Fanfic: O homem perfeito - vondy - adaptada
Todas as sextas-feiras, Dulce e três amigas do Hammerstead Technology, onde trabalhavam, reuniam-se depois do trabalho no Ernie`s, um bar restaurante da zona, para tomar uma taça de vinho, jantar algo que não tivessem que preparar elas e conversar de coisas de garotas. Depois de passar a semana trabalhando em um ambiente dominado por homens, necessitavam de verdade aquela conversação entre mulheres.
Hammerstead era uma empresa satélite que subministrava tecnologia de computadores às fábricas de General Motores que havia na área de Detroit, e os computadores eram ainda um terreno masculino em grande medida. Além disso, a empresa era bastante grande, o qual queria dizer que o ambiente geral era um pouco estranho, com aquela mescla, em ocasiões incômoda, de loucos da informática que não sabiam o que significava a frase «apropriada para o escritório» e os habituais e típicos diretores de empresa. Se Dulce trabalhasse em algum dos escritórios de investigação e desenvolvimento em companhia desses loucos, ninguém se teria dado conta de que aquela manhã tinha chegado tarde a trabalhar. Por desgraça, ela era a encarregada do departamento de folhas de pagamento, e seu imediato superior era um autêntico obsesso do relógio.
Como tinha que compensar o tempo que tinha trabalhado de menos aquela manhã, chegou quase com quinze minutos de atraso ao Ernie`s, mas as outras três amigas já tinham ocupado uma mesa, e lhes agradeceu. O local estava enchendo, tal como acontecia sempre as noites dos fins de semana, e Dulce não gostava de esperar na fila para ter uma mesa, nem sequer quando estava de bom humor, o qual não era agora o caso.
— Que dia —disse ao mesmo tempo que se deixava cair na quarta cadeira, que estava vazia. Enquanto dava graças a Deus, por ser sexta-feira. Tinha sido um asco de dia, mas era o último, pela menos até na segunda-feira seguinte.
— Diga-me isso — murmurou Carol enquanto apagava um cigarro e se apressava a acender outro. — Ultimamente Poncho está insuportável. É possível que os homens sofram de síndrome pré-menstrual?
— Eles não o precisam —disse Dulce, pensando no tipo que tinha por vizinho... um tipo polícia. — Nascem envenenados pela testosterona.
— OH, é isso o que lhes passa? —Carol pôs os olhos em branco. — Eu acreditava que era pela Maite cheia ou algo assim. Nunca se sabe. Hoje Kellman me tocou a bunda.
— Kellman? —repetiram as outras três ao uníssono, atônitas, atraindo a atenção de todos os que as rodeavam. Romperam a rir, pois de todos os possíveis perseguidores, aquele era o menos provável.
Derek Kellman, de vinte e três anos, era a definição personificada de tipo anódino e pirado. Era um indivíduo alto e desajeitado, e se movia com a graça de uma cegonha bêbada. Tinha a voz tão proeminente em meio daquele pescoço fraco que dava a sensação de que se tragou um limão e lhe tivesse ficado entupido para sempre na garganta. Sua cabeleira ruiva não conhecia a escova; em um lugar aparecia totalmente murcha e em outro lhe sobressaía em forma de pontas agudas: um caso terminal de aspecto de recém levantado da cama. Mas era um gênio absoluto com os computa-dores, e de fato caía bem a todas elas, de uma forma protetora, como de irmã maior. Era tímido, torpe e totalmente avoado para tudo exceto os computadores. No escritório se comentava que ele tinha ouvido dizer que existiam dois sexos diferentes, mas não estava seguro de que o rumor fora certo. Kellman era a última pessoa da que alguém suspeitaria que tocasse a bunda de ninguém.
— Não me acredito —disse Maite.
— Está inventando —acusou isso Carol
Carol riu com sua rouca risada de fumante e deu uma larga imersão ao cigarro.
— Juro-lhes Por Deus que é verdade. O único que fiz foi me cruzar com ele no corredor. O seguinte que recordo é que me agarrou com as duas mãos e ficou ali sem mais, me sustentando o traseiro como se fosse uma bola de basquete e estivesse a ponto de ficar a fazer dribles.
