Fanfics Brasil - Capítulo Três ANJO GUERREIRO

Fanfic: ANJO GUERREIRO


Capítulo: Capítulo Três

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Capítulo Três

 

No sábado de manhã Dulce acordou com as vozes vindas de se rádio-relógio. Ela havia programado para despertar às sete, e ela sempre levantava no horário. Nada de “mais cinco minutinhos”. Sempre que ela se convencia a “dar só mais uma dormidinha”, acabava correndo feito louca pelo apartamento, com a escova de cabelo numa das mãos e os sapatos na outra, tentando engolir o café e se maquiar ao mesmo tempo. Tudo na vã esperança de chegar ao trabalho antes da abertura do mercado. Ela odiava quando aquilo acontecia; se sentia desorganizada pelo resto do dia. Sem contar a ocasião em que chegou no escritório usando sapatos de pares diferentes, ou quando passou batom no lugar da sombra. Naquele dia, ela fez um juramento: chega de “mais cinco minutinhos”.

Mas como era sábado, ela não precisava se levantar tão cedo. Ela continuou na cama, confortável debaixo do edredom e dos lençóis de algodão egípcio. Estava tão quentinho, e o travesseiro era tão macio que ela continuou bem onde estava.

Ela sentiu o cheiro de café. A cafeteira automática estava funcionando. O cheiro era tentador, mas o café não ia a parte alguma mesmo. Ela continuou na cama e, curiosamente, começou a pensar no porteiro de olhos azuis como gelo.

Ele estava de serviço no dia anterior, quando ela voltara do trabalho. Abriu a porta para ela com rapidez, saltando de trás da mesa da recepção assim que a viu descer do carro. Seu olhar estava sério e muito intenso. Ela teve a estranha impressão que ele já a conhecia, ou conhecia alguma coisa sobre ela. Ele parecia sério e irritado, mas desta vez não era com ela. Ele parecia querer dizer algo para ela, porque limpou a garganta e tossiu uma vez.

Mas Dulce passou por ele de nariz empinado, para colocá-lo em seu devido lugar, deixando claro que ainda estava muito zangada pela maneira grosseira como a havia tratado pela manhã. No fim, ele não disse nada. E Dulce acabou pensando que deveria ter dado um desconto ao sujeito, afinal era seu primeiro dia no trabalho e tal. Ela se pegou imaginando como seria a voz do porteiro.

Javier, sim, tinha uma voz maravilhosa; era suave como veludo preto. Seus pensamentos pularam do porteiro para o cliente, que talvez fosse mais do que um cliente. Ela ficou lá deitada, pensando em como tudo começara.

 

- Quero que assuma um novo cliente, Dulce – o sr. Gandia havia lhe dito. – O senhor Javier Alanis. Ele é um investidor de capitais com dinheiro saindo pelo ladrão, e quero que o trate como se fosse feito de ouro com folheado duplo de platina. Nada é bom ou caro demais para esse sujeito, você entendeu?

- Sim, sr. Gandia, farei o melhor possível para agradar o sr. Alanis.

- Espero que esteja falando sério. Acho que precisa saber que ele pediu por você especificamente.

- Ele pediu? – Dulce se surpreendeu.

- Parece que ele vem seguindo sua carreira, conversando com alguns de seus clientes, esse tipo de coisa. E ele ficou bastante impressionado com você. Quero que vocês se conheçam, Dulce – Gandia piscou para ela. – Você sabe. Seja charmosa.

            Dulce olhou para ele, a expressão em branco. Ele estava dizendo realmente o que ela achava que estava dizendo?

            - Eu dei a Alanis o número do seu telefone direto para que ele marque para se encontrarem. A firma está contando com você, Dulce.

            Ela não tinha a menor intenção de ser charmosa para o sr. Alanis. Ela estava zangada, na realidade. Ela o imaginava um gordo careca, que pensava que sabia tudo do mercado de ações quando na verdade não sabia nada.

            Ela não poderia ter estado mais errada sobre... tudo!

