Fanfics Brasil - Capítulo Dois ANJO GUERREIRO

Fanfic: ANJO GUERREIRO


Capítulo: Capítulo Dois

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Capítulo Dois

 

Espere... espere...

Dulce observou enquanto a bola caia na máquina. Ela apertou o bastão de alumínio entre seus dedos, se lembrando de controlar sua respiração, e manter o olho na bola. Inclinou o corpo para frente, se preparando. A bola foi cuspida da máquina de arremessadora como se tivesse sido disparada de um canhão, mas Dulce estava pronta. Ela deu um passo para a frente e acertou a bola bem no centro,

THWAK!

Para fora do estádio, meu bem! Ninguém conseguiria pegar aquela bola, ela disse a si mesma.

O mais engraçado era que Dulce nem gostava de baseball. Ela nunca tinha ido assistir um jogo num estádio. Mas seu trabalho estava sendo especialmente estressante ultimamente, e ela precisava descarregar um pouco da tensão. Stress era parte integrante do trabalho na Bolsa de Valores de Chicago – a Bolsa, para encurtar – onde um corretor podia ganhar milhões em questão de segundos. Ou perder. Quebrar, perder tudo: casa, carro, futuro, até a vida. Alguns diziam que o suicídio era a única alternativa para a ruína e a desgraça. E tudo isso podia acontecer no tempo que se levava para espirrar.

Corretores da Bolsa lidavam com o stress de diferentes maneiras. Alguns saiam para beber depois do trabalho, usando o álcool para esterilizar suas feridas. Mas a bebida tinha o efeito colateral desagradável de fritar o cérebro. E era assim que muitos perdiam seu toque. Bebida também te fazia perder o controle.

Dulce não suportava perder o controle. Ela se orgulhava de ter sua vida inteira organizada e controlada. Bom, na verdade, parte de sua vida. A parte profissional. A parte amorosa já era outra história.

THWAK! Outra bola saiu voando, dessa vez entrou em órbita!

A Bolsa era um edifício impressionante localizado no coração de Chicago. Dulce passava a maior parte do tempo nos escalões mais altos do pregão. O pregão consistia de salões parecidos com arenas onde homens – e agora mulheres – ou negociavam em nome de grande corporações financeiras, ou eram operadores independentes, os cowboys da Bolsa. Dulce era uma das que trabalhavam para uma firma. Ela gostava da relativa segurança de sua posição. Ela ganhava dinheiro para outras pessoas, e recebia um excelente salário mais bonificações.

Não existiam encontros discretos ou almoços de negócios na Bolsa. O pregão era caos quase incontido, e somente aqueles de vontade forte, e estômagos mais fortes ainda, conseguiam sobreviver,

Dulce havia aprendido aquela lição anos antes. Trabalhar de ressaca podia custar caro. Ela perdeu a concentração só uma vez, depois de uma noite bebendo coquetéis de champagne (do tipo europeu, feito com conhaque e especiarias), e acabou cometendo um erro. Aqueles coquetéis custaram à sua firma meio milhão de dólares, e quase custaram seu emprego. Dulce prometeu a si mesma que nunca mais iria trabalhar de ressaca. Então, ao invés de coquetéis de champagne, quando as coisas ficavam tensas ela ia rebater umas bolas – e hoje as coisas tinham ficado muito tensas. Ela perdera um grande cliente, e, mais uma vez, tinha chegado perto de perder o emprego.

Espere... espere...

THWAK. Quero ver o apanhador pegar essa. Ponto para mim!

A única razão pela qual Dulce não tinha sido despedida era o fato de ser uma das melhores no pregão. Ela negociava com o que era chamado Papel. Ela preenchia ordens para sua firma e seus maiores clientes, e o fazia mais depressa e com mais precisão do que a maioria de seus colegas homens. E era perpetuamente ridicularizada por isso. Por causa de sua habilidade de “cortar” as ordens, e por não ser muito alta, todos a chamavam de “Machadinha”. Mas ela não se importava com o apelido e as provocações, porque faziam com que se sentisse parte do “Clube do Bolinha” que era a Bolsa. E ela tinha feito por merecer a alcunha.