Aquela imagem mental as fez rir a todas de novo.
— E o que fez? —perguntou Dulce.
— Pois nada —admitiu Carol. — O problema é que Bennett estava olhando, o corno.
Todas gemeram. Ao Bennett Trotter gostava de muito meter-se com quem ele considerava que eram seus subordinados, e o pobre Kellman era seu alvo favorito.
— O que ia fazer? —perguntou Carol, sacudindo a cabeça em um gesto negativo. — Não ia eu a proporcionar mais munição a esse idiota para que a usasse contra esse pobrezinho. De modo que dava ao Kellman um tapinha na bochecha e lhe disse algo em plano coquete, algo assim como: «Não sabia que te agradava». Kellman ficou mais avermelhado que seu próprio cabelo e se escapuliu ao banheiro de cavalheiros.
— O que fez Bennett? —perguntou Maite.
— Pôs um gesto de sorriso satisfeito na cara e disse que se soubesse que eu estava tão necessitada para me conformar com o Kellman, como ato de caridade faz já muito que me teria oferecido seus serviços.
Aquilo provocou uma epidemia de olhos em branco.
— Dito de outro modo, esteve tão cornudo como sempre —disse Dulce com asco.
Por um lado existia o de ser politicamente correto, e pelo outro a realidade, e a realidade era que as pessoas eram pessoas. Alguns tipos com os que tinham trabalhado no Hammerstead eram uns asquerosos libertinos, e aquilo não ia mudar por mais que quises-sem lhes inculcar sensibilidade. Entretanto, a maior parte dos homens eram aceitáveis, e tudo se compensava porque algumas das mulheres eram autênticas bruxas com vassoura.
Dulce tinha deixado de procurar a perfeição, no trabalho e em todas partes. Maite opinava que era muito desconfiada, mas é que Maite era a mais jovem do grupo e sua ingenuidade se mantinha virtualmente intacta.
Aparentemente, as quatro amigas não tinham mais em comum que o lugar onde trabalhavam. Carol Portilla, a chefa de contabilidade, tinha quarenta e um anos, a mais velha de todas. Casou-se e divorciou-se três vezes, e da última visita que fez aos tribunais, preferia relações menos formais. Levava o cabelo tingido de loiro platina, seu hábito de fumar estava começando a cobrar-se seu preço na cútis, e a roupa que vestia sempre ficava um pouquinho ajustada. Gostava de cerveja, os homens pouco refinados e o sexo louco, e reconhecia sentir afeição por jogar boliches. «Sou o sonho de todo homem», dizia ela rindo. «Tenho gostos baratos dentro de um orçamento caro.»
O namorado atual de Carol era um tipo chamado Poncho, um caipira grande e musculoso que não gostava de nenhuma das outras três. Em privado, Dulce opinava que tinha um nome muito apropriado, porque era denso como um tijolo. Era dez anos mais jovem que Carol, trabalhava só de vez em quando e passava a maior parte do tempo bebendo a cerveja dela e vendo a televisão. Entretanto, segundo Carol, gostava do sexo exatamente igual à ela, e isso era motivo suficiente para agüentá-lo durante um tempo.
Maite Perroni, a mais jovem, tinha vinte e quatro anos e era a «oitava maravilha» da divisão de vendas. Era alta, esbelta e possuía a graça e a dignidade de um gato. Sua cútis perfeita era de uma cor caramelo pálido e cremoso, tinha uma voz suave e poesia lírica, e os homens caíam como moscas a seus pés. Era, em efeito, justamente o contrário de Carol. Carol era descarada; Maite era distante e refinada. A única vez que haviam visto furiosa a Maite foi quando alguém a chamou «latina-americana».
— Sou americana —replicou ela, voltando-se de repente para o autor do insulto. — Jamais estive no Mexico ou algo parecido. Nasci na Califórnia, meu pai era um alto oficial da Marinha e eu não sou de nenhuma raça de nome composto. Tenho herança latina, mas também americana. —Levantou um esbelto braço e examinou a cor do mesmo. — me parece que sou latina. Todos somos de um tom de moreno diferente, assim não tente me separar.
