Fanfics Brasil - Capítulo 2 - Após a tormenta nem sempre vem a calmaria Legado - Escuridão

Fanfic: Legado - Escuridão


Capítulo: Capítulo 2 - Após a tormenta nem sempre vem a calmaria

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                Dor de cabeça, muita dor. O que está acontecendo? Cadê todo mundo? Será que aquilo foi só um pesadelo? Um horrível pesadelo por sinal.


                Foi com essas perguntas que voltei à consciência. Minha cabeça girava e girava, como se eu tivesse acabado de ir a uma Montanha Russa repetidas vezes. Mas não era só a cabeça, meu corpo inteiro estava dolorido.


                Fazendo suposições sobre o ocorrido, escuto vozes se aproximando. Escuto os donos de essas vozes abrirem a porta e entrarem.  Identifico-as à medida que se aproximam. Vozes graves e nítidas, também tristes e amarguradas, mas eram lindas vozes. Eram os meus irmãos. 


- Katrina? – Pergunta o Luca, com o mesmo tom triste de antes, mas agora preocupado. Percebo que o que aconteceu não foi exatamente um sonho.


- Sim?


- Você está bem? – Agora o Rafa, a meu parecer, mais perto.


- Na medida do possível. – Respondi o mais sinceramente que consegui. – O que aconteceu?


- Você não se lembra?


- Só de algumas partes.


- Conte-me! – Falou o Damon.


- Me lembro de vocês me levando para o quarto, mandando eu me esconder. Lembro-me de gritos, quando os ouvi, corri para as escadas, desci e me escondi.  Vi uns homens lutando contra vocês. Vi um... Um olhos pretos? – Perguntei, duvidando de minha memória. 


- Sim, era um olhos pretos. – Confirmou o Damon.


- Mas... – Não consegui terminar. Era impossível. Até agora, que eu saiba não se tinha idéia se havia algum olhos pretos. E de repente aparece um e ataca a minha família?


                O silêncio por um momento tomou conta do lugar.  Todos ficaram especulando. Por quê? Por que aquilo estava acontecendo? Por que nós?


- Eu realmente não sei por que eles nos atacaram. Justamente nós. Não sei o que fizemos de errado.  – O Rafa respondeu as minhas perguntas. – Eu nem sabia que ele existia!


- E o que houve com os nossos pais?


                Novamente tudo ficou em silencio, um silencio mais demorado, com um ar de suspense e tristeza.


- Gente, o que aconteceu? – Perguntei novamente, esperando uma boa resposta.


- Katrina, eles... - O Luca não conseguiu terminar a frase. Mas eu já sabia, eu tinha a resposta, mesmo naquela frase incompleta.


- Não...


- Kat... – Eles chamaram, com a voz embargada e rouca por causa do choro que vinha. Mas eu estava desesperada.


- Não, não pode ser. Por quê? O que nós fizemos. – Falei, começando a me alterar.


                Senti braços passarem por mim, enquanto as lágrimas desciam por meu rosto, e provavelmente pelo rosto de meus irmãos.  Lágrimas dolorosas. Com gosto de perda. Sempre pensei que teria meus pais para sempre, mas agora, tudo estava acabado. Agora, só restamos os quatro.  Planos, sonhos. Tudo fora destruído, e por um motivo desconhecido por todos nós. Partes desconhecidas que eu tinha a certeza que os meus irmãos cavariam até chegar a uma resposta convincente.  Mas eu não tinha a plena certeza se queria saber que respostas eram essas, os motivos pelo qual isso estava acontecendo. E também não queria que eles se envolvessem nisso, poderiam sair machucados, ou mortos como foram os nossos pais. Afugentei rapidamente esse pensamento, já havíamos perdido família demais, a quota já estava superando os limites.


                Em meio a lágrimas, abraços em família, tentativas falhas de consolo e de afugentar os pensamentos ruins de minha cabeça foi que percebi uma coisa.