Dulce adorava a agitação do pregão, onde os corretores se espremiam ombro a ombro, barriga a barriga, puxando e empurrando, balançando os braços, e gritando a plenos pulmões. Seu corpo balançava no mesmo ritmo dos outros corretores, em ondas de frenesi. Ela berrava suas ordens tão alto que muitas vezes voltava para casa sem voz nenhuma. Todos os dias, quando soava a campainha de abertura de negócios, um jorro de adrenalina enchia as veias de Dulce, e ela se transformava numa guerreira indo para a batalha, feroz e agressiva.

Dulce era implacável, e também era atraente, e sabia disso. Ela usava sua aparência como uma vantagem, sempre aparecendo para trabalhar como se tivesse acabado de sair das páginas de uma revista de moda. Algumas mulheres a criticavam por isso, mas Dulce nem ligava. Ela nunca tinha conseguido entender como parecer e cheirar como uma cama desfeita podia ser um manifesto pela igualdade feminina. Homens altos usavam a estatua para chamar a atenção. Outros, com ombros largos e braços musculosos forçavam seu caminho pelo pregão. Então por que Dulce não podia tirar vantagem da beleza que Deus e seus genes haviam lhe dado? Além disso, ela também tinha cérebro, e os outros corretores sabiam disso.

E se algum homem a confundia com uma mulherzinha frágil, como às vezes acontecia, e tentava empurrá-la para fora de seu espaço, bastava enfiar o salto agulha de seu sapato no pobre infeliz. Quando ela escutava o grito de dor do sujeito, piscava seus longos cílios e dava seu sorriso mais doce para ele e dizia “Desculpe. Eu te machuquei? Pensei que você estivesse tentando invadir meu território”.

Se ele tentasse de novo, ela chutava suas canelas. No fim, ele acabava desistindo. Ela lutara duro, de novo e de novo, até conquistar seu espaço.

Dulce olhou para o relógio e percebeu que já estava rebatendo a mais de duas horas. Suas mãos já estavam formando bolhas e seus braços estavam cansados. Ela decidiu ir para casa.

Ela estacionou o carro em sua garagem e caminhou até o lobby de seu prédio, localizado perto da zona norte de Chicago. Seu condomínio tinha uma muito desejada vista para o lago, e ela o adorava. E não só pelo status. Ela gostava de olhar para o lago à noite, vendo as luzes dos edifícios refletidas na água, como se fosse um espelho das estrelas no céu. Ela gostava do privilégio de morar numa área nobre da cidade, e de todo o conforto que vinha com um apartamento de quinhentos mil dólares.

Dulce caminhou até as escadas do prédio. O porteiro, Alex, já estava lá para abrir a porta para ela. Ele era um homem muito gentil, casado há anos.

- Olá, senhorita Dulce. Como foi na Bolsa hoje?

- Nada bem, Alex. Nada bem mesmo.

- Sinto muito por isso, mas eu estou sentindo que as coisas vão mudar para melhor, a senhorita vai ver. Eu tenho um faro para essas coisas.

- Deus te ouça. A propósito, Alex, quando nasce a sua filhinha? – perguntou Dulce, mudando de assunto. Ela não queria conversar, nem pensar, sobre trabalho.

- O médico disse que por esses dias. Minha mulher disse que se não for logo, ela mesma vai puxar o bebê para fora.

- Tomara que não precise! – disse Dulce, rindo e caminhando na direção do elevador.

- Tenha uma boa noite, senhorita Dulce.

- Boa Noite, Alex.

- Ah, eu ia me esquecendo, eu vou sair de férias. Vai ter um porteiro novo amanhã.

Dulce parou. – Eu não sabia que você ia tirar férias agora.

- Para dizer a verdade, nem eu – disse Alex. – O Síndico, Sr. Fraym, descobriu que eu tinha um bocado de férias vencidas, e que era melhor tirá-las logo. Mas foi melhor, porque agora vou estar em casa para ajudar minha mulher com o bebê.