O tipo balbuciou uma desculpa e Maite, sendo Maite, dedicou-lhe um gentil sorriso e o perdoou com tanta doçura que ele terminou lhe pedindo um encontro para sair. Na atualidade estava saindo com um defesa da equipe de futebol dos Detroit Lions; por desgraça, penetrou-se pelo Shamal King, embora todo mundo sabia que ele se relacionava com outras mulheres em todas as cidades nas que havia uma equipe da NFL. Com muita freqüência os olhos castanho escuro de Maite mostravam uma expressão afligida, mas ela se negava a deixá-lo.
Carol Cantu trabalhava em recursos humanos, e era a mais tradicional das quatro. Era da idade de Dulce, vinte e oito anos, e levava nove anos casada com seu namorado de escola. Ambos viviam em uma agradável casa dos subúrbios em companhia de dois gatos, um louro e um cocker spaniel. A única mancha no meio daquela felici-dade era que Carol desejava ter filhos e seu marido Galan, não. Em seu foro interno, Dulce pensava que CAROL poderia ser um pouco mais independente. Embora Galan trabalhava como supervisor na Chevrolet, no turno de três a onze, e não estava em casa, CAROL sempre estava consultando o relógio, como se tivesse que estar em casa a determinada hora. Por isso Dulce pôde deduzir, Galan não aprovava aquelas reuniões das sextas-feiras de noite. Quão único que faziam era juntar-se no Ernie`s e jantar, e nunca se foram mais tarde que as nove; não era precisamente que fossem de bar em bar bebendo sem parar até a madrugada.
Bom, não havia ninguém que tivesse uma vida perfeita, pensou Dulce. Ela mesma não tinha grandes coisas que contar no compartimento amoroso. Esteve comprometida em três ocasiões, mas ainda não tinha ido ao altar. Depois da terceira ruptura, decidiu dar um descanso quanto ao de sair com homens e concentrar-se em sua carreira. E ali estava, sete anos depois, ainda concentrando-se. Contava com um bom histórico de méritos, uma conta bancária saudável, e acabava de comprar sua primeira casa própria, embora não estava desfrutando dela tanto como tinha acreditado em um princípio, com aquele cretino inconsiderado e de más pulgas que tinha por vizinho. Pode ser que fosse polícia, mas de toda forma a seguia pondo nervosa, porque, polícia ou não, tinha todo o aspecto de ser um tipo capaz de tocar fogo em sua casa se o pegasse com o pé torcido. E ela o tinha pego com o pé torcido desde dia mesmo em que se mudou a viver ali.
— Esta manhã tive outro incidente com meu vizinho —disse Dulce com um suspiro ao mesmo tempo que apoiava os cotovelos sobre a mesa e o queixo entre os dedos entrelaçados.
— O que tem feito desta vez? —Carol era compreensiva porque, como todas sabiam, Dulce estava apanhada e os maus vizinhos bem podiam lhe amargurar a uma existência.
— Ia com pressa, e ao dar marcha ré me choquei com o cesto do lixo. Já sabem o que ocorre quando as pessoas vão com pressas, que sempre faz coisas que se fosse mais devagar não faria jamais. Esta manhã todo saiu mau. Primeiro, meu cesto do lixo se chocou contra o do vizinho, e a tampa saltou e rodou rua abaixo. Já podem imaginar o ruído que armou. Ele saiu pela porta principal como se fosse um urso, chiando que eu era a pessoa mais ruidosa que tinha conhecido em sua vida.
— Deveria lhe haver derrubado o cesto de lixo —disse Carol, que não acreditava no de oferecer a outra bochecha.
— Me teria detido por alterar a ordem pública —replicou Dulce em tom doído. — É policial.
— O que me diz! —Todas pareciam incrédulas, mas é que a descrição que Dulce lhes tinha feito do indivíduo, olhos avermelhados, barba desalinhada e roupa suja, não soava muito próprio de um policial.
— Suponho que os policiais podem ser tão bêbados como outro qualquer —disse Carol um tanto dúbia. — Mais que qualquer, diria eu.
