as coisas estavam melhorando, que você seria diferente de todos que sempre nos abandonam, mas você foi embora e levou tudo de bom que tinha nos dado. Eu não posso te perdoar, Dulce.


— Eu errei, sim. — ela começou, secando as lágrimas que deixara escapar. — E eu não posso voltar no tempo e corrigir isso, por mais que eu queira. Mas eu realmente lamento pela forma como tudo isso aconteceu. A minha mãe estava morrendo e eu estava com medo. Meu irmão estava mal, e eu só precisava ir ficar ao lado dela. Mas eu sinto muito, porque eu sei o quanto foi difícil para você.


— Não, você não sabe!


— Eu sei, sim. — ela respirou fundo. — Porque eu me identifico muito com vocês. Porque eu também tinha que cuidar do meu irmão mais novo. Dos meus dois irmãos mais novos. Os meus pais brigavam mais ainda do que os seus, e era para mim que sobrava cuidar dos meus irmãos. E eu sei como isso é ruim, e eu nunca deveria ter te feito passar pelo que eu passei. Eu deveria ter protegido vocês e ficado com vocês. Mas o meu pai já tinha nos abandonado há muitos anos, e a minha irmã mais nova morreu, e meu irmão estava doente de novo... Eu não podia deixar a minha mãe morrer sozinha em um hospital, Guilherme. Eu deveria ter voltado, eu sei. Mas eu fiquei com medo que você e o seu irmão me odiassem. Porque vocês eram as únicas razões pelas quais eu voltaria, depois de tudo. Mas como eu ia encarar vocês? Eu não menti quando disse que amava vocês dois. Eu realmente amo. Vocês me lembram do Poncho e da Laura. Você, todo briguento e protetor... O Lucas com sua fragilidade... E eu aqui, falhando de novo com as pessoas que mais amo.


Guilherme ficou em silêncio.


— Você nunca me contou que seus pais brigavam também.


— Eu nunca fui tão forte quanto você. A primeira vez que contei essa história inteira foi para o seu pai, ontem.


— Você viu o meu pai ontem?


Dulce ficou desconcertada.


— Bom, acabamos nos esbarrando depois de sairmos da empresa, não foi nada importante...


— Se você contou isso para ele, foi, sim. De qualquer forma, prefiro mil vezes você do que a Belinda, apesar de tudo. Eu só... Só queria que você tivesse me contado. Eu confiava em você, você podia confiar em mim também. Eu não sou criança, sabe?


— Eu sei. — ela riu. — A partir de agora eu contarei tudo, ok?


Ele deu de ombros.


— Às vezes eu fico pensando se toda família é tão complicada quanto a nossa...


— Acho que sim. Não da mesma forma, mas todas as famílias, até as mais perfeitas, tem algum drama.


— Bom, não importa... Agora meu pai vai ter a menina idiota que sempre quis, né? Ele vai ter a família perfeita e feliz dele.


— Como assim?


— Quando ele e a Belinda casarem. Ele sempre quis uma menina.


Ela parou, entendendo que aquele era o verdadeiro problema do comportamento do garoto: perderia a pouca atenção que tinha do pai.


— Sei que não é um grande consolo, mas vocês sempre terão a mim. Eu não vou decepcioná-los de novo, Guille.


— É o que todos sempre dizem antes de nos decepcionarem outra vez... Além disso, eu ainda não sei se vou te perdoar.


— Só me dê uma chance então. Sei que é pedir bastante, sei que você não vai confiar em mim como fazia antes... Mas não me exclua também. Eu vou ficar aqui, e eu vou ser melhor, mas eu preciso que você não me deixe fora da sua vida.


O garoto não respondeu nada. Ainda assim, na volta para casa, no começo daquela noite, apesar de ainda parecer arisco, pelo menos já não fingia que Dulce era invisível tampouco. Lucas, porém, continuava triste e distante, e vê-lo assim era igualmente doloroso, uma vez que ele sempre fora o mais carinhoso e direto em relação aos seus sentimentos.


...


Taylor estava voltando ao prédio de número 29, pois não estava disposta a deixar os meninos sozinhos com Belinda — especialmente se Naomi estivesse na cidade. Além disso, o incidente da música no noivado já não era mais o problema atual, então provavelmente não teria tanto problema voltar para lá. Afinal, uma das estranhas vantagens de se viver com os Uckermann era que todo problema logo era ofuscado por outro pior.


Como Leighton também decidiu subir um pouco, Dulce não viu muitas opções senão seguir as amigas e as crianças para a cobertura.


Era estranho estar de volta. Quando fugira daquele mesmo apartamento com o coração partido e cheio de medos, realmente estivera resoluta em nunca mais pisar ali. No entanto, agora era saudada por uma sensação de familiaridade e desejava nunca ter partido daquela forma.


Lucas e Guilherme subiram para o quarto, despedindo-se das três mulheres com apenas um `boa noite` em uníssono.


— Precisamos conversar sobre o castigo do Guilherme. — disse Leighton, ainda observando as escadas.


A princípio, Dulce achou que era apena uma constatação. Depois, pelo silêncio que se seguiu, percebeu que a amiga esperava que ela dissesse algo. Incerta, perguntou:


— Está... Está falando comigo?


— Você ouviu o que Guilherme falou na diretoria. Você é a responsável.


