Fanfic: Legado - Escuridão
Algumas ideias passaram-se por minha cabeça, porém nada que mudasse algo.
Logo, uma dessas ideias destacou-se. Senti-me como uma personagem de desenho animado tendo uma ideia brilhante, ao mesmo tempo em que uma pequena lâmpada flutuante acendia-se a meu lado.
Ri da sensação.
Eu fugiria! Talvez Daniel visse isto em meus pensamentos e me impedisse. Não me importei, eu tentaria.
Arrumei-me rapidamente, provavelmente estariam todos espalhados pelo campus, afinal, no outro dia não teríamos aulas. Sai pela porta de meu quarto – cogitei pular a janela, mas logo desisti – esgueirando-me a cada canto para que não fosse vista. Logo me lembrei de minha invisibilidade e pude passar facilmente por todos. Assim que estava fora do prédio, corri a uma velocidade inumana em direção à garagem, meus irmãos deixaram uma moto para mim em uma de suas visitas às escondidas. Sorte minha que me ensinaram a pilotar desde cedo.
Procurei o veículo entre as grandes fileiras e logo o encontrei, esta estava coberta por um pano negro, um tanto empoeirado. Puxei-o, ansiando por ver a moto.
- Ora, ora! – Falou alguém atrás de mim.
Meu corpo paralisou-se, meus olhos arregalaram-se em um átimo.
- Onde pensa que vai?
Relaxei ao reconhecer aquele tom.
- Vou à festa, Hunter!
Por que ele tinha de estar em quase todos os lugares?
- É proibido! – Ele sorriu.
- Perguntei? – Arqueei uma sobrancelha.
- Oh! – Hunter estalou a língua algumas vezes enquanto balançava a cabeça negativamente. – Isso não é o que uma boa garota faria.
- Não se pode ser boa sempre. – Pisquei.
- Eu vou com você! – Hunter simplesmente estava avisando que iria comigo.
- Não! Você não vai. – Minha expressão endureceu pela surpresa.
- Eu vou!
- Não!
- Não vou! – Ele tentou me persuadir.
- Querido, você deveria saber que psicologia reversa não funciona comigo.
- Oh! Tudo bem então... Se você não me levar, eu conto para o Daniel! – Sussurrou ele.
Seu sorriso era presunçoso. Ele havia se aproximado para falar aquilo.
- Pode contar... De todo o modo, Daniel vai perceber, mas quando isso acontecer, eu estarei longe.
- Não se eu contar assim que você sair desta garagem, então dá tempo de ele impedir você e levarás uma ótima penitência.
- Não se eu fizer você dormir antes. Dormir delicadamente. – Pisquei, sorrindo sugestivamente.
- Mas...
- Hunter! Seu idiota. Você sempre tem que estar nesses momentos... Então sobe logo nesta merda desta moto – falei, sentando-me – e cala a boca antes que alguém perceba a minha real intenção!
- Mas eu tenho de trocar de roupa.
- Eu não acredito. – Falei em meio a uma respiração. - Se você não voltar em meio minuto, não mais, eu vou sem você! E quando voltar, te jogo daquele penhasco!
Hunter estava parado, encarando boquiaberto.
- Já foi? – Aumentei meu tom.
Logo assim que falei, Hunter desapareceu.
Posicionei a moto para a saída. Contei os segundos. O tempo que fora dado por mim se passou. Eu avisei que não esperaria mais.
Liguei a moto e dei partido, e quando estava passando pelo portão da garagem, senti o peso na moto. Alguém sentara ali com ela em movimento.
- Você não me esperou!
- Claro, a princesa demorou a se enfeitar! – Meu tom foi duro.
- Vai Katrina...
Acelerei o máximo que pude, deixando-nos invisíveis. Fiz caminho por entre algumas poucas pessoas que não perceberam... Talvez a estivessem dementes demais.
Percorri todo o campus, preferi ir pelas partes mais vazias... E deu certo! Logo nos aproximamos dos portões.
- Vamos bater... Diminua a velocidade! – Hunter estava alarmado. – Diminua!
Sorri com o seu alarde e fiz o contrário do que me fora pedido... Acelerei mais, até que não pudesse mais. Hunter grunhia enquanto nos aproximámos...
- E lá vamos nós... – Falei para mim mesma.
Atravessamos o paredão sem problemas. Hunter gritava enquanto passávamos, e logo estávamos do outro lado.
Sorri de alívio e agradecimento por ninguém ter nos ouvido.
- Cala a boca Hunter! – Falei, em meio a uma gargalhada. – Estamos fora.
- Mas que droga, garota. Pensei que ia nos matar... – Ele pausou, pensando melhor e gargalhando. – Ou uma panqueca de Hunter, Lilo e moto!
- Menos querido. – Fiz careta. – Agora nos resta abrir o portal!
Em meu rosto veio à confusão. Eu não pensara nesta parte, como eu abriria o portal... Ninguém me ensinara isso!
- Calma Katrina! – Hunter afagou meus ombros. – Esta parte você deixa comigo.
E então Hunter concentrou-se e logo pude ver uma pequena bola de luz se expandir até ficar grande o suficiente para suportar nossa passagem. Em um instante estávamos em outro ambiente. Um ambiente conhecido para mim.
Eu sabia onde estava. Perto o bastante de minha casa, perto o bastante de meus irmãos... Do Dean, de meus velhos amigos...
Eu estava fora de perigo, se é que levar uma bronca do Daniel fosse perigoso. Eu lidaria com a situação quando voltasse. Prepararia-me para isso. Porém agora... Bem. Agora eu aproveitaria o tempo – mesmo que curto – que eu teria com todos. As regras mal me importavam naquele momento. O verdadeiro perigo que eu corria por estar praticamente sozinha estava em um lugar reservado de minha cabeça, mas não me importei. Se ele quisesse, me atacaria em qualquer lugar.
Nada disso importava.
Continuei fazendo o caminho até a casa e à medida que me aproximava, comecei a escutar a música pulsante, sentir a batida.
Pude ver as luzes ao longe... Sorri com aquela imagem.
O som era alto o suficiente para abafar os ruídos produzidos por minha moto, então resolvi entrar pelos fundos da casa, fazendo – ou tentando fazer – uma surpresa maior. A noite, o barulho e as luzes encobriam-nos.
Estacionei e desci da moto. Não precisei tirar capacete por não estava usando um, muito menos Hunter. Aquilo era inconveniente, abafado e me incomodava muito.
Os latidos da cadela cresceram à minha frente. Sua calda peluda balançava constante e rapidamente para todos os lados. Quando ela parou de latir, sua língua arroxeada pendeu para fora de sua boca.
- Mina! – Sorri, aproximando-me com as mãos estendidas.
A coleira impedia que ela viesse até mim, e quando cheguei perto o bastante, Mina apoiou-se nas patas traseiras enquanto as dianteiras pousavam em minhas mãos.
