Fanfic: Legado - Escuridão
- Acorde meu amor. – Dean passava suas mãos levemente em meu rosto.
- Hum... – Resmunguei como sempre fazia pela manhã.
- Você só sabe resmungar? – Dean falava próximo ao meu rosto, fazendo com que seu cheiro invadisse minha cabeça.
- Uhum...
- Então... Você continuará a dormir? – Seu tom era debochado.
Minha resposta foi o silêncio.
- Ok, eu vou levar este café da manhã de volta já que você não o quer! – Desta vez ele parecia decepcionado.
Forcei-me a abrir meus olhos. A minha frente pude ver que Dean segurava uma bandeja com um café da manhã farto.
Sentou-se a meu lado, colocando a bandeja na cama. No canto, pude ver uma rosa repousada, dando um toque de romantismo.
Enquanto eu admirava aquela linda refeição, ele me examinava, tentando ler minha reação. Tentando decifrar meus olhos ao olhá-lo.
Um sorriso surgiu em ambos os rostos ao mesmo tempo.
Dean pegou a rosa. Deu-lhe um cheiro de leve e oferecendo-me a rosa, disse:
- Uma rosa, para a mais bela rosa de todas. – Ele sorriu.
- O que foi isso? – Perguntei com uma careta estranha.
- Eu sei. Isto soou piegas. Mas não resisti... – Disse Dean, enquanto gargalhava.
Aquilo saiu um pouco estranho. Nunca fui muito de receber este tipo de cantada. Porém confesso que me derreti ao ouvir aquilo.
- Bem... Você gostou? – Dean sussurrou em meu ouvido.
- Claro! – Meu sorriso aumentou.
- Que bom! – Deu-me um beijo no rosto.
- O que faremos hoje? – Perguntei, enquanto pegava um morango.
- Muitas coisas. – Respondeu-me simplesmente.
- Não vai me contar?
- A resposta não é óbvia?
- Oh! Desculpe a vergonha que passei. – Falei, mostrando-me falsamente ofendida.
- Perdoada!
O café da manhã foi calmo. Conversamos sobre variados assuntos, porém não chegamos ao ponto principal. Como ficaríamos quando eu fosse embora?
Eu não queria terminar o que tínhamos. Porém não éramos namorados, não havia nada concreto entre nós. Vinha-me o medo de que neste meio tempo ele encontrasse alguém da qual gostasse mais, alguém que o fizesse mais feliz do que eu. Alguém mais normal, que não tivesse tantos problemas. Que quando estivesse ao seu lado não chamasse tanta atenção por ser diferente...
Pela tarde eu e Dean voamos.
Sorríamos enquanto sentia o vento bater em nosso rosto. O sol... Enquanto escutávamos as aves cantarem ao voarem conosco.
Passeávamos tranquilamente enquanto nossos corpos permaneciam abraçados.
Eu me contentava com aquilo. Podia não parecer muito aos olhos de outras pessoas. Mas para mim... Aquilo era uma das melhores coisas. Um abraço...
Ao anoitecer, reunimo-nos para um jantar, onde mais conversas aconteceram.
Meu tempo estava acabando...
Eu tinha noção de que estava exagerando um pouco, porém aquilo era involuntário.
Resolvi que naquele dia dormiria com meus três irmãos.
Dirigi-me ao quarto do Luca, mas ele não se encontrava lá.
A porta do closet estava aberta. Entrei! Lembrei-me que ele sempre guardava fotos de nossa família. Eu não tinha nenhuma para levar ao instituto, então tratei logo de procurá-las.
Havia muitas portas e gavetas ali...
- Luca... – Disse Júlia em tom de aviso.
- Júlia... – Luca imitou seu tom.
A porta do quarto foi fechada com força enquanto o peso de um corpo era posto contra ela. Provavelmente o corpo de Júlia.
Continuei a procurar as fotos normalmente, ou quase isso...
“Eu não devo... Não devo!” Pensou Luca. “Não devo... Porém não vou resistir... Eu não resistirei!” Meu irmão estava em um dilema interno.
Sorri. Eu não precisava presenciar nada, eu não queria... Eu estava torcendo.
Uma gaveta, duas... Ainda nada.
“Ai meu Deus!” Pensou Júlia enquanto as mãos de meu irmão passeavam por debaixo de sua blusa, mantendo contato direto com sua pele.
Gavetas e porta. Onde estavam aquelas malditas fotos? Malditas não, benditas!
“Como ele cheira bem!” Pensou Júlia.
“Que droga!” Resmungou meu irmão em pensamento.
