Fanfic: Legado - Escuridão
- Posso ir lá, a casa? – Perguntei.
- Não! – Respondeu-me Daniel.
- Eu quero ir! - Exigi.
- Mas não vai.
- Por quê?
- Por que aqui é um pouco mais segura.
- Ou talvez seja tudo a mesma merda!
- Sim, mas isto não muda nada Katrina, você não vai e está decidido! – Seu tom duro mostrou-me que aquele era o fim da conversa.
- Obrigada por sua grande ajuda!
Levantei-me, batendo fortemente na mesa e saindo à passos largos e duros. Fechei a porta, ou melhor, bati, e quando percebi, a maçaneta viera comigo, deixando-o, de certo modo, trancado.
- Mais educação, Katrina. – Gritou ele.
- Ah, sei velho, vá a...
- Katrina! – Vanessa advertiu-me.
- Quer saber? Vá você também! – Sorri falsamente.
Meus passos continuaram ao mesmo ritmo de antes, e quando sai do prédio principal, braços acolheram-me firmemente.
- Olá Katrina, quanto tempo! – Falou Hunter em seu tom sugestivo.
- Olá! – Sorri.
Hunter parou, encarando-me completamente.
- Você cresceu! – Ele gargalhou. – Está... Diferente. Mas não é apenas isto. O que aconteceu? Não sentiu minha falta?
O pequeno e um tanto falso sorriso anterior sumiu. Sua mão se ergueu, recebendo uma lágrima que escorria sem minha permissão. Acariciando meu rosto ternamente ele falou:
- Querida? Por favor, conte-me o que aconteceu.
- Ele atacou novamente! – Sussurrei.
- E?
- E ele matou.
- Quem?
- Dean! – Falei ainda sussurrando quase ao mesmo tempo que ele.
- Oh, Kath, eu sinto muito.
Hunter me abraçou ainda mais forte.
Jurei para mim mesma que não choraria mais, não depois do tanto que chorara no dia anterior. Não depois do tanto que eu chorara ao longo deste tempo. Mas aquilo! Aquele abraço despertara tudo novamente. Agarrei-me o máximo que pude à ele.
- Calma. Tudo ficará bem!
Enterrei minha cabeça em seu peito enquanto sua mão direita pousava na parte de trás dela, apertando-me a ele, e sua mão esquerda apertava-me pela base das costas, suspendendo-me. Assim, ele andou lentamente para algum lugar.
- Calma. – Repetiu.
Eu estava em meu quarto. Hunter me deitara na cama, ficando à meu lado, acariciando-me à cabeça, tentando amenizar a histeria que ameaçava escapar.
- Acalme-se, por favor. – Esta era a única coisa que ele conseguia falar, parecia-me tão em choque quanto eu.
Mais uma vez eu apaguei. Porém naquele momento nos braços de alguém que eu confiava. Braços acolhedores que normalmente me recebiam sem pedir nada em troca.
******
No dia seguinte tentei conversar com minha família. Tentei fazer com que eles me explicassem o ocorrido, apesar de ter visto tudo com detalhes. Todos tentaram me contar alguma coisa, mas estavam abalados demais para aquilo. A pequena Lily, com sua juventude e inocência, era a que menos entendia. A única coisa que sabia e precisava saber era que seu irmão morrera, mas fora para um lugar melhor, e de lá, ainda cuidava de todos. – Cuidava dela como seu anjinho-da-guarda.
Após àquela conversa, a ideia de fuga só se reforçara em minha cabeça, - apesar de eu saber que de nada adiantaria sem meus poderes. Eu queria estar com todos, queria abraça-los, queria dizer e ouvir que ficaria tudo bem – apesar de saber que nada ficaria bem. Queria me trancar no quarto do meu Dean apenas para sentir seu cheiro em tudo, e fazê-lo prender-se à mim.
Fiquei um tanto aliviada por ter fugido, por ter passado aquele ultimo momento pessoalmente com ele.
- Katrina, vamos jantar. – Falou Zayn enquanto batia na porta de meu quarto.
- Não estou com fome! – Respondi com a voz um tanto rouca.
- Não me importa. – Respondeu-me enquanto abria a porta. – Se você não for andando, eu carrego você.