Dulce franziu o cenho recordando o encontro daquela manhã.
— Agora que o penso, não cheirava a nada. Tinha todo o aspecto de levar três dias bêbado, mas não cheirava a álcool. Merda, não quero pensar que possa ter esse mau humor quando nem sequer está com ressaca.
— Paga —disse Carol.
— Maldita seja! —exclamou Dulce exasperada consigo mesma. Fazia o trato com elas de que pagaria a cada una um quarto de dólar cada vez que soltasse um palavrão, na hipótese de que isso lhe proporcionaria um incentivo para deixar de falar mau.
— Paga outra vez —riu Carol estendendo a mão.
Grunhindo, mas tomando cuidado de não amaldiçoar, Dulce extraiu cinqüenta centavos para cada uma de seus amigas. Ultimamente se assegurava de levar bastante moeda na bolsa.
— Pelo menos não é mais que um vizinho —disse Maite em tom consolador. — Pode evitá-lo.
— Até o momento não me está dando muito bem —reconheceu Dulce, olhando a mesa com o cenho franzido. Então se ergueu, decidida a não seguir permitindo que aquele tipo dominasse sua vida e seus pensamentos como os tinha dominado durante as duas últimas semanas. — Já basta de falar dele. Têm algo interessante que contar, garotas?
Maite se mordeu o lábio e uma sombra de aflição cruzou seu semblante.
— Ontem à noite liguei para o Shamal, e respondeu uma mulher.
— Oh, merda. —Carol se inclinou por cima da mesa para lhe acariciar a mão a Maite, e Dulce experimentou um fugaz sentimento de inveja pela liberdade verbal de seu amiga.
O garçom escolheu aquele momento para distribuir uns menus que não necessitavam porque se sabiam de cor tudo o que havia. Fizeram os correspondentes pedidos, ele recolheu os menus sem abrir, e quando se afastou todas se aproximaram mais à mesa.
— O que vais fazer? —perguntou Dulce. Era uma perita em romper relações, assim como em ser abandonada. Seu segundo noivo, o corno, tinha esperado até a noite anterior ao casamento, a noite do ensaio, para lhe dizer que não podia continuar adiante. Ao Dulce custou certo tempo superar aquilo..., e não estava disposta a pagar dinheiro por palavrões que tinha pensado mas não tinha chegado a pronunciar em voz alta. De todos os modos, acaso a palavra «corno» era um palavrão? Existia alguma lista oficial que ela pudesse consultar?
Maite encolheu de ombros. Estava a ponto de tornar-se a chorar e procurava parecer indiferente.
— Não estamos comprometidos, nem sequer nos vemos de maneira exclusiva. Não tenho nenhum direito de me queixar.
— Não, mas pode te proteger e deixar de vê-lo —replicou Carol com suavidade. — Merece a pena sofrer assim por ele?
Carol lançou um bufo.
— Nenhum homem o merece.
— Amém —disse Dulce, pensando ainda em seus três compromissos quebrados.
Maite beliscou nervosamente seu guardanapo com seus dedos largos e esbeltos.
— Mas quando estamos juntos, ele... atua como se lhe importasse de verdade. É doce e carinhoso, e muito considerado...
— Todos o são, até que conseguem o que querem. —Carol apagou seu terceiro cigarro. — Falo por experiência própria, como pode compreender. Te divirta com ele, mas não espere que mude.
— Essa é a verdade —disse Carol com tristeza. — Nunca mudam. É possível que finjam durante um tempo, mas quando calculam que já lhe têm enganchada e bem atada, relaxam-se e sai de novo a cara do senhor Hyde.
Dulce riu.
— Isso parece que o houvesse dito eu.
— Mas sem incluir palavrões —assinalou Carol.
Carol fez um gesto com a mão para desprezar aquelas brincadeiras. Maite luzia uma expressão ainda mais desgraçada que antes.
— De modo que deveria agüentar formar parte do rebanho, ou deixar de vê-lo?
— Pois... sim.
— Mas não deveria ser assim! Se eu lhe importar, como podem lhe interessar todas essas outras mulheres?
— Oh, é fácil —repôs Dulce — A serpente de um só olho carece de gosto.