- Por que está tudo tão escuro? – Questionei, com a voz rouca e de nariz molhado.


                Em reposta recebi o silêncio mais uma vez. Que droga! O que mais estava acontecendo?


- Falem logo. – Ordenei, sentindo minha expressão se enrijecer. – Mas que droga! Tudo o que eu pergunto vocês respondem com o silêncio!


- Kath, você se lembra da luz? – Perguntou o Luca.


- Sim, eu me lembro da luz.


- Então, após aquilo, nós três juntamos nossas forças e fizemos você aparecer aqui.


- E onde exatamente é aqui? – Perguntei, com ironia, mas não atingi todo o seu potencial.


- Aqui é a casa de um amigo nosso. Foi à primeira coisa em que pensamos.  Eles disseram que você caiu bem em cima da mesinha de centro na sala deles.  Seu corpo deve estar dolorido. Depois disso, eles te trouxeram imediatamente para cá, para esse quarto. – Explicou o Rafa.


- O pai dele é médico e Spectro, cuidou de você, de seus ferimentos.  – Completou o Damon.


- E?


- E você viu a luz, humanos não suportam a ela. O Ryan examinou você, e... Seus olhos.


- Ok, ele examinou meu olhos e? – Perguntei, torcendo para não ser o que estava pensando.


- E com o exame ele viu que, ao enxergar aquela luz, a sua retina foi queimada.


- O que? – Exclamei, alto demais.


- Nós sentimos muito. – O Luca falou, chorando.


- Mas... – Novamente, não consegui terminar a frase, senti as lágrimas invadirem o meu rosto em abundância. Vieram os soluços, e começou a ficar difícil para respirar. Levantei-me da cama, tentando correr. Eu queria ir o mais longe possível, longe de tudo e de todos, mesmo sem nada ver. Pude ouvir o choro dos dois. Mas dessa vez não foi silencioso.


- Nos desculpe Katrina. Foi tudo nossa culpa! – O Rafa falou, me apertando em um abraço. Senti meu corpo relaxar e ceder, em pouco tempo eu estava no chão, cercada por eles.


- Nós devíamos ter protegido você, cuidado de você. Mas nós somos três idiotas. – Completou o Luca, em meio a fortes soluços.


- Por favor, Katrina, nos perdoe! – O Damon pediu, quase implorando. – Mas não se preocupe você ficará bem. Não totalmente, mas nós iremos cuidar de você. Não vamos deixar que nada mais te aconteça!


- Katrina, por favor, fale conosco.


                Mas eu não conseguia falar, nenhuma palavra saia de minha boca. Eu não podia dizer que ia ficar tudo bem, que a culpa não foi deles, e sim minha, por às vezes ser tão impulsiva. Não conseguia dizer a eles que os amava, e que eu nunca os culparia por isso.


                Eu estava novamente em choque. Não bastaram os meus pais? E o que aconteceria a seguir? Arrancariam os meus braços e pernas? Minha cabeça talvez. Agora eu ficaria como uma inválida? Teria que ficar numa porcaria de uma casa, nessa merda de vida. Eu ainda queria saber o motivo de tudo isso. Mas não por meio de meus irmãos.


                Minhas emoções estavam à flor da pele. Um misto de ódio, dúvida, amargura, dor e tristeza. Principalmente tristeza. Tristeza pela perda de meus pais, tristeza pela perda de minha visão. Tristeza pela tristeza, e pelo sentimento de culpa de meus irmãos.


 


                Após a desastrosa série de incidentes, eu não tive mais vontade da fazer nada. Não tinha vontade de comer, de falar, de sair do quarto, nem de escutar músicas.  Música, que sempre foi um de meus pilares. Nem ela me fazia sair desse estado depressão.