- Por que és tão insistente?
- Por que não gosto de ver meus amigos tristes! – Seu tom era intenso. – A propósito... Por que seus olhos estão vermelhos?
- Por que eu estava chorando, oras!
- Não. Vermelhos literalmente. Passaram do azul ao vermelho!
- O que?
Levantei-me e olhei meu reflexo no espelho, surpreendendo-me com a cor de meus olhos. No lugar do azul forte, estava um vermelho vivo, semelhante a cor do sangue.
- Mas que merda é essa?
- Não sei. Só sei que não me surpreenderia com nada que venha de você. Então vamos! – Continuou Zayn.
Eu também não me surpreenderia com aquilo. Talvez houvesse outro Spectro com o mesmo problema nos olhos – que talvez não fosse propriamente um problema. Eu falaria com Daniel em outro momento.
Fomos para o prédio principal e lá estavam quase todos os alunos. Electros e Spectros. E em uma das mesas, como sempre, estavam todos os outros. Conversavam, animados com a volta de Hunter. Quando cheguei, pararam de falar, olhando-me com ansiedade, surpresa, receio... Talvez não soubessem como se dirigir à mim. Vi em seus olhos que já sabiam o que acontecera. E fiquei satisfeita por não poder ler suas mentes.
- Katrina? Eu... – Começou Sarah.
- Por favor, sem comentários sobre isso. – Interrompi-a.
Por um momento ela me olhou de boca aberta, mas logo voltou à si, acenando sutilmente com a cabeça.
- Obrigada! – falei, sentando-me com eles.
- O que houve com seus olhos? – Perguntou-me PH.
- Eu realmente não faço ideia. – Dei de ombros.
- Olha só. Estão ficando branco, perolado. – Thony se aproximou, tentando analisar-me mais de perto.
- Vocês vão ficar fazendo isso o tempo todo? – Cerrei os olhos.
- Talvez! – Respondeu Nathan.
- Isso é ruim. – Fiz careta enquanto fechava os olhos.
- Vai ter de andar com óculos escuros. - Hunter riu.
- Melhor do que ter pessoas assim o tempo todo. – Falei.
- Isso vai ser interessante! – Falou Travis.
Todos voltaram a conversar como anteriormente. Fiquei mais afastada do que normalmente ficara. Apenas olhei-os falarem normalmente.
- Com licença? – Falou alguém.
Aquela era uma das vozes que eu não queria ouvir. Não naquele momento.
- O que você quer? – Andresa falou entredentes.
- Vim apenas prestar solidariedade, e dizer o quanto sinto por sua perda. – Ela falou, porém aquilo não era sincero, ela queria apenas rir de mim. – Meus pêsames, querida.
- Como você ainda tem coragem de aparecer aqui? Desse jeito? – Perguntou Giovanna.
- Eu acho que ela quer apanhar mais! – Victória riu.
- Foi uma grande perda! – Continuou a garota cujo nome eu esquecera. – Ele era realmente lindo, pena que não pude prova-lo.
Sua voz vinha de trás. Eu ainda não virara para ver seu rosto. Eu não queria vê-la. Não queria perder a cabeça e fazer tudo aquilo novamente.
- Você poderia, por favor, calar a boca? – Perguntou Jéssica.
- Quem é você para falar assim? – Perguntou a sobrinha do diretor.
- Meninas, por favor! – Alertou Josh.
- Katrina? – Perguntou-me Dionísio. – Tudo bem?
- Sim. – Falei.
- Certeza? – Insistiu.
- Não! – Respondi secamente.
- Respire garota. – Aconselhou Sarah.
- Estou fazendo isso, Sarah. – Respondi.
- Mas tudo bem! Eu não tenho nenhum problema se você bater nela novamente! – Dionísio sussurrou em meu ouvido.
- Eu também não tenho nenhum problema com isso! – Sorri falsamente.
- Mas ainda tenho outros membros da família... – Continuou ela.
Eu não ouvia claramente suas frases. Simplesmente não queria prestar atenção no que ela falava.
- Você poderia, por favor, se calar? – Perguntei o mais educadamente que pude.
- E se eu não me calar? – Ela perguntou desafiadoramente.