Percebi que Júlia revirava levemente os olhos, em um sinal de prazer.
Que droga! Ecoei o pensamento de meu irmão.
Aquilo já tinha virado questão de honra. Eu necessitava encontrar aquelas fotos.
Mais portas e gavetas...
Dois corpos caíram na cama.
Os dois estavam em ebulição. Suas mentes e corpos queimavam de desesjo.
“Eu não devo...” Agora Júlia entrava em um dilema. “Não estou preparada para isso...”
Eu agradecia por aqueles pensamentos. Era sinal de que iriam parar a qualquer momento.
Enquanto isso, eu continuava a buscar as fotografias perdidas, cujos nomes já estavam variando para fotos lendárias. Eu sempre fora rápida na procura de objetos, porém agora... Bem, acho que minha demora se devia ao nervosismo de presenciar alguma cena indesejada. Indesejada pelo menos por mim.
“Eu não vou resistir. Eu não resisto mais! Dane-se!” Pensaram os dois simultaneamente.
Uma careta involuntária surgiu em meu rosto. Olhei-me no espelho, minha expressão mostrava susto. Nojo talvez... Vergonha.
Mas eu merda é essa? Pensei.
Meu corpo estava paralisado. Meus olhos arregalados. Minha boca estava aberta em um pequeno O.
Seus beijos eram intensos. Eu podia sentir tudo o que sentiam. Podia saber tudo o que pensavam.
Percebi que Júlia estava sem blusa, logo sendo seguida por Rafael.
Os movimentos voltaram a mim. Passei a procurar mais aceleradamente. À medida que os meus movimentos aceleravam, os deles também.
As mãos de ambos passeavam descontroladamente por seus corpos. Suas respirações soavam descontroladas. Seus corações martelavam em um ritmo desproporcional.
O que vou fazer? Pensei.
Deveria eu interromper? Ou eu deveria ficar em silêncio?
Não, eu não podia ficar ali.
Júlia arfava enquanto recebia beijos no pescoço e em outros lugares.
“Oh meu deus!” Pensou ela novamente.
Aproximei-me da porta do closet, dando de cara com a cena propriamente dita.
Eu sabia como estavam, mas apenas por pensamentos. Porém ver aquilo...
Luca estava debruçado sobre Júlia, prendendo-a pelas mãos e pés enquanto depositava beijos quentes em seu corpo. Por sua vez, Júlia estava de olhos fechados, sua boca levemente aberta ainda arfava enquanto ela se deixava deliciar pelo momento.
Pensei algumas vezes se os interrompia ou se saía rápida e silenciosamente.
Resolvi que atrapalharia, afinal, aquela era a minha ultima noite aqui, eu tinha de aproveitar. Já Júlia teria o tempo que quisesse.
Pigarreei inicialmente, porém eles estavam tão entretidos que não me escutaram.
Pigarreei uma segunda vez, um pouco mais alto e ainda nada.
- Olhe a pouca vergonha! – Exclamei. – Oh, meus olhos. Eu não posso ver esta cena! – Encenei, tapando meus olhos dramaticamente.
Seus rostos paralisaram de choque. Olharam para mim lentamente.
“O que ela faz aqui?” Perguntou-se Júlia.
“O que você faz aqui?” Perguntou-me Luca.
Ao voltarem a si, levantaram-se e vestiram suas roupas a uma velocidade inumana. Ficando de pé e me encarando...
- Bem... Eu vim aqui te procurar. – Expliquei para o Luca. – Lembrei-me que você guarda fotos nossas e resolvi procurá-las. Então você e Júlia entraram e...
- O que você viu? – Perguntou Júlia com um pouco de dificuldade. Seu rosto ficava vermelho a medida que falava.
- Preciso responder? – Sorri sem graça.
- Não! – Luca arregalou os olhos.
- Bem... – Falei passando meus braços por seus ombros. – Meus amores. Isto é incesto!
- Não! Isto não é incesto! – Corrigiu-me Luca. – Não somos parentes de sangue.
- É incesto do mesmo modo! – Sorri.
- Você também comete incesto. – Acusou-me Júlia.
- Mas é claro que... –Eu estava pronta para negar. – Que sim. – Concordei, desistindo de tentar argumentar.
- Claro que sim. – Disse Luca.
- Pois é! – Falei.
Ficamos algum tempo sem saber o que falar. Então resolvi que quebraria o silêncio.
- Então... Eu tinha vindo aqui para te convocar a dormir comigo.
- Mas... – Júlia tentou dizer.