            Javier facilitou muito para que ela fosse charmosa, e ela acabou tentando não ser charmosa demais. Ele deixou muito claro que achava que os dois deveriam estar dormindo juntos, mas Dulce não se sentia preparada para dar esse passo. Não que ela não quisesse, e precisava repetir muitas vezes seu mantra cada vez que se sentia tentada a sucumbir ao desejo:

            Ele é um cliente! Ele é um cliente! Ele é um cliente!

            Ela poderia perder sua reputação, sua carreira. E não estava disposta a perder tudo o que conquistara tão arduamente por dormir com um cliente.

            Assim, na viagem para a França, no jantar em Roma: quartos separados. Beijos de boa noite na porta. Ela não era uma puritana, e certamente não estava se guardando para o casamento. Ela já havia passado dessa fase muito tempo atrás. Só estava sendo cautelosa.

            Mas não era apenas isso. Tinha alguma coisa faltando.

 

            “A primavera finalmente chegou em Chicagolândia!” disse o locutor do rádio, numa voz irritantemente alegre. “Temperaturas altas, com forte probabilidade de chuva à tarde”.

            - O que eu estou fazendo aqui deitada, sonhando com homens? – Dulce perguntou a si mesma. – Eu deveria estar pensando em dinheiro!

            Ela arrumou a cama ainda deitada, um truque que tinha aprendido numa revista, que consistia em puxar o lençol e o cobertor até cobrir o travesseiro e então deslizar para fora da cama. Ela não era boa dona de casa, e nem se importaria em arrumar a cama, se não fosse pelo fato de detestar deitar em lençóis frios à noite. Já era ruim bastante que tivesse de se deitar sozinha.

            Ela estava fazendo nada naquela bela manhã de sábado, quando o telefone tocou, o que a surpreendeu. Ninguém que ela conhecia levantava tão cedo no sábado, nem mesmo sua mãe.

            Pensar em sua mãe a deixou preocupada. Talvez algo tivesse acontecido durante o cruzeiro. Pessoas desapareciam em cruzeiros de navio o tempo todo! Talvez seu pai tivesse sofrido um ataque do coração! Consultando o identificador de chamada, deu um suspiro que era metade de alívio e metade de hesitação. Era Javier. Mesmo depois de três meses saindo juntos ele ainda a deixava nervosa, como se a qualquer momento ele fosse lhe dizer que o maravilhoso tempo que haviam passado juntos tinha sido um grande erro. Nada pessoal. Oh, e a propósito, ele ia tirar seus milhões da firma e processá-la. Mas talvez pudesse mudar de idéia, se ela dormisse com ele. Ela atendeu o telefone.

            - Alô?

            - Dulce? – disse aquela voz, profunda e ressoante. – É Javier. Desculpe te incomodar tão cedo, mas tenho uma coisa importante para conversar com você.

            - Ok – disse Dulce, com o coração apertado. Boas conversas nunca começavam daquele jeito. Rompimentos começavam daquele jeito.

            - Nós já estamos juntos há alguns meses, e tudo tem sido maravilhoso, tanto profissional quanto pessoalmente. Eu queria te convidar para um jantar especial esta noite. Desculpe por não ter ligado antes, mas pensei que teria de viajar para o Egito neste final de semana, mas a reunião foi adiada. Eu sei que você já deve ter feito outros planos...

            Muito gentil da parte dele mentir daquele jeito. Ele sabia perfeitamente que ela não estava saindo com mais ninguém.

            - ...mas resolvi tentar assim mesmo. Você está livre hoje à noite?

            Dulce ficou surpresa. Javier não parecia do tipo sentimental. Subitamente, ela percebeu do que se tratava. Eles estavam passando um bocado de tempo juntos, mas ainda não haviam tido A Conversa.

            - Hum, deixe eu dar uma olhada na minha agenda – Dulce respondeu.

            Ela fechou os olhos e caiu na poltrona ao lado da mesa do telefone. A Conversa, em que vocês decidem sobre exclusividade, discutem a relação num clima de tensão e desconforto.