- Eu vou ter que te bater novamente.
- Sugiro que não faça isto.
- Ou o que?
- Ou você vai se arrepender. – Falou a garota.
- Garanto que não vou. – Levantei-me, olhando-a furiosamente, sorrindo.
- Ok, agora suas pupilas estão negras! – Josh informou a todos.
- Eu queria que meus olhos fizessem isto! – Andresa gargalhou.
- Mais um poder? Interessante. Ficou ainda mais... Aberração?
- Fico impressionada com a sua capacidade para juntar as palavras e fazer uma tentativa de crítica maldosa. – Fiz careta.
- Isto é realmente uma merda! – Concordou Anthony em meio a uma gargalhada.
- É a vida! – Falou Jéssica.
- Com licença... – Disse Dionísio. – Mas quais são seus nomes?
- Essas são... – Começou a “líder” delas.
- Elas são mudas? – Questionou Zayn.
- Eu me chamo Lauren Scott. – Falou a garota com cabelos quase brancos.
- Eu sou Maya. – Essa era a garota com cabelos curtos. - Maya Soares.
- Jenifer Cast. – Disse a menina com cabelo louro escuro.
- Chamo-me Sarah House. – Falou a outra ruiva.
- Que lindo! Mesmo nome que o meu. – Sarah falou de modo debochado.
Foi interessante saber que eu não era a única a desconhecer os nomes daquelas garotas. Mesmo os Electros não sabiam seus nomes.
- Eu não acharia isso lindo. – Andresa falou estranhamente.
- Eu acho que vou embora. – Falei. – Penso que existem coisas mais interessantes a se fazer.
- Como, por exemplo, pensar no morto? Ou ligar para a família e chorar? Se for a segunda opção, mande um beijinho para seus irmãos! – Falou a sobrinha do diretor.
- Como é mesmo seu nome, bonitinha? – Perguntei.
- Ca... Carolina.
Também foi interessante perceber que ela tinha um tanto de ansiedade para responder a minha pergunta.
- Sim... Carolina. – Falei seu nome com desleixo. – Não interessa à você o que farei. – Sorri educadamente, afinal, eu realmente não queria brigar. – Com licença.
Ainda sorrindo, andei por entre todos, até que saí pelas portas do refeitório, desmanchando meu sorriso imediatamente. Eu apenas queria me afasta, mas eu tinha certeza de que, como sempre, alguém iria atrás de mim,
Andei o mais rápido que pude. Decidi que ficaria em meu quarto.
E como eu especulara anteriormente, eu não estaria sozinha por muito tempo.
Olhei para trás e percebi que era seguida. Aquela silhueta me era estranha, eu não conhecia aquele rosto... Parei vagarosamente. Permanecendo parada, esperando que ele se aproximasse. E foi exatamente o que ele fez. Aproximou-se lentamente, parando atrás de mim. Sem nada a falar.
- Quem é você? – Perguntei prontamente. – E por que está me seguindo?
- Que linda recepção, Katrina. – Ele falou em seu tom rouco.
- Uma bela recepção para alguém desconhecido que persegue moças durante a noite. – Retruquei.
- Mas você não é uma moça nem um pouco comum.
- Por isso mesmo você deveria saber que esta não seria uma boa escolha.
- Desculpe-me se a assustei.
- Não assustou.
- Desculpe-me... – Repetiu simplesmente.
Um momento se passou e o silêncio tomou conta.
- O que você quer? – Virei-me e dei de cara com seus olhos, aqueles não eram simples olhos, o tom vermelho me surpreendeu. Aquele era o mesmo tom que estava presente nos meus anteriormente.
Cerrei meus olhos enquanto o lado direito de minha boca erguia-se sutilmente pelo reconhecimento.
- Foi por isso que te segui. – Falou. – Queria te ajudar, afinal, não é legal ser motivo para gozações, moça.
- E o que você teria a me dizer? – Perguntei.
- Dizer que isto não é um problema como você pode ter pensado. – Falou. – E que eu posso te ajudar.
- Não sei se devo aceitar sua ajuda. – Falei.
- Deveria.
Um sorriso surgiu em seu rosto. Olhou-me por um momento e fez menção com sua mão direita para que eu seguisse em frente. E foi o que eu fiz. Virei-me e continuei andando enquanto ele andava a meu lado.
