Fanfic: Perfect

                “What are words if you really don’t mean them when you say them?”
                (O que são palavras se você não põe significado nelas quando as diz?)

    – Allie? – ouvi uma voz feminina me chamar ao longe.
    As imagens em minha mente se dissolveram, e lentamente eu abri meus olhos para o quarto às escuras. Assim que reparei onde estava, fechei novamente os olhos, contendo os sentimentos, ao deduzir a quem pertencia a voz. Sentei-me na cama, arrumando os cabelos, sem me preocupar em olhá-la.
    – Seu pai me pediu para chamá-la para jantar, assim já nos apresentamos...
    – Como se você precisasse de uma apresentação. – respondi ríspida, embora minha voz ainda estivesse mole por ter acabado de acordar – Ouço sobre você desde os quatro anos de idade. – virei para levantar da cama, mas ela ainda estava ali me olhando com uma expressão condolente que estava começando a me irritar.
    – Allie...
    – Alison. – corrigi.
    – Alison – ela concordou – Entendo que tenha raiva de mim, mas o que aconteceu não foi minha culpa... Eu sinto muito por você, mas...
    – Não, você só sente muito por eu estar aqui. – cortei sem paciência – E não me venha com “eu te entendo”, porque nem você nem o seu marido sabem metade do que eu sou, ou do que eu passei, então parem de bancar os bonzinhos. Se eu tivesse um lugar pra ir, eu iria, acredite. Eu odeio tudo isso.
    – Eu... – ela parou, respeitando pelo menos o meu pedido de não dizer que entendia – Não estamos bancando os inocentes, Alison, nós somos inocentes. Eu não me importo que você esteja aqui, acho até uma boa chance de você e seu pai se aproximarem. É você quem não está entendendo as coisas aqui, ou entendendo-as como bem lhe convém.
    – Realmente, me convém muito ter perdido a única pessoa importante da minha vida e vir morar com um estranho e a família pela qual ele abandonou minha mãe e eu. – sorri com sarcasmo e acidez. – É o presente perfeito para meus quinze anos.
    – Não foi isso que eu quis dizer, você sabe...
    – Sei. Eu também sei que “até que a morte nos separe” também não foi exatamente o que Matthew quis dizer quando se casou com minha mãe. – cortei novamente, sem vontade de me estender. – Se me dá licença, Jude Bouvier, vou tomar uma ducha antes de descer, obrigada por me avisar do jantar.
    Jude abriu e fechou a boca algumas vezes sem emitir nenhum som, e então apenas saiu do quarto.
    Fechei a porta do banheiro atrás de mim, me deixando escorregar até o chão com as lágrimas tomando conta do meu rosto antes que eu pudesse controlar. Isso seria como viver um pesadelo, eu não queria aquilo.
    Antes que meus soluços começassem a ecoar nos frios azulejos, levantei-me e joguei minha roupa em um canto, deixando a água morna escorrer por todo meu corpo. Que inveja eu sentia da água e sua facilidade de escapar pelo ralo!
    Descendo as escadas, vi que uma menininha, em seus cinco ou seis anos, me observava, semi-oculta pela parede da sala de jantar. Devia ser a filha de Jude; a filha de Jude com Matthew. Meu estômago revirou.
    Ela saiu de trás da parede, ainda incerta, caminhando lentamente até mim.
    – Você é Allie?
    – Alison. – corrigi mecanicamente.
    – Meu nome é Cassie. Na verdade, é Cassandra, mas pode me chamar de Cassie. – ela sorriu.
    – Hm... – respondi vagamente, querendo manter distância.
    – Cassie, deixa a Alison em paz. – vi Jude entrando na sala com um ar tenso – Vamos, vamos jantar.
    O jantar foi silencioso e desconfortável. Jude e Matthew ainda sentiam-se meio envergonhados pelas conversas que tiveram comigo. Apenas Cassandra conversava e brincava, sem noção de um quarto da tragédia à sua volta.
    – Vou sair. – avisei após umas duas garfadas na comida.
    – Não vai, não. Você não conhece os lugares nem as pessoas. – Matthew respondeu prontamente, em tom monótono.
    – Ainda estou fazendo muito em te avisar. Você não é meu pai, não manda em mim.
    – Sua certidão de nascimento diz que eu sou.
    – Um papel não prova nada. Assim como a sua certidão de casamento com a minha mãe! – retruquei levantando.
    – Você está na minha casa Alison! – ele também se levantou. – Eu sou seu pai e você vai me obedecer!
    – Eu nunca tive um pai e não me fez falta, não vai ser agora que isso vai mudar, Matthew! – cuspi as palavras com raiva, andando apressada até a porta da frente.
    As lágrimas novamente escorriam pelo meu rosto. Me ocorreu que elas provavelmente seriam minhas únicas amigas naquela cidade. Me ocorreu também, que elas podiam se extinguir se eu continuasse chorando assim.
    O vento secava meu rosto, deixando-o pegajoso e mais vermelho. Eu realmente não tinha ou sabia para onde ir, e aquilo não me importava a mínima.
    Mamãe – pensei, sentindo os olhos arderem novamente – Por quê?
    Eu soltei todo o ar, caindo de joelhos, cedendo à dor, às lágrimas, a tudo. Sentia-me insuficiente, insignificante, sem importância...
    – Hei, menina! – ouvi alguém chamar perto, e virei o rosto para ver um rapaz alto parado ao meu lado. – Precisa... Precisa de alguma ajuda? Você parece mal.
    – Sério? – perguntei irritada, levantando-me para encará-lo nos olhos, mesmo que ele ainda fosse mais alto que eu. – Que bom que pareço “mal”, porque eu me sinto “péssima”!
    Saí dali com passos rápidos, e ele não tentou me seguir, ao que agradeci mentalmente. Não queria voltar para casa. Eu não sentia como se tivesse uma. Naquele momento, um pensamento nada animador passou pela minha cabeça: Amanhã eu tinha que comparecer a escola. É sempre assim, quando você acha que não pode piorar, a vida te mostra que aquilo não era nada. Tudo que eu menos queria no momento era um bando de adolescentes superficiais ao meu redor.
    Porém, eu não encontrei outra saída enquanto voltava para a casa dos Bouvier.


-
Comentários:
Hei, Kams! Bem-vinda! Olha, eu também não sei dizer a diferença entre fic e web, rs. Bom, essa história é beeeeeem dramática mesmo, mas fico feliz que esteja lendo. Gracias!