            Dulce odiava A Conversa. Ela havia esperado que com Javier aquilo nunca seria necessário. E por que seria? O relacionamento deles era profissional. Ou era até aquele momento. Ela realmente gostava dele, mas não queria estragar as coisas revelando demais cedo demais. Ela realmente odiava aquilo! Mas ele era seu cliente, e mais, era especial para ela. Não podia dar para trás justo agora. Além disso, ela estava se sentindo um pouco excitada. Talvez A Conversa são fosse algo tão ruim assim.

            - Eu posso cancelar meu outro... compromisso – ela estava um pouco nervosa. – Adoraria jantar com você.

            - Excelente. Vou fazer as reservas no Charlie Trotters. Já conhece esse restaurante?

            - Hum, claro – Dulce disse. Ela não podia acreditar. Ela estava esperando para comer no Charlie Trotters há tempos! Era apenas o restaurante mais chique de toda a cidade. E Charlie, o dono, era uma lenda da culinária. – Mas você não vai conseguir uma mesa. As reservas têm de ser feitas com meses de antecedência.

            - Deixe isso comigo, minha querida – ele disse com uma risadinha. – Eu te pego às oito.

            Tentando soar casual, ela continuou: - Charlie não está mais na fase de comida crua, está?

            Ela esperava não ter soado casual demais.

            Javier só deu uma risada. – Não, não, felizmente não. Também não faz meu estilo. Mas o homem não ganhou sua reputação sendo comum, não é mesmo? Te pego às oito.

            - Tudo bem, às oito está ótimo.

            - Talvez depois do jantar eu posso subir no seu apartamento para um último drinque – ele disse.

            - Ah, claro, por que não? Te vejo às oito – Dulce desligou e desabou na poltrona, pensando no que ia acontecer naquela noite.

            Ela ficou tão ansiosa com o restaurante que acabou esquecendo da Conversa. Ela se preocupara que fosse ser a Conversa “Vamos Ser Apenas Amigos”, mas pelo visto ia ser a Conversa “Vamos Conhecer Sua Roupa de Cama”. O que ela ia fazer a respeito?

            Clara, a voz de Javier era fantástica, ele fazia as unhas, suas camisas importadas eram impecavelmente passadas, seu perfume era feito especialmente para ele na França. Mas isso não era apenas ego disfarçado de homem? Eles estavam saindo há três meses, e Javier nem tinha se preocupado em perguntar se ela queria realmente ir ao Charlie Trotters, ou se preferia outro lugar. Pensando bem, ele nunca perguntava onde ela queria ir. Eles sempre nos lugares que ele escolhia.

            Dois meses antes, ele tinha ligado para ela numa sexta-feira para avisar que iam fazer sua viagem de degustação de champagne na França naquele final de semana. Depois, o fim de semana na ópera de Roma, e para um jantar de quatorze pratos com alguns de seus sócios de investimentos. Naquele pelo menos ele a havia avisado com dois dias de antecedência. E agora ia levá-la num dos melhores, mais exclusivos e caros restaurantes no país inteiro. E nunca perguntou se ela queria ir.

            Trotters tinha um cardápio fixo e se você não gostava do que estava sendo servido naquela noite, você não comia. É claro que ela teria preferido o Trotters a qualquer outro restaurante, mas Javier não sabia disso. Ou será que sabia? Será que ele a conhecia tão bem assim?

            Ela nunca recusaria ir em nenhum dos lugares onde ele a levou, e não se recusou mesmo. Mas, como hoje, ele nunca perguntava se ela queria ir em algum lugar. Ele ligava, aparecia e eles saiam. A única coisa que ela tinha sido capaz de controlar naquele relacionamento era o sexo.

            Meu Deus, garota, você esta sendo ridícula” ela repreendeu a si mesma.

            Aqueles finas de semana tinham sido como sonhos transformados em realidade para ela. Por que ele devia perguntar, se ela obviamente aceitaria ir? Uma garoto teria de ser doida para recusar um fim de semana romântico na Europa com o homem dos seus sonhos! Ele era um porco chauvinista só por saber disso? E se ele queria fazer sexo com ela, só estava sendo um homem perfeitamente normal e saudável.