— Querida —disse Carol dando a sua voz de fumante o tom mais amável que pôde, — se está procurando o homem perfeito, vais passar te a vida inteira desiludida, porque não existe. Tem que conseguir o melhor que possa, mas sempre haverá problemas.
— Já sei que não é perfeito, mas...
— Mas você quer que o seja —terminou Carol
Dulce sacudiu a cabeça em um gesto negativo.
— Isso não vai acontecer —anunciou. — O homem perfeito é pura ficção científica. Claro que nós tampouco somos perfeitas —acrescentou, — mas a maioria das mulheres pelo menos o tentam. A mim simplesmente não funcionaram as relações. — Calou durante uns instantes e logo disse em tom desconsolado: — Embora não me importaria ter um escravo sexual.
As outras três estouraram em risadas, inclusive Maite.
— Tampouco me importaria —disse Carol. — Onde poderia conseguir um?
— Tenta em Escravos Sexuais, S.A —sugeriu Carol, e todas voltaram a rir.
— Estou certa que existe uma página Web —disse Maite.
— Pois é claro que existe. —Dulce mostrava um semblante totalmente inexpressivo. — A tenho incluída em minha lista de Favoritos: www. escravossexuais. com.
— Não tem mais que indicar seus requisitos e poderá alugar ao homem perfeito por horas ou por dias. —Carol agitou seu copo de cerveja deixando-se levar pelo entusiasmo.
— Um dia? Sejamos realistas. —Dulce lançou um assobio. — Uma hora é pedir um milagre.
— Além disso, o homem perfeito não existe, não lhes lembram? —disse Carol.
— Um de verdade, não; mas um escravo sexual teria que fingir ser exatamente o que alguém deseje, não?
Carol não ia a nenhuma parte sem sua maleta de couro. Abriu-o e extraiu dele um caderno e uma caneta que deixou de repente sobre a mesa.
— Com toda segurança, sim. Vejamos, como seria o homem perfeito?
— Teria que lavar os pratos a metade das vezes sem que ninguém lhe pedisse que o fizesse —disse Carol pondo uma mão em cima da mesa e atraindo olhares de curiosidade.
Quando todas conseguiram deixar de rir o tempo suficiente para falar com coerência, Carol ficou a rabiscar no caderno.
— Muito bem, número um: lavar os pratos.
— Não, ouça, lavar os pratos não pode ser a primeira condição —protestou Dulce. — Antes disso temos outras coisas mais importantes.
— Tá —disse Maite. — Falando a sério, como acreditam que deveria ser um homem perfeito? Eu nunca o pensei que essa forma. Talvez me resultasse mais fácil se tivesse claro o que eu gosto de um homem.
Todas fizeram uma pausa.
— O homem perfeito? Sério? —Dulce enrugou o nariz.
— Sério.
— Isto vai requerer pensar um pouco —declarou Carol.
— Para mim, não —disse Carol ao mesmo tempo que a risada desapareceu de seu rosto. — O mais importante é que queira na vida o mesmo que quer você.
Todas se sumiram em um poço de silêncio. A atenção que tinham suscitado suas risadas nas mesas de ao redor se deslocou para outros brancos mais prometedores.
— Que queira na vida o mesmo que você —repetiu Carol ao mesmo tempo que o escrevia. — Esta é a primeira condição? Estamos todas de acordo?
— Essa condição é importante —disse Dulce. — Mas não estou certa de que seja a primeira.
— Então, qual é primeira para ti?
— A fidelidade. — Pensou em seu segundo noivo, o muito bode. — A vida é muito curta para esbanjá-la com uma pessoa da que não te pode confiar. Alguém deveria poder confiar em que o homem ao que ama não vai mentir nem enganá-la. Se tiver isso como base, pode-se trabalhar no resto.
— Para mim, isso é o primeiro —disse Maite em voz baixa.
Carol refletiu um momento.
— De acordo —disse por fim — Se Galan não fosse fiel, eu não quereria ter um filho com ele.
— Eu o assino —disse Carol. — Não suporto a um tipo que joga com dois baralhos. Número um: que seja fiel. Que não minta nem engane.
