Fanfic: Legado - Escuridão
- Katrina! Abre essa porta! Eu vou arrombar essa merda! – Falou Damon.
- Eu não vou abrir essa porcaria! – Falei, impondo o meu peso sobre a porta para que ele não conseguisse abri-la.
- Katrina, você precisa sair desse quarto! – Desta vez o Rafa.
- Se vocês arrombarem, eu fujo!
- Você vai ter de sair, de um jeito ou de outro! – Disse o Luca.
- Tudo bem! Só que vai demorar um pouco! É!
Todos estavam tentando me tirar daquele bendito quarto, dizendo-me que não havia motivos para medidas tão drásticas. Mas não foi nenhum dele que havia ficado sem roupas perante todos. Eu não tinha a mínima vontade de dar as caras. O que eu diria? Como eu diria? O que eu faria? Ficaria simplesmente vermelha como um tomate.
Deram-me vários motivos para que eu saísse: “Katrina, nós temos de estudar você!”, “Katrina, nós achamos que você não é uma Electra!”, “Katrina, você ficará com fome!”. Eu sabia que aquilo era verdade, eu claramente não era normal. Ou, eu poderia ser uma Electra distinta. Passei o dia especulando, de tempos em tempos alguém batia em minha porta dizendo-me novamente que eu deveria sair. Porém, eu não dava ouvidos.
No dia seguinte àquele acidente eu estava mais confiante e talvez um pouco mais corajosa, ninguém havia me chamado ainda, e eu agradecia por isso. Mas mesmo com esta súbita coragem, eu me sentia estranha, eu era diferente, provavelmente a única a ser assim. Veio-me à cabeça que eu poderia ser uma Spectro – se é que este é o termo certo a se chamar. Porém aquilo não poderia ser verdade. Só homens eram Spectros, só eles tinham esse gene em seu corpo. Eu estava mais do que curiosa para saber o que acontecia comigo, mas ao mesmo tempo eu não ansiava por virar um rato de laboratório, sendo estudada todo o tempo. A primeira opção me venceu, a curiosidade sempre vencia claro.
Levantei-me de minha cama, resolvendo que encararia aquilo. Como o Jason havia dito, eu fiquei com fome. Abrindo a porta, tudo o que pude ver foi à decoração e as portas dos outros quartos. Não havia ninguém naquele ambiente para a minha felicidade. Eu andei o mais vagarosamente que pude, demorando um pouco para chegar à sala. Assim que todos entraram em meu campo de visão, observei suas expressões mudarem para surpresa, medo do que estava por vir... Vi que Dean abria a boca, ele estava preste a falar algo, porém eu não estava com nenhuma paciência para ouvir comentários.
- Não, não fale nada! – Disse eu, interrompendo-o.
- Ah! – Esse foi o único som que ele conseguiu emitir após a minha inesperada interrupção.
Dirigi-me rapidamente à cozinha, eu realmente estava com fome. Abri a geladeira, examinei o conteúdo, peguei uma garrafa de leite e comecei a tomá-la na boca, eu não estava com vontade de pegar um copo. Voltei à sala e logo Júlia falou:
- Não tinham copos na cozinha? – Perguntou-me ela, espantada, como se perguntasse: “Não tinha educação de onde você veio?”
- Eu só quis facilitar! – Falei, sentando-me em um dos degraus da escada.
- Katrina, você está melhor? – Questionou-me Dean, sentando-se a meu lado.
- É, estou indo.
- Bem, você não deveria ficar assim. – Disse ele, enquanto todos assistiam.
- Ah, eu não deveria ficar assim! – Disse eu, levantando-me. – Não foi você que ficou completamente nu na frente de todos. Não é você que acaba de descobrir que é uma aberração. – Falei, aumentando o meu tom de voz. – Não é você que será estudado. Pois é, não é você que está passando por tudo isso! – Quando terminei, sentei-me novamente.
- Bem, se você está pensando que virará uma ratinha de laboratório, você está errada. – Respondeu-me ele, gaguejando um pouco. – E... bom, aquela cena de ontem não foi tão ruim quanto você pensa. – Completou, dando um lindo sorriso torto.
