Fanfic: Legado - Escuridão
À medida que os dias se passavam, a minha ansiedade aumentava. Junto com ela, o receio de não me encaixar naquele lugar. Receio de não ser bem aceita pela minha diferença... Uma diferença particularmente inesperada e indesejada.
Eu queria aproveitar ao máximo o tempo que eu tinha. Cada noite eu dormia com um de meus irmãos.
Todos os dias alguém me levava para algum lugar diferente. Ensinando-me coisas novas. Uma dessas coisas foi o ElectriBall. Porém eu não tive muito sucesso primeiramente. Penso que com mais treinos eu me aperfeiçoaria mais. Terminei causando alguns desastres. Buracos na janela e porta... Uma árvore derrubada. Porém nada de muito grave, e todos disseram que era normal no início.
Mais um poder havia se desenvolvido. Não gostei muito no começo, mas decidi que aprenderia a conviver com ele. A leitura de mentes não é uma coisa fácil. Primeiramente pensei que estava enlouquecendo, porém logo descobri a verdade.
Vozes falavam incessantemente em minha cabeça. Às vezes pensamentos distantes, outras vezes pensamentos próximos – próximos até demais -, alguns eu não fazia a mínima idéia sobre o que se tratava.
Alguns pensamentos impuros vindos de Júlia e Jason, ou Ryan e Beth, ou até mesmo de Dean e meus outros dois irmãos atormentavam-me com frases e imagens. Algumas vezes eu me afastava, mas eles sempre vinham para perto novamente. Eu não poderia ficar isolada, com medo dos pensamentos das pessoas.
Os pensamentos mais puros que eu ouvira por ali eram os de Lilian obviamente, bonecas, músicas...
Naquela noite iríamos a uma boate, onde só era permitida a entrada de Spectros e Electros. Júlia estava mais do que animada, como sempre.
Ainda era manhã, tomávamos o café enquanto a Júlia não parava de tagarelar.
- Hoje, a noite será maravilhosa. – Ela ria.
- Nós já entendemos Júlia. – Disse Jason.
- Cala a boca! – Reclamou ela.
Vi que iam começar a discutir. Eu não entendia nem agüentava mais aquilo. Enquanto conversávamos em paz, um começava a soltar farpas para o outro.
- Vocês poderiam fazer uma pequena trégua? – Perguntou Dean – Vocês sempre começam uma brigar do nada.
- Isso é chato. – Concordei tediosamente.
- Mas isso é o amor. – Falou Rafa.
- Vocês poderiam parar? – Perguntou Júlia.
E então a trégua foi estabelecida, pelo menos por algum pouco tempo. Logo eles começaram a discutir novamente. Não havia, soluções para aquele problema.
A tarde chegou, eu estava na sala, com Dean, Rafael, Damon e Jason. Luca e Júlia haviam fugido como sempre.
- Katrina, por que você não toca algo? – Perguntou-me Damon.
- Bem... – Eu não sabia o que responder.
- Vamos Katrina, faz tempo que você não toca... – Incentivou-me Rafa.
Eu ainda não havia tocado desde que acordara. Aquilo não me passou pela cabeça, porém, agora que meus irmãos haviam me recordado eu tinha vontade novamente.
Percebi que a música me fazia falta. Nunca mais tinha sentido as sensações tão estranhas, porém ótimas que as melodias me passavam.
Direcionei-me lentamente ao piano. Eu não resistiria.
Sentei-me no banco, receando que a melodia me trouxesse más lembranças, porém logo me esqueci desta parte e me deixei levar.
Meus dedos pousaram levemente diante das teclas, hesitei. Mas logo a música fluía livremente pela sala.
Meus olhos se fecharam e um sorriso involuntário veio a mim... Era bom sentir a música novamente.
Eu ainda tocava levemente. Comecei a tocar rápida e intensamente, me deixando levar... Minha cabeça, mergulhada nas notas que fluíam, balançava lenta e ritmadamente.
E à medida que eu me empolgava, mais complexa ficava a canção. E com essa complexidade veio o excesso. Excesso de empolgação, força talvez. Escutei alguma coisa se rachar, mas não prestei muita atenção. Logo meu dedo afundou sobre a tecla do piano.
Parei instantaneamente, arregalando os olhos.
- Mas que merda. – Sussurrei.
- Eu não acredito. – Damon colocou as mãos na cabeça.
- Eu também não! – Falei.
- Você é um desastre. – Impressionou-se Rafa.
- Obrigada por me deixar melhor do que eu já estava. – Sorri ironicamente.
- Estou a sua disposição. – Retrucou ele.
Examinei por um tempo o piano, algumas teclas estavam quebradas. Levantei-me.
- Então quer dizer que eu não poderei mais tocar! – Falei tristemente.
- Você vai aprender a controlar sua força. – Dean tentou me tranqüilizar.
- É muito legal. Além de ser uma aberração, eu não vou poder tocar...
- Katrina, por favor... – Disse-me Damon.
- Não faça um dilúvio em um copinho de xarope, por favor. – Disse Jason.
- Ok. Tudo bem. – Levantei minhas mãos em sinal de rendição.
- Onde está a Júlia? – Perguntou Beth descendo as escadas.
- Ela... – Disse Jason.
- Ela foi andar pela floresta. – Interrompi-o.
- Oh sim. Quando ela voltar, diga que quero conversar com ela. – Disse ela, subindo as escadas novamente.
- Ok. – Falei, dando um sorriso amarelo. Lá vinha bronca, pensei.
- Voltando... – Disse-me Damon. – Quando eu ainda era novo nesse negócio de Spectro, eu colocava fogo em tudo, ou congelava. Uma vez quase quebrava você no meio em um abraço.
- Eu me lembro. Ah, você colocou fogo na cama enquanto dormia! – Sorri ao lembrar.
- E eu fiquei uns dias levitando. – Rafael riu. – Eu estava entediado, queria tocar no chão.
- Você levitava e levava todos ao seu redor junto. – Completei. – Tiveram momentos que toda a casa ficou em pleno ar.