- Parece ótimo. Divirta-se – disse Dulce. – Mande um beijo para a Marie.

Ela apertou o botão de seu andar no elevador, depois se apoiou em seu bastão e bocejou enquanto subia. Ela não lembrava se tinha alguma coisa para comer na geladeira. Achava que ainda devia ter algumas refeições de microondas. Ela esperava que sim, pois não tinha a menor vontade de cozinhar, nem de sair de novo.

Ela abriu a porta do apartamento, acendeu a luz, largou as chaves do carro e a bolsa na mesa de jantar e foi até a cozinha. Acionou a secretária eletrônica para ouvir suas mensagens enquanto vasculhava a geladeira.

Bip

“Machadinha, cadê você? Estamos todos aqui no Mario’s. Faz tempo que você não vem tomar um drinque com a gente depois do trabalho. É quinta-feira. Ninguém te avisou que a noite de quinta-feira é a nova sexta-feira? É a nova moda!Você devia estar aqui! Me liga.”

Dulce conhecia aquela voz. Um de seus colegas do escritório.

- Ugh, não, por favor! Nunca – ela murmurou.

Nenhuma refeição de microondas. Mas tinha uma lasanha amanhecida.

Outro Bip.

“Dulce, é o Isaac. Queria te cumprimentar pelos sapatos sexis que estava usando hoje no trabalho. Tem idéia de como você estava me distraindo enquanto tentava pensar na cotação da carne de porco? Acho que estraguei três ordens hoje. Me liga”.

- Se divorcie primeiro, safado – Dulce disse para a secretária eletrônica. Ela foi até o armário, procurando batatinhas fritas.

Terceiro Bip.

“Hum, oi Dulce; sou eu, eh, o Jack. Você saiu tão depressa hoje depois do fechamento que nós nem tivemos chance de, ah, bater um papo. Você parecia nervosa. Está tudo bem? Hum, me liga se quiser conversar. Tchau”.

- Quantos anos você tem, Jack? O quê, uns 16, talvez? Sobre o que nós iríamos conversar? Sua roupa para o baile de formatura?

Quarto Bip.

“Dulce, é Javier. Só queria saber como foi seu dia. Me dê uma ligada quando tiver tempo”.

Dulce sorriu com a última mensagem, que ela salvou, apagando as outras. Ficou de pé na frente da pia, comendo lasanha fria e batatas fritas velhas, empurrando a comida com uma lata de refrigerante diet sem gás, que ela havia esquecido aberta encima da mesa de manhã. Depois, jogou as embalagens no lixo. Ela não era muito boa na cozinha, nem na limpeza.

Javier Alanis, ou só Javier, como ele preferia ser chamado. Eles estavam saindo já fazia alguns meses, e as coisas estavam indo bem. De fato, ele a havia impressionado logo de cara. Era o homem com que toda mulher sonhava: bonito, atencioso, e muito rico.

Quando ele descobriu que ela gostava de champagne, a levou até a França em seu jato particular para um longo fim de semana degustando o melhor vinho da região. Eles viajaram pelo campo numa limusine, bebendo champagne gelado e comendo morangos cobertos de chocolate.

No último final de semana, eles tinham comido num restaurante tailandês, e ela disse ter adorado a comida. Ele se ofereceu então a levá-la a Bangcok, para provar a verdadeira cozinha da Tailândia. Ela riu, e o acusou de a estar provocando. Javier disse que não estava brincando e, no dia seguinte, mandou para ela duas passagens de primeira classe para Bangcok. Ela não podia faltar ao trabalho, mas é a intenção que conta, não é verdade?

Javier estava na idade certa para ela: maduro o bastante para ter deixado para trás os arroubos juvenis, mas ainda não tão velho para se aposentar. Ele era alto e com corpo atlético. Seus cabelos eram pretos, com um toque de grisalho suficiente para torná-lo interessante. Seus olhos eram escuros e sedutores, sua pele bronzeada. E se vestia impecavelmente: os ternos mais bem cortados, os casacos mais caros, os melhores sapatos. Até suas calças jeans, quando vestia calças jeans, eram feitas sob medida. Ele era atencioso, sempre lhe dava pequenos presentes, nada constrangedor ou extravagante, mas tudo de bom gosto.

