Fanfic: Umbrella | Tema: Darkman 1, 2 e 3
Capítulo 06 –
Peyton estava um lixo, "literalmente", pensava ele. As mãos, o rosto... A pele só duraria mais quarenta e cinco minutos, mas ele estava esperando Jenny sair da sala de cirurgia há mais de dez horas. E segundo os médicos, seu estado era grave.
Peyton colocou as mãos deformadas no rosto e chorou copiosamente, enquanto todos no hospital passavam e olhavam para ele com medo e pena. Crianças apontavam, os pais as puxavam para longe, assustados... As enfermeiras cochichavam... Ele estava a par de tudo isso, mas nada o afetava. Ele se sentia tão anestesiado quanto estivera antes de conhecer Jenny. Seu coração só clamava e doía por ela.
Deus, as coisas que ele disse...
Pela primeira vez, ele rezou. Rezou para qualquer coisa, qualquer entidade, para que sua namorada, sua parceira, não morresse. A culpa era dele. Ele a amava e precisava de seu perdão.
- Senhor Peyton Westlake?
A voz era fria e profissional. Ele olhou para cima com os olhos marejados e se deparou com um homem alto e moreno, vestido de azul-celeste, com o crachá ostentando "Dr. Wesley".
Peyton se levantou imediatamente.
- E então, doutor? – ele disse, e o médico pôde notar o desespero em sua voz.
- Tudo correu bem, Sr. Westlake. O quadro de Jenny é estável. Mas infelizmente, há más notícias.
- Más notícias?
- Sim, Sr. Westlake. Ela está inconsciente e não posso prever se, ou quando, ela voltará. Mas Jenny está saudável, nenhum órgão foi lesado... Se a mantivermos viva e cuidarmos bem dela, quando ela vier a acordar, poderá voltar a ter uma vida normal.
- Posso vê-la?
- Sim, é claro. Mas observe sempre os horários do quadro de visitas. Não se esqueça de conversar bastante com ela, mantém a mente ativa.
O médico não parecia nem um pouco impressionado ou incomodado com a aparência de Peyton. Isso o fazia pensar... "Será que eu já poderia estar levando uma vida relativamente normal há tanto tempo assim e nem percebi?" Mas havia o outro lado, também... O homem era um médico. Estava acostumado a casos bizarros.
Dr. Wesley o levou até o quarto de Jenny, que estava deitada numa cama de ferro. O quarto estava bem iluminado e a televisão estava ligada no filme favorito de Peyton "De Volta para o Futuro". Bem, talvez fosse um bom sinal.
Mas que visão... O rosto tão perfeito de Jenny estava coberto de hematomas roxos, verdes, amarelos... Parecia até uma obra de arte anarquista. A perna direita da garota estava enclausurada num gesso branco e presa num ferro que a mantinha alta. Os dois braços de Jenny também estavam engessados.
- Oh, Jenny... Minha pobre e doce Jenny... – ele disse, acariciando levemente as franjas loiras da garota com as mãos deformadas.
Se ele tivesse lábios, beijaria os lábios cortados de Jenny. Mas ele só os tocou, também de leve, e prometeu, antes de ir embora:
- Custe o que custar, eu vou encontrar a resposta enquanto você dorme. Esteja comigo, Jenny.
Peyton acordou sobressaltado, na cadeira ao lado da cama de Jenny, com uma voz que ele não conhecia soando no ar.
- E também trouxe algumas flores para você, Srta. Parker.
Peyton olhou e era um homem, de mais ou menos quarenta anos, colocando flores dentro de um vaso em cima de uma mesinha ao lado da cama.
- O que é isso? – disse Peyton, alerta. – Quem é o senhor?
- Eu? – o homem parecia ter muita classe. Estava até de terno e gravata, carregando uma pasta... Parecia ter saído de uma tela de cinema, um verdadeiro George Clooney. – O senhor é que me deve satisfações, pois Jenny nunca me falou que estava em nenhum relacionamento, e ela conhece a política da família! Eu cuido dos negócios, sou seu advogado particular! E agora, quem é o senhor?
Peyton respirou fundo, aliviado sem saber por quê.
- Sou Peyton Westlake. Estou em um relacionamento sério com Jenny e ela está financiando minhas pesquisas. Sou um cientista.
- Aaaah, sim! – disse o advogado, se sentando numa cadeira em frente a Peyton – Então você é só mais um sanguessuga, interessado em dinheiro, fama e poder.
- Sim, estou mesmo. Mas não sou sanguessuga. Eu e Jenny estamos juntos nessa.
O advogado sorriu, parecendo satisfeito. Estendeu a mão para que Peyton a apertasse e disse:
- Meu nome é Bill Carter. Já estou sabendo do seu caso, Sr. Westlake. É por isso mesmo que estou aqui. Preciso que o senhor assine alguns documentos. – Carter dizia isso abrindo sua grande pasta de couro.
- Sr. Carter, não estou entendendo...
