Fanfics Brasil - Capítulo 13 – Há males que vem para o bem Legado - Escuridão

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Capítulo: Capítulo 13 – Há males que vem para o bem

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Duas semanas haviam se passado desde a minha chegada ao instituto. As atividades tomavam um ar mais pesado. Muitos alunos começavam a faltar determinadas aulas por causa de suas transições. 


Alguns poderes se desenvolveram em mim. Como o Dionísio, agora eu podia hipnotizar pessoas e dar choques, assim como os Electros.


Hunter nos apresentara seus colegas de quarto. Josh Bergamo e Travis Curtarelli. Seus poderes eram respectivamente a invisibilidade e a projeção astral. Nosso grupo estava relativamente grande! Eu, em meio a seis homens, mas era deste jeito apenas quando estávamos na ala dos Spectros. Porém, juntando as duas alas nosso grupo continha treze componentes, contando comigo. Aquilo chamava um pouco de atenção, porém não estávamos ligando para aquilo.


Alguns alunos tentavam se aproximar, porém nunca conseguiam se entrosar em nosso meio. Talvez por sermos um pouco ameaçadores... 


Eu sempre me lembrava de minha família quando estava com todos. Discussões aconteciam, sorrisos, piadas idiotas... Aquilo me parecia uma família... E a saudade me apertava cada vez que isso acontecia. Mesmo depois dessas duas semanas, eu ainda não encontrara a oportunidade de falar com alguém de fora. A tristeza me invadia e eu me pegava acariciando inconscientemente o meu colar. O colar de Dean.


Dean. Que falta me faziam seus beijos. Seu toque, seu perfume. Poderia não parecer muito tempo para as outras pessoas, mas para mim, sim... 


Resolvi que ligaria para eles naquele dia. Conversaria com todos o mais calmamente possível. Contaria o que acontecera. Contaria sobre meus intensos e insistentes pesadelos. 


Sorri ao tomar esta decisão. 


Dirigi-me a meu quarto. Porém logo alguma coisa sugou minha energia, deixando-me tão cansando... Parecia que eu passara dias me exercitando. Meus olhos não conseguiam ficar abertos, por mais que eu lutasse. 


E lentamente perdi a consciência. Sem saber o que se passava. Cai aos pés da cama, e ali fiquei, sem poder me mover. 


- Boa noite minha querida. – Disse uma voz que eu infelizmente conhecia.


- Você aqui? – Falei ironicamente.


- Claro. Adoro atormentar os seus belos sonhos. 


- O que você quer, Dustin? – Falei entredentes.


- Dustin? – Ele se surpreendeu. - Você sabe o meu nome.


- Eu sei de muitas coisas.


- Não sabe não! – Seu tom era malévolo. – Não sabe o quão divertido foi te assistir enquanto você estava cega! 


Arfei com aquela afirmação.


- Você não gosta de lembrar aqueles tempos, não é? – Disse ele, em meio a uma gargalhada. – Eu particularmente adoro. Era tão divertido ver seu sofrimento, sua dor... É revigorante para mim. 


- Psicopata... – Acusei.


- Talvez um pouco... Mas sabe, os loucos são os mais divertidos... Por enquanto eu estou apenas brincando com seus sonhos... Por enquanto! Então não se preocupe. Não é nada pessoal! – O olhos pretos gargalhou.


- Obrigada por tentar amenizar a situação! – Meu tom era irônico. 


- Estarei sempre a disposição! – Ele sorriu. – Isto, claro, até eu matar você! 


- Você tem prazer em falar que quer e vai me matar, não é?


- Por suposto.


- Por que não vai atazanar os sonhos de outras pessoas?


- Por que sua cabecinha é mais interessante! 


- Claro! – Pausei, olhando aqueles olhos azuis que me encaravam. – Por que proteges meu futuro?


- Simplesmente não quero que aquele idiota do Daniel veja as surpresinhas que preparei e ainda estou preparando para o seu futuro. 


- Por quê? 


- Surpresa! – Dustin sorriu, arregalando os olhos. - Você é tão linda. Não queria fazer todas as coisas que tenho preparadas. Mas eu tenho de fazer! 


- Eu me pergunto todos os dias... Por que você está fazendo isso comigo?  


-É divertido. Tenha apenas isto em mente! 


- Claro...


- Sabe por que estás dormindo? 


- Para descansar? 


- Poderes novos, minha querida.


- Que poder? 


- Invisibilidade! – Dustin franziu o cenho. – Não era a minha intenção estragar a surpresa... Mas invisibilidade é um bom poder. 


- Pode ser! 


- Acredite em mim. Estar em vários lugares, sem que ninguém te perceba ali. – Ele falava sugestivamente.


- Isto quer dizer que você está aqui?


- Bem... Eu posso estar em muitos lugares ao mesmo tempo. Mesmo que não pessoalmente. Mas eu posso! – Dustin piscou. – Espero ansiosamente que você se desenvolva o mais rapidamente possível. Quero poder batalhar com você a um nível mais alto. Faz tempo que não encontro ninguém que esteja perto de mim... Nem um pouco.


- Bom para você! 


- Não. Isto é bom para você... Ou nem tanto! Você sabe disfarçar bem, sabia? - O olhos pretos sorria. – Eu posso sentir o medo emanar de você, porém, você consegue disfarçar razoavelmente bem! 


- Não tenho medo de você...


- Não minta para mim... – Ele falou em um tom brincalhão.


- Nunca! – Pisquei.


- Adoro as aulas de luta. Adam é um bom professor. Você se sai muito bem nesta disciplina! – Ele sorriu.


Minha expressão se enrijeceu. 


Como ele sabia como eram as aulas de luta? Bem, ele podia ter estudado com Adam há anos atrás. Mas por outro lado, ele estava vigiando meus dias e noites. Ele podia ser um de meus amigos mais próximos... Ele podia estar invisível, bem a meu lado. 


- Não se amedronte, minha querida! 


- Não me chame de minha querida! 


- Eu a chamo como quiser! – Seu tom se enrijeceu.


Algumas vezes, ou em todas, eu não conseguia entender o que Dustin queria me dizer. Suas frases não vinham acompanhadas de coerência. Pelo menos não para mim. 


Ele podia parecer simpático e uma boa pessoa. Mas eu sabia quem ele era realmente, mesmo conhecendo-o tão pouco, eu sabia! 


- Não se assuste... – Ele amenizou seu tom. 


- Você não pode simplesmente ir embora? 


- Poderia. Mas gosto do prazer de apreciar sua companhia. 


- Acho que você não tem nada melhor a fazer! 


- Acredite. Eu tenho coisas muito melhores... Bem. Na verdade eu já estou indo. Mas eu volto! Não se preocupe. – Ele sorriu, arqueando a sobrancelha. 


- Tchau. – Imitei sua expressão.


E então ele foi andando pelo escuro. 