Após ouvir aquilo, eu cuspi parte do leite que estava em minha boca, e o resto que permaneceu, fez-me engasgar bruscamente. Levantei-me rapidamente, buscando ar. O Luca e o Rafa vieram a mim, um deles estapeou minhas costas, mas aquilo não funcionou. Todos ainda assistiam, espantados, após olharem-nos por mais um momento, eles também vieram me ajudar. Eu pude perceber que meu rosto ficara vermelho, não só pela falta de ar, mas também pelo constrangimento. O ar voltaria a mim se eu me acalmasse, eu tinha certeza. Não foi fácil, porém, minutos depois eu consegui. Respirei profundamente, fechando os olhos. Ainda com os olhos fechados pude escutar risadas baixas à minha frente, que logo se tornaram gargalhadas intensas. Abri meus olhos para ver as fontes desse som. Todos riam em conjunto, mas eu ainda não conseguia emitir nenhum som.
- Bem, eu vou limpar tudo isso! – Falou Beth, ainda rindo.
- Vocês estão achando isso muito engraçado, não é? – Perguntei, eu estava furiosa.
- Apenas um pouco! – Disse Damon.
- Eu ainda não consigo ver a mínima graça!
- Nos desculpe Katrina, mas não conseguimos evitar.
- Eu agradeceria se vocês pelo menos tentassem. – Falei. Agora minhas mãos tremiam.
- Seria uma tentativa um pouco falha!
- Estou com a impressão que me pareço uma palhaça.
- Mano, é melhor pararmos. – Sussurrou Jason.
- Eu também acho! – Gritei.
Enquanto eles falavam, minha fúria só aumentava. Minhas mãos tremiam ainda mais. Eu odiava ser o centro das atenções, principalmente quando eu era motivo para chacotas. Rosnados curtos escapavam por minha boca, meus lábios recuavam deixando os meus dentes à mostra. Meu corpo posicionou-se involuntariamente para o ataque. Assim que me viram, as risadas cessaram imediatamente. Ao mesmo tempo em que eu me sentia furiosa a tristeza se impunha.
Novamente assustados, todos começaram a recuar lentamente. Aquilo não era simplesmente surpresa, era medo. Olhavam-me com pavor.
- Katrina... – Disse Ryan, só conseguindo falar meu nome.
- O que foi? Eu estou pegando fogo novamente? – Perguntei, examinando meu corpo.
A única resposta que eu recebi foi o silêncio, eu realmente odiava quando isso acontecia. Enquanto eu ainda me examinava, eles se afastavam de mim, vagarosa e cautelosamente. Eu queria saber o que estava acontecendo, meus olhos arregalavam-se de curiosidade e medo. Procurei em todos os lugares expostos de meu corpo, porém nada encontrei. Busquei por algum espelho ou algo que pudesse refletir minha imagem. Logo encontrei um grande espelho que me revelava metade de meu corpo, uma pequena mesinha ficava a sua frente. Olhei-me de baixo para cima, buscando cada detalhe vagarosamente, mas nada estava errado ou fora do lugar. Busquei em meu rosto desta vez, de início não pude distinguir, eu olhava em outras áreas, áreas erradas. Porém quando me olhei nos olhos pude ver o que todos temiam. No lugar de meus olhos vividamente azuis, estavam olhos completamente negros. Olhos sombrios assumiram o controle, aqueles olhos eram frios, me davam medo. Mas mesmo com aquela aparência assustadora, aqueles ainda eram meus olhos, que por sua vez estavam assustados. Aquela escuridão não me mostrava para que direção eu olhava. Mas eu sabia bem...
Aquilo só piorava a minha situação. Antes eu já me achava uma aberração, eu era estranha. Como uma mulher poderia ser uma Spectro? E para melhorar as coisas, eu era uma olhos pretos. Não consegui entender o porquê de tudo aquilo estar acontecendo comigo. Era confuso, era incerto. O que eu tinha de diferente dos outros? Eu me olhava no espelho, assustada. Pude ver o reflexo das pessoas atrás de mim. Seus rostos, assim como o meu, estavam paralisados, em choque. Minhas mãos foram em direção a meus olhos, tocando ao seu redor levemente. Tudo estava normal por ali, eu podia sentir. Passei alguns longos minutos, pelo menos para mim, observando. Assim que minha cabeça voltou a funcionar normalmente, ou quase isso, me virei.