                Meus visitantes eram meus irmãos, o Ryan e sua esposa Elisabeth. Cujas perguntas e comandos eram quase sempre os mesmos: “Você está bem? O que você quer comer? Katrina, você precisa comer! Katrina, você precisa levar sol e ar fresco! Katrina, você não vai falar nada?” Entre muitas outras perguntas. E para quase todas essas perguntas eu tinha a mesma resposta: um sinal negativo com a cabeça. 


                O Ryan, ao meu parecer, era uma pessoa legal. Ele cuidava de mim, de meus olhos, de meus ferimentos. Conversava, ou tentava conversar comigo. Sua voz era rouca e ao mesmo tempo calma e relaxante. Especulei se ele era bonito ou não. Mas cheguei à conclusão de que sim, ele era bonito, afinal, todos os Spectros são lindos. Sua esposa, Elizabeth, tinha uma voz doce, e por sua vez, também era doce e gentil; com sua natureza Electra, provavelmente seria linda.


                Meus dias e noites tornaram-se cansativos com minha rotina de choro. Comia quando era parcialmente forçada e só ficava no quarto, desde que chegara não tinha saído dele, apesar de ter se passado um mês.  Pesadelos vinham e o olhos pretos e seu sorriso maldoso não saiam deles.  E por várias noites eu revivi aquela cena horrível, o olhava matar toda minha família, enquanto eu estava parada, sem conseguir me mexer, não por choque, meu corpo parecia paralisado. E depois ele vinha, acariciava o meu rosto ternamente, pousava a mão em meu pescoço e me olhava nos olhos, docemente, como se estivesse apaixonado. Mas eu, eu o olhava com repulsa, ódio. Ainda assim eu não conseguia me mexer. E nessas partes eu acordava assustada e chorando, tentando escutar qualquer barulho estranho que houvesse, mas o que vinha era o silêncio.          


                Em uma dessas noites quando acordei, não foi o silêncio que escutei. Escutei alguém abrir a porta, devagar, o mais silencioso possível. Mas, com a perda de minha visão, os meus outros sentidos se aguçaram, então eu consegui escutar o barulho da porta, mesmo sendo um barulho mínimo.  Continuei deitada, como se ainda estivesse dormindo. Senti medo, pois não sabia quem era, ou se podia me fazer algum mal. Após a abertura da porta não escutei mais nada, nem passos, nem respiração.


                Fiquei debaixo das cobertas o mais atentamente possível, pois a qualquer sinal eu poderia gritar; mas logo cheguei à conclusão de que meu grito não sairia tão bom assim pela falta de exercício de minha voz. Senti mãos passando pelo cobertor, na intenção de descobrir minha cabeça; quando isso foi feito, automaticamente abri minha boca, e quando estava a um passo de gritar, senti uma mão quente tapá-la.


                Eu quis mordê-la, mas se a pessoa fizesse algo pior comigo por isso? Senti os meus olhos se arregalarem, sem nada ver.  E logo depois, escutei uma respiração próxima a meu ouvido, seguida por uma voz baixa, e grave.


- Shhh. – Falou ele, enquanto eu me debatia. – Ei, ei. Calminha aí, eu não vou fazer nada a você.


                Continue me debatendo, até que desisti. Ele era mais forte do que eu, mais rápido. E enxergava, sim, essa era uma ótima vantagem contra mim. Assim que ele se deu conta de minha desistência continuou a falar:


- Como eu disse, eu não vou machucar você. Eu sou Dean, o filho do Ryan e da Elizabeth.


                Senti o meu corpo e minha respiração começarem a relaxar. Meus olhos começaram a voltar ao normal. E ele continuou.


- Me desculpe se te assustei. Mas estou sem sono, quando passei vi a porta entreaberta e escutei você chorando, vim ver se estava tudo bem. Você está bem?


                Minha resposta foi um aceno com a cabeça, um aceno de talvez.


- Você não é muito de falar, é?


                Respondi com um aceno positivo.


- Sim, você não é de falar muito. Ou, sim, você fala muito? – Perguntou. Percebi o sorriso se formando em seu rosto à medida que ele falava. Dessa vez não respondi.