Ao falar que não sentia medo, eu não mentira afinal. Ele só estava presente em sonhos, não poderia me fazer um mal real.


 


 


- Katrina? – Chamou-me Hunter.


- O que? – Não consegui abrir meus olhos o suficiente para vê-lo com clareza. Eu estava desnorteada.


- Até que enfim você acordou! – Josh sorriu! – Travis fez careta.


- Não exagere! – Sorri, porém logo minha expressão voltou a seriedade. – Por quando tempo dormi?


- Por uma semana e meia! – Hunter sorriu.


- Você dorme muito! – Zayn sorriu.


ㅤEu não percebera sua presença ali. Enquanto Hunter, Josh e Travis estavam em um lado de minha cama, Zayn, Dionísio e PH estavam do outro.


- Tudo isso? – Minha voz saiu exaltada. 


- Sim. – Responderam todos em coro.


- Não me pareceu tanto tempo assim! – Minha mente estava confusa.


- Mas foi! – Dionísio sorriu.


- O que eu perdi? 


- Não muito. Apenas algumas aulas. – PH falou, brincalhão como sempre.


- E suas asas? – Perguntei a Dionísio.


- Oh. Elas são retráteis. Aprendi a controla-las. Só saem quando eu quero!


- Quando isso aconteceu?


- Há uma semana! – Dionísio piscou.


- Claro! – Falei com obviedade. – Não dói mais?


- Não! Só doeu da primeira vez.


- E então? Vai ficar aí deitada mesmo? – Josh sorriu.


- Não! – Falei, levantando-me imediatamente.


- Que horas?


- Nove da manhã! – Respondeu-me Travis.


- Que dia?


- Sábado! Dia de lazer! – Zayn comemorou.


- E o que vocês vão fazer hoje? 


- Não sabemos ainda! – Hunter sentou-se em minha cama. – Vadiar talvez.


- Eu vou falar com minha família! Espero que nada me atrapalhe desta vez.


- Eu quero ver os seus irmãos! – Hunter parecia ansioso.


- Claro, claro! – Sorri.


Entrei no banheiro.


- Você ainda vai comer! – Disse-me Josh.


- Claro! E vocês? Já comeram?


- Sim! – Falaram em coro.


- O café da manhã é servido até mais tarde nos finais de semana. Lembra-se? – Dionísio falou.


- Oh sim! 


Tomei um banho demorado. Eu não conseguia acreditar que dormira por uma semana e meia. Eu não acreditava...


Veio-me à cabeça que eu passara este tempo conversando com o olhos pretos, porém era mais provável que eu não me lembrasse... 


Era bom sentir a água fria escorrer por meu corpo, levando todas as minhas pequenas preocupações embora.


- O que ainda estão fazendo aqui? – Perguntei ao sair do banho.


Assustei-me ao perceber que eles ainda estavam em meu quarto.


Hunter, ainda na cama, estava deitado olhando para cima... Olhando para o nada. Zayn, ao canto do quarto, mexia em meu computador. Josh pegara meu violão e dedilhava algo. Travis e PH folheavam livros enquanto Dionísio lia uma partitura incompleta.


Estavam todos muito entretidos em suas atividades.


- Por que vocês estão aqui? – Perguntei em um tom mais alto.


- Queremos ver você trocar de roupa! – Responderam em coro como faziam algumas vezes. 


- Por favor, meninos. – Pedi, franzindo o cenho.


- O que? – Perguntou-me Dionísio com o tom pensativo.


- Deem licença! 


- Não podemos ficar aqui? - PH falou maliciosamente. 


- Claro que não, idiota. – Minha expressão enrijeceu.


- Não fique assim... Nós já estamos saindo! – Josh parecia amedrontado.


- Tchau! – Arregalei meus olhos.


Largando minhas coisas, eles foram saindo de meu quarto, um por um, lentamente. 


Troquei-me e sai imediatamente. Meu estômago tomava vida própria... 


E lá estavam eles, encostados em minha porta, esperando-me. 


- O que ainda fazem aqui? – Perguntei, cansada daquela pergunta. 


- Esperando você! – Hunter sorriu.


- Vamos. – Falei, andando apressadamente. 


- Claro! 


- Vocês são o que? Meus seguranças? 


- Não.


- Pensei que fossem! 


Andei pelos corredores, sendo cumprimentada por alguns Spectros que passavam por mim. Tomei meu café da manhã e logo voltei a meu quarto, sempre acompanhada pelos seis.


- Por favor. Meu quarto... – Desenhei o arco da porta. – Não ultrapassem! – Sorri.


- Mas... – PH tentou dizer.


- Sem mas... Quero ficar em meu quarto! – Arregalei meus olhos. – Sozinha! – Falei vagarosamente, articulando cada sílaba.


- Tudo bem... – Disseram todos.


- Tchau... – Sussurrei sorrindo e acenando.


- Eu quero falar com seus irmãos... – Hunter falou.


- Em outra hora, você tem seu computador...  – Disse por fim, fechando a porta. Respirei fundo, me encostando na mesma.


"Enfim só", pensei.


- Katrina? – Chamou-me Luca pela tela do computador.


- Meu amor! – Sorri instantaneamente, falando um pouco mais alto do que o normal.


- Como vai você? Eu preciso saber da sua vida! – Rafael cantarolou, aparecendo logo atrás.


- Minha querida! – Damon sorriu, seu olhar era admirado.


- Como vocês estão? – Sorri.


Eles estavam lindos como sempre. Era bom vê-los novamente. Suas linhas bem traçadas, seus olhos variando entre verde e azul. Aqueles sorrisos idênticos.  


- Estamos bem! – Falaram em uníssono. – E você?


- Eu estou bem! – Sorri.


"Como é bom ouvir estas vozes novamente", pensei.


- Como vão as coisas aí? – Perguntou-me Luca.


- Vão bem.


- Soube que você dormiu por uma semana e meia! – Rafael falou.


- Sim! – Sorri. – É bom dormir! 


- Quais são os seus novos poderes? – Damon piscou.


- Vocês perguntam como se não soubessem! 


- Sabemos. Mas queremos saber de você! – Rafael acenava positivamente com a cabeça. 


- Bem! Eu atravesso coisas. Eu dormi por este tempo e ainda não sei qual poder vem a seguir! 


Na verdade eu tinha uma noção de qual dom viria, mas e não diria. O que eles achariam se eu dissesse que eu ficaria invisível? E que eu sabia disso, pois o olhos pretos, chamado Dustin, me contara em meus sonhos? 


Eles me chamariam de louca. Ou talvez, não! 


- E você já fez muitas amizades? – Luca estava ansioso pela resposta.


- Sim.


- Garotas? Eu não quero que você ande apenas com homens.


- Sim, garotas! Mas principalmente garotos.


- Algum conhecido? – Damon sorriu.


- Zayn e sua irmã Victória...


- Os da festa? – Rafa piscou.


- Sim. – Sorri. – E Hunter.