Todas assentiram.
— Que mais? —Permaneceu com a caneta apoiada no caderno.
— Tem que ser agradável —sugeriu CAROL
— Agradável? —disse Carol incrédula.
— Sim, agradável. Quem deseja passar toda a vida com um tipo antipático?
— Ou ser vizinha dele? —murmurou Dulce, e assentiu para indicar que estava de acordo. — Me parece bem. Não soa muito emocionante, mas pensem nisso. Eu acredito que o homem perfeito deve ser amável com as crianças e com os animais, ajudar os idosos a cruzar a rua, não te insultar quando sua opinião for diferente da dele. Ser agradável é tão importante que bem poderia ser a condição número um.
Maite afirmou com a cabeça.
— Muito bem —disse Carol — Demônios, até me convencestes. Eu acredito que não conheci nunca a um tipo agradável. Número dois: agradável —Anotou-o. — Número três? Aqui tenho minha própria idéia a respeito. Quero um homem que seja de confiar. Se disser que vai fazer algo, que o faça. Se tiver que reunir-se comigo às sete em um determinado lugar, tem que estar ali às sete, não chegar tranqüilamente às nove e meia ou inclusive não apresentar-se. Estamos todas de acordo nisto?
As quatro levantaram a mão em um voto afirmativo, e a condição «de confiar» passou a ocupar a casinha número três.
— Número quatro?
— O evidente —disse Dulce. — Um trabalho estável.
Carol fez uma careta de desgosto.
— Ai. Essa tocou um ponto sensível. —Naquele momento Poncho estava sentado sem fazer nada, em lugar de trabalhar.
— Um trabalho estável está incluído no de ser de confiar —assinalou Carol — E estou de acordo, é importante. Manter um emprego estável é sinal de maturidade e de sentido de responsabilidade.
— Um trabalho estável —disse Carol ao mesmo tempo que escrevia.
— Deve ter senso de humor —disse Maite.
— Algo mais que rir com o Cantinflas? —perguntou Dulce.
Todas estouraram em risadas.
— O que têm que ver os homens com isso? —perguntou Carol pondo os olhos em claro. — E brincadeiras a respeito de funções corporais! Ponha isso em primeiro lugar, Carol, nada de brincadeiras no banheiro!
— Número cinco: senso de humor —riu Carol, escrevendo. — Para ser honrada, não acredito que possamos dizer que tipo de humor deve ter.
— Claro que podemos —corrigiu Dulce. — Vai ser nosso escravo sexual, não te lembra?
— Número seis. —Carol as chamou a atenção dando uns golpinhos com a caneta contra a borda de seu copo. — Voltemos para o trabalho, senhoras. Qual é a condição número seis?
Todas se olharam entre si e se elevaram de ombros.
— O dinheiro não está mal —sugeriu por fim Carol — Não é uma condição imprescindível na vida real, mas isto é uma fantasia, não é assim? O homem perfeito deve ter dinheiro.
— Tem que ser asquerosamente rico ou simplesmente gozar de folga econômica?
Aquilo requereu pensar um pouco mais.
— A mim, particularmente, eu gosto que seja asquerosamente rico —disse Carol.
— Mas se fosse tão rico, quereria ser ele quem mandasse em tudo. Estaria acostumado a isso.
— Isso não vai acontecer de maneira nenhuma. De acordo, que tenha dinheiro está bem, mas não muito dinheiro. Folgado. O homem perfeito deve ter folga econômica.
Quatro mãos se elevaram no ar, e a palavra «dinheiro» ficou escrita na casinha número seis.
— Como isto é uma fantasia —disse Dulce, — deve ser bonito. Não um Adonis de cair morto, porque isso poderia supor um problema. Maite é a única de nós que é o bastante bonita para manter o tipo ao lado de um homem atrativo.
— Não me está dando muito bem, acredito eu —repôs Maite com um pingo de amargura. — Mas sim, para que o homem perfeito seja perfeito de verdade, tem que dar gosto olhá-lo.