- Menos a própria casa, mas só por que estava grudada ao chão. – Corrigiu-me Damon, em tom de brincadeira.
- Lembro de meus primeiros dias como Spectro. – Recordou Dean. – Destruí algumas coisas. Fiquei uma semana em forma de tigre.
- O que? – Assustei-me.
- Sim. Como um tigre.
- Eu havia esquecido esse seu outro poder. – Sorri. – E você, Jason? O que aconteceu com você?
- Bem. Além de quebrar algumas coisas como são de costume... Eu deixei um amigo em coma sem querer.
- Como assim? – Arregalei os olhos.
- Eu fui falar com ele, e sem querem lhe dei um choque. Se eu não o tivesse soltado no mesmo momento, ele estaria morto agora. – Disse ele, tristemente.
- E onde ele está agora? – Perguntei.
- Está no instituto. – Ele sorriu. – Agora ele pode se vingar.
- Por que ele se vingaria? Ele é seu amigo.
- Por que sim... – Ele sorriu. – Sendo um Spectro...
- Como é o nome? – Perguntei.
- Dionísio Heikkinen.
- Direi a ele que terá a sua vingança! – Sorri, olhando-o maliciosamente.
- Obrigado. – Ele retribuiu o olhar.
- Quais são os poderes dele?
- Como você é curiosa. – Disse Jason.
- Sim. Muito. Mas me responda...
- Ele tem asas. Enormes e lindas asas brancas. E consegue hipnotizar as pessoas.
- Que legal. – Aprovei, sorrindo.
- Ele vai se vingar, eu tenho certeza, nem se for só por brincadeira.
- Eu quero ver esta vingança.
- Eu também. – Concordou Dean.
- Eu também. – Disse Júlia.
Ela entrava pela porta, seguida por meu irmão. Nenhum dos dois conseguia esconder os sorrisos. Seus pensamentos não eram nada agradáveis para mim, porém, tentei ignorá-los.
Todos os olhares se voltaram para eles. Os olhos serrando-se em sincronia, enquanto os deles se arregalavam , assustando-se com a cena.
- O que foi? – Perguntou Luca, em um tom inocente. – Por que vocês nos olham assim?
- Por nada. – Falei, pigarreando. – Júlia, sua mãe quer falar com você!
- O que? – Ela arregalou os olhos mais ainda.
- Não sabemos. – Respondeu Dean.
- Mas parece sério! – Sussurrou Rafa.
E então ela subiu rapidamente, indo à busca de Beth para conversar.
- O que será que elas vão falar? – Luca sussurrou.
- Acho que é por causa de vocês dois. – Disse Jason.
E então uma porta se fechou no andar de cima.
Todos me olharam repentinamente. Com olhares sugestivos.
- Você! – Disse-me Luca, sorrindo.
- Eu?
- Sim, você! – Sussurrou Rafa.
- O que?
- Escute!
- Estou escutando! – Falei.
- Não... Ah, Katrina, você entendeu. – Disse-me Damon.
- Vocês sabiam que é feio escutar a conversa alheia? – Perguntei, ironicamente.
- Abriremos uma exceção. – Jason sorriu.
- Mas...
- Katrina. Por favor! – Pediu-me Dean, jogando todo o seu charme.
Sorriu de canto, olhando-me fundo nos olhos.
Peguei-me admirando a cena.
- Katrina. Acorde. Estamos perdendo tempo. – Disse-me Luca.
- Que droga... – Sussurrei.
Fechei meus olhos e inclinei a cabeça na direção delas. Concentrei-me um pouco, e então que pude escutar suas mentes.
“Mãe?” Júlia bateu na porta.
Ela havia demorado a chegar pelo que pude perceber. Talvez por receio do que estava por vir.
“Sim, Júlia. Entre!” Disse Beth do interior do quarto.
Júlia abriu a porta vagarosamente e entrou.
“O que a senhora quer falar comigo?” Sua voz estava receosa.
“Nada demais.” Beth sorriu.
Júlia respirou fundo, aliviada.
“Apenas quero saber o que está acontecendo entre você e o Luca!” Disse Beth, surpreendendo-a.
Júlia parou de respirar. Tudo ficou silencioso por alguns segundos.
“Júlia? Você pode me falar?” Ela perguntou novamente.
“Mãe...” Júlia estava sem palavras. Pensando intensamente: O que eu falo? Como eu falo?
“Estou esperando!” Beth cruzou os braços e bateu levemente os pés.
“Bem. É que eu gostei dele, ele gostou de mim... E a senhora sabe!” Ela tentou se explicar.
“Claro. Sei sim.”
“Mas como a senhora ficou sabendo?”
Enquanto elas falavam, eu sussurrava cada palavra no andar de baixo.
“Minha filha, eu sei de tudo. Você pensa que pode esconder as coisas de mim. Porém, enquanto você está indo, eu já estou voltando.” Beth explicou.
“Pois é!”
“Sei sobre você e o Luca, sei sobre a Katrina e o Dean...”
Nesta parte eu hesitei em falar, porém terminei dizendo.
“Como?” Perguntou Júlia, logo pensando: Mas que pergunta idiota.
“Às vezes, as paredes desta casa têm olhos e ouvidos.” Ela sorriu.
“Tudo bem... Mas como ficamos?”
“Bem, eu ainda não sei. O que vocês andam fazendo naquela floresta?”
“Nada demais!” Júlia falou, balançando a cabeça nervosamente.
“Eu sei bem esse seu nada demais!” Afirmou Beth.
Vieram imagens que eu não queria ver. Fiz careta enquanto os meninos me olhavam.
“É sério mãe, não fazemos nada demais.”
“Acredito em você! Sei quando você está mentindo!”
“Que bom!” Júlia se reconfortou, pondo a mão no coração.
“Mas eu quero que tome cuidado!” Advertiu Beth. “Não vou proibi-la de fazer nada! Acho que você já está crescida o suficiente para responder por seus próprios atos. Porém não que você se arrependa depois!”
“Eu não vou fazer nada que eu não queira!” Júlia sorriu.
