Fanfic: Perfect

“She wants to go home, but nobody’s home.”
(Ela quer ir para casa, mas não há ninguém em casa)

    Quinze anos normalmente é uma idade marcante para as meninas. E para mim também foi, mas não da maneira convencional.
    Eu morava apenas com minha mãe há quase dez anos. Mas, poucos dias antes do meu aniversário, ela morreu, levando também uma parte de mim. Eu fiquei uma semana na casa dos meus avós, mas, como minha avó tinha problemas de saúde e meu avô certamente perderia a dele cuidando de nós duas, eu tive que ir para a casa do meu pai. O problema era apenas que, para mim, Matthew Bouvier era um completo estranho que eu nem ao menos era capaz de chamar de pai. Alguém que eu odiava mais do que qualquer coisa.
    Matthew foi casado com a minha mãe e, por uma infelicidade do destino, acabou sendo biologicamente o meu pai. Lembro-me de que quando nós ainda morávamos juntos, eu achava que eu tinha uma família perfeita, acreditava que eu era uma princesa, e que nada no mundo atrapalharia o meu conto-de-fadas. Porém, o que poderia saber uma criança de quatro anos? Nada. A prova disso foi que Matthew começou a se relacionar com outra mulher, e nem ao menos teve masculinidade suficiente para romper com a minha mãe antes disso. Só após um ano de desconfianças, brigas e tortura que eles finalmente se divorciaram. Porém, esse ano da vida dela que foi perdido na dúvida, a levou direto à depressão... Nos dez anos que se seguiram, ela só caiu mais e mais fundo.
    E, agora, meu avião aterrissava para que eu me encontrasse com o causador de toda essa tragédia, para morar na casa da família feliz que ele construiu ao nos abandonar. E ainda dizem que não existe inferno?
    Reconheci Matthew logo quando o vi, o que me fez sentir vontade de entrar de volta no avião e ir pra qualquer outro lugar, mas, sem lugar para ir, apenas andei pela multidão, parando em frente a ele. Ele não fazia idéia de como se comportar em minha presença, dava pra notar seus questionamentos: Abraçava-me e dava os pêsames? Abraçava e dizia que sentiu saudade? Cumprimentava casualmente? Sorria? Ou ainda era muito cedo para isso? Seria muita hipocrisia?
    – Olá Allie. – foi a opção escolhida, seguida de um sorriso tímido.
    – Olá Matthew. – respondi olhando as pessoas ao meu redor, e ele percebeu que não tínhamos mais nada a dizer.
    O trajeto até a casa também foi feito em silêncio, uma vez que pouco tempo após entrar no carro eu virei para a janela e fingi estar dormindo.
    – Alison? – o ouvi me chamar. – Chegamos.
    Passei a mão pelo rosto, numa ótima interpretação de despertar, e sai do carro, observando a bela casa a minha frente. Fiz questão de pegar minhas malas sozinhas, e entramos na casa. Por sorte, a esposa sorridente de Matthew não estava atrás da porta esperando para me abraçar e soltar suas falsidades. Ele, então, me levou até o andar superior, abrindo a porta do que ele chamou de meu novo quarto. Apenas suspirei, entrando e colocando as malas em um canto.
    – Sei que não está sendo fácil, Allie. – Ele sentou-se na beirada da cama, enquanto eu fingia observar pela janela. – Mas as coisas vão melhorar, eu prometo. Vou te deixar se arrumar e descansar e chamo quando o jantar estiver pronto. Você precisa de alguma coisa, filha?
    – Sim. – virei cansada de ouvi-lo fingir que se importava. – Preciso que você pare de bancar o inocente. Acima de tudo, eu queria de poder voltar pra casa... Mas não há ninguém lá, eu não tenho mais uma família. Então, poupe-me de suas mentiras.
    – Allie... Essa é a sua casa agora, sua família.
    – Não, não é não. E nunca será. – virei para a janela novamente, e ele saiu entendendo que eu não queria conversar.
    Arranquei os lençóis da cama, pelo simples fato de ele ter sentado ali, e me joguei lá, chorando feito um bebê, até meu corpo finalmente ceder ao sono.