                Senti a ondulação quando ele se sentou a beira de minha cama. Meu corpo recuou automaticamente.


- Você ainda não se recuperou totalmente, não é? – Perguntou ele, com um tom triste em sua voz. Em reposta, fiz um sinal negativo com a cabeça. – Você pode ficar tranqüila, nós não vamos deixar que mais nada te aconteça. Você está segura aqui.


                Enquanto meus olhos fitavam o vazio a minha frente, baixei minha cabeça, em um ato de tristeza.  Logo senti uma mão passear levemente por meus cabelos.


- Você vai ficar bem! – Disse ele, com tal confiança que pela primeira vez eu senti que realmente iria ficar tudo bem.


                Passou-se um tempo, quando ele finalmente falou:


- Ok, já que você não vai falar nada mesmo, eu vou embora, vou dormir, ou pelo menos tentar.


                Mas eu não queria que ele fosse embora. Eu queria conversar com ele, senti que ele podia ser um grande amigo, mesmo com essas poucas palavras ditas. Ele me passou confiança. E por incrível que pareça para mim, eu senti o impulso de falar.


- Ei, espera. – Falei, e logo pensei: “Nossa, como a minha voz está horrível! Meu Deus!”


                Escutei ele arfar e se virar, vindo em direção a minha cama. Continuei fitando a minha frente, esperando alguma resposta.


- Oh meu Deus, ela falou. O sarcasmo surgiu em seu tom de voz. – Ou será que estou ouvindo vozes?


                Não respondi. Eu estava tentando entender o porquê de sentir confiança em um completo estranho que apareceu do nada em meu quarto, e ainda por cima no meio da noite. Um estranho que eu nunca havia visto na vida - e nem veria –, que durante este mês em que estive aqui nunca veio ao quarto no qual eu me encontrava.


                Eu realmente não entendi, com os meus irmãos, três das pessoas mais importantes para mim, as palavras não saíram, ficaram presas. Mas com o Dean... Talvez fosse por curiosidade, eu não o conhecia, e fazia algum tempo que não conhecia novas pessoas.


- Sim, acho que escuto vozes.


- Sim, eu acho que são as vozes do além. – Respondi, ainda com a voz horrível. 


- Essa voz me parece doente. – Senti a sua aproximação.


- Bem, a voz está há algum tempo sem falar, e acabou de acordar de um pesadelo. – Respondi, entrando em seu jogo.


- Mas como eu já havia dito: tudo ficará bem, nada mais acontecerá à voz. – Senti que ele se sentava na cama novamente.


- Mas a voz continua com medo e triste. Mesmo com todas essas promessas de que tudo ficará bem.


- Mas você ainda tem aos seus irmãos, as três pessoas que mais te amam nesse universo. – Sua voz se tornara intensa. – E agora você está sendo cuidada pelo melhor médico do mundo, meu pai.


                Abaixei minha cabeça, fechando os olhos, sentindo parte de minha tristeza vazar por eles.


- Eu estou cheia, cheia de tudo. Todos me perguntando se eu estou bem, o tempo todo. Mas eu pareço bem? Pareço estar na melhor das condições, para você? E eles vêem que não está nada bem, e continuam perguntando, e me reconfortando. Eu sei que eles só querem o meu melhor. Mas mesmo assim...


- Sim, eles só querem o seu melhor.


- Estava tudo indo tão bem, nós estávamos felizes, comemorando mais um ano de vida de minha mãe. E de repente tudo explode, como uma bomba relógio, causando desastres em cadeia. Mas, por quê? – Desabafei. – Se você sabe, por favor, me diga.


- Se eu soubesse...


- Sim, se soubesse. Ninguém sabe não é?


- Não, ninguém sabe. Mas nos vamos tentar descobrir.


- Não precisa! E se acontecer algo a vocês também?


- Nós sabemos nos cuidar.