“Assim espero!” Concordou Beth.
“E o papai?” Júlia arregalou os olhos ao lembrar.
“Bem, ele ainda não sabe!” Beth sorriu maliciosamente. “E não precisa saber! Pelo menos por enquanto! Na hora certa eu falo com ele!”
Júlia parecia aliviada.
“Você pode ir agora.” Disse Beth.
Então Júlia abriu a porta.
“Mais uma coisa!” Beth falou rapidamente.
“Sim, mãe!”
“A que horas vocês vão para a boate?”
“Acho que as oito!”
“Ok. Agora você pode ir!” Beth sorriu, liberando-a.
E então Júlia se direcionou a sala. Seu coração, de acelerado passou para calma em um instante. Ela sorria.
- Katrina? – Perguntou-me Damon. – Você ainda está aí?
- Sim, estou! – Falei, sacudindo a cabeça levemente para voltar ao normal.
- Você fez um ótimo trabalho! – Disse-me Jason, rindo.
- Calem a boca.
Júlia estava descendo.
- Voltei. – Ela sorriu.
- Deu para perceber. – Jason falou.
Júlia abria a boca, estava prestes a retrucar quando a interrompi.
- Por favor, não comecemos...
A tarde se passou rápida, ela andava de um lado para o outro, querendo ir se arrumar o mais depressa possível.
Então a tão esperada hora – pelo menos por ela – chegou. Ela foi correndo para o banheiro, levando cada um de nós para seus respectivos quartos, fazendo com que nos arrumássemos também.
Tomei banho e comecei a me arrumar, vesti-me e me maquiei. Eu sempre me arrumara rapidamente.
Desci as escadas e todos estavam lá, lindamente arrumados. Menos Júlia, obviamente.
- Nossa... – Disse Dean, sorrindo.
-Não exagere ok? Não achei esta roupa nada demais. – Fiz careta.
- Eu achei linda. – Disse-me Damon.
- Linda. Bem no seu estilo. É! – Completou Luca. – Faz tempo que você não se veste assim.
- Senti falta de ir a festas com você! – Falou Rafa. – E a propósito. Você está linda.
- Ok. Falta o meu elogio. – Jason falou. – Você está linda. Se não fosse quase minha irmã, eu pegava.
- Isso não quer dizer nada... – Dean falou sugestivamente.
- Então eu me corrijo. – Jason sorriu maliciosamente. – Se você não estivesse gratinando com meu irmão, eu pegaria você!
- Gratinando? – Perguntei.
- É. Você sabe... – Jason fez gestos com as mãos.
Todos riram dos gestos que ele fez. Olhando-o estranhamente.
- Mas nós não estamos... Gratinando. – Imitei seus gestos, arrependendo-me em seguida.
- Que história é essa cara? – Damon encarou Dean de frente. – Gratinando com minha irmã? – Ele fez os mesmos gestos.
- Eu não estou gratinando com ninguém. – Dean sorriu, fazendo gestos como os outros.
- De onde você tirou este termo tão... Diferente? – Perguntei, arqueando a sobrancelha.
- Isso não vem ao caso. Pelo menos não neste momento. – Jason sorriu.
- Bem. Voltando. – Falei. – Vocês também estão muito lindos.
- Obrigado. – Falaram todos em uníssono.
- Cadê a Júlia? – Falei, impacientemente.
- Você ainda não viu nada! Teve uma vez, que ela fez-nos arrumar cedo, e ficamos esperando por ela durante quase duas horas. – Jason deu ênfase ao tempo.
- Ainda bem que a Katrina não é assim. – Disse Rafa.
- Sim. – Concordou Luca.
- Você não pode falar nada, cara. Você está gratinando com a Júlia. – Damon riu.
- Cara, pára de falar gratinar! – Disse Luca.
- Desculpe. Isto foi involuntário. – Damon sorriu.
- Enfim... – Falei. – Já são oito e quarenta e cinco.
- Acostume-se. – Disse-me Dean. Abraçando-me.
- Júlia. – Gritei seu nome, porém ela não respondeu.
- É melhor você ir lá e arrastá-la pelos cabelos. – Avisou-me Jason.
- Não é necessário. – Gritou Júlia ao pé da escada.
- Ah. Resolveu enfim sair da toca? – Perguntei secamente.
- Como estou? – Perguntou ela, girando.
- Está linda. – Falaram todo em coral. – Agora vamos. – Continuamos.
- Nossa. – Ela fez careta. – Eu demorei tanto assim?
- Claro. Você sempre demora. – Disse Dean, abraçando-a. – Se não demorasse, você são se chamaria Júlia.
- Vamos? – Perguntou-nos Rafa.
- Sim, vamos. – Respondi. Andando em direção a garagem.
Dividimos-nos em um carro e uma moto. Eu fui com o Dean na moto enquanto os outros foram no carro.
Demorou um pouco para chegarmos. A pista estava livre de trânsito, então podíamos nos locomover em alta velocidade sem sermos incomodados. Apostávamos corrida meio que indiretamente.
O vento fazia com que a música que tocava no carro se espalhasse pelo ar. Eu e Dean cantávamos enquanto corríamos. O ar invadindo meu rosto, jogando meus cabelos para trás violentamente.
Os veículos foram estacionados enquanto eu analisava o ambiente. A boate era o único estabelecimento ali, tudo era deserto ao seu redor. A música não incomodaria ninguém.
Uma fila rodeava a enorme casa noturna. Pessoas com mantos, cobrindo seus rostos e cabeças. Alguns usavam mantos brancos. Outros usavam mantos vermelhos...
Desci da moto e logo fui andando em direção aos outros enquanto Dean me seguia.
- Por que eles estão usando mantos? – Perguntei.
- É uma tradição meio maluca deste mundo... – Respondeu-me Júlia. – Os de brancos são Spectros. Os de vermelho Electros.
Agora eu podia perceber que só homens usavam mantos brancos, porém os vermelhos eram usados tanto por homens quanto por mulheres. Imediatamente fiquei em dúvida sobre qual cor de manto eu usaria. Ou nós não usaríamos mantos?