- Olá garota. Quanto tempo! – Falei enquanto fazia com que ela voltasse a sua posição original, sob as quatro patas.
- Que linda! – Disse Hunter enquanto passava a mão em seu pelo.
- Minhas guia! – Lembrei-me dos tempos em que Mina me guiava.
- Nossa! Nada tradicional! Ele revirou os olhos. – Vamos, temos uma festa para animar e pessoas a surpreender.
- Verdade! Siga-me.
Abri as portas que davam passagem para dentro da casa. Andei silenciosamente pela sala, sendo seguida por Hunter.
Pude ver a quantidade de pessoas pelo vidro. Cem? Cento e cinquenta? Talvez mais, talvez menos. Todos dançando na pista de dança, alguns na pista de dança, outros fora dela. Ainda eram oito da noite, muitas coisas ainda aconteceriam.
Quem ocupava a mesa elevada do DJ era Dean, este estava sorridente e lindo como sempre. Ele observava os convidados, manuseando os instrumentos de acordo com suas reações.
Meu coração bateu forte e falhou vagamente ao vê-lo. Sorri de modo inesperado, ansiando por andar, ou melhor, correr até ele e abraça-lo, beijá-lo, senti-lo perto a mim...
Olhei para a pista novamente. Vi Luca sorrindo, dançando animadamente com alguns amigos. O boné em sua cabeça escondia parte de seu rosto, mas como eu os conhecia como a palma de minha mão, soube perfeitamente quem era. Damon estava um pouco afastado, dançando com Beth.
Surpreendi-me ao ver Beth e Ryan ali. Pensei que eles sairiam com Lily. Mas pelo visto, Lily estava em algum outro lugar. Na casa de uma amiguinha talvez. Ryan e Beth eram jovens, apesar de suas idades. Nem seus corpos, nem suas mentes envelheciam.
Rafa estava bem no meio da pista de dança, bailava alegremente com uma garota que pude reconhecer após um pequeno tempo de observação.
- Violet? – Sorri.
- É ela sim! – Hunter sorriu.
Luca saiu de seu grupo para pegar uma bebida. Provavelmente não era alcoólica, pois eles só beberiam verdadeiramente em certo ponto da festa. Meu irmão voltou a dançar, erguendo o copo verde neon que brilhava ainda mais sob o efeito das luzes.
Poucos segundos, ou até um minuto se passou desde minha observação. Eu não aguentaria mais do que isso, não ficaria apenas olhando por muito mais tempo.
Andei lentamente para a porta da frente que estava escancarada. Desci as escadas da entrada lentamente, analisando o ambiente barulhento, porém agradável. Hunter ainda me seguia, fazendo como eu.
O primeiro a perceber minha presença ali foi Dean, por ficar olhando constantemente ao seu redor. Seus olhos se apertaram... Ele estava tentando confirmar que aquela era eu mesma. Sua boca se abriu e seus olhos se arregalaram, porém logo ele estava sorrindo. Não sei o que houve, ele pode ter batido em algo, mas a música parou de repente com um barulho estranho.
Todos pararam, olhando-o, especulando, e quando viram que ele olhava em uma direção, todos olharam para onde Dean mirava. A maioria das pessoas ali me reconheceu, e eu pude reconhecê-las.
- Katrina? – Gritou Damon enquanto corria até mim.
Abri os braços, pronta para recebe-lo, mas ele se esquivou e pegou-me pela cintura, suspendendo-me e girando-me no ar, como tinha mania de fazer.
A alegria era enorme. Eu sorri enquanto sentia os braços à minha volta. Abracei-o e dei múltiplos beijinhos em seu rosto.
- Como é bom ver você! – Gargalhei.
- Posso dizer o mesmo!
- Com licença? – Luca fez cara feia para o irmão. – Minha vez.
Agora quem abriu os braços foi Luca, e eu pulei nele sem hesitar. Dando apenas um beijo em seu pescoço. Ele sorriu e sussurrou um “Eu te amo!” em meu ouvido. Como era bom ouvir isto pessoalmente.
Rafa nada falou, apenas afastou-me delicadamente de Luca. Abraçando tão forte que me faltou ar por um momento. Aquilo era bom. Ele me beijou na testa... Um sinal de respeito e carinho, um beijo sincero. Sorri, fechando os olhos ao sentir aquilo.
Era tão bom estar de volta. Mesmo que por aquele pouco tempo. Estar nesta data importante para meus irmãos.
- Eu amo vocês! – Sussurrei. Não queria que os outros ouvissem aquele momento íntimo, pelo menos para mim.
- Nós amamos você! – Sussurraram em conjunto, seus olhos fitando os meus intensamente.
- O que faz aqui? – Elizabeth estava a meu lado, olhando-me com suspeita.
- Vim por um motivo óbvio. – Pisquei.
- Você não deveria estar aqui, querida! – Ryan sorriu com cumplicidade. Senti que me deixaria ficar.
- Mas o que importa? Uma vida sem emoções não é vida, afinal! – Sorri.
- Claro, claro! – Beth sorriu. – Mas quando a festa acabar, você voltará imediatamente para o instituto junto com o... – Ela olhou para Hunter, não sabendo quem era, interrompeu-se em meio a uma frase.
- Hunter! – Ele disse seu nome, sorrindo.
- Hunter! – Repetiu ela, acenando uma vez com a cabeça.
- Por que paramos? – Júlia estava um tanto irritada. – Nunca viram a Katrina na vida? – Ela revirou os olhos.
Júlia andava aceleradamente. Seus cabelos agora pendiam em longos cachos, dando volume. Sua expressão estava séria enquanto falava, porém logo um sorriso floresceu em seu rosto, indicando que aquilo fora uma brincadeira. Ao aproximar-se o suficiente, ela abriu os braços e continuou a andar em minha direção.
Abracei-a forte, era bom sentir minha irmã novamente.
- Onde você estava que não a vi antes? – Perguntei.
- Estava escondida! – A ironia estava presente ali.
- Ah, ok! – Sorri.
- Você? – Jason gargalhou.
- Não! É a minha projeção astral! – Falei, dando-lhe um tapa na cabeça, contradizendo a teoria da projeção.
Jason continuou a sorrir enquanto me abraçava e dizia-me quanta falta eu fazia.
- Por favor? – Júlia bateu palmas para chamar atenção. – Temos uma festa aqui e não quero que percamos tempo!
Só quando ela falou, eu percebi que todas as pessoas olhavam realmente para a cena. A festa tinha parado de verdade.
- Verdade! – Falei. – Parece até que nunca me viram na vida! – Sorri paras os convidados.
- Não assim! – Gritou alguém. Eu conhecia aquela voz, mas não me lembrava de onde.
- DJ, por favor. – Gritou Júlia.
Meu olhar foi diretamente a ele, que ainda olhava para mim, boquiaberto.