— Sim, mas ele também disse que eu sou a namorada do pai dele, e que estamos de casamento marcado. Ele só queria fugir das suas broncas, Lê.


— E isso realmente importa? Eu sempre fui a tia Leighton, a Taylor sempre foi a tia Tay. Você é a figura mais materna que eles já conheceram. E mesmo com tudo o que aconteceu, você ainda acaba se saindo melhor nesse papel do que a verdadeira mãe.


Aparentemente, Leighton ia continuar seu discurso, mas o som do elevador fez as três se virarem.


Assim que percebeu que não chegara para uma casa vazia, Belinda apressou-se a baixar seus óculos de sol, mas não foi rápida o suficiente para esconder os olhos vermelhos e inchados. Ela endireitou a postura, levantou a cabeça e passou o mais rápido que pode pelas outras sem dizer uma só palavra. O silêncio que ela trouxe consigo perdurou mesmo após a batida da porta do quarto, no andar superior.


— Então... — Dulce foi a primeira a quebrar o silêncio. — Será que devíamos... Ir falar com ela?


— Está brincando? — Leighton reagiu como se a ruiva sugerisse começar uma guerra nuclear. — Ela não é nenhuma santa, Dul. O carma é uma droga, e ela fez por merecer. Deixe-a lidar com os pecados dela sozinha. Foi ela quem pediu por isso.


— Mas... — Dulce balançou a cabeça, aflita. — Sei que ela é uma pessoa terrível na maior parte do tempo, mas ninguém pede para sofrer, Lê. Ela aprontou, ela enganou, ela mentiu... Mas a irmã dela é a maior inimiga, a mulher por quem o noivo dela é apaixonado, a pessoa que pode estragar o casamento dela. Afinal, ela tem algum amigo? Alguém para conversar?


— Céus! Nem você pode ser tão santa, Dul. — Taylor fez uma estranha careta.


— Eu não me perdoaria se não desse a ela pelo menos o benefício da dúvida. Inocente até que se prove o contrário, não é?


— Bom, você está por sua própria conta. — Leighton deu de ombros. — Corra para a sala de TV, se precisar de apoio, estaremos lá.


Dulce viu as amigas se afastarem e suspirou. Em parte, também achava que estava ficando louca por sua decisão, mas, mesmo assim, inalou o ar tentando se munir de coragem e subiu as escadas, na louca esperança de ajudar Belinda.




 


Comentários: O capítulo anterior na verdade foi um teste para ver se alguém ainda lia. Eu que não acreditei quando vi os comentários de vocês! *-* Muito muito muito obrigada, meninas, agora voltarei a postar aqui de verdade!


Mas, caso dê algum problema, vocês podem encontrar a história em:


https://www.wattpad.com/story/32843538-o-v%C3%B3rtice-vivendo-entre-os-uckermann-1


- http://yoble.com.br/Main/communities/2650/topic/16146


http://minhavidaentreaslinhas.blogspot.com/2012/02/uckermann.html


E, por fim (mas não menos importante): Estou escrevendo contos e preparando livros para publicar de forma independente. Quem quiser ficar por dentro, pode acompanhar através do blog: http://annainbookland.blogspot.com.br/


Bom, próximo capítulo agora só no fim de semana, ok? Beijos e muito obrigada por continuarem aqui. Quero saber o que estão achando, hein! <3



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Autor(a): akcardoso

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 447



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  • vondyfforever Postado em 25/05/2016 - 18:56:22

    Eeeei volte

  • ✌Ask✌ Postado em 05/10/2015 - 02:19:30

  • #Pequena_Girl Postado em 20/08/2015 - 19:03:06

    Por que você não continua????

  • jhessyvondy Postado em 18/08/2015 - 01:54:13

    Dulce só pode estar louca de ir falar coma BBelinda , deixa ela saber que a Belinda tem parcela de culpa na parte dela ir embora , ai chorei com a história do Guilherme tadinho , cara ficarei bem feliz se o Christopher desse atenção pra os filhos , pq tenho quase certeza que vondy não voltar a ficar junto por um tempo :((((( cooontinua

  • #Pequena_Girl Postado em 16/08/2015 - 21:03:05

    Oi leitora nova gatita a fanfic eh vondy quer dizer no final de tudo ele vai ficar com a Dul neh

  • vondyfforever Postado em 14/08/2015 - 14:57:32

    Que bom que vc voltoooo! Amandooo postaa maiss! Que bom que eles estao se entendendoo! *-*-*-*-**-*-*-*--*-**-

  • jhessyvondy Postado em 14/08/2015 - 14:45:31

    UAL que bom qe você voltou . Naomi ra viva ? Não creio , adorei os vondys nesse astral lindo , cooooontinu

  • PamLopes Postado em 14/08/2015 - 12:05:43

    Ainda bem que vc voltou a postar adorei....continue

  • vondyfforever Postado em 09/02/2015 - 01:11:37

    Omg! Serioo nao intendi muitok o fiNal estou confusa era o Christopher que ela estava falandoAi meu deus ansiosaa para a parte 2 e ve no que vai dar. Postee logooo

  • luanavondy Postado em 08/02/2015 - 23:39:15

    ansiosíssima pela parte 2.quantas emoções eu não esperava por isso. qual será o destino dos personagens? Posta mais!! estou muito feliz por vc ter voltado a posta. amo sua web


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