- Nós teremos que usar mantos? – Perguntei.
- Sim. – Júlia falou como se aquilo fosse uma coisa óbvia.
Então ela abriu o porta-malas do carro e pegou sete mantos. Quatro brancos, dois vermelhos e um preto. Eu não acreditei quando ela os distribuiu.
Meus irmãos e Dean com os brancos. Ela e Jason com os vermelhos. O preto sobrara para mim, eu me destacaria ali por ser a única de preto.
- O que? – Perguntei, analisando o manto em minhas mãos enquanto todos já vestiam os seus.
- O que foi Katrina? – Perguntou-me Júlia.
- Eu vou de preto? – Sobressaltei-me.
- Sim.
- Aqui as cores dos mantos são separadas de acordo com as categorias. Como pode perceber, você é uma olhos pretos. – Explicou-me Dean.
- Não tem nenhum vermelho de sobra? – Perguntei desesperadamente.
- Não. Você terá de entrar com o preto. – Júlia sorriu.
- Que legal. – Falei ironicamente.
- Se vista rápido. – Apressou-me Damon, rindo.
Hesitei um pouco, porém logo me vesti.
Andamos lentamente para a entrada. Por onde passávamos éramos percebidos. Pessoas paravam de conversar para simplesmente olhar-nos.
Os Spectros e Electros presentes ali estavam curiosos. Perguntavam-se e afirmavam em pensamentos coisas como: “Quem são eles?”; “Como são elegantes!”; “Por que eles não estão na fila?”.
Porém, a principal e mais freqüente pergunta era: “Quem é aquele de manto negro?”
Eu sabia que iria chamar atenção.
Eram tantas pessoas presentes ali, várias vozes se misturando em minha cabeça, era confuso, todos falando ao mesmo tempo... Eu tentaria – como sempre – não prestar atenção, eu já estava me acostumando, estava conseguindo ignorá-las.
- Por que não entramos na fila? – Perguntei.
- Por que somos VIPs. – Disse-me Jason.
- Somos VIPs em todas as festas? – Perguntou Rafael. – Por que na ultima que fomos não precisamos enfrentar filas.
- Nós somos VIPs em qualquer lugar que formos. – Disse Júlia. – Não se esqueça. Nós somos do topo deste mundo. – Ela se referia a todo o nosso grupo.
- Então isso quer dizer que em qualquer evento que formos ao mundo Spectro e Electro somos VIPs? – Perguntei, eu não sabia desta parte.
- Exatamente. – Dean sorriu.
Chegamos à entrada. Cinco seguranças enormes e lindos estavam de prontidão, recebendo a todos. Trataram-nos com simpatia e gentileza, porém olhavam-me estranhamente.
Ignorei esta parte.
Então adentramos na festa. Todos ainda estavam com seus mantos, eu não sabia por que, porém queria muito saber.
Eu estava prestes a tirar o meu quando a Júlia me deteve.
- Não tire o seu manto. – Ela falou com autoridade.
- Eu vou tirar. – Falei. – Se eu tivesse com um vermelho, eu passaria a festa toda com ele. Porém, como você pode perceber, eu sou a única de preto.
- Você não vai tirar. Não agora.
- Por quê?
- Por que eles vão perceber que você é uma mulher!
- Se eu não estivesse com este manto eles não saberiam nem quem eu sou.
- Katrina. Você é nova neste mundo... E eu também não vou explicar nada disso. Você terá a sua estadia no instituto para aprender. – Disse-me ela. – Agora, temos de aproveitar.
- É! – Concordaram os meninos.
Olhei em volta. Os corpos se movimentavam em sincronia, alguns sendo desafiados a dançar melhor. Outros desafiando...
Logo meus irmãos estavam dançando coreografias que havíamos criado, ou até mesmo improvisando. Júlia, que estava em um tipo de trégua com Jason, dançava distraidamente com seu irmão, sorrindo.
E Dean. Bem, ele estava ao meu lado, analisando-me.
- O que você vai fazer? – Perguntou ele.
- Não sei. Talvez tirar este manto. – Sorri.
- Não, você não vai tirar o manto. – Disse-me ele.
- Até você? – Espantei-me.
- Sim, até eu.
Enquanto eu falava, ele me puxou pela mão, levando-me até o centro da pista de dança. Tirou o capuz da cabeça, revelando seu lindo rosto. Vi que algumas Electras ali pararam instantaneamente de dançar, admirando-o, sorrindo para ele, analisando-o e pensando “Como ele é lindo!”; “Quem é ele?”; “Gostei dele!”...
Mas eu não gostei de você, pensei!
Eu não havia gostado da atitude daquelas Electras. Parecia até que nunca haviam visto um homem bonito na vida delas.
Olhei-as com cara feia, porém não fui percebida, o manto negro ainda cobria a minha cabeça. Fiquei feliz ao ver que Dean não as olhava desejo, admirando-as como outros faziam. Ele apenas as olhava como olhava para qualquer outra pessoa.
E então Dean começou a dançar, me fazendo dançar junto com ele. Nossos corpos se movimentavam junto com a música.
Dançamos por pouco tempo. Eu não estava com ânimo para dançar, pelo menos não com aquele manto negro, não com várias pessoas olhando-me estranhamente.
- A que droga. – Falei, enquanto me sentava em um dos pequenos sofás que formavam a decoração.
- O que foi Katrina? – Perguntou-me Dean.
- Esta porcaria deste manto. Por que não posso tirar?
- Por que ninguém tira até que a festa se inicie de fato.
- É! Fazer o que? – Falei.
- E você, vai ficar aí?
- Vou. Não quero que ninguém fique me olhando torto.
- Ok, então.
- E você. – Falei. – Você irá para a pista de dança, e irá dançar.
- Você ficará bem?
- Ficarei ótima. Agora vá. – Ordenei.
Então ele foi para a pista, enquanto as Electras atacavam, querendo dançar com ele. Ele dançou com todas, uma por vez. Fiquei com ciúmes, mas tentei abafá-lo, nós ainda não tínhamos nada sério.