- Acho melhor alguém substituí-lo! – Júlia riu da expressão de seu irmão.
- Eu vou! – Jason voluntariou-se.
Ele correu até o irmão, despertando-o com uma leve tapa na cabeça. Dean olhou-o com uma expressão extasiada.
- Acorde irmão! Vai lá e aproveita! – Jason sorriu enquanto sussurrava aquelas palavras. – Acorda cara... É pouco tempo.
Estive certa de que a maioria das pessoas ali não conseguiu escutar. Eu tive de fazer leitura labial para ter certeza das palavras ditas.
Logo Dean saiu de seu posto, sendo substituído por Jason, este não perdera tempo e já colocara uma música para que os convidados voltassem a dançar.
- A propósito. – Falei, virando para meus irmãos. – Feliz aniversário! – Reverenciei-os com a cabeça.
- Obrigado! – Falaram em coro.
Todos os que estavam perto de mim se afastaram. Até Hunter. Meus irmãos o cumprimentaram e o rebocaram para a pista, assim como velhos amigos fazem.
Continuei ali, parada, esperando que Dean chegasse até mim. Ele correu, ficando frente a frente comigo em segundos. Não falamos nada, apenas nos encaramos enquanto ele levantava a mão vagarosamente e tocava em meu rosto. Seu toque era hesitante, passou-me uma mínima descrença de minha presença ali. Assim que percebeu que eu era real, seu toque se tornou mais preciso, intenso.
Dei um passo à frente, fazendo com que nossos corpos se tocassem. Esse passo foi um tanto involuntário. Parecia que se corpo tinha um magnetismo para mim. Eu queria estar perto dele, não importava onde fosse ou como fosse.
Seu rosto aproximou-se lentamente, seus olhos azuis – a mudança constante do tom de seus olhos podia me confundir algumas vezes - ardiam enquanto encaravam os meus. Seus lábios tocaram os meus levemente, assim como ele havia feito com as mãos. Mas logo a intensidade veio mais uma vez. Eu não consegui pensar, a única coisa que fiz foi sentir. Sentir seus lábios, suas mãos. O centro do meu corpo esquentava enquanto seu beijo se intensificava ainda mais.
Ao término, Dean beijou-me mais uma vez, porém agora rapidamente. Continuei de olhos fechados por algum tempo, sentindo seu aperto. Seus lábios encostaram-se a meu ouvido, lançando sua respiração agora regular e quente, fazendo-me arrepiar.
- Abra os olhos, meu amor... – Ouvi um sorriso em sua voz.
Atendi ao que ele disse. Abri meus olhos lentamente, acostumando-me com a condição na qual eu me encontrava. Ao abri-los completamente, dei de cara com um grande e esmagador sorriso, mostrava-me que eu era bem vinda ali, naquele espaço, naquele abraço. Meu coração bateu ainda mais rápido do que antes.
Minha primeira reação foi apertar-me ainda mais a ele, afundando meu rosto em seu pescoço, deixando o seu cheiro invadir-me.
- O que a trouxe aqui? – Perguntou-me ele.
- Uma comemoração! – Falei com obviedade, soltando-o de meu abraço.
- Claro que sim! – Ele sorriu, beijando-me na testa.
- Vamos! – Falei, puxando-o para o centro da pista de dança.
Vários de meus velhos amigos vieram me cumprimentar, perguntando-se, assim como todos, o que eu fazia ali.
Dancei intensamente. Com Dean, meus irmão, meu velhos amigos, Júlia, Jason, Hunter... Arrumei tempo para cada um.
A cada minuto a festa ficava mais animada. A maioria dos convidados era maior de idade e tomava bebidas alcoólicas, estes não se embriagavam tão rápida e facilmente quanto os humanos, tomavam vários e vários drinks para poderem ficar um pouco tontos. A minoria que ainda não tinha idade suficiente e respeitava o nosso pequeno pacto, bebia apenas drinks leves, sem álcool.
Algumas pessoas esgueiravam-se por seus companheiros de dança, umas com copos florescentes, outras com garrafas.
Após algum tempo, o posto de DJ foi trocado. Hunter disponibilizou-se a tocar. Algumas vezes eu podia sentir seus olhos olhando-me enquanto eu estava com Dean ou com qualquer outra pessoa. Tentei ignorá-lo e por hora, consegui.
O suor escorria por minha pele. Resolvi entrar parra secar-me parcialmente. Fui até a casa, percebi que, por alguma razão, ninguém me acompanhava. Resolvi visitar meu quarto.
Andei normalmente pela casa, familiarizada com o caminho. Chegando a meu antigo quarto, abri lentamente a porta, encontrando um ambiente idêntico ao que fora deixado por mim ao ir embora. Era bom ver aquilo. Mostrava-me que me esperavam voltar.
Entrei em meu banheiro e limpei meu suor com uma toalha que ali estava.
Sorri ao lembrar da primeira vez em que me vi naquele espelho. Uma cena engraçada, afinal, de certo ponto de vista. O susto que tomei ao perceber que enxergava novamente. A alegria que tomara conta de mim por poder conhecer minha nova família.
- Katrina? – Chamou-me uma voz no corredor.
Respirei fundo ao ouvir aquela voz.
- Dean! – Sussurrei.
- O que faz aqui? – Perguntou ele.
- Assustou-me! – Arregalei os olhos. Não tinha ouvido seus passos, apenas o seu chamado.
- O que faz aqui? – Dean insistiu na pergunta.
- Calor. – Sorri. – Vim tirar um pouco do suor.
- Oh, sim! – Ele sorriu, compreendendo.
- E você? – Dei um passo à frente. – O que faz aqui?
- Venho a sua procura! Oh bela donzela! – Disse ele, estendendo-me a mão elegantemente.
- Oh! Muito nobre de sua parte, gentil cavalheiro! – Sorri, reverenciando-o enquanto abria um vestido imaginário. Coloquei minha mão na sua, recebendo um beijo ali.
Sem soltar as mãos, voltamos as nossas posições normais. Olhamo-nos, sorrindo. Após alguns segundos, Dean puxou-me fortemente pela mão que ainda segurava, pousando-a na base de se pescoço enquanto meu corpo se chocava contra o seu.
Uma de suas mãos pousou no topo de minha cabeça, ninando-me de certo modo, fazendo com que meu rosto de enterrasse em seu pescoço, enquanto a outro repousava na base de minhas costas.
- Que saudade eu senti de você, minha pequena. – Dean falou em meio a uma respiração profunda.
- Também senti sua falta!
- Não quero te deixar ir embora!
- Eu não quero ir! – Era evidente que eu não queria.
- Não vá! – Sugeriu, sorrindo levemente.
- Não me deixe ir... Segure-me e não solte nunca mais! – Gargalhei. Mesmo com o tom de brincadeira, havia verdade naquelas palavras.