- Sim, os meus pais também sabiam se cuidar.  – À medida que eu falava o choro só aumentava.  Ele ficou sem respostas. Então continuei. – Mas que merda. Eu estou aqui, sem enxergar porcaria nenhuma, com um cara que entra em meu quarto no meio da noite, e que nem conheço, e estou contando meus desastres pessoais a ele.


- Eu meio que te conheço.


- De onde?


- Seus irmãos falam muito de você, sabia?


- O que eles falam exatamente?


- Muitas coisas!


- E que coisas são essas?


- Que você é simpática, feliz... Linda. E muitas outras coisas.


- Sim, mas agora não sou mais.


- Ainda é. Você só precisa se animar, sair dessa cama. O seu mundo não precisa parar. Você pode ter um novo modo de encarar a vida. Todos nós estamos aqui, dispostos a ajudá-la.  Você não pediu por isso, ninguém nunca pediria. Você só estava no lugar errado, na hora errada. Mas agora essa é sua triste realidade, mas, ela é triste por que você a está fazendo assim.  Isso não é o que você tem que ser, e tenho certeza de que isso não é o que você quer.


                Dessa vez eu fiquei sem palavras. Meu corpo encostou-se na cabeceira da cama, enquanto minha cabeça começava a funcionar. Eu sabia que ele estava completamente certo, só não estava conseguindo admitir isso. Eu estava ocupada demais enquanto afundava em depressão para perceber isso.


                Eu percebia a tristeza de todos ao meu redor enquanto me viam. Eu escutava a pena transparecer em suas vozes, e uma das coisas que eu mais abominava era a pena, o rosto das pessoas quando a sentem, o rosto delas ao olhar para mim. Mesmo sem poder ver, eu sentia isso. Nunca fiz papel de coitadinha, e nunca gostei desse papel. E agora, eu estava compensando toda a minha vida nesse período.


                Com essas palavras, eu tomei consciência de que tudo era verdade, todos os sermões e repreensões.  Se os meus irmãos ou o Ryan e Elizabeth tivessem falado do modo como o Dean falou, com essa segurança e sem medo de que eu, depois de escutar essas palavras, me derramasse em lágrimas, teria acordado mais cedo.


- E? – Perguntou ele, me tirando de meus devaneios.


- E que você tem a completa razão. Eu não quero ser a coitadinha, nunca fui, e não vai ser agora que vou começar.


- Isso, pelo que eu sei você não é assim. – Escutei novamente um sorriso se formar em sua voz, à medida que ele percebeu o meu convencimento.


- Não era.


- Ok, eu não vou repetir o que eu falei anteriormente! – Tive a impressão de que ele tentou me fazer rir, mas não teve muito sucesso.


- Sim, não precisa, eu escutei cada palavra.


- Então... Pense, pense muito bem. Por favor. Pense em cada um aqui, no modo como eles se preocupam com você, quero dizer, nós...


- Sim...


- Promete que vai sair dessa?


- Acho que sim.


- Prometa!


- Eu não posso prometer nada, Dean.


- Então apenas diga que vai pensar sobre o assunto. – Ele falou, tentando me encorajar.


- Tudo bem, pensarei.


- Então, eu acho que vou dormir. Você está me dando sono, você fala demais.


- Pelo menos para dar sono eu sirvo.


- Não fale assim. Então...


- Até algum dia.


- Não, até amanhã. – Ele falou, e eu o senti levantar-se de minha cama. – Tchau, pense bem.


                E então, ele estava indo embora. Escutei seus passos leves, e a porta se fechar, delicadamente, quase sem fazer barulho.


                Eu não ia ficar naquele quarto para sempre, meus irmãos e todos os outros iam acabar desistindo de mim. Eu terminaria morta por inanição. Repensei sobre a pena que todos sentiam e sobre o meu pavor a esse sentimento. Por um momento tive vislumbres de minha vida antes do ocorrido. Éramos felizes, cantávamos, dançávamos, lutávamos, fazíamos de tudo um pouco. Saíamos, nossos pais não eram muito convencionais, eles eram jovens, em busca de suas aventuras, mas com certa dose de responsabilidade. Levavam-nos a passeios, festas, que algumas vezes eram organizadas por nós mesmos, mas ainda assim, grandes e animadas festas, onde só eu era humana.