As vozes em minha cabeça continuavam com toda a força. Eu tinha mais facilidade em bloquear as vozes mentais mais conhecidas, como as dos meus irmãos, Dean, Júlia, Jason e o resto da família. Suas vozes pareciam como uma música de fundo, eu podia escutá-las, mas não entendia o que queriam dizer, só quando eu queria.
Porém naquele lugar havia muitas vozes desconhecidas. Minha cabeça pulsava, mas eu continuava a tentar ignorá-las.
Todos ainda dançavam. Meus irmãos agora estavam com uma garota cada. Júlia beijava o Luca em um local mais reservado. Jason desafiava um grupo inteiro. Dean... Eu não via Dean.
Eu não sabia quando a festa iniciava de fato. Eu não via a hora de tirar aquele capuz preto.
Nenhum desconhecido se aproximava de mim, tinham receio do que estava por baixo daquele manto. Apenas observavam ao longe.
- Boa noite. – Uma voz desconhecida falou comigo.
Não respondi. Apenas fiz reverência com a cabeça.
- Por que você está de preto? – Perguntou-me ele. – Cara, você não vai me responder?
- Cara é o cacete. – Falei, encarando-o.
Ele se surpreendeu ao ver meu rosto e ao ouvir minha voz. Seus olhos se arregalaram, sua boca se abriu em um O. Ri daquela expressão.
Ele era bonito. Seus olhos castanhos me analisavam, assustados. Ele tentava falar, mas nenhuma palavra saia de sua boca, ele não sabia como se expressar. Ficara sem reações, talvez por minha forma rude, talvez por que ser mulher e estar usando um manto negro...
- Desculpe... – Ele falou gaguejando um pouco.
Demorei um pouco a responder, analisando-o. Analisando seus pensamentos, que por sua vez, estavam muito confusos.
- Perdoado! – Falei, sorrindo vagarosamente.
- Mas então... – Ele se interrompeu, demorando um pouco para continuar. – Por que você está usando um manto negro?
- Por que você quer saber? – Eu não consegui me controlar, fui rude novamente. Ele, com um pouco de medo, recuou. Porém logo se sentou a meu lado.
- Bem. Podemos começar de novo, então? – Perguntou-me ele. Quando percebeu que eu não responderia, continuou. – Meu nome é Zayn. Zayn Fontaine.
- Muito prazer. – Falei ironicamente. – Me chamo KatrinaRachmaninob.
- Prazer em conhecê-la. – Ele sorriu, estendo a mão que estava escondida por baixo de seu manto branco. – Por favor, responda a minha pergunta.
- Não seria óbvia a sua resposta?
- Um pouco. Mas não pode ser. É impossível.
- No meu caso não é! – Sorri.
- Então quer dizer que você, além se ser uma Spectro, é uma olhos pretos?
- Se é o que você acha! - Falei, tentando não revelar muito.
- Eu não acredito.
- Acredite se quiser. – Falei, fazendo com que meus olhos ficassem completamente negros. Eu já estava ficando boa nisso. Era só relaxar e sentir uma fina película abraçar os meus olhos.
Agora ele acreditava. Ele arfou. Pensou por alguns segundos, porém logo estava sorrindo.
- Eu sei. Eu sou uma aberração. – Falei monotonamente.
- Você ainda não foi ao instituto. – Disse ele.
- E como sabes? – Perguntei. Confusa por seu conhecimento.
- É perceptível. Ninguém sabe sobre você! Só saberão quando ingressar no instituto. Você se tornará muito conhecida neste mundo. – Ele sorriu.
- Que legal. – Falei com uma falsa animação.
- Mas tem um lado bom em me conhecer. – Ele ainda sorria. – Eu sou novo neste mundo também. Só ingressarei no instituto na semana que vem!
- Na segunda-feira? – Perguntei. Eu estava confusa e ao mesmo tempo animada.
- Sim. E você já terá um amigo.
Agora eu estava feliz. Não fui tratada como uma aberração, pelo menos não por ele. Ele me tratava como uma pessoa normal. Eu havia gostado disso. Houve apenas um pequeno medo no começo, porém logo isto fora superado.
- Então... Por que você está aqui e não dançando? – Perguntou-me ele, olhando para as pessoas que se divertiam na pista de dança.
- Por que quando estou no meio das pessoas, elas me olham diferente. – Expliquei. – Só me divertirei quando estiver sem este manto.
- Não demorará muito. – Ele sorriu.
- Fico feliz com isso. – Retribui o sorriso.
- Enquanto isso dar-te-ei o prazer de minha companhia. – Seu tom era de convencimento.
- Quanta formalidade. – Falei ironicamente.
- É simplesmente educação. – Disse ele no mesmo tom de antes.
- Sei...
- Quantos anos você tem?
- Quinze. – Sorri.
- Quinze? – Sua voz se sobressaltou. Seus pensamentos o traíam.
- Sim, apenas quinze aninhos.
- Nossa. Você não parece nem um pouco ter quinze anos.
- Nenhuma menina daqui parece ter quinze anos. Mas penso que algumas têm.
- Isto é verdade. – Ele falou com obviedade despercebida.
- Então você não pode falar assim sobre mim. – Analisei-o enquanto ele fazia o mesmo. – E você? Quantos anos têm?
- Dezessete.
- Você também não aparenta ter a idade que tem. – Cerrei os olhos. – Só se fosse um jovem bem dotado. – Falei, deixando-o um pouco envergonhado.
- Isto serve para você também.
- Obrigada.
- Katrina? – Perguntou-me uma voz conhecida.
- Sim. – Sorri para Dean enquanto ele nos olhava com confusão.
Não resisti e li seus pensamentos. “Quem é esse?”; pensou com um tanto de brutalidade e desprezo.
- Dean, - Falei, levantando-me. – este é o Zayn. Zayn, este é o Dean. – Apresentei-os.
- Prazer. – Falaram ao mesmo tempo, enquanto apertavam as mãos com um pouco de força além da necessária.