- Hunter? – Perguntaram, elevando o tom de voz.


- Sim. Hunter! – Afirmei.


- Caramba! Faz tempo que não vemos Hunter! 


- Ele queria falar com vocês.


- E por que não está falando? – Perguntou-me Damon.


- Pois eu o mandei para o quarto dele! 


- Chama o cara! – Disse Luca.


- Eu queria ficar sozinha! 


- Só um pouco, Katrina! 


- Está bem... Vou chama-lo. – Revirei os olhos. – Parece até que nunca mais vão se falar. 


- Não fique assim! Faz tempo que não falamos com ele.


- Esperem que vou chama-lo. – Falei, levantando-me.


- Katrina? – Gritou Damon, fazendo com que eu voltasse.


- Sim? – Respondi a seu chamado, aparecendo diante do computador.


- Os sonhos? – Suas expressões ficaram sérias.


- O que tem? 


- Ele ainda está te atormentando?


Meu rosto enrijeceu assim como o deles. Eu não diria nada, mas como eles perguntaram, eu não mentiria.


- Sim! 


- Que ele faz em seus sonhos? – Perguntou-me Luca.


- Conversa comigo, basicamente. – Sorri.


- Por favor. Se ocorrer algo, conte ao Daniel. Não hesite.  – Damon recomendou.


- Claro. – Falei seriamente. Posso chamar Hunter?


- Sim. 


Levantei-me novamente, saindo do quarto e batendo na porta a minha frente.


- Hunter? – Falei impacientemente.


- O que deseja? – Disse Josh, em um tom formal, enquanto abria a porta.


- Necessito que Hunter compareça a meu quarto, agora! – Pisquei.


- Hunter? – Josh gritou. – Katrina quer você no quarto dela. Agora! 


- Opa! – Travis apareceu. – Quer me levar não?


- Não! 


- Caramba! – Seu tom era triste.


- Não fique assim! Neste momento, só o Hunter pode e sabe como resolver o meu problema. 


- Hunter! Ela quer seu corpo nu! – Josh gritou.


- Opa! – Hunter sorriu.


- Vamos logo. Pare de enrolar! 


- Claro. – Hunter piscou.


Puxei-o pela mão. Josh e Travis ficaram nos olhando enquanto entrávamos em meu quarto. Sorri maliciosamente para eles, fechando a porta logo em seguida.


- Tem gente querendo te ver! – Pisquei.


- Eu te avisei.


- Sim. Você falou.


- E aí? – Hunter sorriu, acenando animadamente para meus irmãos.


- Caramba! Você mudou. Cresceu Sei lá que merda foi essa. – Rafael se surpreendeu. – Mas continua feio. – Ele gargalhou.


- Você não pode nem falar! – Hunter retrucou. 


- Posso sim! Eu sou lindo.


- Nós somos! – Damon concordou.


- E como estão? 


- Estamos bem! – Disseram eles.


- O que fazem da vida? – Hunter sorriu.


- Eles vadiam! – Gargalhei.


- Nós fazemos coisas importantes.


- Como salvar o mundo das forças do mal? – Perguntei debochadamente.


- Claro! – Falaram seriamente, rindo em seguida.


- Legal! – Hunter aprovou, revirando os olhos.


- E seus poderes, Hunter? – Luca perguntou.


- Eu sou o Wolverine. – Disse Hunter de um modo animalesco, mostrando suas garras.


- Cara! – Damon falou, admirado.


Os quatro passaram algum tempo conversando. 


Fazia tempo que eles não se viam. Tinham uma quantidade considerável de assuntos. Além de ser meu ex-namorado, Hunter era um dos melhores amigos dos meus irmãos.


Deixei-os falando, porém logo eu os interromperia, ainda tinham seis pessoas com as quais queria falar.


- Cara! As atividades estão começando a ficar pesadas. – Hunter falou.


- Ainda vão piorar. – Damon fez careta.


- Sim. Ainda vão piorar. – Concordei ironicamente. – Mas agora e quero falar com os outros.


- Não basta conversar conosco? – Perguntou-me Rafael.


- Claro que não! Eu tenho de falar com todos! 


- Tudo bem! Vou chamá-los.


- E você? – Dirigi-me a Hunter. – Vai ficar aqui? 


- Só se você permitir! – Hunter piscou, sorrindo torto.


- Hunter, Hunter... – Sorri. – Eu já não caio mais em seus encantos.


Hunter estava de pé, sorrindo. Levantei, aproximando-me lentamente. Coloquei minhas mãos em seu peitoral... Aproximando-me de seu rosto desta vez.


Encarei seus olhos azuis que me olhavam com desejo, alternando entre meus olhos e meus lábios. Empurrei-o. Hunter, por sua vez, andou de costas, até que estivesse encostado na porta.


Passei meu nariz em sua pele, passeando por seu rosto mandíbula, pescoço. Sentindo seu cheiro.


Sua respiração se acelerava a cada instante.


- Agora é você que fica sob meu efeito! – Falei. Eu estava perto o bastante para que nossos lábios se tocassem.


Sorri mais uma vez, vendo o efeito que eu exercia sobre ele. E ficando extremamente satisfeita por saber que ele não tinha mais o mesmo efeito sobre mim.


- Agora... – Pausei, rosando nossos narizes. – Por favor. Vá para seu quarto.


Sua expressão era confusa. Hunter não se moveu. Me parecia em choque...


- Vejo que você está... Anestesiado? Este seria o termo certo? – Meu tom era debochado, mas ao mesmo tempo sedutor.


Ele ainda não me respondeu.


Puxei-o pela camiseta que usava. Abrindo a porta e empurrando-o para fora. 


Hunter continuou ali, parado por um minuto ou dois, porém, quando voltou a si, foi para se quarto.


- Katrina? – Perguntou Beth.


- Beth! – Falei, correndo de volta para o computador.


- Olá minha querida. – Disse ela sorrindo.


- Ryan! – Sorri.


- Olá Katrina! – Ryan falou, retribuindo o sorriso.


- Oi! 


- Como vão as coisas por aí? – Perguntou-me Beth.


- Bem! – Sorri. – Na medida do possível. – Acrescentei em tom baixo.


- Entendo… - O tom de Ryan era compreencivo.


- Tem gente aqui querendo falar com você! – Beth arregalou os olhos, observando algo abaixo dela. 


Sorrindo, Beth suspendeu Lili, que por sua, acenou, enquanto sorria para mim.


- Katrina! – Lilian gritou animadamente.


- Olá pequena... – Retribui o sorriso.


- Você está bem? – Perguntou-me ela.


- Sim! 


- Como vai o Daniel? 


- Vai bem Ryan! E como vão as coisas por aí...


- Bem... – Ryan piscou. 


- Ei, cara... Você não sabe quem está no instituto com a Katrina! – Esta era a voz do Luca falando ao fundo, não pude vê-lo, apenas ouvi-lo.


- Quem? – Dean perguntou.