Até o momento, Javier Alanis tinha apenas duas desvantagens. A primeira era que ela não o amava. Ela sabia que deveria estar perdidamente apaixonada por ele, porque era o tipo de homem por quem toda mulher se apaixonaria, mas ela ainda não estava.

A segunda era que ele era um cliente. Ele havia sido designado para ela por seu gerente, Sr. Gandia. Na verdade, o próprio Javier a tinha solicitado. Ele contou ao Sr. Gandia que tinha conversado com alguns dos clientes dela, que a tinham recomendado muito bem. Ela já havia tirado uma boa bonificação de seu trabalho com Javier, e vinha agradecendo silenciosamente a Gandia por isso durante semanas. Se seu gerente descobrisse que ela estava saindo com um cliente, não seria nada bom para ela. Mas existiam inúmeros relacionamentos inapropriados acontecendo no trabalho o tempo todo, e enquanto não começassem a fofocar sobre o dela, e continuasse a fazer dinheiro, tudo estaria bem.

Essa era a parte que a assustava, e talvez por isso ela não se deixasse apaixonar por ele. Se as coisas desses errado e o perdesse tanto como cliente quanto como amante, ela poderia perder seu emprego. Tudo que Javier precisaria fazer era uma reclamação contra ela, talvez alegando que estava trocando sexo por negócios, ou algo parecido. Sua ética seria questionada, e ela estaria acabada. Sua reputação como corretora estaria comprometida, e os outros tornariam seu trabalho impossível.

Não existia privacidade na Bolsa, quando os homens superavam as mulheres de cem para duas. Todos eles sabiam que Dulce era solteira, e acreditava que a única razão pela qual ela trabalhava na Bolsa era para encontrar e se casar com um corretor rico. Ela não podia culpá-los por pensarem assim, já que muitas mulheres que trabalhavam lá realmente estavam procurando maridos ricos.

Mas não Dulce. Ela tinha seu próprio dinheiro, bons amigos, um ótimo emprego, e sua família. Dulce fora criada em Evanston, ao norte da cidade. Sua família era bem de vida, e tinha sido assim por gerações. Seus pais estavam aposentados e raramente paravam em casa. Nos últimos tempos eles estavam num cruzeiro ao redor do mundo no Rainha Elisabeth 2. Sua mãe lhe mandava cartões postais de cada parada exótica.

O último tinha sido de Curaçao. Sua mãe escrevera que aquele era o lugar para se visitar se você queria experimentar diferentes sabores de licor feitos com as laranjas amargas que faziam a fama da ilha, mas que fora isso, não era grande coisa. Apesar deles terem ido para o Caribe aproveitar o sol, o de Curaçao era quente demais. Os lojistas eram muito amigáveis, ela não confiava neles. E tudo isso significava que sua mãe estava se divertindo muito. Ela adorava reclamar. E a pessoa de quem ela mais reclamava, mais amava e menos compreendia era sua filha.

Dulce amava seus pais, mesmo que eles não compreendessem seu fascínio pelo mundo das finanças. Dulce era formada em economia pela Universidade de Chicago, e eles nunca haviam entendido sua escolha de carreira. Por que ela queria trabalhar num lugar chamado de “pregão”? Por que ela queria trabalhar num lugar onde corretores gordos e mal-cheirosos pisavam no seu pé, ou beliscavam seu traseiro para tentarem distraí-la ou gritavam obscenidades no seu ouvido? Por que ela não podia ser uma agente imobiliária como a filha de Paul e Irma, Mitzy? Ninguém pisava no pé de Mitzy.

E eles também não entendiam porque ela ainda não tinha casão. Dulce era filha única, e sua mãe estava desesperada para vê-la casada e grávida (Mitzy estava casada, com duas meninas lindas e mais um bebê a caminho). É claro que a idéia nunca falada era que ela desistiria do trabalho assim que encontrasse um marido para cuidar dela. Dulce não tinha nada contra casar e ter filhos, mas não neste exato momento, e certamente não tinha a menor intenção de desistir de sua carreira e se deixar sustentar – isto é, controlar - por um homem.

