Fanfic: Lembranças de Você ( AyA) Adaptada - FINALIZADA | Tema: Anahí y Alfonso

Era difícil dormir direito no hospital. Mesmo à noite, no silêncio e na penumbra, havia sempre um ou outro movimento no corredor e no posto das enfermeiras, e ainda que isso não chegasse a atrapalhar o sono, os pensamentos tumultuados de Alfonso não davam trégua.

Charles Rowden estava morto e a culpa era sua. Podia perceber que Annie o culpava. Charles Rowden... amante dela, disso Alfonso se lembrava. Matara o único homem que sua esposa tinha amado.

Mas não se lembrava do acidente. Não sabia por que estava com Charles no avião. Tinha apenas uma vaga lembrança de ter discutido com Annie, provavelmente poucos dias antes do acidente. Estavam em seu escritório e ele se irritara, se sentira magoado com ela. Anahí também estava furiosa. Acusara-o de tratar as pessoas como peões de um jogo de xadrez, de tê-la afastado dos amigos... Depois disso, as lembranças se tornavam nebulosas.

Poncho mal se lembrava da fisionomia de Charles, mas sabia que ele fora a grande paixão de Annie quando ainda eram adolescentes e que nunca se conformara por não terem ficado juntos. Anahí garantia que Charles já não significava nada para ela, mas Alfonso se lembrava de como os dois eram ligados no começo de seu casamento, de como ela era carinhosa com todos da família Rowden. Isso o levara a tirar conclusões...

Aos poucos a memória ia se reavivando, e agora Poncho se lembrava com mais nitidez de ter visto Theo no quarto, num momento em que Annie se ausentara. O irmão estava de volta, e agora o provocava, bem-humorado, dizendo que com todos aqueles hematomas as mu­lheres já não cairiam a seus pés como antes!

Theo perguntou se ele se lembrava de alguma coisa, e Poncho res­pondeu que não, embora não fosse inteiramente verdade.

O irmão mostrava-se feliz por vê-lo consciente e disse que precisavam conversar. Como sua mãe, não se preocupava em esconder nada, até mesmo comentou sobre a situação caótica no escritório.

— Ainda não sabemos quem é o espião. Sei que não quer acreditar que seja Annie, mas ela tem acesso ao escritório. E cá para nós, mo­tivos ela tem de sobra. Afinal, ela não é exatamente sua maior fã...

Um espião... Fazia sentido. Alguém infiltrado na empresa estava passando informações importantes para seu maior concorrente, a Damian. E Anahí trabalhava para Pedro Damian havia anos.

— Lembra-se de Damian, não? — Theo continuou fornecendo suas informações. — Pois então... olhe, se eu o estiver cansando, me avise que eu volto numa outra hora. Se eu não puder vir, Dulce virá em meu lugar.

— Dulce?

— Não se lembra dela? Trabalha conosco há anos! Bem, nosso maior problema está no setor de desenvolvimento. Taggart está rece­bendo informações e passando na nossa frente em tudo. Annie pode ser a espiã, você sabe e...

— Não gosta dela?

— Não confio nela. É diferente.

— Mas ela é minha esposa.

— Eu sei. Ela o encantou desde o começo e agora você tem de pagar o preço pela paixão que sentiu...

Alfonso achou estranha aquela informação, porque seus instintos mandavam-no confiar apenas em Annie e em mais ninguém. Mas Theo lhe dizia que ela era uma espiã...

— Por que eu estava naquele avião com Charles Rowden? — A pergunta lhe escapou quase involuntariamente.

— Quem lhe contou isso? Annie?

— Sim. Um detetive quis falar comigo, mas o médico não permitiu.

— É o detetive Newcastle. Ele também falou comigo, mas não sei o que você estava fazendo em companhia de Rowden. Pensávamos que você pudesse nos explicar, mas... não se lembra de nada, não é?

Mais uma vez, as palavras teimavam em vir-lhe à mente: "Esqueça, seria muita sorte..."

Por alguns segundos, Alfonso teve a impressão de que Theo estava aliviado por ele não se lembrar de nada.

— O detetive acha que não foi acidente? — aventou.

— Ele não faz nenhum comentário, mas com certeza deve ser algo assim.

Naquele momento, uma frase ressurgida do passado lhe ocorreu: "Nunca confie em ninguém, especialmente da família..." E imaginou-se frio, cínico...

— Dulce quase desmaiou quando soubemos que o acidente tinha sido tão sério — Theo continuou falando.

Dulce Maria... Poncho pensava nela agora. Era uma mulher de personalidade forte, e no seu entender, quase masculina; por isso ele nunca cedera quando ela insinuava querer aprofundar o relaciona­mento além do âmbito profissional.

De repente, Poncho sentiu uma opressão no peito. Teria tido um caso com Dulce? Muito improvável... Podia não se lembrar de quase nada, mas não conseguia imaginar-se na cama com Dulce. Sentia até certa repulsa por ela. Mas lembrava-se de ter deixado Annie pensar que ele tinha um caso com Dulce. Por que fizera isso era um enigma para ele próprio.