- Olha que eu atendo á seu pedido! – Ameaçou ele. – Atendo a todos os seus pedidos. – Houve uma breve pausa. – Mas você tem de ir. – Sua voz soou triste. – Tem de aprender, evoluir para poder se defender. Ninguém pode te defender, afinal, nem eu, nem seus irmão, nem todos os Spectros e Electros podem de defender daquele animal... Só você mesma.
- Triste verdade! – Concordei. – Mas mudemos de assunto... Algo mais agradável.
- Bem... Na verdade, neste momento, não me interessa em nada falar! – Dean se afastou, olhando-me nos olhos e aproximando-se rapidamente para beijar-me.
Suas mãos voltaram a me aperta, porém agora com desejo. O fogo nasceu novamente em mim, agora se contrapondo ao gelo. Agarrei-me como pude a ele... Não tendo o mínimo de trabalho para isso.
Nossos lábios moviam-se em sincronia, fundindo-se como uma só. Seu ritmo constante e lento me incitava a continuar. Dean prendeu meu lábio inferior entre os seus e o puxou. Em seguido eu fiz o mesmo, traçando o desenho de seu lábio com a língua.
Logo minhas pernas estavam entrelaçadas a sua cintura, prendendo-me fortemente ali enquanto eu era imprensada contra a parede. Suas mãos tonaram-se mais urgentes. Uma delas estava cheia com meus cabelos enquanto ele ditava o ritmo, enquanto a outra segurava-me pela parte inferior de minha coxa.
Em um determinado momento o ar me faltou, mas consegui recuperá-lo quando os focos dos beijos do Dean apontaram para meu pescoço.
Como sempre, não consegui pensar.
Era ótimo ter aquilo novamente, porém em uma intensidade maior. O pequeno tempo em que estivemos separados aflorara isto. O desejo ardente de tê-lo, senti-lo, e por outro lado, o enorme espaço de tempo que ainda teríamos pela frente me faziam querê-lo mais.
Minhas mãos agarraram um punhado de seus cabelos, trazendo seus lábios de volta aos meus quando minha respiração estava estável novamente.
Minhas mãos tocaram sua barriga, sentindo-a. Um arrepio veio à sua pele, fazendo-me sorrir em meio ao beijo.
Minha pulsação acelerou-se cada vez mais. Dava a impressão de que meu coração subia rapidamente por minha garganta e sairia pela boca. Meu sangue queimava em minhas veias, minha cabeça pulsava.
Eu explodiria!
- Por favor! – Falou uma voz alta o suficiente para que escutássemos, mas esta não estava no mesmo ambiente que nós. – Por favor! – Pediu Júlia novamente. – A meia-noite está chegando, então temos de realizar um ponto alto desta comemoração. – um riso surgiu em sua voz.
Respirei fundo, contentando-me com fato. Eu não queria interromper o que estivera acontecendo a segundos atrás, porém teria de interromper, pois aquele era o ponto alto da festa! O “batismo” de meus irmãos.
Dean bufou, revirando os olhos, e, logo em seguida, ao ver minha expressão, Dean gargalhou baixo.
- Droga! – Resmungou, pondo-me no chão com delicadeza.
- É a vida! – Falei de modo conformado, sorrindo.
Andei até o grande espelho localizado no closet para ver minha aparência. Meus cabelos estavam um pouco desgrenhados, porém nada que eu não pudesse resolver com as mãos. Meu batom vermelho estava borrado, manchando meu queixo. E o resto estava perfeitamente como antes.
Limpei a área ao redor de minha boca, tirando as manchas avermelhadas e refazendo a maquiagem novamente, afinal, eu deixara algumas coisas para trás, logo eu estava completamente como antes.
Dean estava perfeito, porém com o mesmo problema que eu. Limpei-o assim como fiz em mim.
- Pronto! – Sorri ao terminar, colocando uma mexa de seu cabelo no lugar.
- Vamos! – Seu sorriso iluminou o quarto.
Dean pegou-me pela mão, beijando-me novamente à testa. Meu sorriso ficou ainda maior enquanto eu o abraçava e beijava seu rosto. Uma marca em vermelho vivo ficou ali, porém aquela eu não fazia nenhuma questão de esconder.
Saímos de mãos dadas, andando lentamente pela casa, nenhum dos dois tinha pressa para que aquele momento acabasse, mas ao contrário de nós, Júlia tinha muita, muita pressa.
- Katrina, Dean... Vocês poderiam se apressar? – Ela bufou no microfone.
No mesmo momento em que ela falou isso, nós entramos em seu campo de visão, fazendo-a soltar um suspiro aliviado.
- Pode começar Senhorita Apressadinha! – Falei.
Todos os convidados estavam na pista, estes abriram um círculo, deixando espaço para que meus irmãos sentassem nas cadeiras presentes ali, uma do lado da outra, ali eles sentaram e esperaram Júlia começar a falar.
- Por favor, meninas, podem começar! - Júlia anunciou sorrindo.
Ao comando de Júlia, três garotas bonitas e sorridentes cujos nomes fugiram-me da mente naquele momento deram um passo à frente, portando casa uma em suas mãos uma garrafa ainda fechada de bebida.
- Por favor, - falou uma delas – levantem a cabeça.
Meus irmãos atenderam a seu comando, obedientes.
Elas ainda sorriam, avançando mais para eles. Os meninos abriram suas bocas quando as três se aproximaram o bastante, despejando levemente um pouco de bebida em cada. Eles, por sua vez, lamberam os lábios para limpar as gostar que escaparam.
Luca sorriu, apreciando o gosto da bebida. Rafael fez uma pequena careta ao sentir o álcool descer queimando por sua garganta. A expressão de Damon era pensativa enquanto ele decidia se o gosto era bom ou ruim.
- Por favor, meninas, continuem! – Júlia gargalhou, cerrando seus olhos maleficamente.
Ao segundo comando, elas aproximaram-se mais deles, virando as garrafas completamente, fazendo Rafael se engasgar, mas logo se acostumar com aquilo.
Ao término da primeira garrafa, outras três garotas se aproximaram e despejaram a bebida na boca dos meninos e assim por diante, até terem consumido nove garrafas casa.
- Ok, tudo bem... Nove garrafas é o necessário... Afinal, olhem para eles! – Enquanto Júlia apontava, todos olharam, vendo três rostos idênticos sorrindo de modo bobo. – E já foram nove. Duas vezes nove. Dezoito! Então está bom... Número simbólico. – Ela gargalhou.
Aproximei-me até ficar ao lado de minha irmã. Sorri para meus irmãos, estes gargalharam em resposta.
- Por favor, meus amores! – Sorri, puxando o microfone das mãos de Júlia. – Façam seus discursos! – Pisquei.
- Espera! Eu começo. – Damon pausou, gargalhando enquanto baixava a cabeça à minha frente.
- Tudo bem! – Falei para ele, divertindo-me com sua dificuldade para falar. – Vamos começar com o discurso do Damon. – Continuei, passando o microfone para ele.