— Muito bem, pois a condição número sete é: que dê gosto olhá-lo. —Quando teve terminado de escrever, Carol levantou a vista sorridente. — Vou ser eu a que diga o que todas estamos pensando. Tem que ser estupendo na cama. Não basta com que seja bom; tem que ser estupendo. Tem que ser capaz de me pôr o pêlo de ponta e me voltar louca. Deve ter a resistência de um puro-sangue de corridas e o entusiasmo de um moço de dezesseis anos.
Todas riam a gargalhadas quando o garçom deixou os pratos sobre a mesa.
— O que é o que tem tanta graça? —quis saber.
— Não o entenderia —conseguiu dizer Carol.
— Já entendo —disse com um gesto significativo. — Estão falando de homens.
— Pois não, estamos falando de ficção científica —replicou Dulce, com o qual provocou novas gargalhadas. As pessoas das demais mesas voltou às olhar com curiosidade, tentando averiguar o que podia ser tão gracioso.
O garçom se foi. Carol se inclinou sobre a mesa.
— E antes de que me esqueça, quero que meu homem perfeito tenha umas medidas de vinte e cinco centímetros!
— Deus Santo! —Carol fingiu desmaiar e se abanou com a mão. — Que não poderia fazer eu com vinte e cinco centímetros! Ou melhor, o que poderia fazer eu com vinte e cinco centímetros!
Dulce estava rindo tão forte que tinha que apertar a barriga. Custou-lhe muito manter baixo o tom de voz, e disse entre risadas:
— Vamos! Qualquer coisa que esteja acima dos vinte centímetros é puramente de exibição. Existe, mas não se pode usar. É possível que esteja bem para vê-lo em um vestuário, mas confrontemo-lo: esses cinco centímetros a mais são sobras.
— Sobras! —exclamou Maite apertando o estômago e partindo-se de risada. — Diz que são sobras!
— OH, Meu Deus. —Carol se secou os olhos ao tempo que escrevia rapidamente. — Isto marcha. Que mais deve ter nosso homem perfeito?
Carol agitou a mão fracamente.
— A mim —sugeriu entre risadas. — Pode ter a mim.
— Se não puserem a rasteira em nós para que não o alcance —disse Dulce, e levantou seu copo. As outras três levantaram o seu, e brindaram os cristais com um alegre som. — Pelo homem perfeito, em qualquer lugar que se encontre!
Ai, ai... algo me diz que essa tal lista vai dar problema...
bjix
Autor(a): natyvondy
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Vondyatrevidinha: seja bem-vinda flor e obrigada por comentar : ) No sábado amanheceu cedo e luminoso... muito luminoso, e muito cedo, diabos. Xuxu despertou ao Dulce às seis lhe miando ao ouvido. — Vá —murmurou ela ao mesmo tempo que se tampava a cabeça com o travesseiro. Xuxu miou de novo e golpeou o travesseiro com a pata ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 109
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vondyatrevidinha Postado em 20/06/2012 - 13:56:22
Oh My Gosh! A Dulce é diva até na hora de brigar!kkkkk... mas esse bêbado é mt folgado mermo (não q tds os outros não sejam u.u) #PostaMais!
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vondyatrevidinha Postado em 20/06/2012 - 13:56:22
Oh My Gosh! A Dulce é diva até na hora de brigar!kkkkk... mas esse bêbado é mt folgado mermo (não q tds os outros não sejam u.u) #PostaMais!
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vondyatrevidinha Postado em 20/06/2012 - 13:56:21
Oh My Gosh! A Dulce é diva até na hora de brigar!kkkkk... mas esse bêbado é mt folgado mermo (não q tds os outros não sejam u.u) #PostaMais!
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vondyatrevidinha Postado em 20/06/2012 - 13:56:21
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vondyatrevidinha Postado em 20/06/2012 - 13:56:21
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vondyatrevidinha Postado em 20/06/2012 - 13:56:21
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vondyatrevidinha Postado em 20/06/2012 - 13:56:21
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vondyatrevidinha Postado em 20/06/2012 - 13:56:21
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vondyatrevidinha Postado em 20/06/2012 - 13:56:20
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vondyatrevidinha Postado em 20/06/2012 - 13:56:20
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