- Nem mais, nem menos. Hoje é meu ultimo dia aqui. Você terá toda a eternidade... – Acusei-a.
- Você também terá a eternidade!
- Só daqui a dois anos. – Sorri tristemente.
- Tudo bem! Você venceu! – Júlia fez careta.
- Não havia uma competição para ser vencida! Eu tenho mais direito sobre ele. – Brinquei.
- Pois é...
- Vamos. – Puxei Luca pela mão. – Você dorme com algum ursinho de pelúcia hoje.
- Não! Eu também tenho irmãos. Bem, o Jason não. Não dormirei com ele.
- Sobram Dean e Lili.
- Dean... – Júlia fez sua escolha.
- Claro... – Falei com obviedade.
Júlia sorriu, acenando positivamente com a cabeça.
- Está bem! – Falei. – Amanhã terei de acordar cedo. Tchau!
Ainda puxando meu irmão pela mão, direcionamo-nos aos quartos do Rafa e Damon, convidando-os a dormir conosco.
Minha cama era grande o bastante para nós quatro.
- Então... – Disse Damon enquanto eu me deitava em cima dele. – Ansiosa por amanhã?
- Sim e não!
- Entendo! – Disse-me Luca enquanto se deitava no lado esquerdo da cama.
- Penso que você gostará! – Falou Rafael ao meu lado direito.
- Todos dizem isso, e eu só crio expectativas. – Sorri.
- Todos criam muitas expectativas. – Concordou Damon.
- Expectativas estas que nem sempre são atingidas. – Luca pensava alto.
- Esses são casos a parte. Em uma minoria. – Disse Damon.
- Eu não quero mais ir. – Fiz bico enquanto os abraçava.
- Você tem de ir. Dois anos passam rápido. – Rafael me contradisse.
- Não tão rápido assim.
- Você verá. Vai nos esquecer rapidinho! – Damon fez-se de coitado.
- Bebeu? Eu nunca esqueceria vocês! – Falei estranhamente. – Vocês são meus irmãos. Minha família. Não é fácil esquecer algo que está no meu sangue. Eu não os esqueceria nem se quisesse...
- Que bonitinho! – Luca falou debochadamente.
- Profundo. – Disse Rafa.
- Devo dormir. – Fiz careta. – Amanhã teremos de sair cedo.
- Sim. Concordou Damon. – Porém a viagem nem é tão longa assim.
- Posso pedir uma coisa? – Perguntei.
- Claro. – Responderam os três ao mesmo tempo.
-Vocês podem cantar para mim? – Meu tom era tímido.
Anos atrás, quando meus pais ainda eram vivos e eu uma criança, antes de dormir eles sempre cantavam uma música para nós. Esta música sempre ficou em nossas mentes e mesmo depois de crescidos continuávamos cantando-a.
- Aquela? – Perguntaram em coral novamente.
- Exatamente. – Sorri.
- Você não é mais um bebê! – Disse-me Damon.
- Ah! Vamos lá. Não é necessário que eu seja um bebê para ouvir uma música. – Resmunguei fazendo bico.
- Ele sabe, ele sabe... – Rafa falou.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, porém logo começaram a cantar a adorada canção. Cantavam em tom baixo, mas eu podia ouvi-los perfeitamente bem. Cantavam em harmonia, suas vozes se misturando e ao mesmo tempo destacando-se separadamente, cada um em seu tom.
Fechei meus olhos, deixando que aquela música me levasse para outro lugar, em outros tempos; tempos distintos. Tempos mais felizes que os atuais, cujos únicos e mais graves problemas eram considerados besteiras em comparação aos de hoje.
Naquela noite – minha ultima noite com eles –, eu dormi feliz. Um pequeno sorriso se formou em meu rosto minutos antes de pegar no sono. Dormi em cima de Damon, escutando seu coração e sua respiração tranqüilos, e de mãos dadas com Luca e Rafael. Tive sonhos tranqüilos e felizes, sonhos que há meses não vinham a mim.
- É hora de acordar! – Júlia gritou, entrando em um rompante pela porta.
- Menos! – Disse Rafa com a voz rouca.
- Mais! Muito mais! – Agora ela abria as janelas. – Kath, hoje é seu primeiro dia! Ânimo!
- Para que gritar? – Perguntou Damon.
- Eu quero que a Katrina se anime!
- Uhu... – Resmunguei o mais desanimadamente possível.
- Vamos lá! – Júlia gritava, tirando-nos as cobertas.
- Mas que porra é essa? – Questionou Luca.
- Acordem! – Falou ela, puxando-me pelos pés.
- Que droga! Você ama fazer isso. – Falei.