Dulce planejava fazer tudo – ter uma carreira, um marido e filhos. Mulheres não tinham mais limites. Mas também não queria se precipitar. Ela dava muito valor à clareza, e o que estava claro para ela agora era o trabalho. Dulce estava concentrada totalmente em seu trabalho, em ser a rápida, precisa, e solicitada corretora da Bolsa.

Alguns dos homens no pregão diziam que Dulce Duncan tinha água gelada nas veias. Eles o diziam como um insulto, mas ela aceitava como um elogio. Agora, tudo o que ela precisava fazer era sair da sombra de seu chefe e conseguir dinheiro suficiente para se tornar uma corretora independente.

O sr. Gandia era um chefe razoavelmente decente, mas enquanto estivesse presa às regras e políticas da firma, Dulce não sentia que seria capaz de explorar todo o seu potencial. Às vezes ela via oportunidade de realizar grandes, enormes negócios, mas não tinha a autoridade para aproveitá-los na hora certa. E isso era terrivelmente frustrante.

Ela terminou de fazer um café, e pegou o telefone.

- Oi – ela disse, quando Javier atendeu. – Meu dia foi bom, e o seu?

Eles conversaram sobre negócios. Ela esperava que ele a convidasse para sair naquele fim de semana, mas apesar dele ser muito charmoso e fazer todos os elogios certos, desligou o telefone sem marcar nenhum encontro.

Provavelmente era melhor assim, Dulce pensou, tentando ignorar seu desapontamento. Ele é um cliente. Ela foi ver se tinha algo de bom passando na TV. Dando uma olhada no guia, chegou à conclusão que não. Ela tirou a roupa, que arremessou na direção geral do cesto de roupa suja e vestiu sua camisola Cosabella, que tinha custado demais para uma simples camisola, mas ela adorava o toque da seda em sua pele.

Deitando na cama, Dulce fechou os olhos e começou a planejar mentalmente o dia seguinte, repassando as ordens que teria de preencher. Os números voavam como pássaros em sua cabeça, até ela cair no sono.

E ela ainda estava sonhando com números quando o despertador tocou. Dulce sonhara que os números eram pássaros brancos voando para longe dela, que não conseguia pegar nenhum deles, por mais que se esforçasse. O sonho a tinha perturbado, e ficou contente que o despertador o tivesse interrompido.

Depois de tomar banho e se arrumar, Dulce se admirou no espelho. Ela não era muito alta, tinha cabelos ruivos e um corpo esbelto mas curvilíneo. Seus olhos eram grandes, cor de café, e ela possuía o que seu pai chamava “O Olhar”: uma mirada intensa que gelava o sangue de um homem a vinte passos. Dulce usava O Olhar às vezes para conseguir o que queria, mas precisava ser cautelosa, e por isso sempre usava calça comprida no trabalho. Mini-saias, nunca! Ela não se importava que os homens ficassem distraídos por causa dela, mas não queria ser distraída por eles.

Dulce saiu do apartamento desceu de elevador até o lobby. Um carro vinha pegá-la todos os dias de manhã para ir ao trabalho. Dulce tinha seu próprio carro, mas não ia trabalhar com ele. O custo de estacionamento na Bolsa era altíssimo! Saia mais barato contratar um serviço de táxi. Só que o carro ainda não havia chegado.

Olhando no relógio, viu que estava no seu horário normal. Levemente irritada que o carro estivesse atrasado, Dulce ficou batendo o pé impacientemente ainda dentro do lobby, para evitar o vento frio que vinha do Lago Michigan. Subitamente, ela sentiu nos cabelos da nuca se arrepiarem, como se estivesse bem debaixo de ar condicionado soprando ar gelado em suas costas. Só que não havia ar condicionado nenhum. Alguém a estava espiando.

Dulce se virou e começou dizer: - Bom dia Alex...