- Cara... – Ele parou, batendo na testa enquanto dava um passa em falso para trás. – Cara! Eu não acredito... É... Eu esqueci o que ia falar! – Damon bufou, fazendo com que todos rissem de sua expressão. – Espera. Estou lembrando! Eu só queria agra... Agadre... Agader... Eu queria dizer que fiquei feliz por vocês terem vindo à nossa festinha de dezoito anos. – Seus olhos se fechavam levemente. – E eu estou feliz por que a minha pequena fugiu... – Ele gargalhou enquanto desafinava. – Ela fugiu do instituto Licht... Litch... Ela é foda! Eu amo você, pequena! Acho que é só isso! – Meu irmão cambaleou até a cadeira onde estivera sentado anteriormente, subindo nela. – Caras! – Ele apontou para Rafa e Luca. – Eu amo vocês, seus viados! – O desdém em sua voz deixava a cena mais engraçada. – E... E... Obrigado. Agora eu consegui falar! – Damon gargalhou mais uma vez. – Obrigado! – Repetiu em meio a risos. – Eu esqueci de novo! – Olhando para cima, tentando recordar o que queria falar, ele pisou em falso na cadeira e caiu sentado no chão, rindo de si mesmo juntamente com todos. – Enfim! – Falou, levantando-se. – Sua vez, Rafael Rach... Ra... – Sua expressão ficou séria. – Eu não consigo falar meu próprio sobrenome. Desisto! – Damon deu de ombros, erguendo as mãos em rendição. – Toma! – Falou, oferecendo o microfone ao irmão.
- Minha vez? – Perguntou Rafael.
- Sim, sua vez! – Respondi sorrindo.
- Me dá essa porcaria! – Rafa puxou o microfone das mãos de Damon.
- Calma cara! Ele é todo seu! – Disse Damon, enquanto tropeçava para o meu lado e se apoiava em mim.
- O álcool queima a garganta! – A seriedade assumiu seu posto. – Eu estou menos feliz que os outros dois. Mas ainda assim estou muito feliz. – Uma gargalhada substituiu o seu tom sério. – Eu não sabia que ia levar um pé na bunda em pleno aniversário! – Rafael choramingou enquanto tentava se equilibrar.
O Rafael tem, ou tinha namorada? Pensei.
- Um pé na bunda! – Ele revirou os olhos. – Mas eu não estou nem aí... Quem está perdendo é ela. Aquela vadia! – Ele sorriu. – Está perdendo a festa! E está perdendo tudo isso! – Rafa passou a mão livre em si mesmo! – E eu ganhei, ou seria nós? Enfim... O melhor presente hoje! Ela veio. A Katrina! – A sinceridade tomou seus olhos Apesar de ter tomado a mesma quantidade de álcool que os outros, ele parecia o mais sóbrio. – Eu acho que o que o Damon queria dizer era: Obrigado Beth, Ryan, Júlia, Jason e até Lily que não pode participar disso. Vocês nos acolheram e nos amaram repentinamente. Muito obrigado!
- Cara, era isso mesmo que eu queria falar! – Damon piscou.
- Eu sei! – Rafael riu de modo bobo. – Enfim. Acho que é apenas isso! É! Eu amo vocês também. – Rafael bateu no próprio peito. – Toma!
- Agora eu? – Questionou Luca.
- Isso! Vai lá e termina logo isso... Eu quero beber mais! – Damon gargalhou mais uma vez enquanto tropeçava no próprio pé.
- Parabéns para mim! Quero dizer, para nós... – Houve uma breve pausa. Eu não estou com vontade de falar. Mas já estou falando, então... – Ele sorriu. – beber é legal! Muito legal! Katrina, eu amo você! – Luca estava tendo dificuldades para falar algo que fizesse realmente sentido. – Eu amo vocês também! – Ele apontou para Rafael e Damon. – Eu já falei que não sei o que falar? – Ele gargalhou. – Eu queria pedir uma coisa. – Agora ele sorria, mesmo com seu tom debochado, seus olhos eram intensos. – Júlia!
Luca andou até o mais perto de onde estávamos.
- É... Eu sei que estou bêbado. Eu estou muito louco. – Luca bufou. – Mas você não ai se importar com isso agora, não é Júlia? Ou se importará? – Ele não esperou a resposta, simplesmente continuou a falar. – Então está bem. Não vou fazer muitos rodeios, pois não estou em condições. Ir direto ao ponto é meu objetivo.
Depois destes meses de enrolação por ambas as partes, ele não conseguiria fazer este pedido?
Minha mão direita subiu até minha testa, ficando ali pela descrença que eu mostrava.
Luca tentava ir direto ao ponto, porém não estava conseguindo. Pude ver em sua mente que realmente aquilo não se devia a uma possível rejeição, mas sim por uma incoerência devido ao álcool. Então, após alguns segundos, ele conseguiu chegar onde queria.
- Júlia Sonnenschein, você aceitaria ser a minha namorada? – Luca enfatizou as duas ultimas palavras, sorrindo ao dizê-las.
Um incrível silêncio tomou conta do lugar, porém, após segundos, alguns murmúrios vieram.
Rafael sorria, feliz pelo momento, seus olhos passavam de Júlia a Luca constantemente. Damon parecia não ter noção de tempo e espaço, ele olhava para todos os lados, procurando um local onde focar sua atenção, porém não encontrava nenhum. Damon se balançava levemente, no ritmo de uma canção que ele cantarolava ao sussurros, rindo de si mesmo em alguns momentos.
Jason e Dean sorriam, nada surpresos com o pedido. Elizabeth e Ryan estavam felizes por ser Luca a fazê-lo.
Júlia, uma das protagonistas do momento, olhava para meu irmão de olhos serrados e um leve sorrisinho no rosto.
Fiz sinal para que Luca me passasse o microfone. Quando o peguei, posicionei-o para que Júlia falasse. Nenhuma palavra saiu dali. Belisquei-a para que tivesse alguma reação. Ela piscou, surpresa pela pequena dor que eu lhe proporcionara.
E sem tocar no microfone, ela começou a falar.
- Luca...
Júlia pausou, olhando à seu redor. Pude ver a lentidão em que seus pensamentos se encontravam.
- Bem. Neste momento, eu recuso o seu pedido.
A surpresa inundou todos os presentes ali, fazendo com que soltasse um murmúrio decepcionado.
Minha vontade?
Na verdade eu queria socar Júlia, porém me contive e expressei minha pequena fúria com um rosnado baixo, porém intenso, que fez com que ela se arrepiasse e me olhasse de soslaio.
Ela respirou fundo e continuou.
- Eu não aceito, pois você está bêbado. E se quando você ficar sóbrio desistir? Prefiro que este pedido seja feito mais tarde! - Ela sorriu.
Luca estava parado, olhando na direção onde estávamos.