- Só assim você acorda. – Ela sorriu. – Vou te jogar na banheira com água gelada.
- Se você fizer isso, eu vou te bater! – Ameacei.
- Pode vir, você é destreinada. Eu ainda me garanto. Você só me dará medo daqui a alguns meses. – Seu tom era de convencimento.
- Eu posso ser destreinada. Usarei a força bruta então...
- Meninas! Sem brigas! – Interrompeu-nos Luca.
- Tudo bem! – Rendeu-se Júlia. – Mas, por favor, levantem-se.
- Ok. – Disse Rafael, levantando-se. – Você me venceu pelo cansaço.
- Isso! – Ela vibrou. – Agora você. Luca?
- Só mais cinco minutinhos.
- Só mais cinco segundos. – Ela sorriu. – Cinco. Quatro... – Júlia contava aceleradamente.
- Estou de pé! – Luca falava ainda grogue.
- Damon... – Ela avisou.
- Primeiro a Katrina. Ela está em cima de mim...
- Vamos! – Ela estapeou o meu traseiro.
- Tudo bem! – Gritei me levantando.
- Damon...
- Levantei. – Ele sorriu.
Apesar de a Júlia ser um pouco chata e irritante algumas vezes, eu gostava dela, afinal, irmãos são assim.
Tomei banho, me arrumei e fomos todos tomar café da manhã.
- Bom dia! – Falei.
- Bom dia. – Responderam-me Ryan, Beth, Jason e Lili em conjunto.
- Ansiosa? – Perguntou-me Jason.
- Um pouco!
- Só um pouco? – Ryan questionou minha resposta.
- Sim. Apenas um pouco.
O café se passou rápido. Chegou a hora de ir.
Direcionamo-nos a garagem, e lá, começaram parte as despedidas.
- Katrina, querida! – Disse-me Beth enquanto me dava um abraço. – Sentirei sua falta.
- Eu também sentirei a sua. – Falei emocionadamente.
- Espero que você seja muito bem sucedida nesta sua nova fase. Cuide-se. Sei que estará muito bem protegida no instituto.
- Sim. – Dei um beijo em seu rosto. – Cuide bem de meus irmãos. Por favor! – Pedi, sussurrando em seu ouvido.
- Cuidarei bem. – Prometeu-me ela.
- Ryan! – Falei sorrindo e me direcionando a ele.
- Minha querida! – Ele atendeu a meu chamado dando-me um abraço. – Cuide-se.
- Cuidarei-me.
- Assim espero. Mande lembranças a Daniel.
- Direi que você mandou lembranças.
- Pequena! – Peguei Lilian nos braços.
- Oi! – Disse ela.
- Você sentirá saudades de mim?
- Sim. – Ela sorria. – Por que você vai embora?
- Por que tenho de estudar.
- Quando você volta?
- Quando você menos esperar!
- Oh! – Ela parecia confusa.
- Beijinho! – Pedi, logo em seguida recebendo um beijo no rosto.
- Tchau! – Ela acenou para mim.
- Tchau! – Imitei seu gesto.
Entrei no carro, sentando-me entre Damon e Rafa, Dean dirigia e Luca estava no banco da frente enquanto Júlia e Jason subiam na moto.
Dei o ultimo adeus e então seguimos caminho.
Luca ligou o rádio, uma música conhecida por todos nós tocava. Após longos minutos Dean falou:
- Estamos quase lá!
- Concentrem-se quando chegarmos. – Falou Damon.
- O que está acontecendo? – Perguntei de modo assustado.
- Nós vamos para a cidade onde está o instituto!
- E por que esta concentração toda?
- Por que a cidade é na Alemanha! – Respondeu-me Luca.
- Eu sei! E...?
- E que não vamos de avião à Europa. Nem podemos ir de carro.
- Como vamos então? – A confusão me tomou.
- Nesta estrada, há um ponto no qual podemos abrir um portal! – Explicou-me Damon.
- O que? Portal? Como assim?
- Sim. Em um trecho, nós juntamos nossas energias e abrimos um portal que nos leva até lá. – Falou Rafa. – É quase o mesmo princípio de quando criamos a bola de energia.
- Nossa. Isto é novo para mim!
- Você ainda não viu nada meu amor! – Disse-me Dean.
- Tenho muito que aprender. – Concordei. – O que preciso fazer?
- Nada. Nós abriremos o portal.
- Então tá.
- Estamos quase lá! – Informou Luca.
- Agora... – Disse Dean.