            Javier era um sonho, e Dulce queria estapear a si mesma por tentar, mais uma vez, sabotar mentalmente este relacionamento. Javier era fantástico, e ela teve o pressentimento de que não teria que se preocupar com A Conversa afinal de contas.

            “E daí de hoje à noite eu disse sim?” ela pensou, sentindo mariposas esvoaçando em seu estômago, e eletricidade correndo em seu corpo, dos pés à cabeça.

            Qualquer homem pensaria que eles dois já tinham passado da hora de uma relação amorosa, mas até aquele momento ela tinha limitado as relações entre eles a alguns beijos bem quentes no banco da limusine.

            “Então ele é um cliente. E daí? ela pensou. “Se gostamos um do outro...”

            Mas ela gostava realmente dele? Essa era questão.

            Dulce olhou ao seu redor. A decoração do apartamento consistia de latas de refrigerante diet encima da mesa, pilhas de jornais de negócios no chão e roupa de baixo pendurada no encosto das cadeiras. Então ela se olhou no espelho. Ele nem se preocupava em tomar banho no sábado, ou se maquiar. Estava usando uma calça de moletom que comprara numa rede de supermercados, e uma camiseta que não combinava.

            Dulce pensou com certa amargura que Sara Jéssica Parker, de “Sex and the City”, nunca se deixaria ver usando calças de moletom, nem numa manhã de sábado.  E se Sara Jéssica fosse ir ao Charlie Trotters com o sr. Big, ela estaria simplesmente fabulosa!

            Dulce foi até seu guarda-roupa, puxou seu melhor vestido de noite, e deu um gemido. Lá estava a mancha de vinho bem encima do seio direito. Ela havia planejado mandá-lo para a lavanderia depois de tê-lo usado em Roma, mas esquecera. De qualquer modo, ele já a tinha visto usar aquele vestido duas vezes.

            Dulce entrou em pânico. “O que eu vou fazer?”

            Ela nunca ia ao salão de beleza durante a semana porque uma manicure e um penteado não duravam mais do que dois dias no pregão. Ela precisava de algo novo para vestir. Precisava arrumar o cabelo e fazer as unhas.

            Dulce respirou fundo e foi tomar banho. Enquanto espalhava espuma pelo Box, ela planejou seu dia. Ela morava perto das melhores lojas da cidade. Ela não tinha prestado muita atenção mas achava que o homem do rádio havia dito que o tempo ia ser bom. Ela ia aproveitar.

            Compra aonde? Quando na dúvida, uma garota devia usar Chanel. Ela ia começar por ai. Ela já estava descendo no elevador quando se lembrou do porteiro.

            Dulce suspirou. Ela não queria outro encontro desagradável com ele.

            “E daí se ele estiver no lobby?” ela pensou. “Se ele me olhar daquele jeito de novo, vou simplesmente passar por ele como se fosse invisível. Um porteiro grosseiro não vai estragar meu dia”.

            Mas seria agradável descobrir se os olhos dele eram realmente tão azuis quanto ela havia imaginado.

            O elevador parou. Dulce saiu hesitantemente, olhando ao redor, procurando o porteiro com olhos azuis.

            Ele não estava lá. O porteiro da noite ainda estava de serviço.

            Dizendo a si mesma que estava aliviada, Dulce saiu do prédio. Ela já estava a meio caminho do centro comercial quando lembrou que ainda era 8:30.

            As lojas só abriam às 10 horas.

 

            Dulce olhou seu reflexo na vitrine de uma loja. Suas unhas estavam feitas: manicura francesa. Ele cortara o cabelo que agora caia em seus ombros no estilo mais moderno, que por acaso ficava muito bem nela. Em seus braços carregava um monte de sacolas, onde estavam três pares novos de sapatos, um vestido novo, elegante mas muito sexi – preto, é claro. Ela até havia feito se maquiado com um profissional no salão.