- Ele veio aqui por que é muito curioso, e queria saber quem estava por baixo do manto negro.
- Sim. - Concordou Zayn.
- Gostou do que viu? – Dean falava ironicamente, sorrindo.
- Sim. Muito. – Zayn falou no mesmo.
Eu não havia percebido que fazia careta para aquela cena. Estava presente ali uma hostilidade desnecessária de ambas as partes.
- Sabe Dean. Ele vai entrar no instituto ao mesmo tempo em que eu. – Sorri para Zyan.
- Que ótimo.
- Também achei. Pelo menos teremos um ao outro em meio a tantos desconhecidos. – Concordou Zayn.
Que ótimo, pensei.
Seus sorrisos eram sínicos enquanto se analisavam mutuamente. Serravam os olhos ao mesmo tempo, arqueando uma sobrancelha. Apesar da tensão presente, achei aquela cena muito engraçada e involuntariamente pus-me a rir.
Com as mesmas expressões que se encaravam, eles me olharam. E lentamente a minha simples risada se tornou uma gargalhada estrondosa, que foi abafada pela música alta que tocava no lugar.
Seus pensamentos passavam de “Ela ficou louca?” a “Qual foi à graça?”.
Após algum tempo minha gargalhada se enfraqueceu.
- Para que tanta hostilidade? – Perguntei.
- Não estamos sendo hostis! – Falaram em coro.
- Amizade é tudo. – Falei, imitando uma hippie. – Paz, amor...
- Tá bom. – Disseram ainda em coro. – Desculpa aí cara.
- Que lindo. – Juntei minhas mãos em um sinal de apreciação. – Enfim... Quando começa a festa?
- Daqui a algum pouco tempo. – Respondeu-me Dean, me abraçado.
- Quero ver até quando este tempo durará. – Sentei-me.
- Não muito. – Dean se sentou a meu lado.
- Bem, eu vou indo. Não quero segurar um castiçal aqui. – Zayn sorria.
- Não cara, senta aí. – Dean convidou-o a ficar conosco gentilmente.
- Não incomodo mesmo? – Perguntou-nos.
- Não. – Falamos ao mesmo tempo.
Então ele também se sentou. Ficando um de cada lado.
- E aí. Quais são os seus poderes? – Perguntou Dean.
- Cara, a única coisa que eu sei é que tenho um escudo.
- Escudo externo o psíquico?
- Externo. É! – Zayn balançada a cabeça positivamente, pensativo. – E você? O que faz?
- Eu vôo e mudo de forma. – Dean falava monotonamente.
- Legal.
- Boa noite. – Júlia falou, rindo.
- Cansou? – Perguntei.
- Nem um pouco! Só quis sentar.
- Vamos Katrina. – Disse Rafa, estendendo-me a mão.
- Só saio daqui sem o manto. – Sorri, fazendo birra.
- Não falta muito.
- Todos dizem isso. – Revirei os olhos.
- E você Dean, não vai dançar. Vamos competir com algumas pessoas. – Rafa sugeriu.
- Sim. Vamos. – Disse Dean, cerrando os olhos ao olhar para Zayn.
Olhei-o, incitando-o a ir.
- E então? – Perguntou-me Júlia quando eles já haviam ido.
- Bem. Júlia, este é Zayn. Zayn, esta é a Júlia. – Apresentei-os.
- Olá Zayn. – Disse Júlia, apertando sua mão e logo em seguida abraçando-o.
- Então... – Disse ele, se sentando. – Vocês são irmãs?
- Não... – Falei.
- Sim. – Interrompeu-me Júlia. – Não de sangue, claro. Mas ela é quase minha irmã.
- Entendo. – Disse Zayn, não querendo se aprofundar no assunto.
- Com quem você veio a esta festa? – Perguntou Júlia.
- Com uns amigos, que estão... – Ele olhou para trás, localizando-os. – Ali. – Disse ele, apontando para um grupo de homens e mulheres que estavam em um canto mais reservado.
- Ah sim. – Balancei a cabeça afirmativamente.
- É, eles disseram que eu tenho de aproveitar os meus últimos dias.
- Parece até que eu vou morrer. – Concordei.
- Estão fazendo isso com você também? – Ele perguntou, sorrindo de lado.
- Claro. – Concordei ironicamente.
- Você não foi forçada a vir. – Defendeu-se Júlia, levantando as mãos em sinal de rendição.
- Tudo bem, tudo bem! – Cerrei os olhos.
Olhei para o grupo de pessoas na pista de dança. Um círculo estava formado, alguém dançava no meio. Sorri ao perceber que era o Luca, seu corpo se movimentava levemente, sem esforço algum, os movimentos fluíam simplesmente.
- Zayn? – Perguntou uma voz feminina. – Pensei que tivesse ido embora. – Falou, exigente.
- Não. Ainda estou aqui. – Zayn respondeu com obviedade.
- Percebo. – Ela sorriu. – E percebo também que arranjou companhia.
- Bem, essa é a Katrina e essa é a...
- A Katrina? – Perguntou ela.
- Sim.
- E por que ela usa manto negro?
- A resposta poderia ser óbvia. – Respondi, sorrindo.
-Ah... – Arfou ela ao ver meu rosto e meus olhos.
- Bem, continuando. E esta é Júlia.
- Oi Júlia. Oi...- Ela hesitou. – Katrina.
- Olá. – Falei, sorrindo ironicamente.
Talvez fosse divertido ser diferente. Era engraçado ver as expressões das pessoas mudarem quando lhes era revelada a minha origem. Elas ficavam confusas, receosas.
- Meninas, esta é a minha irmã mais nova e pentelha, Victória. - Ele sorriu.
- Pentelha? – Exclamou. – Eu não sou pentelha. – Disse-nos ela.
- Ela também vai para o instituto. – Explicou Zayn.
- Que legal. – Sorri, olhando-a.
- Você vai entrar na próxima semana. – Agora ela estava animada.
- Sim. – Sorri.
- Será que seremos colegas de quarto?
- Acho que não Vick, ela é uma Spectro. – Disse Zayn.