Olhei-os. Seus olhos ficaram brancos ao mesmo tempo. Seus corpos irradiavam energia pura. Dean acelerava cada vez mais. Logo uma pequena luz branca começou a crescer a nossa frente. Expandindo-se à medida que nos aproximávamos.
E então adentramos em meio àquele grande círculo de luz que flutuava. De início a única coisa que consegui ver foi uma imensidão branca, porém, segundos depois, estávamos em outro lugar. Um lugar totalmente diferente do anterior.
Impressionei-me. Eu nunca havia passado por uma situação dessas antes.
- Meu Deus! – Falei admirada.
- Gostou?- Damon sorriu.
- Estou...
- Sem palavras. – Luca riu. – Dá para perceber.
- Sim! – Concordei.
O ronco da moto estava muito próximo, olhei pela janela e vi que eles andavam a nosso lado. Júlia bateu no vidro para que eu o abrisse.
- Sim? – Perguntei enquanto abria a janela.
- Gostou?
Por que ela estava e perguntando isso?
- Sim! – Respondi dando um olhar confuso.
- Não me olhe assim! – Falou ela, jogando as mãos para o alto.
- Tudo bem. – Sorri.
- Tchau! – Ela acenou enquanto Jason acelerava a moto.
- Corrida? – Perguntou Dean.
- Pode ser. – Jason falou.
Eles foram acelerando pelo resto do caminho. A competição foi acirrada, porém no fim deu empate.
Não prestei muita atenção, pois estava entretida olhando o caminho. Árvores e mais árvores. Após algum tempo vieram muros de pedra antiga e mais a frente estava o meu destino.
Um enorme prédio se projetava no horizonte. Seu aspecto era antigo, porém ao mesmo tempo tinha toques de modernidade. O enorme gramado que se estendia estava ocupado por uma massa de Electros e Spectros que transitavam. Percebi alguns rostos conhecidos, rostos estes que eu não via há algum tempo.
Estacionamos na frente do instituto e descemos do carro.
- Katrina? – Chamou-me Jason.
Eu estava em um tipo de transe enquanto olhava aquele mundo novo a minha volta.
- Sim?
- Vamos? – Perguntou Rafa.
- Para onde?
- Entrar! – Júlia respondeu.
- Pensei que vocês já iam embora.
- Vamos apresentá-la ao Daniel.
- Oh sim. Vamos! – Falei.
Andamos em meio às pessoas até que conseguimos entrar no prédio. O interior era totalmente moderno. Surpreendi-me ao passar pelas enormes portas de entrada.
Dentro, mais pessoas interagiam entre si. Uns subiam as escadas, outros, para facilitar talvez, subiam pelos elevadores.
Parei, analisando o local.
- Katrina... – Dean me puxou pela mão. – Ande. Você ainda terá muito tempo para explorar tudo isso.
- Eu estou andando. – Falei.
Subimos três lances de escadas e mais dois andares de elevador.
- Quantos andares? – Perguntei.
- Seis! – Damon sorria. – Este prédio tem seis andares.
Estávamos no quinto. Andamos por uma série de corredores até que chegamos a duas elegantes e grandes portas de aço onde havia inscrições que dizia: Coordenação.
A sala era agradável e elegante como tudo naquele lugar. Uma mulher estava sentada atrás de uma mesa. Provavelmente a secretária.
- Bom dia! – Ela sorria educadamente.
- Bom dia! – Respondemos em coro.
- O que desejam?
- Queremos falar com o Daniel.
- Oh! Lembro-me de vocês! Luca, Rafael, Damon, Dean, Jason e Júlia. – Ela falou, reconhecendo-os. – Mas você... Bem, eu não conheço vocês.
- Ela é nova. Hoje é seu primeiro dia. – Informou Dean.
- Bem vinda. – A mulher sorriu, estendendo-me a mão. – Muito prazer. Chamo-me Vanessa Jackes.
- Prazer. KatrinaRachmaninob. – Falei enquanto apertava sua mão.
- Venham. Vou levá-los até lá.
Fomos pela sala até uma porta menos, pela qual entramos em outro ambiente, Daniel estava sentado em uma poltrona, de costas para nós enquanto falava ao telefone.
- Tudo bem. Tchau! – Disse ele em um tom grave.
- Daniel? – Vanessa o chamou.
- Sim?
- Estas pessoas querem falar com você!
E então ele se virou. Ficando frente a frente conosco. Sua expressão passou da curiosidade por saber quem éramos para o reconhecimento e a felicidade em nos ver.
- Ora, ora. – Daniel falou.
Levantando-se rapidamente, cumprimentou todos.