Pensei em arremessar o microfone para que ele o pegasse e falasse o que queria, porém aquilo não era um boa ideia, pois o microfone provavelmente bateria em sua cabeça e cairia no chão pela falta de reflexo da parte dele. Então andei até meu irmão e fiz a mesma coisa de anteriormente. Servi como pedestal.
- Tu... Tudo bem! Tenho plena certeza de que eu não mudarei de opinião. Mas farei este pedido novamente quando estiver sóbrio. – Luca concordou, conformando-se.
Respirei fundo e decidi que continuaria eu mesma aquilo.
- Vamos, vamos lá pessoal! – Sorri voltando a atenção de todos para mim. – Vamos continuar isso aqui. Por favor, tragam o bolo!
Meu pedido foi atendido. Duas garotas vieram trazendo uma mesa. O bolo tinha três andares, cada um deles representando um de meus irmãos. A primeira camada, em tom verde, representava o Luca. Nele havia um boneco comestível soltando pequenos raios. O segundo andar era azul, o bonequinho que ali estava parecia voar, com suas duas mãozinhas nas têmporas, mostrando concentração, aquela era a camada Rafael. O ultimo, mas não menos importante andar, em tom vermelho, continha um boneco com seus cabelos em chamas, porém suas mãos pareciam congeladas, aquele era o Damon.
Sorri ao ver os quão parecidos com a realidade eram os pequenos bonecos.
Dezoito velas chamativas foram acesas por todo o bolo, então, o famoso “Parabéns pra você” foi cantado. Fiz com que os três enfiassem o dedo indicador em seus respectivos andares.
Quando Júlia voltou a si, começou a tirar fotos do momento. Ao término, ela reassumiu o controle. Devolvi seu microfone e minha irmã deu continuidade à comemoração.
Dean me puxou para um dança, sorrindo, como em todas as coisas que fizera aquela noite. Por mais incrível que parecesse, ele ficou sóbrio pela festa inteira, mesmo com sua idade, mesmo com a pequena influência de uma maioria embriagada.
Em certo momento resolvemos ir até o conhecido penhasco.
Mesmo com toda a animação presente ali, eu sentia a necessidade de mais um tempo a sós com o Dean, na verdade, este tempo a sós eu queria com toda a minha família, mas pelo que percebi, o máximo que teria era aquilo, com ele. Porém já estava de bom tamanho para mim.
Andamos pela floresta sem pressa, de mãos entrelaçadas e sem nada a falar por hora.
Era bom sentir aquele ambiente novamente. O silêncio – nem tanto por causa da festa que acontecia há pouca distância -, o ar puro, os pequenos animais que ali habitavam. Ao vê-los, sorri, mesmo que eles não pudessem entender o que eu estava fazendo.
Dean soltou minha mão, passando o braço por meu ombro e estreitando o espaço entre nós.
- Eu mudei de ideia! – Ele cortou o silêncio.
- Sobre? – Perguntei, questionando-me internamente sobre o que ele mudara de ideia.
- Não deixarei você ir! – Seu aperto se intensificou.
O alívio me tomou ao saber que era isso.
- Isto é uma boa coisa! – Sorri.
- Sei que é! – Dean respirou profundamente. – Poderíamos fugir voando, e nos esconder em alguma caverna por algum tempo. Somos ágeis, conseguiríamos comida e tudo o que precisássemos em uma piscar de olhos. – Sugeriu ele.
- Isso seria uma boa coisa. – Concordei. – Mas eu também mudei de ideia. Vou voltar ao instituto e aprender.
Senti seu olhar em meu rosto enquanto andávamos, pude ver que ele sorria lindamente.
- Surpreendi-me com sua irmã! – Falei, fazendo careta.
- Eu também. Pensei que ela fosse aceitar a proposta! – Seu tom era decepcionado. – Você rosnou para ela...
- Foi sem querer! – Dei de ombros. – Ela disse não e meu irmão ficou lá com cara de paisagem... O que você queria?
- Nada além disso!
Chegamos onde queríamos. A imensidão negra se estendeu à nossa frente, o vento se intensificou, fazendo-me cerrar os olhos.
- Aqui estamos nós mais uma vez!
- Eu adoro este lugar! – Falei, fechando os olhos e respirando profundamente.
- Foi aqui que eu te trouxe, quando... – Dean se interrompeu.
- Quando eu não via nada! Então você resolveu ajudar aquela pequena garota estranha que acabara de perder parte da família. A trouxe para voar e lhe proporcionou uma maravilhosa experiência que ela nunca mais vai esquecer na vida. – Enquanto eu falava, Dean apenas me encarava. Seu sorriso alargava-se mais a cada palavra. -A acolheu sem ao menos conhece-la e a cuidou...
De repente, fui interrompida por seus lábios. Sua boca quente se moveu em conjunto com a minha intensa e lentamente. Mas logo ele me soltou, olhando-me nos olhos e logo em seguida direcionando-se a meu ouvido.
- Eu sei que é cedo... – Ele sussurrou de modo ardente. – Sei que você pode achar cedo demais. Mas não importa o que você pense em relação a isso, não importa o que diga. Nada vai mudar o que sinto...
Dean pausou, beijando-me na testa respeitosamente e voltando a seu local anterior.
- Eu amo você!
Arfei com aquela afirmação. Não era um “eu amo você” que se diz a um amigo ou um irmão, era diferente, apesar da distinção dos sentimentos. Era do tipo que acelera seu coração à medida que é falado, que não deixa dúvidas. Era verdadeiro, e mesmo que fosse cedo demais, agora eu sabia o que sentia por aquele gentil homem.
Não era apenas uma pequena faísca acesa, eu podia dizer que era um incêndio.
Hesitei por um momento, pensando qual seria a resposta certa, e quando tive certeza, devolvi aquela pequena frase.
- Eu amo você! – Sorri, beijando seu pescoço e fazendo-o arrepiar.
Afastei-me lentamente, um pouco desnorteada pelo momento. Olhei em seus olhos e vi que brilhavam. Andei até a beira do penhasco, sorrindo. Fiz com que minhas asas saíssem, revelando-as inteiramente de uma vez e fazendo-o se surpreender.
- São lindas! – Elogiou Dean, dando um passo à frente.
Não falei, apenas agradeci àquelas palavras com uma sutil reverência com a cabeça, e logo em seguida, reverenciei-o inteiramente, assim como as moças dos tempos passados e elegantes faziam. Abri os braços, e, fechando meus olhos, mergulhei de costas no ar atrás de mim.
-Ei, espere por mim! – Dean gargalhou ao longe.
Não respondi, apenas continuei fazendo o pequeno percurso em queda livre enquanto ele pulava de cabeça, tentando alcançar-me, de modo que colou suas mãos às laterais de seu corpo, tentando fazer o mínimo de resistência possível contra o ar. Mesmo com o esforço, Dean não conseguiu me alcançar, pois logo assim que cheguei perto o suficiente do limite entre a queda e o mar, direcionei-me para frente e logo em seguida, para cima. Pude vê-lo enquanto acompanhava-me com o olhar.