Ela parou no meio da frase.O homem usando o uniforme de porteiro definitivamente não era Alex. Aquele homem era lindo; muito, muito lindo. Devastadoramente lindo. Ele devia ter uns 28 anos, com um corpo de quem malhava, mas não saia contando vantagem. Ele tinha cabelos castanhos claros, olhos azuis como cristal, e um rosto forte, viril e ao mesmo tempo suave. E aquele homem maravilhoso estava olhando feio para ela, como se Dulce tivesse feito algo errado.

- Oh, me desculpe, você não é o Alex – ela disse, constrangida. – Você deve ser o novo porteiro. Acho que ainda não acordei direito... eu sou Dulce Duncan, sou o apartamento 2215... – ela finalmente percebeu que estava tagarelando como uma colegial, e se forçou a parar de falar.

O porteiro novo não abriu a boca. Ele ficou ali parado, olhando para ela no mais absoluto silêncio. Será que ele tinha ficado irritado por ela tê-lo confundido com Alex? Se fosse isso, ora ele podia deixar para lá, pelo amor de Deus! Dulce sentiu sua nuca se arrepiar de novo, desta vez de embaraço. Subitamente, ela se sentiu aborrecida por ele não dizer sequer uma palavra para aliviar seu desconforto com a situação.

Que mal-educado!

Felizmente seu carro apareceu nesse momento na frente do prédio. Ela se voltou e deu O Olhar para o porteiro. Depois voltou a olhar para a porta e ficou ali parada, esperando. Ele parecia não ter entendido a mensagem, e continuou ali parado com um dois de paus.

Ela olhou para ele novamente. – Você é o porteiro – ela disse com frieza. – É pago para abrir portas, correto?

Ele caminhou de má vontade até a porta de vidro e a segurou aberta. Ela passou por ele sem nem uma olhada. Dulce esperava que ele congelasse até os ossos com o ar gélido que lançou na direção dele quando saiu.

A audácia de certas pessoas! Ela pelo menos tinha tentado se desculpar por chamá-lo pelo nome errado. Mas nem sabia seu nome correto! D*roga, ela havia esquecido de olhar o nome dele no crachá. E por que ele a estava olhando daquele jeito, como se estivesse com raiva dela, apesar dos dois nunca terem se visto antes? Disso pelo menos estava certa. Ela lembraria dele, se já o tivesse visto.

Mas ele era bonitão mesmo! Ela pensou, enquanto se acomodava no banco de couro preto do carro. Quase um metro e noventa, ela calculou, aquele cabelo claro que mal tocava o colarinho do uniforme na parte de trás. E frios olhos azuis. Frios e duros. Aqueles não eram os olhos de um homem gentil. Não, gentil ele não era mesmo. Mas havia algo por baixo do gelo, uma espécie de calor latente. Gelo e Fogo...

E ele ainda tinha que ser um dos homens mais bonitos que Dulce Duncan já vira em toda a sua vida.

 

O primeiro dia de Christopher no emprego não começou bem, e daí foi de mal a pior.

- Nós arranjamos um emprego de porteiro para você no prédio onde mora Dulce Duncan – Christian havia explicado na noite anterior. – Assim, você pode vê-la entrar e sair, quem vem visitá-la, quem a leva para sair, esse tipo de coisa. E ainda terá tempo livre à noite, caso precise seguir alguma pista. Ela passa o dia no trabalho, e está segura lá, apesar de que você provavelmente não acreditaria se visse o lugar. Pelo que ouvi dizer, nem os poços do Inferno são tão caóticos.

Christopher não tinha a menor idéia do que Christian estava falando e realmente não dava a mínima. Ele não planejava permanecer naquele lugar muito tempo. Ele sentia falta de seus deveres e de seus camaradas. Ele já estava em forma humana há vários dias, e apesar de estar começando a se acostumar com seu corpo (“é como andar a cavalo” Christian tinha dito, “você nunca esquece”), eles estava tendo dificuldade em se adaptar às fraquezas humanas. Isso incluía o fato de que seu corpo necessitava de alimento em intervalos regulares. Sentia dor e cansaço. Que existiam coisas como despertadores e relógios, que ditavam os horários das pessoas. Ele havia esquecido de ligar o despertador na noite anterior.