- E você deve ser a famosa Katrina.
- Famosa? – Minha expressão era confusa.
- Ou quase isso! – Ele deu de ombros, sorrindo lindamente.
- Espero que não seja assim. – Falei comigo mesma.
- Seja muito bem vinda.
- Obrigada!
- Sentem-se! Vou explicar como serão os procedimentos.
Sentamos nas cadeiras, prestando atenção no que viria a seguir.
- Bem... – Iniciou ele. – Explicarei o básico, afinal, vou fazer as apresentações mais tarde. Você como uma Spectro, pode ser tanto rejeitada quanto incluída por seus colegas de estadia. Ainda mais sendo uma olhos negros. Você passará mais tempo aqui do que os outros. Nestes dois anos, ou mais, você só poderá ter contato com sua família quando se formar. Digo contato físico, se falar pessoalmente, porém conversas por internet e outros meios de comunicação estão liberados. Você ficará na ala dos Spectros, dormirá lá. Terá suas aulas e lições. O resto, eu explico mais tarde. – Concluiu, sorrindo.
- Tudo bem. – Dissemos juntos.
- Hoje iniciamos as primeiras atividades, nada que vá puxar muito. Aulas mesmo só começarão amanhã. Hoje é de reconhecimento, apresentações.
- Então... Vamos? – Perguntou Rafa.
- Claro. – Falamos.
- Tchau cara! – Luca falou, despedindo-se de Daniel.
Todos se despediram e então fomos andar pelo instituto. Eles não me mostraram muito, alegando que eu deveria descobrir as coisas sozinha.
Passamos a manhã conversando e ao meio dia todos começaram a se despedir de seus familiares.
- Daqui a alguns meses você nem se lembrará de seus pobres irmãos. – Disse-me Damon enquanto nós andávamos.
- Pare de falar isto! – Reclamei. – Querem que eu repita o que disse ontem?
- Não é necessário. – Falou Rafa.
- Assim espero!
- Acho que cada um terá um tempo com você. Não é? – Luca riu.
- Despedidas são difíceis.
- Tudo bem. Os outros têm de se despedir também! – Disse-nos Damon.
- Sentirei sua falta! – Falaram os três ao mesmo tempo, logo em seguida rindo.
- Também sentirei saudades de vocês! – Falei.
- Vem cá! – Luca me puxou para um abraço apertado, dando-me um beijo no rosto. – Eu te amo!
- Eu te amo! – Falei.
- Eu sei. – Respondeu ele, me soltando.
- Agora eu. – Rafa me abraçou, levantando-me do chão. – Eu te amo minha pequena!
- Eu também te amo. – Dei um beijo em seu pescoço.
- Com licença! – Damon nos separou. – Minha vez.
- Eu te amo! – Beijei seu rosto.
- Eu sei, eu sei. – Ele sorriu. Eu te amo!
Eles sorriram para mim. Seus rostos idênticos e lindos estavam tristes. Retribui o sorriso, porém com lágrimas nos olhos.
- Vamos. – Falei. – Ainda tenho que me despedir de três pessoas.
- Sim! Vamos. – Responderam em coro como bons gêmeos fazem.
- Jason! – Chamei, abrindo os braços.
- Katrina. – Ele respondeu a meu chamado, abraçando-me.
- Sentirei sua falta! – Sorri.
- Você fará falta. – Falou ele, dando-me um beijo na cabeça.
- Sai da frente! – Júlia interrompeu o momento.
- Seja educada.
- Não com você!
- Até disse eu sentirei falta. Droga!
- Eu sei! – Júlia me abraçou. – Sentirei saudade de te acordar cedo.
- Isso não eu farei questão de ter. – Sorri.
- Tudo bem, tudo bem! – Ela sorriu, beijando-me no rosto. – Agora vá se despedir dele. – Ela apontou para Dean.
- Com prazer.
- Vamos! – Disse-me ele.
Andamos em silêncio por alguns minutos. Estávamos indo a um lugar mais reservado...
Seus braços estavam a minha volta, eu não queria que ele me soltasse. A brisa leve nos tocava... Paramos à sombra de uma árvore enorme e linda.
- E então? – Perguntei.
- Então...
Por segundos não falamos nada. Apenas olhamo-nos nos olhos.
Outrora percebi que seus olhos variavam entre verde e azul. O tom que me encarava naquele momento era um azul que se comparava ao céu em transição da tarde para a noite. Um sorriso invadiu seu rosto, um lindo sorriso que fez com que ele apertasse os olhos.
Sua mão acariciou meu rosto. Fechei os olhos automaticamente, apreciando o momento.