Logo ele estava subindo em minha direção. O vento em demasia fazia com que seus cabelos ondulassem para trás... Seus olhos, mesmo na escuridão daquela noite, brilhavam em um intenso azul. Seu sorriso cresceu e pude ver o quão feliz Dean estava com aquele momento. Mirei à minha frente e vi que as estrelas estavam presentes ali, sorri com aquela linda imagem, entretanto, fechei meus olhos e respirei o ar um tanto denso devido à altura. Tive certeza de que aquele momento ficaria marcado em minha mente e minha alma pela eternidade à minha frente. Ou até o tempo que me restava.
Senti sua mão grande se encaixar á minha, a apertando ao mesmo tempo em que eu apertava a sua e logo em seguida beijando minha mão.
Pude perceber a diferença entre voar com e sem asas. As minhas asas era um pouco pesadas de certo ponto de vista, e eu tinha que movê-las para voar como queria. Mas Dean não. Ele apenas voava com facilidade, sem se preocupar com nenhum esforço aparente. Dean podia parar em pleno ar, enquanto eu tinha que me manter em constante movimento.
Subíamos cada vez mais, até que nos encontramos à uma certa altura que para um humano não era suportável pela pressão exercida. Dean parou, encarando-me e levando-me para perto de si, segurando-me enquanto eu repousava minhas asas.
Seus olhos encararam os meus enquanto ele se aproximava para mais um adorado e enlouquecedor beijo. Minha única reação era correspondê-lo, e involuntariamente, minhas asas o envolveram como num abraço, mantendo-o ali, sempre perto.
- Eu já disse que amo você? – Ele brincou aos sussurros.
- Sim... Mas não tenho problemas em ouvi-lo novamente!
- Eu te amo. – Retrucou ele ao meu pé do ouvido, fazendo-me arrepiar.
- Eu sei! – Sorri, encarando sua expressão enquanto suas sobrancelhas se uniam em descrença. – Mas não se preocupe, eu amo você mais. – Pisquei.
- Mentira! – Acusou.
- Pensei como quiser! Mas isto não muda nada!
- Com licença? – Falou uma voz ao longe.
Ergui as sobrancelhas ao perceber que a música tinha parado.
- Isso é lá na festa! – Dean falou.
- Eu sei! – Sorri. – Vamos!
Ainda de mãos dadas, voamos até onde a festa estava. Tiramos um tanto de atenção das pessoas com nossa impetuosa e peculiar chegada. Pousamos ao lado da pista de dança ao mesmo tempo em que eu escondia minhas asas para evitar olhares curiosos e admirados. Porém era tarde demais, alguns me encaravam, outros murmuravam, mas logo aquilo parou.
Vi que quem estava com o microfone era o Luca. Ele sorriu para mim, confiante e sóbrio.
- Agora vocês podem ver... O efeito da bebida passou. Olha só! – Ele gargalhou, fazendo um quatro com as pernas, mostrando-se equilibrado.
Luca pausou, andando até o meio da pista de dança, buscando Júlia entre as pessoas presentes ali. Ao encontra-la, meu irmão a chamou apenas estendendo a mão, Júlia, por sua vez, andou até ele com um sorriso bobo brincando em seus lábios, ela parecia hipnotizada pelos olhos de Luca, Júlia não conseguia olhar para nenhuma direção além daquela.
- Agora eu estou bem! –Luca piscou. – E poderei fazer o perdido devidamente.
Luca pausou, olhando-a nos olhos por alguns instantes.
- Bem... Sei que já são alguns meses de “enrolação”, e eu acho que já é o bastante para ambos. Neste meio tempo, pude conhecê-la perfeitamente, como, por exemplo, o seu jeito animado e extrovertido, o brilho em seus olhos quando você tem alguma ideia brilhante, a pequena careta que faz quando tem algum tipo de intuição. O leve rosado em seu rosto quando fica envergonhada, e percebo que é assim que está agora. – Enquanto falava Luca não tirava seus olhos dos dela. Em sua mente só havia os dois ali. – Sei que não sou perfeito... Mas o perfeito é sem graça, as imperfeições dão o toque que diferencia cada ser. E eu não serei o homem perfeito, mas posso ser perfeito para você, ou quase isso, posso me encaixar ao seu molde e fazer você feliz. Fazer com que você se sinta bem a meu lado. – Luca pausou, respirando fundo. – E quero que você seja minha namorada, e quero fazê-la bem como ninguém nunca fez. Então...?
Júlia o encarava, boquiaberta um tanto emocionada pelo momento. Sua boca se abriu, ele queria falar, mas nada saiu dali. Ela o abraçou impetuosamente, beijando-o no rosto, pescoço e logo em seguida, boca.
- Eu aceito! – Ela falou em alto e bom som, mesmo sem o uso do microfone todos puderam escutar o êxtase em sua voz.
Os convidados soltaram um murmúrio de alívio pelo sucesso do segundo pedido. Enquanto todos aplaudiam, o casal protagonista da cena dava um longo e intenso beijo, não se importando com mais nada além daquele momento.
- Até que enfim! – Sussurrei ao revirar os olhos.
Após o terno momentos, todos voltaram às suas atividades anteriores.
Alguns ainda dançavam avidamente, outros nem tanto. Alguns estavam deitados pelos arredores, porém ainda gritavam em animação ao ver os outros.
Júlia e Luca não se separaram depois do lindo pedido de namoro. Rafael e Damon dançavam animadamente, estes, ao contrário de Luca, não pararam de beber e naquele momento estavam quase caindo pelos cantos, rindo até da pequena ventania que estava presente ali. Elizabeth e Ryan dançavam sobriamente, afinal, eles de certo modo, eram responsáveis por aquilo. Jason comandava a mesa do Dj enquanto Hunter dançava, este parou de olhar para mim constantemente, concentrando-se em outras pessoas ali.
Após Jason, assumi o posto e subi na mesa mais elevada para comandar a festa. Dean, por suposto, veio para meu lado, auxiliando-me e roubando-me alguns beijos de tempos em tempos.
Era legal poder ver como as pessoas reagiam à mudança constante das músicas, com o modo como eu mudava as luzes. Vê-los acenando para mim, ou pedindo alguma música.
Logo o dia estava prestes a amanhecer, e a festa acabaria em breve. Dean chamou Júlia para assumir meu lugar, esta foi acompanhada por Luca.
Após fazer com que ocupassem meu lugar, Dean pegou-me pela mão e me levou novamente para o penhasco onde estávamos anteriormente.
- Você ainda não pode paralisar o tempo? – Perguntou-me Dean enquanto sentávamos à beira do penhasco.
- Infelizmente não! – Gargalhei.