- Então veremos o que acontecerá. – Ela se sentou.
- Sim... – Concordei.
- Mas eu não sou pentelha. – Falou, cruzando as pernas. – Eu sou sexy.
- Pra mim continua e sempre continuará sendo uma pentelha.
- Tudo bem. Mas não é o que os outros dizem. – Ela sorriu, desafiando-o.
- Tudo bem. Eu sei como é ter um irmão implicante. – Disse Júlia, solidária.
- Mas por incrível que pareça, nós gostamos deles. – Concordou Victória.
- Isso é verdade. – Disse Júlia.
- Boa noite! – Falou uma voz animada nos alto-falantes da festa.
- Boa noite! – Responderam os convidados, em coral.
Todos haviam parado suas atividades. Já não dançavam mais, não bebiam mais... Todos prestavam atenção no homem que estava falando em um microfone em cima do palco. As luzes estavam voltadas para ele.
Seu rosto trazia um sorriso arrasadoramente animado. Seus cabelos bagunçados se agitavam com o vento.
Parece até cena de cinema, pensei, rindo logo em seguida.
- Estão gostando da festa? Sim ou claro? – Perguntou ele ironicamente.
- Claro... – As pessoas responderam.
- Bem, como é tradição o dono da festa iniciá-la... – Ele se interrompeu.
Sorrindo, deu dois passos a frente, olhando para as pessoas a seu redor. Olhou de um estremo a outro do salão, parando justamente onde estávamos.
Só pode ser brincadeira, pensei.
- Júlia. – Ele sorriu. – Minha querida Júlia.
Júlia retribuía o sorriso furtivamente. Levantou-se e o cumprimentou dando um leve aceno com a cabeça.
- Vejo que temos muitos rostos novos aqui. E um manto distinto. – Ele continuou.
- Merda. – Sussurrei.
- Júlia, meu amor. Por favor, traga seu amigo de preto até aqui.
- Amigo. Amigo é o cacete. – Sussurrei mais uma vez.
Júlia, sorrindo para mim desta vez, pegou-me pela mão, direcionando-nos ao palco.
- Você sabia que ele faria isso. – Sussurrei.
- Claro. – Respondeu-me ela.
- Você é uma...
- Opa. – Interrompeu-me. – Você é nova, é poderosa, é diferente... Teria que ser apresentada em grande estilo.
- Vaca. – Sussurrei.
Em resposta ela simplesmente mugiu, imitando o animal.
Não me contive e ri de sua atitude.
Enquanto andávamos, não precisávamos empurrar ninguém para abrir passagem. As pessoas se afastavam instantaneamente, abrindo caminho para que passássemos e para que eles conseguissem nos ver melhor. Meu manto cobria-me inteiramente. Minha cabeça abaixada não revelava meu rosto, o tecido de algodão arrastava-se no chão, escondendo meus pés.
As pessoas ainda me olhavam torto por não conseguirem me ver.
Andamos lentamente até chegarmos a uma escada que nos levava ao palco. Com um sorriso no rosto, Júlia soltou minha mão, cumprimentando o lindo homem a nossa frente.
- Katrina, este é o Mike. Mike, esta é a Katrina. – Apresentou-nos Júlia, em um tom baixo.
- Katrina? – Sua voz se exaltou um pouco.
- É. Katrina. – Falei, exaltada por ser recebida assim por todos.
- Nossa... – Interrompeu-se, analisando-me por um momento, porém logo estava sorrindo novamente. – Então devo apresentá-la oficialmente.
- Pelo menos você não perguntou: “O que você é?”; “Como isto é possível?” – Imitei os tons de vozes e as expressões de outras pessoas ao me verem. – E pelo menos eu não tive que mostrar meus olhos para você acreditar.
- Bem, não foi preciso. Eu posso sentir o seu poder. Sua essência é poderosa. – Mike falou com um falso desdém. – Esse é um de meus dons.
- Legal. – Aprovei. – E qual seria o outro?
“Eu consigo falar mentalmente com as pessoas.” Uma voz falou em minha cabeça.
Olhei-o assustadamente. Eu estava bloqueando os pensamentos das pessoas ao meu redor. Porém sua voz mental invadiu minha cabeça.
Após alguns segundos de surpresa, percebi que estava de olhos arregalados, mas ao mesmo tempo eu sorria encantada por este dom.
- Incrível. – Falei impressionadamente.
- Obrigado. – Ele sorriu, reverenciando-me elegantemente com a cabeça.
- Não há de que. – Imitei seu gesto.
- Mike, as pessoas já estão impacientes com a nossa pequena conversa. – Júlia sorria.
- Ah, sim... – Mike olhou para as pessoas ao seu redor. – Porém, - Falou, virando-se para mim novamente. – prepare-se para o que está por vir. – Advertiu-me.
- Preparar-me? – Perguntei assustada.
- Pessoal, desculpem-nos por não incluí-los em nosso pequeno diálogo. – Falou Mike com educação. – Porém, me surpreendi com o que vi e ouvi aqui, neste momento. Uma coisa diferente, inusitada e um tanto assustadora aconteceu. Mas de um certo modo, pode ser boa para todos nós.
A pessoas se olhavam, especulando o que poderia ser.
- Como podem perceber, há um novo olhos pretos entre nós. Sua capa se destaca entre as demais. – Falou com obviedade.
- É preciso mesmo um discurso? – Sussurrei para a Júlia enquanto Mike falava.
- Não. Mas ele está preparando as pessoas. – Respondeu-me ela, sorrindo.
- Apresento-lhes o nosso futuro líder. – Continuou Mike, enquanto me fazia dar um passo à frente puxando-me pela mão.
Líder? Pensei.
- Apresento-lhes... Katrina.
Enquanto falava, ele abaixou completamente a parte do manto que cobria minha cabeça. Revelando um rosto que se levantou e encarou as pessoas, sorrindo sarcasticamente. Essas pessoas, por sua vez, começaram a especular ainda mais. Murmúrios, que antes eram baixos, agora se tornaram intensamente altos.