- Você está atrasado, de Molay – disse o sr. Fraym, quando jogara o uniforme nos braços de Christopher. – Eu espero pontualidade de todos os empregados do condomínio! É melhor se vestir logo. E não reclame se o colarinho dá coceira e as calças não servem! Eu não me importo.

Fraym o levou num breve tour pelo prédio, explicou o serviço e depois o acompanhou até o lobby.

- Esta mesa é o seu posto. Você não deve deixá-lo exceto para ir ao banheiro. Não tem intervalo para o cigarro, nem para almoço. Você pode comer seu almoço aqui na mesa, mas seja discreto, para que os moradores não o vejam comendo. Você deve manter o lobby limpo. Regue as plantas e recolha as folhas caídas. Abra a porta rapidamente para os moradores e mantenha fora vendedores e mendigos. Chame táxis para as pessoas, e seja agradável. Visitantes precisam ser anunciados, e todo pessoal de serviço deve ser registrado. Eles não têm permissão para entrar pela entrada social, mas existem exceções. Eu estou te pagando para ser os olhos e ouvidos do condomínio. Você me entendeu?

- Hum, sim, senhor – Christopher respondeu, não porque tivesse entendido, mas para se livrar daquele homem irritante o mais rápido possível.

- Bom. Agora ponha esse uniforme e para o trabalho.

Quando foi se vestir, Christopher percebeu de repente que não passava de um mero espião. Espiões eram um mal necessário, ele supunha. Monarcas os empregavam para descobrir o que seus inimigos estavam tramando, e vice-versa. Generais usavam espiões para descobrir os planos dos adversários e ganhar uma vantagem militar. Mas nenhum homem honrado aceitaria um trabalho tão vil e baixo.

Christopher vinha sendo um comandante militar por muitos séculos, e começou a ficar irritado, ao pensar no que haviam feito com ele, em como o tinham enganado para aceitar aquele posto. Ele pensara que estava sendo enviado numa missão importante. Ao invés disso, ele – um homem de estirpe nobre – era obrigado a representar o papel de serviçal, e como se não bastasse, sua tarefa era espionar uma mulher! Ele estava furioso, e esperava que nenhum de seus comandados descobrisse. Ele podia imaginá-los, rolando no chão de tanto rir, zombando pelo resto da eternidade de seu uniforme ridículo e se curvando e dizendo “Sim, madame” e “Sim, senhor, obrigado senhor” em imitação dele.

Christopher terminou de vestir o uniforme e foi assumir seu posto, exatamente quando uma mulher saia do elevador. Ela era ruiva, esbelta e adorável, e parecia irritada. Christopher bufou. Ele preferia lutar com cães por restos de comida do que bajular uma mulher tola incapaz de abrir uma porta. Ela disse alguma coisa para ele, mas Christopher não conseguiu ouvir de imediato. Ele estava ocupado demais pensando em como ia dizer a Christian onde ele podia enfiar aquela missão.

Christopher ouviu então o nome Dulce Duncan. Isso soou familiar, e ele subitamente se deu conta que ela era a mulher, aquela que fora enviado para espionar. A revelação não o alegrou nem um pouco, exceto que agora tinha alguém para culpar: ela. Era tudo culpa dela. Ela havia passado para o lado do inimigo. Com certeza os demônios a tinham escolhido porque era fraca. Bem, por ele ela poderia literalmente “ir para o inferno”.

Ele deu uma boa olhada nela enquanto estava lá parara na entrada, e notou algo diferente. Diferente de todos os outros seres  humanos que ele vira em seu curto período na Terra. Ele se perguntou o que havia nela que a diferenciava dos outros. Era uma das mulheres mais bonitas que já tinha visto, por certo, mas não era isso. Ele a comparou mentalmente com todos os outros humanos que encontrara naquele mesmo dia, com o irritante sr. Fraym, por exemplo. E então Christopher percebeu.