- Isto é fácil. – Continuou ele. – No início você não tem controle, no início a cor de seus olhos mudará de acordo com seu humor.
- Primeiramente. Você poderia me dizer seu nome, por exemplo.
- Desculpe-me, moça. Chamo-me Luke. – Ele sorriu. – Luke Ackerman.
- Não preciso me apresentar, afinal, já sabes meu nome. – Dei de ombros, oferecendo-lhe a mão, que por sua vez foi ignorada.
Luke simplesmente me abraçara, beijando-me o rosto em seguida.
- Muito prazer. – Falou.
- Pois é... – Fiz careta.
- Continuando... – Luke olhou-me, sorrindo de minha expressão. – Penso que você conseguirá controlar isto rapidamente.
- Você já o consegue?
- Sim!
- Suponho, então, que tenho certo apresso pelo tom vermelho.
- Suposição correta! – Falou, voltando a andar. – Sinto por sua perda, Katrina.
- Não há segredos neste lugar?
- Ao que parece, não muito.
- Isto é mal! – Suspirei.
- Poderia ser...
- Olhe! – parei, olhando-o. Eu nem sei por que estou aqui conversando com você. Desculpe-me... Tenho de ir.
Apressei-me, mas ainda assim ele me acompanhou.
- Espere-me, afinal, vou ao mesmo local que você... Eu acho!
- Sabes para onde eu vou?
- Para o prédio Spectro? – Perguntou-me.
- Poderia não ser!
- Mas provavelmente é ele!
-Garoto? Por favor... Apenas cale-se e ande.
Fiquei feliz por Luke ter seguido o que eu disse... Ele apenas calou-se e andou calmamente a meu lado, até que chegamos à ala Spectro.
- Chegamos... – Disse ele.
- Eu sei. – Respondi secamente.
- Se você quiser, eu posso acompanha-lo...
- Eu sei muito bem o caminho! – Falei. - Obrigada.
Virei-me e fui até meu quarto, ali fiquei até o outro dia.
*****
Eu torcia para que os dois anos se passassem o mais rapidamente possível; queria apenas voltar para casa, para minha família. Mas ao contrário disto, o tempo insistia em passar devagar. Assim, dez meses se foram desde minha chegada, parecia-me tão pouco. Pouco comparado ao tempo que eu ainda ficaria ali. Não faltava muito para que o ano acabasse, assim, levando meus amigos consigo, afinal, o “normais” da história eram eles, cuja estadia era a metade da minha. Por um lado aquilo me deixava feliz, pois de certa forma, eles estariam fora de perigo – este fato fez-me jurar que não faria amigos no próximo ano.
Alguns deles ainda permaneceriam comigo por algum tempo, pois precisavam completar seu tempo.
Durante todo aquele tempo, estive em algum tipo de luto interno. Fisicamente eu estava ali, porém minha cabeça estava muito longe, relembrando todos os momentos preciosos que tive com o meu Dean. Cada mínimo detalhe. E a cada segundo eu desejava ter aquilo de volta. Em todos estes momentos eu me pegava segurando o colar que ele me dera.
Parecia-me que minha família, aos poucos, conseguia superar aquilo, e eu estava certa de que também conseguiria fazê-lo, assim como conseguiria em relação a meus pais.
Desde os piores acontecimentos, Daniel ainda não havia me chamado para uma daquelas conversas, e eu, particularmente, não fazia questão daquilo.
Alguns novos poderes surgiram em mim. Vieram tantos de uma vez que a situação tornou-se um tanto caótica para mim, porém tive a ajuda de amigos e professores.
Com o fim do ano, vieram alguns eventos do instituto, como por exemplo competições de luta, dança, musicais, entre outros tipos de entretenimento. De início eu não me interessara o bastante por aquilo, mas com as palavras insistentes dos outros – alegações de como aquilo me faria bem, como me faria esquecer de problemas -, eu aceitara.
- Katrina, vamos, temos de nos inscrever. – Chamou-me Giovanna.
- Sim, vamos. – Sorri, andando a seu lado para a mesa de inscrição.
Autor(a): Bia Vieira
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).