- Sr. Westlake, vamos fazer assim... Eu falo, o senhor executa. Sem perguntas. Só estou seguindo as ordens da Jenny. Se quer explicações, vou lhe dar as básicas: quando contratou meus serviços, a Srta. Parker me incumbiu de que lhe passasse todos os seus bens caso algo viesse a acontecer a ela. E isso inclui ficar em coma e não haver possibilidade de acordar. As condições eram que o senhor utilizasse esses fundos para a sua pesquisa e apenas isso. Mas não se exceda, por favor. Caso ela volte, apesar de ser modelo, ela vai precisar comer. Eu sugiro que o senhor não invista tudo na cura contra o câncer, e sim, administre boa parte caso ela venha a acordar.
Peyton não gostou nem um pouco da arrogância daquele empoadinho. Teve vontade de tirar a pele artificial e rugir para ele como um animal. "Aposto que Jenny riria", ele pensou. Mas tudo o que Carter dissera foi surreal e de extrema importância. Jenny deixou tudo para ele. É claro que ele não queimaria todos os bens dela em pesquisas!
- Sr. Carter, agradeço a sua boa vontade. Irei assinar os documentos. E mesmo sabendo que não lhe devo satisfação, com certeza administrarei muito bem o patrimônio de minha namorada.
Algo pareceu incomodar e irritar Carter.
- Ah, mas o senhor me deve satisfações sim, Sr. Westlake. Pois se fizer Jenny ir à bancarrota por sua imprevidência ou ganância, eu o perseguirei até o fim do mundo e o farei pagar por tê-la feito sofrer.
O cronômetro começou a apitar.
- Não seja mau perdedor, Sr. Carter. Se Jenny não pudesse confiar em mim, não confiaria. Você é só o advogado dela, não se exceda. Ou eu o mando para o fim do mundo assim que nós dois concluirmos os negócios.
A pele de Peyton começou a borbulhar e a ter reações químicas.
- Mas que diabos...?
- É a minha eterna luta contra o câncer, Sr. Carter. Esse câncer que eu chamo de sociedade. – ele disse, jogando o rosto de pele falsa que derretia no chão. Carter olhava horrorizado para ele. – O que o senhor vê? Vê o que quer ver. Agora perdeu a fala, não é? Vamos assinar os papéis?
Peyton passou dois exaustivos anos pesquisando. Publicou sua pesquisa nos jornais e chamou a atenção de cientistas famosos. Seu laboratório, escuro e sombrio, passou a ser num lugar comum, claro e com uma equipe de profissionais que ele mesmo escolheu.
Enquanto isso, Jenny dormia...
Jenny sonhou que estava num balanço, vestida de branco e rodeada por flores. Sua mãe estava com ela, e ria, uma risada musical.
- Filha, você não deve mais ficar aqui... – ela disse, encostando o rosto em sua bochecha.
Jenny sentiu seus lábios formigarem.
Peyton encostava de leve seus lábios nos lábios de Jenny. Dois anos. Será que ela não acordaria mais?
- Jenny... – ele disse, tocando as mãos da garota. – Eu consegui, Jenny! Queria tanto que você estivesse aqui! A cada dia, queria que você estivesse aqui! Era algo tão simples, Jenny, tão simples!
De repente, os olhos azuis se abriram.
- Jenny! – Peyton gritou.
- Peyton...? Onde estou...? Você estava gritando, atirou a garrafa naquele casal!
Peyton teve vergonha ao imaginar que essas eram as últimas lembranças de sua namorada.
- E me chamou de frívola! Não toque em mim!
- Espere, espere, Jenny! Você não sabe, não se lembra? Você sofreu um acidente, está no hospital!
- Hospital?
- Jenny, passaram-se dois anos... Você dormiu durante dois anos... Oh, meu amor... – ele a abraçava, apertado.
- Meu cabelo! – Ela analisava as mechas, exasperada – Meu cabelo está todo errado!
- Jenny, meu amor, seu cabelo sempre foi preto... – Peyton dizia, rindo.
- Me solta, imbecil! – Ela o empurrava, irritada.
- O que está acontendo aqui?- Uma enfermeira adentrou o recinto. – A paciente! Ela acordou! Vou chamar o doutor, não a agite!
E se foi, correndo.
- E Piper? Onde está Piper?
- Está em casa. Nossa casa. Tudo mudou agora, Jenny. Eu consegui! Era só uma cadeia de aminoácidos o que faltava! Era essa a chave! Eles reagiam a estímulos fortes! Você foi a chave desde o princípio. Estou usando essa pele há mais de uma semana!
- Oh Peyton! – Jenny não queria chorar, mas novamente, não conseguiu evitar.
O médico foi entrando atrás de uma esbaforida enfermeira. Ela colocou Peyton para fora antes que algo mais pudesse ser dito. Os dois se deram um último sorriso antes de Jenny ser examinada.
Autor(a): Lonely Loony
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Epílogo – Como era bom olhar o céu ainda escuro com a brisa batendo em seu rosto. Alimentar patos e cisnes, observar o amanhecer... A paisagem do parque era maravilhosa, tão arborizado, a grama verde como um dia fresco de verão... Peyton apoiava a mão direita no ombro de Jenny, que sentava numa cadeira de rodas. Ela colocou a ...
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