            Ela precisava de mais dias como aquele. Mesmo saindo com Javeir Alanis ela havia descuidado da aparência. Estava tão preocupada em ganhar dinheiro que quase se esquecera de como gastá-lo. Ela prometeu a si mesma dar-se um dia daqueles pelo menos duas vezes por ano. Ela havia esquecido como era bom ser mulher!

            Sacolas nas mãos, ela começou a caminhar de volta para casa, e foi então que ouviu o trovão, e um pingo de chuva caiu bem no seu nariz. Desanimada, Dulce olhou para cima. O céu estava se cobrindo com o cinza escuro de nuvens de chuva. No rádio não tinham dito que não ia chover hoje? Ela não prestara atenção. O vento começou a soprar mais forte, e no momento que Dulce lembrou que seu guarda-chuva estava no armário na entrada de seu apartamento, o céu desabou numa chuva torrencial.

            Ela olhou ao redor desesperada, procurando um táxi, mas naturalmente todo mundo no centro de Chicago teve a mesma idéia ao mesmo tempo. Todos os táxis nas ruas naquela manhã de sábado já haviam sido ocupados.

            Ela pulou debaixo de uma marquise para se protege da chuva, mas era tarde demais. Dulce já estava encharcada, seu cabelo e maquiagem arruinadas. Mas tudo bem, aquilo podia ser consertado. Ela estava determinada a não deixar nada arruinar seu dia. Dulce fechou o casaco, e começou a correr na direção de seu prédio debaixo da chuva. Na verdade, depois dela se conformar em ficar molhada, caminhar na chuva era até divertido. Ela pulou alegremente em poças d’água, sacudiu o cabelo molhado do rosto, e sorriu para pessoas debaixo de guarda-chuvas que pensavam que ela era louca.

            - Eu sou uma louca com três pares de sapatos novos! – ela contou para um completo estranho. – E daí? Eles me deixam feliz, e – ela acrescentou para ela mesma com um suspiro – faz tempo que eu não me sinto feliz.

            Javier não a fazia feliz? É claro que fazia! Que garota não se sentiria feliz viajando para um fim de semana incrível na França? E daí que ele nunca perguntava onde ela queria ir, o que ela queria fazer? E daí que eles só conversavam sobre negócios? E daí, e daí, e daí? Hoje era o seu dia. Um dia feliz. E a noite seria uma noite feliz.

            Dulce caminhou até a portaria de seu prédio, as chaves numa mão e todas as sacolas na outra. Ela havia se esquecido totalmente do porteiro, até ele abrir a porta para ela.

            Sim, seus olhos eram tão azuis quanto ela se lembrava. Mais, até.

            - Oh – ela engasgou, surpresa, e então acrescentou envergonhada: - Obrigada, ah, Christopher – ela disse, vendo seu nome no crachá.

            Ele pegou as sacolas de suas mãos e as carregou para dentro. – Eu posso carregar seus pertences até seu apartamento, se quiser – Christopher ofereceu-se, e sua voz era profunda, mas com um tom áspero, como se ele também estivesse envergonhado.

            Pertences. Quem dizia “pertences” nos dias de hoje? Mas ele ainda dando aquela olhada intensa para ela, mas desta vez não parecia zangado. Ele parecia preocupado, e muito.

            Mas por que? Porque ela havia se molhado com a chuva? O que esse sujeito tinha?

            - Não, não. Eu posso cuidar dos meus... pertences – Dulce respondeu rapidamente.

            Rápido demais, na verdade, como se ela não confiasse nele para subirem juntos no elevador. E não confiava mesmo. Ele a deixava desconfortável, com aquele jeito de olhar para ela. Mas ela não queria que ele soubesse disso. Agora era ela quem estava sendo rude.

            Ela enrubesceu e então, como ele continuava a olhar atentamente para ela com aqueles olhos azuis incrivelmente límpidos, Dulce reuniu toda a sua dignidade, que não era muita, encharcada como estava, e passou rapidamente por ele.

            Seus sapatos escolheram uma péssima hora para soltar um constrangedor ruído molhado.