Ainda de olhos fechados, senti sua outra mão pegar a minha, beijando-a e colocando-a em seu ombro. Em seguida, puxou-me para si. Aproximando-nos ao máximo em um abraço apertado.
- Bem... O que faremos? – Sussurrou ele em meu ouvido.
- Deveríamos interromper o que temos até que eu saia do instituto... – Respondi a sua pergunta com um aperto no coração.
- Concordo! – Disse ele, respirando profundamente.
- Eu sei que você não ficará sozinho durante este tempo, mas...
- E nem você!
- Muitas coisas podem acontecer... – Sussurrei. – Mas penso que não me aparecerá nada que se compare a você.
- Digo o mesmo...
- Então seremos amigos, até que possamos resolver as coisas por definitivo? – Perguntei.
- Acho quê sim. – Concordou ele após pensar por um momento.
Nossos ânimos não estavam para conversas. Eu, pelo menos, estava triste. Minha vontade era de chorar enquanto o abraçava. Meus sentimentos estavam começando a mudar. Eles escolheram um momento inoportuno para isso. Passou de um simples gostar... Agora este sentimento crescia...
- Amigos? – Propus, ainda falando em seu ouvido.
- Ainda não... – Ele sorriu.
- Por quê?
- Por que eu ainda não estou pronto...
Gargalhei baixo. Não entendi bem este não estar pronto dele.
Olhei em seu rosto.
Sorrindo levemente, ele encostou sua testa na minha. Nossas respirações fluíam em sincronia, fundindo-se em uma só.
Logo seus lábios tocaram os meus intensamente. Suas mãos apertaram-me ainda mais. Sua paixão, seu fervor, atenuavam ainda mais o gosto de despedida. Minhas mãos agarraram-se a ele, eu não queria soltá-lo. Seu cheiro invadia violentamente o meu corpo...
- Vamos? – Perguntei.
- Mais um momento. - Ele ainda me abraçava.
- Pode ser... – Sorri, concordando com ele.
- Mais um beijinho. – Ele sorriu, falando com um ar inocente.
- Tudo bem. Eu faço este sacrifício. – Concordei ironicamente.
E mais uma vez ele me beijou. Agora mais demoradamente do que da ultima vez.
- Quando você sair. Nós vamos começar tudo do zero. – Ele prometeu.
- Assim espero! – Falei. – Vamos?
- Claro. Agora vamos, daqui a pouca o instituto fecha as portas e eu serei expulso.
- Eu não deixo. – Falei enquanto andava.
- Antes...
Ele me parou. Ficando de frente para mim, Dean tirou um colar que carregava. Segurando-o na mão para que eu o visse, ele falou:
- Este colar é especial para mim! Quero que você fique!
- Mas ele é especial...
- Sim. Ele é especial, então nada mais justo do que dá-lo a uma pessoa mais do que especial. – Dean me interrompeu.
Por um momento fiquei sem palavras, porém logo agradeci.
- Obrigada! – Falei enquanto ele colocava o colar em meu pescoço.
- Por nada! – Respondeu-me, voltando a andar. – Este colar eu ganhei aqui, no instituto. Quando meus poderes se elevaram e eu consegui controlá-los.
- Nossa...
- Você vê?
- O conteúdo ou o continente?
- Os dois. – Ele riu.
- O que tem dentro? – Perguntei, erguendo o pingente de diamante que continha uma coisa brilhante dentro.
- Como você sabe, Spectros e Electros usam muito a energia.
- Sim.
- Essa energia, nossa luz, provém da nossa essência.
- Essência?
- Você já ouviu a expressão “... a essência do meu ser!”, certo?
- Sim!
- As pessoas falam muito isso, mas não fazem idéia... A essência, é como se fosse a nossa alma, o que nos matem vivos.
-Então você quer dizer...
- Quero dizer que essa coisa brilhante dentro do pingente é um pouco de minha essência...
- Won! – Exclamei. – Carregarei um pedaço de sua alma comigo.
- Você também ganhará um em breve.
- Quando voltar, eu te devolvo.
-Não é necessário!
- Veremos! – Falei, desafiando-o. – E o que acontece? Não morremos sem nossa essência?
- Sim. Mas apenas quando ela é retirada completamente. Se for apenas uma parte, ela se renovará.
- Entendi.
- Que demora a de vocês! – Luca nos surpreendeu.
- Nós demoramos? – Perguntei confusa.
- Sim. Responderam todos.
