Fanfic: When you were mine | Tema: Game Mortal Kombat 2011
Capítulo 02 –
Ele nunca voltou. Mais de dois anos se passaram e ele nunca voltou.
Mas ela sabia que seria assim, quando Stryker apareceu, todo machucado e com aquele olhar sombrio para lhe dar pessoalmente a notícia. E sequer havia um corpo para enterrar... Dias infernais aqueles, em que monstros saídos do nada invadiram sua cidade para destruir sua vida.
Agora Sarah, que sobreviveu a tudo isso, olhava impaciente o relógio da lanchonete onde era garçonete. Apenas quinze minutos para acabar seu turno. E já não era sem tempo. O dia inteiro aguentando fregueses mal-educados... Ela pegou as últimas bandejas e saiu para servir.
Às dez da noite, Sarah tirava seu avental e se aprontava para ir embora. Karin e ela se arrumavam no banheiro das funcionárias.
- Amiga, hoje o Jeff vem me buscar de moto. Meu carro quebrou, não te avisei? Carona não vai rolar. Foi mal...
Karin dizia isso enquanto passava batom e penteava os cabelos crespos. Sarah sentia uma ponta de inveja da pele translúcida da amiga e dos cabelos encaracolados... E depois de sua desilusão, Sarah resolveu cortar os cabelos na altura na nuca. Sabia o quanto ele gostava de seus cabelos longos. E não suportava se olhar no espelho e lembrar que nunca mais seria dele.
Mas a camisa ela nunca jogaria. E a guardou sem lavar.
Ela estava sendo seguida. Sabia que estava. Eram dois homens ou mais. Sarah fechou ainda mais seu sobretudo e começou a caminhar o mais rápido que seus saltos altos permitiam, fazendo barulho na calçamento e denunciando sua posição.
Não podia ir até sua casa. Para onde iria?
Então, lembrou-se de que lá por perto havia um restaurante chinês que estava indo à falência. E ao chegar lá, o restaurante realmente havia falido. Foi uma má escolha. A rua era deserta e cheia de becos.
Sarah ficou desesperada e começou a correr. O salto de seu sapato esquerdo quebrou e ela caiu. Alguém a puxou bruscamente pelo pulso e a arrastou para trás de uma lixeira.
- Socorro! Me larguem! – ela disse, tentando alcançar o spray de pimenta em seu sobretudo.
- Eu não faria isso se fosse você, gracinha. – um deles disse, e agora ela podia ver que eram três. Mas estava um tanto escuro para que ela lhes visse as feições.
- Por favor, me deixem ir! Eu não conto nada à polícia!
Um deles a puxou pelos cabelos e lambeu-lhe a orelha. Ela sentiu um arrepio de nojo e medo.
- Vem cá...
Ela estava resignada, mas preferia morrer a esse destino. Rezava por um milagre.
- O que covardes como vocês pensam que estão fazendo?
Era um milagre. Era uma voz masculina, um pouco rouca, soando estranhamente familiar... E ela se sentiu segura.
- Ajude-me, por favor!
- Vá embora, seu mané, ou acabamos com você! – um dos bandidos falou, apertando o pescoço de Sarah.
O estranho o pegou pela cabeça e o jogou longe, contra um muro. A cabeça do bandido se espatifou ao se chocar contra a parede. Sarah gritou e desviou o olhar. Os outros dois bandidos, assustados, se puseram a fugir. Mas o estranho foi mais rápido: retirou dois ganchos de trás das costas e enfiou um na cabeça de cada marginal.
Sarah estava num canto, choramingando.
- Você está bem? – ele perguntou, sem ousar encará-la.
Sarah o olhou e a luz da lua se fez forte o suficiente para que ela pudesse vê-lo. Ele usava um colete com um tipo de aparelho acoplado e tinha cabelos longos e negros. Ainda estava segurando aqueles estranhos ganchos, agora ensanguentados. Usava uma máscara que o fazia parecer uma espécie de robô. E sua pele... Ele tinha horríveis cicatrizes, pareciam ser de queimaduras.
- Foi horrível... – ela disse, soluçando, ainda caída no chão – Mas você me salvou... Talvez pudesse ter sido diferente... Deus, acho que vou vomitar...
Ele queria chegar perto dela, segurar-lhe as mãos, a cabeça... Mas não teve coragem de se aproximar. Ela se apoiava em uma parede e respirava fundo, tentando se levantar, mas caía a cada tentativa.
- Eu não posso andar, minhas pernas não me obedecem...
Ele guardou os ganchos e se aproximou dela, sondando-lhe as reações. Como ela não protestou, ele a pegou no colo. Tudo parecia tão familiar... E aquele cheiro... Ela sabia que provavelmente estava alucinando. Mas encostou a cabeça no peito dele e dormiu.
Sarah acordou com aquele cheiro pungente, aquele vapor bem debaixo de seu nariz. Ela foi subitamente tirada de um mundo de sonhos onde abraçava seu amante e ninguém podia separá-los. Ela jamais tiraria aquele cristal multicolorido de seu anelar direito.
- Kabal... – ela disse, numa voz sonolenta – Você sabe que eu odeio café.
- Eu sei. Mas o cheiro é forte o suficiente para acordá-la.
Sarah abriu os olhos e pulou da cama, assustada, mal se dando conta de seus arredores. Estava em seu quarto e sequer sabia como chegara lá.
- O que está acontecendo? Que brincadeira é essa?
- Sarah, espere, calma... Eu posso explicar...
- Quem é você? O quê é você? – ela se espremia contra a parede.
- Não precisa ter medo de mim, Sarah. Você sabe quem eu sou.
- Você... Você dilacerou aqueles homens! Eu vou ter pesadelos com isso para sempre!
- Sarah! Eles a teriam ferido! E eu não suportaria isso!
Sarah caiu no chão, chorando. Ela já não suportava mais tudo aquilo.
- Kabal, eu sabia, no fundo eu sabia que era você! O que houve? Por que me deixou?
Ele se ajoelhou para olhá-la bem nos olhos. Aqueles grandes olhos verdes que devoravam.
- Sarah... Eu nem deveria ter voltado. E quanto a porque me fui... Acho que a explicação está diante de seus olhos.
- Não, não! – ela o abraçava, implorando – Isso não importa, nada disso importa! Estamos juntos agora, vê? Vai ficar tudo bem! Não me deixe novamente, Kabal, eu não suportaria...
Ele se afastou dela e segurou-lhe as mãos. E viu que ela ainda usava o anel de noivado. Mesmo após tantos anos...
- Sarah, é hora de ir em frente, minha querida... Foi o que eu fiz e é o que deve fazer. – ele dizia isso, secando-lhe as lágrimas.
- Não me deixe novamente... Por favor... – ela tentou convencê-lo mais uma vez, num fio de voz.
Ele a abraçou, apertado. Ela apertou os olhos para fazer desaparecer todas aquelas visões trágicas que de repente invadiram sua mente...
E ele já não estava mais lá.
Como num sonho ele desapareceu, deixando somente seu cheiro.
Sarah foi até seu guarda-roupa, pegou a camisa favorita de Kabal e ficou a abraçá-la, chorando.
Autor(a): Lonely Loony
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