                Músicas compostas por nós mesmo, com lindas letras e lindas melodias, não saiam de nossa cabeça e nem de nossa boca. Músicas feitas com muito sentimento e amor. Mas a música já não interessava mais. Eu não estava com cabeça para compor, tocar ou algo do gênero. Na verdade minha cabeça só ficava me martirizando, não tinha mais espaço para nada.


                Mas eu estava decidida a sair dessa, eu não queria mais. Já basta, havíamos perdido muito, e eu não precisava fazê-los sofrer mais. Estava decidida a me fazer acreditar que eu poderia ter uma boa vida, mesmo que com barreiras. Eu estava ficando no escuro por tempo demais. Era difícil me convencer que eu voltaria a acreditar na vida, mas eu precisava, e com algum esforço iria conseguir. Eu pensei que não estaria disposta a virar essa página, mas depois dessa conversa com o Dean, eu vi que estava errada. Eu sempre fui uma pessoa forte, então eu podia muito bem voltar a ser essa pessoa, ou pelo menos fingir que voltei a ser o que era antes.


                Durante o resto da noite fiquei pensando em tudo isso. Até que peguei no sono, um sono tranqüilo e sem sonhos. Jurei a mim mesma que o outro dia seria um dia diferente, jurei que tentaria fazer o dia deles feliz.


 


            Acordei com o barulho das cortinas sendo abertas, provavelmente era a Elizabeth, ela me acordava assim praticamente todos os dias.


- Vamos Katrina, hora de acordar.


- Tá, tá bom! – Respondi, a meu ver assustando a Elizabeth, que levou algum tempo para responder.


- Você... Você agora fala?


- Na verdade eu sempre falei, mas nesse ultimo mês eu não tive muita vontade...


- E o que te fez ter essa vontade, justo agora?


- Uma séria conversa com seu filho. – Percebi que minha voz estava ficando melhor por conta do exercício.


- O Dean? Ele esteve aqui?


- Sim, ele veio aqui ontem à noite. Acho que vocês estavam dormindo.


- E então? Ele te convenceu a sair dessa cama também?


- Acho que sim! – Falei, sentando-me.


- Então vamos, tome um banho, e eu te ajudo a descer.


- Sim. – Respondi, direcionado os meus pés para fora da cama, enquanto eu senti suas mãos me auxiliarem.


                Enquanto ela me ajudava, eu fiz minha higiene pessoal, tomei um bom banho, vesti-me. E ao sair do banheiro lembrei-me rapidamente de uma coisa. Passei um bom tempo com curativos nos olhos, e os tirei recentemente, então meus olhos deviam estar com algumas marcas, e não tão azuis como antes.


- Elizabeth...


- Você pode me chamar de Beth. – Ela me interrompeu, corrigindo-me.


- Sim. Mas então... Você tem alguns óculos escuros por aí?


- Sim. Na verdade os seus irmãos deixaram um óculo em uma mesinha aqui no quarto.


- E como seria o óculo?


- Seria estilo aviador, bem escuro.


- Ah, sim. Você poderia pegá-lo para mim? – Segundos depois a sinto pegar em minha mãe e colocar o óculo nela. – Obrigada! – Agradeci, o colocando no rosto. – Estou apresentável?


- Você está ótima.


                Passei um tempo pensando no que aconteceria daqui para frente. Em como a minha vida se tornaria. Eu estava tentando sair dessa escuridão. E com esses pensamentos, nós saímos pela porta daquele quarto.


 


 



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Autor(a): Bia Vieira

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • candyportinonvondy Postado em 14/08/2012 - 20:18:53

    To amando a web. Posta mais


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