Não percebi que demorara. Para mim o tempo se passou tão rapidamente que nem pude me dar conta... Os minutos talvez andassem mais rápido quando eu estava com Dean, talvez o tempo não respeitasse o meu desejo de lentidão naquele momento.
- Como vocês podem perceber... – Rafael disse, mostrando-nos o local. – Todos já foram embora.
- Nossa! – Disse Dean, erguendo as sobrancelhas.
- Vamos? – Perguntou Jason.
- Claro! – Respondeu Luca.
- Estão ansiosos para se livrarem de mim, não é?
- Claro... – Júlia se interrompeu. – Que não!
- Mas tudo bem! – Falei. Daqui a dois anos estarei de volta!
- Nós sabemos... – Respondeu-me Damon enquanto nos direcionávamos para a saída.
- Vocês ainda estão aqui? – Daniel perguntou.
- Você sabe... Sempre somos os últimos a sair. – Dean sorriu.
- Claro, claro... – Disse Daniel, levantando as mãos.
- Mas não se preocupo, já estamos indo!
- Vamos. Acompanharei vocês até o carro. – Daniel se ofereceu, prestativo.
- Olhem! Katrina ganhou um novo adereço. – Júlia apontou para o colar que pendia em meu pescoço.
- Você não deixa nada passar. Não é? – Dean falou indignado.
- Claro que não! – Ela piscou.
- Claro que não. – Concordei tristemente.
- Enfim... – Disse Jason ao chegarmos ao carro. – Bem. Aqui estamos. Tchau Katrina.
- Até breve Jay. – Dei um ultimo abraço e então ele subiu na moto.
- Tchau querida rata de shopping. – Sorri, beijando o rosto de Júlia.
- Eu... – Ela parou, revirando os olhos. – Ah! Você não vai conseguir me irritas. Tchau, sua maluca. – Júlia retribuiu o gesto.
- Até mais, meu amor! – Luca me pegou pela mão, beijando-a.
- Até! – Beijei seu rosto.
- Oh! – Luca franziu o cenho, segurando ternamente meu rosto.
Estou chorando? Pensei.
Eu não tinha percebido que estava chorando. As lágrimas sorrateiras escaparam sem aviso prévio. Sem que eu as notasse ali.
- Não estou chorando! – Tentei disfarçar.
- Não chore. – Rafael falou. – Você verá o quão rápido se passam dois anos.
- Uhum... – Sorri tristemente.
- Até logo! – Continuou ele. – Não fique triste, minha pequena.
- Você não deve chorar. Não me faça chorar também! – Damon estava com olhos marejados.
- Estou tentando! – Minha voz saiu embargada.
- Não adianta tentar. Tens de conseguir. – Ele me abraçou.
- Temos que ir. – Disse Luca.
- Tudo bem.
Os abracei ao mesmo tempo. Um abraço em grupo, o ultimo abraço que daríamos...
Então eles entraram no carro, tentando sorrir, motivando-me.
- Tchau. – Dean me abraçou tão forte quanto meus irmãos.
- Até mais. – Dei um beijo no canto de sua boca. – Não se esqueça de mim, por favor.
- Não esquecerei... Peço o mesmo a você! – Sussurrou ele em meu ouvido.
E logo ele também entrou no carro, sorrindo assim como meus irmãos.
- Tchau Daniel. – Disseram todos ao mesmo tempo.
- Tchau... – Daniel respondeu, acenando.
E lá estavam eles, indo embora. Se afastando cada vez mais... Até que os perdi de vista.
Eu não podia acreditar! Eles foram embora.
Fiquei ali, observando-os partir. E mesmo depois, quando eu não os podia ver mais, eu continuei parada. Com a esperança de que eles voltassem... Eu sabia que ficar no instituto era para o meu bem. Mas a tristeza de estar ali, em meio a um mar de desconhecidos – com alguns conhecidos em meio – me tomava...
Senti mais algumas lágrimas escorrerem por meu rosto, até que elas passaram.
- Vamos? – Perguntou-me Daniel, tocando meus ombros de leve.
- Ah... – Arfei.
Eu não havia percebido que ele ainda estava ali.
- Vamos. – Concordei estranhamente.
- Não se preocupe! Tudo ficará bem! - Reconfortou-me ele, enquanto andávamos em direção ao prédio.
Autor(a): Bia Vieira
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
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- A propósito... – Falei. – Ryan mandou lembranças para você. - Oh. – Ele sorriu surpreso. – Depois eu falo com ele. - Tudo bem... – Sorri. - Você está triste! – Ele afirmou. - Sim. - Não fique. - É inevitável. - Sei bem como é... Ma ...
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