- Hunter!


- Hunter? – A voz do Dean era alterada, imaginei como estaria sua expressão.


- Sim, Hunter.


Como Dean sabia quem era Hunter?


- E os seus sonhos? – Perguntou-me Beth. 


- Continuam... – Interrompi-me. – Todos sabem sobre isso? 


- Claro. Sabemos sobre tudo o que acontece aí! – Ryan afirmou.


- Legal... – Falei tristemente.


- Quase tudo. – Beth o corrigiu.


- Claro! – Revirei os olhos.


Conversei por mais um bom tempo com eles. Não havia nada de muito novo ou interessante que eles pudessem me contar.


Contei o que me acontecia, e eles ouviram pacientemente, apenas opinando quando eu havia terminado. 


Logo após os três, vieram Júlia e Jason. Sempre discutindo, porém, rindo um do outro. Júlia estava com o cabelo mais comprido, mas sempre com suas mechas verdes.  


- Sabe Katrina, eu bem que queria estar aí com você! – Júlia pensou alto. 


- Por quê? – Perguntei confusa.


- Soube que o nível está alto este ano. – Ela piscou. 


- Oh sim! – Sorri, retribuindo o gesto.


- Júlia! – Jason reprovou. – Seja menos tarada!


- Eu não sou tarada! 


- Luca! – Jason gritou.


- Oi. – Luca respondeu do outro cômodo.


- Toma conta da sua mina tarada! – Jason gargalhou desta vez.


- Por quê? – Meu irmão perguntou.


- Nada... – Júlia respondeu, estapeando Jason. – Deixe de ser idiota. Argh!


- Eu não fiz nada demais! – Jason revirou os olhos.


- Ok. – Júlia fez careta, batendo mais uma vez na cabeça de seu irmão.


E a partir dali, se iniciou mais uma discussão. Olhei-os enquanto ria. 


Aquilo me fazia falta.


"Só falta mais um", pensei.


- Olá... – Dean sorriu, encarando-me pela câmera. 


- Oi... – Sorri. 


Ficamos alguns minutos sem nada a falar. Apenas nos olhando. Observando as mudanças. 


Dean não mudara muito. Seu cabelo, assim como o de sua irmã, estava mais comprido. Sua barba estava por fazer. Seus olhos eram de um tom azul claro. Seu sorriso, lindo como sempre, iluminava seu rosto.


 - Então… - Pausei, respirando fundo. – Como vai você?


- Muito bem! – Dean sorriu. – E você?


- Bem! – Acenei positivamente com a cabeça. – Eu estou respondendo muito a esta pergunta hoje. – Gargalhei.


- Isto prova que tem muitas pessoas que se preocupam com você! – Dean piscou.


- Claro que sim! – Concordei.


- Tem alguma novidade por aí? – Perguntou-me.


- Creio que você, assim como todos aí, sabem o que se passa.


- Claro que sim… - Dean fez careta.


- Então não tenho nada a contar. Já você… – Falei ironicamente.


- Eu também não tenho nada! 


- Sei… 


- Não faço nada! Apenas vou à festas e a reuniões…


- Que tipo de reuniões?


- Reuniões do instituto! 


- Você vem aqui? – Arregalei meus olhos.


- Sim. – Ele piscou.


- E você não tem coragem de me visitar? – A incredulidade me tomou.


- Eu visitei… Porém apenas quando você dormia!


Meus olhos se apertaram. Eu não acreditava naquilo. 


- Por que você não me visitou quando eu estava acordada? 


- Por que não é permitido os alunos terem contato com pessoas de fora! 


- Oh, claro. E os de fora podem conviver com as pessoas de dentro! – Ergui as mãos enquanto falar ironicamente.


- Exatamente isso! – Dean se divertia com minha fúria.


- Que merda! 


- Mas você está linda... 


- Legal! – Meu tom era sarcástico.


- Você não está feliz com isso, não é? 


- Pareço feliz?


- Não muito. 


- É por que não estou! 


- Mas fique feliz. Veremos-nos quando você menos imaginar! – Seu sorriso era sugestivo.


- Que bom... 


- Não fique assim! 


- Me processe! 


- Você fica linda quando está brava.


- Bom para mim! 


- Mas não para mim, pois quanto mais linda você fica, mais homens se interessam por você! 


- Legal! – Arregalei meus olhos, enquanto o via sorrir. 


- Katrina? – Hunter gritou enquanto batia na porta de meu quarto.


- O que é? – Meu tom era áspero. Eu gostava muito do Hunter, mas as vezes ele sabia ser irritante.


- Quem bate? – Perguntou-me Dean. 


- Hunter! – Sorri ao ver sua expressão enrijecer.


- Legal! – Agora ele estava irônico.


- Katrina? – Hunter era insistente e impaciente.


Após alguns segundos, ele abriu a porta por não escutar uma resposta minha. Analisou-me, sorrindo vitoriosamente ao ver minha expressão incrédula.


- O que você quer? – Articulei cada sílaba, impondo minha pequena fúria.


- Quero que você venha se divertir conosco. Estás aí desde aquela hora! Já é tarde, está quase na hora do almoço.


- E daí?


- Katrina, por favor... Vamos lá.


- É, Katrina. Vai lá... – Dean piscou.


- Com quem você está falando? – Hunter, curioso como sempre, foi até o computador e olhou Dean.


Encararam-se por um momento. 


"Estão se analisando?" Pensei. Sim. Eles estavam se analisando. 


Suas expressões eram idênticas. Olhos serrados, bocas em uma linha reta, sobrancelha erguida...


Instintivamente um sorriso se formou em minha face e logo se transformou em uma gargalhada barulhenta. 


Eu odiava quando algo assim acontecia. Gargalhadas estrondosas me vinham em horas erradas. Mas eu me acostumara.


Continuei a rir... Os dois me encaram. Mas aquilo não me importou. Minha barriga doía.


- Do que você está rindo? – Perguntou-me Júlia, aparecendo ao lado do Dean.


- Das saudações dos rapazes. – Gargalhei.


- Oh sim. Sempre tão amigáveis. – Júlia concordou, sorrindo.


- Sempre.


- Não achei graça nenhuma! – Falaram ainda em coro.


- Mas eu achei! – Sorri.


- Katrina? Quem é o seu amigo? – Perguntou Júlia, mostrando interesse.


- Este é o Hunter. Hunter, esta é a Júlia! – Apresentei-os enquanto eles sorriam um para o outro.


- Olá! – Disse Júlia.


- Olá Júlia! – Falou Hunter.


- Eu disse! – Jason gritou, assustando a todos por aparecer de repente. 


- O que? – Arregalei meus olhos. 


- A Júlia é tarada!


- Estou apenas fazendo um novo amigo! – Ela falou em meio a um rosnado baixo.


- Amigo... Sei! – Jason serrou os olhos.


- Katrina? Você vem? – Questionou-me Hunter enquanto os irmão discutiam mais uma vez.