Dulce Duncan estava sozinha.

Não sozinha no sentido de que era a única pessoa no lobby. Ela estava horrível, terrivelmente sozinha. Nenhum anjo atencioso pairava sobre ela. Nenhum anjo estava lá para guiá-la. Até o sr. Fraym tinha um anjo da guarda, que o cutucava na consciência quando se sentia tentado a fazer algo errado; um anjo que velava por ele, e o lembrava de olhar para os dois lados antes de atravessar a rua, ou o estimulava a parar de fumar.

Dulce Duncan não tinha mais um anjo da guarda, e Christopher se lembrou de quando Christian que seu anjo havia desaparecido, que talvez até tivesse sido destruído pelos arquidemônios. Ela estava sozinha e vulnerável e, o pior, sequer sabia disso. Ela não entendia o perigo que corria.

Christopher tinha acabado de chegar àquela estarrecedora conclusão quando Dulce disse algo em relação à porta.

Confuso por seus pensamentos e surpreendido pelo olhar direto dela, Christopher lembrou de suas obrigações. Ele abriu a porta e a segurou par ela enquanto passava altiva por ele. Ela parecia zangada, com certeza. E não podia culpá-la, pois havia se comportado de maneira muito rude. Ele ia se desculpar, mas ela se foi antes que pudesse dizer outra palavra.

Quando ela passou por ele, Christopher sentiu a fragrância de seu perfume, rica e doce, que lhe trouxe a memória de jardins de palácios e de terras exóticas. O que era? Gardênia. Christopher não sentia, nem pensava, no perfume de gardênias há séculos. O perfume continuou em seu nariz, assim com a imagem dela, sozinha e em perigo, continuava em sua mente.

- Hã-hã – um homem pigarreou.

Christopher olhou e viu um homem parado no lobby olhando para ele e carregando duas malas grandes. Avançando até ele, soltou as malas no chão em frente de Christopher.

- Não fique ai parado feito um i*diota. Carregue as malas até o meu carro – ele exclamou, irritado.

Christopher fez o que lhe foi ordenado. Ele não gostava daquilo, mas não estava mais pensando em ser mandado de volta para o Purgatório. Ele não conseguia esquecer do perfume de gardênia.

Dulce Duncan não precisava de alguém que a espionasse. Ela era uma mulher, sozinha e vulnerável, fraca e frágil.

- Ela precisa de proteção – Christopher contou a Christian por telefone depois que largou o serviço.

- Esse não é seu trabalho, Christopher – Christian disse, suspirando. – Talvez ela precise de proteção. Seu trabalho é descobrir contra quem. E você não vai ganhar sua confiança sendo rude com ela!

- Eu não tive a intenção – murmurou Christopher. – Fui pego desprevenido.

- Você tem que se desculpar – Christian disse severamente.

Christopher ficou em silêncio por um momento. – Tem razão, eu devo.

- Você concorda? – Christian ficou espantado. Ele esperava uma discussão.

- Eu não me comportei como um cavalheiro para com uma dama. Eu vou pedir seu perdão.

- Não de joelhos, pelo amor de Deus! – Christian disse preocupado.

- Eu sei – Christopher respondeu sorrindo. – Eu não estou mais no século XIV.

            E ainda assim, enquanto desligava o aparelho milagroso chamado telefone, Christopher não pode evitar de pensar que Dulce Duncan precisava de um verdadeiro cavaleiro.


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Autor(a): mal2000

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 5



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  • nath13 Postado em 09/08/2008 - 22:33:48

    UAUU!!
    que web em!!
    to amando!!

  • nathyneves Postado em 28/08/2007 - 10:43:03

    pooossttaaaaaaaaaaaaaa

  • nathyneves Postado em 27/08/2007 - 20:07:32

    Postaaaaaa

  • nathyneves Postado em 24/08/2007 - 15:03:59

    postaa mais !

  • nathyneves Postado em 21/08/2007 - 23:23:32

    1ª leitooraa
    ebaaaa
    amando ta parecendo muito interessante !
    Postaa mais

    Beijooos


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