Todos se perguntando: “Por que?”; “Isto é possível?”; “Como pode?”...
Olhei para Mike que observava a confusão que se formara. Ele sorriu, pois já sabia que isto aconteceria. Após alguns minutos, Mike voltou seu olhar para mim, ainda sorrindo, pegou minha mão e apertou-a firme, como se quisesse me acalmar.
Em meio às pessoas que falavam pude ver minha família. Todos sorriam para mim, passando-me confiança, coragem...
- Eu já previa esta reação de vocês. Mas preciso que aceitem... Ela nasceu assim. – Explicou Mike, assustando-me de início.
- Desculpe-nos Katrina. – Falou uma voz em meio aos convidados.
- Façam as honras. – Incitou Mike.
E então, todos pararam de falar. Olhando-me diretamente. Analisando-me. Alguns sorrindo para mim, outros assustados. Passou-se um tempo assim. E vagarosamente, um por um, começaram a se curvar diante de mim, em um sinal de respeito – ou seria devoção?
Assustei-me ainda mais. Eu não sabia por que eles estavam fazendo aquilo. Era estranho. Logo todos estavam curvados diante de mim, até minha própria família ao fundo, e em seguida Júlia e Mike.
- Mas o que é isso? – Perguntei desesperada para que eles ficassem de pé novamente.
- Respeito... – Respondeu ele enquanto eu tentava erguê-lo pelo braço.
- Por favor. Levante-se. – Minha voz suplicava. Eu estava entrando em um pequeno desespero.
Eu o olhava com olhos arregalados. Senti que meu rosto esquentava e provavelmente estava ficando vermelho.
- Por favor! – Supliquei mais uma vez.
Alguns segundos se passaram, e então ele se levantou, sendo seguido por todos os outros.
- O que foi isso? – Perguntei ainda de olhos arregalados.
- Você é nova. Todos os olhos pretos são tratados assim, desde o início dos tempos.
- Mas por quê?
- Por que eles são supremos Katrina, nada se iguala a eles. Olhos pretos tem nosso respeito. Mas só se eles forem bons... – Respondeu-me ele, lembrando-me do que meu pai me disse.
Respirei fundo, tentando acalmar meu coração.
- Feitas as devidas apresentações e após os momentos de tensão... – Falou Mike, desta vez no microfone. – Podemos começar oficialmente a festa.
Quando isto foi anunciado, todos gritaram em comemoração.
- Por favor. – Continuou Mike. – Organizem seus grupos. Hoje é dia de competição.
Agora as pessoas vibravam mais do que antes.
- Katrina, dê-nos a honra. Abra as apresentações.
- Eu? – Gritei.
- Sim, você. E você também senhora Júlia.
- Eu? – Ela falou no mesmo tom que eu.
- Sim. – Ele sorria. - Por favor... – Pediu ele, desta vez sem o microfone.
Quando dei por mim, Júlia já estava me puxando pelo braço, sorrindo. Posicionamo-nos no centro da pista de dança, lado a lado.
- Se formos dançar, iremos dançar coreografias diferentes. – Falei.
- Vamos ver... Leia a minha mente.
Obedecendo a seu pedido, vi uma coreografia que eu sabia muito bem.
Sorrindo, começamos. Nossos corpos se movimentavam em sincronia junto com a música. Todos nos olhavam, aproximando-se cada vez mais.
Algumas mulheres nos olhavam torto, porém continuamos dançando...
A festa se desenvolveu bem. Todos riam, bebiam, dançavam em harmonia.
Agora que eu estava livre daquele manto, as pessoas me olhavam mais ainda. Porém não com medo e sim admiração. Elas sorriam para mim e minha família, nos cumprimentado. Perdi as contas de quantas pessoas se apresentaram para nós.
Dancei inúmeras vezes com meus irmãos – eu já considerava Júlia e Jason como meus irmãos – e com o Dean.
Júlia e Luca ficaram em um canto mais reservados por várias vezes. Em alguns momentos eu e Dean fazíamos o mesmo, porém nada que pudesse chamar muita atenção...
E assim a festa de encerrou às seis da manhã. Na saída vimos muitas pessoas cambaleando, meninas com suas maquiagens manchadas. Porém nós... Bem, nós estávamos intactos. Ninguém cambaleava. Eu e Júlia ainda estávamos lindas.
Dirigimo-nos aos veículos segurando nossos mantos nos braços. Mesmo cansadas, as pessoas ainda nos analisavam.
Chegando a casa, nos foi feito um interrogatório de como foi a festa. O que aconteceu... E nós relatamos tudo – ou quase tudo – em detalhes.
Faltavam apenas dois dias para a minha ida. Meus ânimos estavam divididos entre a alegria por ter experiências novas e a tristeza de ter de deixar minha família para traz. Pelo menos por dois anos.
Tudo já estava pronto. Júlia era rápida, já havia arrumado minhas malas comigo.
O penúltimo dia se passou calmo. Não fizemos nada de muito extravagante, simplesmente ficamos em casa, cantando, conversando, rindo...
- Eu vou sentir saudades! – Disse-me Dean, apertando meu corpo contra o seu.
- Eu sei. – Falei tristemente. – Eu também vou sentir saudades de você.
- Você vai me esperar? – Perguntou-me ele.
- Quem deveria fazer esta pergunta sou eu. – Sorri.
- Se você quiser que eu espere...
- É melhor resolvermos isto com o tempo. – Constatei.
- Também acho. – Concordou ele. – Agora vamos dormir.
- Amanhã é o meu ultimo dia. – Falei em meio a um bocejo.
- Será um de seus melhores dias... Eu prometo! – Disse ele, enquanto os meus olhos se fechavam.
Autor(a): Bia Vieira
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
- Acorde meu amor. – Dean passava suas mãos levemente em meu rosto. - Hum... – Resmunguei como sempre fazia pela manhã. - Você só sabe resmungar? – Dean falava próximo ao meu rosto, fazendo com que seu cheiro invadisse minha cabeça. - Uhum... - Então... Você continuará a dorm ...
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