- Mais tarde eu vou Hunter!


- Nós vamos jogar!


- Mais tarde eu jogo com vocês! 


- Katrina? – Hunter fez bico.


- Hunter! Não faça essa cara! 


Levantei, encarando-o. Sorri ao ver sua expressão suplicante. 


Estendi a mão para o garoto louro a minha frente. Ele a pegou e sorriu ao pensar que eu sairia com ele.


Direcionei-me à porta, parando e empurrando-o para fora de meu quarto.


- Veremos-nos daqui a pouco. Com licença! – Pisquei.


- Eu não acredito. Pensei que você viria comigo! – Hunter estava decepcionado.


- Mais tarde Hunter... – Falei diminuindo meu tom e fechando a porta.


Desta vez não pensei duas vezes antes de trancá-la.


Ao voltar para o computador, Júlia e Jason ainda discutiam, ou melhor, rolavam no chão, estapeando-se.


- Meu Deus... – Desaprovei a atitude enquanto Dean retomava seu posto à frente da tela.


- Isso é que é amor! – Afirmou ele.


- Puro amor fraterno. – Concordei.


- Hunter... – Dean falou o nome dele ironicamente.


- O que tem Hunter?


- Nada... – Ele sorria.


- Sei! – Sorri.


- Não, mas tudo bem! 


- Ah! Eu não acredito! Você está com ciúmes de Hunter?


- Eu? Imagina... – Dean revirou os olhos.


- Oh! Que lindo. Você está com ciúmes!


- Não tenho ciúmes de você! 


- Assuma.


- Não! – Dean assemelhava-se a uma criança fazendo birra. Aquela era uma linda cena.


Encarei-o por alguns segundos, induzindo-o a falar. Ele, por sua vez, após tentar manter a seriedade, explodiu.


- Tudo bem! Eu estou com ciúmes! E daí? – A presunção o tomou. – Me processe.


- Claro que não! 


- Mas tudo bem... Você é uma garota livre... Pode fazer o que quiser aí dentro. 


- Eu sei...


- E você é linda, pode ter quem quiser. E dois anos são muita coisa. – Interrompeu-me, falando em um ritmo acelerado. 


- Dean...


- Tudo bem Katrina! Não precisa falar nada.


- Cale-se! – Aumentei meu tom de voz.


Dean parou instantaneamente, arregalando os olhos de susto. Fazendo-me rir com sua expressão.


- Não é necessário este ciúme de Hunter. Ele é meu ex-namorado! Passado... Você é meu futuro. 


- E o presente?


- O presente não vem ao caso. Pelo menos não por agora!


- Entendo... – Seu tom era compreensivo.


- Que bom que você entende...


- Sim. Tudo pode acontecer!


Após conversar com cada um. Falei com todos ao mesmo tempo. Aquilo se tornara uma pequena e desagradável confusão. Todos tentavam falar ao mesmo tempo. 


Eu já estava ali há muito tempo. Resolvi desligar e fazer algo.


Despedi-me um pouco demoradamente, mas foi uma boa despedida – geralmente estas não são boas. Porém, para um até logo, estava ótimo.


Antes de desligar. Olhei-os por um longo tempo, sorrindo.


- Ela saiu da caverna! – Disse Josh.


- O que você está insinuando com isso? – Minhas sobrancelhas ergueram-se involuntariamente.


- Nada não! – Ele sorriu, expressando uma falsa inocência.


- Eu acho que sei o que ele quis dizer. – Travis revirou os olhos.


- Também sei... – Pisquei. – O que você estão fazendo aqui?


- Estamos indo jogar.


- Jogar o que? – Perguntei.


- Basquete! – Disse-me Dionísio enquanto saía de seu quarto.


- Oh, claro. – Revirei os olhos.


- Eu vou nadar!- Falei.


- Não vai jogar conosco? – Dionísio estava confuso.


- Não.


- Por quê?


- Penso eu que os garotos não deixariam!


- Vamos perguntar! – Josh sorriu.


- Eu não quero também... Não estou com paciência para jogar.


- Então tudo bem! – Travis deu de ombros. – Até daqui a pouco!


E então eles saíram enquanto eu voltava a meu quarto para trocar de roupas. 


Por cima da roupa de banho, vesti uma blusa grande o suficiente para cobrir-me.


Os corredores estavam vazios. Provavelmente todos estavam a jogar ou assistindo...


Ao chegar na piscina, pude comprovar minha hipótese. Estavam lá quase todos os Spectros. Alguns assistiam, amontoando-se ao redor da quadra. Outros jogavam, dividindo-se em dois times... Os com camisa e os sem. Todos aqueles homens chamavam atenção, eu era bastante controlada, porém não de ferro.


A quadra era um pouco afastada da piscina. Porém não tanto.


Tirei a blusa que me cobria. Ouvi alguns suspiros baixos e atenção ser voltada para mim. E então, sem olhar para trás, eu mergulhei.


Senti a água fria envolver meu corpo enquanto eu afundava cada vez mais. Meus ouvidos sendo inundados... 


Era boa a sensação que me vinha. Passei algum tempo sentada no fundo da piscina. Pensando. Eu tinha um bom fôlego, podia ficar ali por um bom tempo. 


Olhei a meu redor. Tudo era azul devido ao azulejo que adornava as paredes da piscina.


Voltei a superfície, assustando-me ao dar de cara com Hunter.


- Caramba Katrina. – Seu tom era preocupado. – Me assustei agora. Você passou muito tempo aí em baixo.


- Não é necessária esta preocupação toda, Hunter! – Revirei os olhos.


- Oh! Me processe por me preocupar com você! 


- Ok, Hunter... – Revirei os olhos mais uma vez. – Tudo bem. Você só estava preocupado!


- Sim. Eu fiquei preocupado. – Seus olhos se arregalaram ao olhar a piscina. – Katrina? – As palavras saíam com dificuldade. – Katrina! – Hunter apontou para a água.


- O que? O que? – Olhei a meu redor, sem nada ver.


- Katrina!


- Hunter... – Gritei. – Fale logo!


- Olha. A piscina está ficando vermelha!


- O que? – Meu tom se elevou ainda mais enquanto eu olhava para baixo. 


A piscina a meu redor tomava uma coloração vermelha.


Mas que merda, pensei.


- Vamos, Katrina. Saia daí.


Estendi as mãos para cima. Hunter as pegou, puxando-me instantaneamente.


- Katrina? – Perguntou-me ele. Confuso.


- O que foi? – Sua confusão passou para mim. 


- Eu pensei que...


- O que você pensou? 


- Eu pensei que...


Não o deixei terminar aquela frase. Não por que não quis que ele falasse. Mas um grito me escapou, chamando a atenção de todos para mim.


Era um grito de dor. Meu corpo se curvou para frente enquanto senti a dor tomar conta. Era como se uma faca estivesse rasgando minhas costas lentamente, como se cortasse repetidas vezes o mesmo lugar. 