            Dulce sentiu-se subitamente cônscia que seu cabelo estava um desastre, sua maquiagem estava toda escorrida, e seus sapatos continuavam a fazer desagradáveis sons molhados a cada passo que ela dava, e deixando pegadas úmidas no chão de mármore. É difícil ostentar dignidade quando seus sapatos espirram água.

            - Me desculpe por sujar o piso – ela disse, envergonhada.

            - Não se preocupe com isso, por favor – Christopher disse, seguindo atrás dela carregando as sacolas.

            Ela estava quase chegando no elevador, quando ele tomou a dianteira e parou na frente dela.

            - Podemos falar um instante, milady? – Christopher disse. Ele falou com bastante formalidade, quase ríspido.

            Dulce piscou. – Como você me chamou?

            - Podemos falar? – eles repetiu, enrubescendo.

            Ela quase disse que não, que ela não tinha nada para falar com porteiros, mas então ele disse: - Eu gostaria de me desculpar pela maneira grosseira com que me comportei ontem.

            Dulce suspirou. Por que ele tinha de ser tão lindo? E aqueles olhos! Para usar um velho clichê, ele tinha os olhos de um anjo. – Bom... tudo bem. Ah, que diabos, ela queria saber por que ele havia agido tão estranhamente quando o confundira com o outro porteiro na manhã anterior.

            Ele lhe trouxe uma cadeira. – Por favor, sente-se. Você parece cansada. Senhorita Duncan, correto? – ele pronunciou seu nome constrangido. Ele fazia tudo desajeitadamente, como se não estivesse acostumado com a presença de uma mulher. Não tímido exatamente, mas constrangido.

            Mas com aquela aparência, ele deveria viver cercado de mulheres. Talvez fosse esse o problema. Mulheres demais a persegui-lo. Talvez um mau relacionamento...

            “Pare com isso!” ela pensou. “Ele é o meu porteiro!”

            Dulce ficou contente com a cadeira. Seus pés estavam mesmo doendo e, sentada, talvez ela conseguisse tirar discretamente a água dos sapatos.

            - Obrigada, Christopher – ela desistiu do tom altivo, passando para o alegre e petulante. – Fazer compras é realmente cansativo para uma garota. Eu tenho um encontro esta noite. Ele vai me levar ao Charlie Trotters.

            Dulce percebeu que estava tagarelando, mas não pode evitar. E por que havia falado sobre o encontro? Será que ela ainda estava no colegial? Ela podia ser mais óbvia? Ela realmente estava tentando deixar aquele sujeito com ciúmes?!

            “Cale-se, Dulce!” ela pensou, o rosto ruborizando intensamente. “Apenas cale-se!”

            Christopher pigarreou. Ele ainda parecia envergonhado, e ela deu um pequeno suspiro. Talvez ele não tivesse percebido que ela havia agido como a personagem principal de “Legalmente Loira”.

            Ele ficou parado diante dela, alto e empertigado, como um se fosse um fuzileiro em posição de sentido. Quando falou, parecia que tinha decorado um discurso.

            - Meu nome é Christopher de Molay, e a senhorita pode já ter percebido que não sou daqui – ele pigarreou de novo. – Sou novo em cidades grandes e ainda não aprendi a me comportar em certas situações. Além disso, nunca fui um porteiro antes, e ainda não sei ao certo o que deveria estar fazendo ou não.

            - Christopher – Dulce começou – isso realmente não é necessário...

            A voz dele e sua postura ficaram rígidas novamente. – E a mim parece que essa cidade é um lugar perigoso para uma mulher sozinha. Estou surpreso que uma mulher bonita como a senhorita tenha escolhido viver aqui... sozinha...

            Ele deu uma pausa e acrescentou arrependido: - E provavelmente estou piorando ainda mais as coisas. Agora a senhorita deve pensar que eu sou um suíno chauvinista.