Senti seu braço apoiar-se em meus ombros e me puxar para mais perto dele. Deitei minha cabeça em seu peito enquanto observávamos o céu clarear lentamente.
- Mas deixe-me tentar! – Falei em tom de brincadeira.
Porém aquilo não fora inteiramente uma brincadeira. Fechei meus olhos e tentei ao máximo parar o tempo, permanecer naquele dia, naquela festa, com todos os que eu amava ali, perto a mim. Tristemente não consegui nenhuma resposta, eu não podia fazer aquilo ainda. Talvez não fosse a hora certa para isso.
Seu braço apertou-me ainda mais.
- Está realmente tentando, não está? – Perguntou-me sorrindo.
- O que achas?
Sua resposta foi o silêncio.
- Mas como eu disse anteriormente: Infelizmente, não consigo. – Meu tom soou triste desta vez.
- Talvez este não seja o momento de parar o tempo! – Dean falou o que havia pensado anteriormente, talvez nossos pensamentos estivessem sincronizados ali.
- Foi o que pensei! – Concordei.
Não havia nada ali além de mim, Dean, o vento e o leve bater de ondar abaixo de nós. As palavras nos fugiram e o silêncio ficou por um bom tempo. Observamos o dia clarear por completo enquanto acariciávamos um ao outro.
- Acho que é hora de voltar! – Falei, dando um sorriso amarelo.
- Oh, não. Fique mais um pouco! – Sua voz beirava o desespero.
- Não Dean. – Levantei-me rapidamente. – Tenho realmente de ir. Não pretendo levar um castigo maior que já estou imaginando.
- Eu poderia conversar com o Daniel! – Dean sugeriu.
- Não é necessário. – Disse rapidamente. – Eu posso resolver estes pequenos problemas sozinha.
Eu não tinha nenhum ânimo para ir embora, porém iria. Não queria que algo acontecesse por essa minha breve visita. Não queria que aquele idiota dos olhos negros viesse e fizesse algum mal à minha família ou amigos. Se fosse para acontecer algo, que acontecesse no instituto, bem longe daqui.
- Vamos? – Estendi-lhe a mão.
Dean apenas deu de ombros, derrotado ao ver que eu estava decidida, pegando minha mão e voltando comigo para a casa.
Algumas pessoas já tinham ido embora. Outras de despediam. O som estava em um volume médio, onde dava para escutar perfeitamente o que as pessoas falavam.
- Meninos? – Falei, tocando levemente as costas do Luca e Damon, fazendo-os virarem rapidamente. – Tenho de ir embora.
Os dois começaram a abrir suas bocas em negação, mas eu logo os interrompi.
- Não adianta contestar, eu tenho de ir. – Continuei, abraçando-os ao mesmo tempo. – Eu amo vocês! – Sorri, beijando-os no rosto.
- Nós também amamos você!
- Onde está o Rafael?
- Ali! – Damon apontou para a casa.
- Fazendo?
- Entre, e verás!
Fiz uma pequena careta ao assentir e entrar na casa em busca de meu irmão.
- Rafael? – Gritei, especulando o que ele estaria fazendo, ou com quem estava.
- Aqui em cima, sala de jogos! – Ele me respondeu, aliviando-me por estar naquele lugar.
Subi rapidamente as escadas e direcionei-me ao local onde ele estava.
- O que faz aqui? – Perguntei.
- Vim pegar isto!
Enquanto falava, Rafa ergueu as armas de Paintball que estavam em suas mãos.
- Eu. Não. Acredito. – Falei, tornando cada palavra uma sentença.
- Pode acreditar! Vamos jogar!
- Eu não vou! Tenho de ir embora, infelizmente.
- Logo agora? – Seu rosto entristeceu.
- Sim, agora! Antes que fique mais tarde e Daniel me mate. – Sorri. – Vim apenas me despedir de você!
- Oh. – Rafael retribuiu o sorriso. – Então tenho de deixar você ir. – Ele soltou todas as armas em uma mesa próxima e me abraçou. – Até mais maninha!
- Até logo, Rafael. – Beijei-o como fiz com os outros. – Eu amo você!
- Eu a amo mais!
- Vamos! – Falei finalmente, não querendo prolongar aquelas despedidas.
Rafael recolheu novamente as armas, ajudei-o a carrega-las, pois eram muitas, e descemos as escadas, saindo novamente.
- Vamos atirar? – Hunter gritou animadamente.
- Não Hunter! Nós vamos embora! – Falei, acabando com sua animação.
- O que? – O horror assumiu seu rosto. – Por que logo agora?
- Por que não quero levar um castigo maior.
- Tchau Júlia! – Falei ao vê-lo e tão logo indo abraça-la.
- Tchau sua maluca... – Ela sorriu. – Até breve.
- Jason. – Acenei, fazendo com que ele viesse até mim e me apertasse.
- Tchau Kath. – Jason beijou minha testa.
- Beth, Ryan... Até breve! – Sorri, abraçando-os. – Deem lembranças para a pequena!
- Pode deixar! – Eles sorriram ao falarem ao mesmo tempo.
- E você! – Sorri ao dirigir-me à Dean. – Até logo!
- Até logo, minha pequena! – Ele sorriu enquanto encostava sua testa na minha. –
Eu amo você! Sentirei sua falta!
- Não tanto quanto eu! – Sorri, aproximando-me para um ultimo beijo.
Seu aperto foi mais forte do que antes e mais duradouro. Não me importei com as pessoas à nossa volta, eu apenas o sentia assim como ele me sentia.
Luca pigarreou, aproximando-se.
- Vamos? O tempo está passando! – Hunter falou.
- Ok, vamos! – Dei de ombros. – Amo vocês! – Sorri, acenando enquanto inesperadamente meus olhos enchiam-se de lágrimas.
- Nós amamos você! – Eles sorriram.
Dirigi-me para os fundos da casa com Hunter enquanto todos nos seguiam. Despedi-me rapidamente de Mina e subi na moto, enquanto Hunter subia na garupa.
- Não posso dirigir? – Perguntou-me ele.
- Não! – Falei.
Escutei-o resmungar algo que não consegui entender.
Dei uma ultima olhada em todos e dei partida na moto. Logo estávamos praticamente voando pela estrada e rapidamente chegamos ao local exato, abrimos o portal e voltamos para onde o instituto se localizava.
Respirei fundo ao ver os paredões de pedra aproximarem-se de nós.
- E lá vamos nós... – Falei enquanto atravessávamos as paredes.
- Tomara que o castigo seja leve. – Hunter fez careta atrás de mim.
- Não podemos contar com isso!
Autor(a): Bia Vieira
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
- Eu posso até ser amigo de vocês! Porém eu ainda sou o diretor e responsável por isso aqui. – Daniel parecia furioso, porém de certa forma, contido. – E aqui nós temos normas, e estar, por sua vez, devem ser respeitadas regularmente, ou melhor, sempre! Parece-me que isto é mal de subespécie ...
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