- Droga! – Hunter falou.


- O que aconteceu? – Perguntou Zayn, assustado.


Percebi que todos os Spectros que anteriormente estavam na quadra, migraram para onde eu estava. Estavam todos a meu redor. 


Minha respiração acelerava-se a cada instante. Minhas mãos tentavam agarrar-se ao chão. Apertei meus olhos com força enquanto mais um grito me escapava.


- São asas! – Afirmou Dionísio com confiança e sabedoria.


Ele devia estar certo, afinal, já havia passado por isso.


A cada segunda a dor aumentava. Eu não conseguia pensar direito naquele momento.


Pude sentir o sangue quente escorrendo por minhas costas. 


- Que droga! – Hunter falou novamente. – Alguém poderia chamar o Daniel, ou o Adam... Ou alguém?


- Eu vou! – Gritou um garoto ao longe.


- Vamos leva-la para dentro! – Disse PH. – Peguem-na pelos braços e pernas, assim não tocamos nas feridas. 


Mãos me pegaram enquanto eu me debruçava sobre mim mesma. 


- Para onde a levaremos?


- Deixem-na aí mesmo! – Disse Daniel. – Coloquem-na no chão novamente. Devagar por favor.


- Asas? – Perguntou Adam.


- Sim! – Respondeu Daniel.


- Não está demorando um pouco? – Questionou Dionísio. – As minhas nasceram mais rápido.


- Que droga. Ela não para de gritar. – O tom de Hunter ainda era de preocupação.


Que droga, pensei, eu ainda estou gritando?


Eu não percebi que ainda gritava de dor. Talvez eu estivesse entretida demais escutando os murmúrios a minha volta. 


Nunca tinha sentido nada parecido. Aquilo doía persistentemente. A quanto tempo eu estava ali? Minutos? Pedi a noção de tempo.


Eu sabia que aquilo era apenas uma pequena parte da dor que eu sentiria. Os poderes não surgiam silenciosos e simples. A maioria deles tinha efeitos colaterais em sua formação, e esses nem sempre eram bons... A dor me perseguiria por um bom tempo até que eu estivesse completamente desenvolvida. E esse desenvolvimento completo estava longe de acontecer.


Após mais alguns longos minutos, a dor diminuía. Lentamente, mas diminuía.  


- Querida, está quase acabado. Apenas mais um pouco. – Informou-me Daniel.


E com um ultimo grito – agora percebido por mim-, a dor se foi. 


Respirei profundamente antes de me levantar. 


- Está melhor, Katrina? – Hunter aproximou-se de mim, pegando-me pela mão.


- Sim. 


Todos me olhavam. Suas expressões chocadas.


Mirei a sombra a minha frente que formavam asas. Pude senti-las, pude mexê-las, elas faziam parte de mim, eram extensões de meu corpo, como meus braços ou pernas. Ela se mexeram e pude ver que suas penas, diferentemente das do Dionísio, eram negras, assim como meus olhos. Um negro acinzentado e perolado. 


Dionísio sorriu ao ver a confusão em meus olhos.


- Calma. Você aprenderá a controla-las logo-logo.  – Ele piscou.


- Vamos! Circulando... Voltem ao que estavam fazendo! – Disse Daniel, fazendo com que todos voltassem às suas atividades.


- Katrina, vá se limpar.  Vá para o vestiário, lá tem espaço suficiente para você e suas asas. Vanessa te ajudará com o vestuário. 


- Ok! – Sorri.


Caminhei lentamente até o vestiário onde eu poderia tomar um banho. Em alguns momentos tive dificuldade em passar pelos portais, pois minhas asas estavam armadas. Porém logo consegui coloca-las em repouso.  


Liguei o chuveiro e deixei que a água levasse o sangue que escorria por meu corpo. 


- Katrina? – Chamou-me Vanessa enquanto entrava no lugar.


- Aqui! 


- Oh! – Seus olhos se arregalaram ao ver minhas asas.


- O que foi? – Sorri.


- Nada! – Ela retribuiu o sorriso. – Tomei a liberdade de passar em seu quarto e pegar uma muda de roupas.


- Oh... Obrigada. – Agradeci, reverenciando-a com a cabeça. – Ainda tem sangue aqui? – Perguntei, enquanto virava as costas.


Os chuveiros ficavam em locais abertos e não em boxes. Nunca tomei banho ali depois das atividades físicas, sempre me dirigia a meu quarto. Eu não tomaria banho com tantos homens pelados, eu tinha dignidade. 


Eu ainda estava de biquíni quando fiz esta pergunta a ela. Mesmo sendo mulher, eu tinha vergonha de ficar completamente nua na frente dela.


- Não, está tudo limpo! – Ela respondeu prestativamente. 


- Peguei esta blusa, ficará mais fácil para você se vestir enquanto não consegue controlar suas asas. – Ela mostrou a blusa, bem, não era uma blusa, mas sim um top...


- Claro. – Sorri. – Mas antes vou vestir as calças. 


Escondi-me atrás dos grandes armários que ali ficavam, vesti-as e voltei para que Vanessa me ajudasse com a blusa.


- Sabe Katrina, você é tão linda. – Vanessa acariciou meu rosto quando eu me aproximei dela.


- Obrigada. – Falei, franzindo o cenho.


Isso está ficando estranho, pensei.


- É bom poder tocar você... 


- Vanessa... – Falei estranhamente.


- Sim, minha querida.


- Você está bem?


- Maravilhosamente.


E ao falar esta palavra, Vanessa se aproximou ainda mais, passando a mão por minha cintura, segurando-me ali com firmeza. Seu aperto era forte o bastante para me manter paralisada. Seu nariz rossou por meu pescoço, orelha... 


"Mas que merda é essa?" Pensei.


Eu estava paralisada de choque, só conseguia pensar. 


Mas logo que voltei a realidade, empurrei-a fortemente, fazendo com que caísse no chão. Vanessa não se abalou por isso, ela se levantou, e andou novamente até mim, tentei empurrá-la novamente, mas ela deu apenas um passo para trás.


- Minha querida, não faça isso.


- Mulher! Você enlouqueceu? – Elevei meu tom enquanto ela me analisava da cabeça aos pés.


- Oh, claro que não, apenas vim brincar um pouco.


Eu conhecia aquele tom, eu conhecia aquele texto.


- Dustin... – Engoli em seco.


- Claro que sim! – Ela sorriu.


O corpo a minha frente se transformou rapidamente, mas eu pude cada detalhe. Ela cresceu, uma barba por fazer apareceu em seu rosto.  Suas mãos cresceram, cabelos diminuíram. Seus olhos, antes de um tom castanho claro, passaram a um azul escuro como o céu ao anoitecer. 


- Surpresa! – A ironia tomou conta de sua voz.


Minha única reação foi ficar calada, observando seus trejeitos. Era diferente falar com ele pessoalmente e em meus sonhos, apesar de os sonhos serem tão reais quando aquilo. 