            Ele com certeza tinha um jeito diferente de se expressar. Realmente, Dulce normalmente acharia que ele era um porco chauvinista e responderia com uma grosseria, mas ela estava cansada e ainda tinha que se aprontar para seu jantar. E ele tinha dito que ela era bonita. Mesmo com ela parecendo um gato afogado, ele disse que era bonita. Não importa que ela não ligasse realmente a mínima para a opinião de Christopher sobre ela, ainda era um belo elogio.

            Ela olhou dentro daqueles olhos azuis e soube instantaneamente que ele não era porco chauvinista rude e grosseiro. Ela não sabia precisar o quê ele era, mas não era aquilo. Ou melhor, ele era o que tinha dito: um homem acostumado com espaços abertos, talvez um pouco ingênuo. Talvez ele fosse de um lugar como Montana, onde homens usavam botas de cowboy, seguravam as portas abertas e cumprimentavam as mulheres tirando o chapéu, ou assim ela ouvira.

            Dulce se levantou. Desculpas aceitas, Christopher. Mas eu te garanto que sou capaz de me cuidar. Eu fiz dois cursos de defesa pessoas para mulheres e me dei muito bem. Sem mencionar que todos os dias eu brigo com os outros corretores do pregão. E vivo já há seis anos neste bairro sem nunca ter tido problemas. Eu me sinto bastante segura.

            Dulce pensou que esse seria o fim, quando percebeu que ele a estava seguindo até o elevador, ainda carregando suas sacolas. Ela não poderia dizer a ele para não subir agora, não depois daquele pedido de desculpas.

            Eles entraram no elevador. Ele apertou o botão para ela, e os dois ficaram parados esperando, num silêncio constrangido. Ela olhou para ele. Ele olhou para ela. Dulce começou a ficar irritada. Por que ela se sentia constrangida perto do porteiro? Por que ela sentia qualquer coisa?

            - Bom, é melhor eu subir logo, antes que pegue uma pneumonia – Dulce olhou para as sacolas. – Você poderia levar essas para mim...?

            - Eu ficaria muito satisfeito – e Christopher a seguiu dentro do elevador.

            Curioso, mas ela quase conseguiu ouvir o “milady” não pronunciado ao final da frase.

            Dois andares de desconfortável silêncio, e então Christopher disse subitamente: - Então, quem é esse homem com quem vai jantar hoje à noite?

            Dulce ficou um pouco incomodada com a pergunta, mas talvez essa fosse a idéia dele de bate-papo. – Ele é... hã... alguém com quem estou saindo...

            - Qual o nome dele? Você o conhece bem? – pressionou Christopher.

            Agora Dulce estava realmente irritada. – Isso não é da sua conta.

            Ele franziu a testa, e seu olhos azuis tinham            um brilho intenso. – Você não entende. Você está... sozinha!

            - Sim, eu estou sozinha – Dulce respondeu, sua irritação se transformando em raiva. A audácia do sujeito! – E pretendo continuar assim.

            Christopher não abriu mais a boca. Ele desviou o olhar dela, olhando irritado para os números dos andares mudando na tela do elevador. Finalmente eles alcançaram o andar dela. As portas demoraram demais para abrir, na opinião de Dulce.

            - Eu levo as sacolas – ela disse friamente. – Obrigada.

            Christopher entregou as sacolas em silêncio. Ele apertou o botão e a porta se fechou diante dele.

            - Lembrete mental – disse Dulce para si mesma, enquanto abria a porta de seu apartamento. – Evitar porteiros enxeridos e esquisitos. Por mais bonitos que sejam!


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Autor(a): mal2000

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 5



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  • nath13 Postado em 09/08/2008 - 22:33:48

    UAUU!!
    que web em!!
    to amando!!

  • nathyneves Postado em 28/08/2007 - 10:43:03

    pooossttaaaaaaaaaaaaaa

  • nathyneves Postado em 27/08/2007 - 20:07:32

    Postaaaaaa

  • nathyneves Postado em 24/08/2007 - 15:03:59

    postaa mais !

  • nathyneves Postado em 21/08/2007 - 23:23:32

    1ª leitooraa
    ebaaaa
    amando ta parecendo muito interessante !
    Postaa mais

    Beijooos


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