Como podia uma pessoa ser tão linda, mas tão cruel e idiota ao mesmo tempo. Percebi, desde o primeiro momento que ele estava apenas se divertindo. Talvez Dustin ficara tão entediado em seu pequeno mundo que resolvera vir até mim. 


Seus poderes iam além do que eu podia imaginar. Ele conseguira atravessar os grandes portões e muros escudados e vigiados do Instituto LichtSpectrum. Talvez ele nem precisasse passar por ali, podia simplesmente aparecer e desaparecer onde quisesse, quando quisesse. Podia ter usado sua invisibilidade enquanto voava. Ou podia ter corrido até ali e simplesmente atravessado as paredes, mesmo com todos os escudos, eu tinha certeza que ele era forte o suficiente para isso. Ou...


- Querida, - Disse ele, interrompendo meu pensamento. – não precisa fazer tantas especulações sobre como entrei aqui. E sim, estive um pouco entediado e resolvi vir diretamente a você. Ameaças por sonhos podem ser chatas, não causam o mesmo efeito que causariam quando  feitas pessoalmente.


Dustin começou a andar, fazendo um círculo a minha volta. 


- Como vai o desenvolvimento de seus poderes? Vejo que tem um par de asas. – Escutei o sorriso em sua voz enquanto tocava em minha asa direita. – Um belo par de asas. Iguais as minhas.


Minha respiração ficava pesada a cada momento, meu coração acelerava. O ódio me tomava por ter a pessoa – monstro seria o melhor termo - responsável pela morte de meus pais tão perto assim. Tão perto que eu podia ataca-lo. Mas qual foi a minha reação? O que fiz? Eu não fiz nada. Nada além de escutar o seu pequeno discurso. Nada! Apenas guardando ódio dentro de mim, apenas absorvendo o que eu não queria soltar naquele momento. Mesmo se eu tentasse fazer algo contra aquele ser, eu não conseguiria. Ele era mais forte do que eu. Tive consciência disso. Ele era formado, completamente desenvolvido, enquanto eu era apenas uma garota que não tinha quase nenhum de seus poderes, que não tinha nem um terço da capacidade que poderia ter futuramente. 


- Por favor minha querida. Não tenha medo.


- Como você pode me dizer para não ter medo de você com todas estas ameaças? – Meu tom era severo.


- Tudo bem. É mais sensato que você tenha medo mesmo!


- Responda-me uma pergunta!


- Quantas você quiser! – Dustin sorriu, ficando frente a frente comigo.


- Por que esta fixação comigo? Por que não me mata logo e para de brincar?


- Por que é mais divertido, ora essa! 


O jeito com o qual Dustin falava era de um tom elegante e antigo, afinal, ele era velho. Entretanto, mesmo com esta antiguidade, ele me parecia jovem.


- Que pena! Quando você crescer, se desenvolver totalmente, eu vou matar você! Será um desperdício. – Dustin voltou a andar à minha volta.


- Então não me mate. – Sorri, enquanto examinava a saída, planejando uma pequena fuga.


-Mas é claro que eu vou matar você! – Dustin olhou-me nos olhos, sorrindo. – Não adianta olhar para a porta. Você não vai sair daqui. 


- Ou não!


- Eu não vou deixar. 


- Que droga.


Era horrível não ter um escudo para proteger meus pensamentos. Em compensação, ele tinha, e seus pensamentos ficaram ocultos para mim.


- Sabe...


Enquanto ele falava, eu tentava esconder meus pensamentos. Percebi que aquilo estava funcionando. E quando, por um segundo, ele olhou para a direção oposta, eu corri. Meus músculos explodiram em potência. Mas aquilo de nada adiantou, quando dei por mim, ele estava a minha frente, fazendo sinal negativo com o dedo indicador.


E então, com uma expressão odiosa, ele me empurrou com tanta força que eu voei e pousei do outro lado do vestiário. Senti minha cabeça bater com toda a força na parece de concreto, o sangue escorreu, encharcando meu cabelo, porém logo a ferida estava curada. Enquanto eu tentava me recompor, ele veio novamente até mim.


- Eu falei para você não fugir. Eu não deixaria! – Seu tom era severo, falava como um pai se dirigindo a uma criança desobediente. – Eu avisei a você! Você causou isto! – Dustin me acusou em gritos.


Levantei-me enquanto levava broncas.


- Garota tola. Não vê que sou mais poderoso que você? Isto é para você aprender! 


E quando eu estava de pé, Dustin segurou-me pelo pescoço, erguendo-me a uma altura considerável, tirando meus pés do chão e segurando-me bruscamente contra a parede. Seu aperto sufocava-me. Segurei em sua mão, apertando-a para que ele me soltasse, mas nada aconteceu. 


- Me falta ar! – Tentei falar, mas os únicos sons que saíram foram grunhidos estranhos. 


- Que lindo... Falta ar? – Dustin arregalou os olhos, falando debochadamente.


Eu tentava puxar ar, o mínimo que fosse. Mas eu não conseguia, seu aperto era forte demais. Ele sorria, divertindo-se com a situação. Meus olhos se reviravam, eu estava a ponto de desmaiar.


- Querida, continue acordada. Não desmaie... 


Na tentativa de me manter acordada, ele me afastou da parede, batendo-me de volta contra ela. Funcionou. Meus olhos se arregalaram e minha expressão se enrijeceu com a dor. 


E com a dor, me escapou um rosnado brusco por entre meus dentes trincados. 


- Rosnando para mim, Katrina? – Ele gargalhou.


Dustin, ainda segurando-me pelo pescoço, desceu- me a seu nível, deixando-nos no mesmo nível. 


- Não faça isso.


E então ele se aproximou ainda mais de mim. Pensei que ele iria beijar meu rosto ou algo parecido. Mas Dustin me surpreendeu. Ele não fez o que eu esperava, ele simplesmente lambeu meu rosto. Da mandíbula até o ponto onde os meus cabelos começavam a crescer. De início nada senti. Mas logo o local onde ele havia passado a língua começou a arder, queimar... Era como se aquela região pegasse fogo. Como se tivessem jogado ácido ali. 


Gritei. Mesmo com a falta de ar, eu gritei.


- Dói? Meu veneno queima você? – Ele gargalhou mais uma vez. – Que pena. Você ainda não tem veneno, isto é mesmo uma pena. Sabe, nós, olhos pretos, temos veneno, e só o nosso veneno pode nos machucar. O dos olhos brancos não. Mas a você, que é uma Spectro em formação, meu veneno pode te machucar ainda mais, poderia ser letal! 


- Katrina! – Um grito soou.


- Da... – Tentei gritar em resposta, porém não consegui. Dustin me impediu. 


- Katrina! – Ele gritou, entrando em um rompante pelas portas do vestiário. – Dustin? – A surpresa inundou Daniel.


- Daniel... Quanto tempo, meu amigo... – Dustin sorriu, olhando-o intrigantemente.


Eles se encararam por alguns minutos. Analisando-se. Enquanto isso Dustin continuava a segurar-me pelo pescoço. Faltava pouco para que eu desmaiasse. 


Cada respiração doía, e quanto mas esforços eu fazia para tentar me libertar, mais a escuridão crescia.


Ah, eu merda, pensei, eles vão ficar se olhando, ou Daniel fará algo?


Tentei me concentrar na conversa que se desenrolava.


- Quanto tempo, meu amigo! – Dustin repetiu o que falou anteriormente. Como se sentisse realmente a falta de Daniel.


- O tempo não fez muito bem a você, não é?


- O tempo me fez otimamente bem! – O olhos pretos gargalhou sombriamente.


- É o que você pensa, Dustin! – Daniel pausou, olhando-me. – Solte-a, por favor.


- Por que eu deveria? – Dustin o desafiou.


- Você se tornou mesmo uma psicopata.


- Todos dizem isso! – Dustin sorria amargamente. 


- É apenas a verdade! 


Fechei meus olhos, sentindo uma fraqueza invadir meu corpo. Eu desmaiaria, o apenas morreria sufocada. 


Aquele psicopata não me soltava por nada, e a cada movimento que eu fazia, seu aperto aumentava. Meu corpo desfalecido pendia. 


- Por que você a persegue? – Percebi que Daniel realmente não sabia o motivo pelo qual aquele idiota estava atrás de mim. Provavelmente ninguém sabia.


- O mundo é pequeno demais para nós dois. Ela não pode viver no mesmo mundo que eu!


- Não seja egoísta, Dustin! Você é poderoso, governa seus obscuros seguidores, que não são poucos. E ainda acha que a Katrina quer roubar isto de você?


- Não. Apenas quero o coração dela! – Mais um aperto sucedeu-se. – Quero seu coração em minha estante, como um troféu. 


- Não vejo por que não poderia haver dois olhos pretos coexistindo pacificamente. Depois de você, nasceram quatro olhos pretos, fora a Katrina. E você infernizou suas vidas e os matou. Mas você os matou assim que soube de sua existência. 


Então por que ele não matou logo? Por que ele não me matou naquele dia em que assassinara meus pais e me privara da visão?


Por quê? 


- Por que com você será diferente, querida! – Dustin respondeu a minhas dúvidas.


E agora eu morrerei? 


- Não. Agora não. Só vim aqui para sair do tédio! – Dustin gargalhou.


Abri meus olhos novamente. Dando de cara com um Dustin sorridente. 


- Seu olhos são lindos. – Ele sorriu, aproximando-se de mim e lambendo-me mais uma vez, desta vez do lado oposto ao anterior e mordendo-me no pescoço logo em seguida.


- Sou doce para você? – Perguntei com dificuldade enquanto gritava.


- Talvez. – Ele piscou. – Opa. Nem pense nisso Daniel. Não seria uma boa coisa para você, nem para a garota aqui! 


Olhei para Daniel que talvez tenha tramado algum plano. Mas nada funcionaria.


- Acho que vou embora! – Dustin falou com desdém.  – Voltarei em outras ocasiões.


- Você não é bem vindo! – Daniel rosnou.


- Oh, sim! – Dustin ainda se dirigia a mim, ignorando temporariamente a presença de Daniel. – Talvez você perca mais alguns entes queridos neste meio tempo. Cuidado. – Esta ultima palavra ele sussurrou em meu ouvido. 


Arrepiei-me com o tom de ameaça. Quem ele me tiraria? Um de meus trigêmeos, as pessoas mais importantes de minha vida atualmente. Ou Beth e Ryan, as pessoas mais gentis e acolhedoras do mundo. Jason talvez, o garoto implicante, mas amado. Júlia, a impaciente e adora garota das mechas verdes. Lili, a pequena e inexperiente criança. Ou Dean... 


Parei quando o ultimo nome me veio a cabeça. Meus pensamentos travaram.


Ele não me tirara o bastante? 


- Eu odeio você! – Cuspi estas palavras com todo o ódio possível.


- É isso o que torna as coisas ainda mais divertidas.


Agora eu estava desperta, a raiva me acordara. Meus dentes estavam cerrados em fortemente, meus olhos em fendas o olhavam com fervor, meus punhos se fecharam com força. Um rosnado animalesco me fingiu por entre os dentes. 


Senti meu corpo ferver enquanto Dustin falava com Daniel. E ao mesmo tempo em que meus olhos enegreceram eu explodi. O fogo surgiu por todo o meu corpo simultaneamente. Não era como da primeira vez em que meu corpo se incendiara. Agora as chamas eram fortes, grandes... Pareciam-me mais quentes.


Dustin afastou-se de mim rapidamente, sacudindo a mão. 


Provavelmente havia uma queimadura ali. Uma simples queimadura não era quase nada, mas para um começo, estava bom. 


- Garota idiota! – Ele gritou. 


Aproximou-se de mim e deu-me um chute. Agora ele não se machucara. Provavelmente fora pego desprevenido anteriormente. Jogou-me novamente de um lado a outro do vestiário. Os detectores de incêndio do lugar foram ativados, e a água começou a cair como uma chuva fraca. 


Não consegui me levantar. O fogo em meu corpo sumia com água, deixado-me despida. Normalmente eu me envergonharia, mas agora eu nem ligava. A escuridão estava vindo mesmo! 


Meu cabelo se ensopava lentamente, assim como minhas asas, cujo tamanho cobria partes de meu corpo nu. Minha respiração doía. Tudo doía. 


- Acho que já está bom, não vou fazer mais nada. As melhores torturas são feitas lentamente. – Dustin sussurrou em meu ouvido, assustando-me.


Viro-me para ver o que se passa. Daniel está caído no chão, assim como eu. Ao passar por ele, Dustin o golpeia no estômago, fazendo-o perder o ar! 


 - Até logo meus queridos. – Diz Dustin simplesmente, desaparecendo em pleno ar.


Eu estava mal. Talvez o veneno em meu sangue fosse mais enfraquecedor do que na pele. 


Fechei meus olhos, mas continuei ouvindo cada som. Minha respiração, a de Daniel. A água caindo... 


- Katrina! – Grita Hunter. – Oh meu Deus. Katrina, não se preocupe, está tudo bem, vai ficar tudo bem.


Forcei-me a abrir os olhos novamente. Encarei os olhos intensos e preocupados de Hunter. Era bom tê-lo ali, simplesmente ótimo. Sorri para seu rosto confuso. Ele, relutantemente, retribui o sorriso.


E aquela foi a ultima imagem que vi. Um lindo sorriso protetor, que me cuidaria quando eu precisasse.


 


 



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Autor(a): Bia Vieira

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

Prévia do próximo capítulo


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • candyportinonvondy Postado em 14/08/2012 - 20:18:53

    To amando a web. Posta mais


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