- Vocês estão bem? – Perguntei, estranhamente, quem deveria me perguntar aquilo eram eles e não o contrário.
- Sim... – Disse Júlia. Ainda recusando a se aproximar de mim.
- E você! Você está bem? – Perguntou Luca, logo se aproximando, seguido do Rafa e Damon.
- Eu acho que sim... – Falei, dando um pequeno sorriso forçado.
- Eu tenho de pesquisar. – Disse o Ryan, subindo imediatamente para seu escritório.
- Eu vou ligar para Daniel. – Disse o Jason, se dirigindo a outro cômodo.
- Respira, você tem que se acalmar para voltar ao normal. – Disse o Dean, aproximando-se de mim.
- Mas eu estou calma. – Falei, franzindo o cenho.
- Então se acalme mais. – Disse ele.
Fechei meus olhos, e como de costume, respirei fundo, deixando a calma invadir meu corpo.
- E agora? – Perguntei.
- Agora melhorou! – Disse Júlia, sorrindo. Agora ela havia se aproximado, assim como os outros.
- Bem melhor agora! – Disse o Luca, concordando.
- Como você se sente? – Questionou Damon.
- Eu já disse que me sinto bem. – Reforcei o que falei anteriormente.
- Caras, o Daniel quer falar com um de vocês. – Disse Jason a meus irmãos, oferecendo-lhes o telefone, este foi pego e atendido pelo Luca, que assim, se direcionou para outro cômodo.
- O que fazemos agora? – Perguntei, olhando para cada um deles. – Ou melhor. O que eu faço agora?
- Nós não sabemos. – Disse Rafa.
- Daniel falou que temos de nos certificar de tudo, e que vai demorar um pouco para você poder ingressar no instituto.
- Que legal. – Falei ironicamente.
- Posso fazer uma pergunta?
- Já está fazendo Júlia.
- Por que você está tão irritada? Fica furiosa facilmente. – Perguntou ela, ignorando o que disse anteriormente.
- Eu não sei.
- Deve ser por que você acabou de se transformar. Quando nos transformamos, ficamos um pouco irritáveis. – Disse o Dean. – Lembra Júlia?
- Ah sim, eu lembro. Quando me transformei, entrei no instituto quase no dia seguinte, não tive tempo para arrumar as minhas idéias. Lá tinha uma garota idiota, ela começou a falar coisas sobre mim, inventar... – Júlia estava pensativa, lembrando-se dos fatos. - Ainda não descobri o que ela tinha contra mim. Mas teve um dia, que eu explodi! Na aula de artes marciais, estávamos lutando Kung-Fu, e por azar dela, eu estava com a espada. Ah, eu cortei o antebraço dela. Sorte que Electros se regeneram, por que se não fosse isso, ela seria deficiente hoje. – Seu olhar estava longe e seu sorriso perverso.
- Podia ser inveja, você tem irmãos tão lindo, que ela queria ser você. – Disse Jason, rindo.
- Tudo está ficando tão confuso. – Falei.
- Ela está tendo oscilações de humor. – Falou Jason, arregalando levemente os olhos.
- Ela vai chorar, está fazendo beicinho! – Disse Damon, imitando minha expressão e passando o dedo indicador em meu lábio, me fazendo rir.
- E o que fazemos agora? – Perguntou Dean.
- Acho que só nos resta esperar. – Falei, por fim.
Eu precisava sair dali, eu precisava pensar. Ficar sozinha. Silenciosamente, me dirigi para fora. De início eu andava sem rumo, apenas por andar, e inconscientemente eu estava me direcionando ao penhasco, o conhecido e adorado penhasco. Lá me sentei, pensei um pouco. Questionei-me mentalmente sobre tudo. O que aconteceria a seguir? O que eu faria? Meus pensamentos, idéias estavam todos bagunçados. Eu não conseguia encaixar nada. Nada fazia sentido.
Eu era um homem! Levantei essa possibilidade, logo a descartando e rindo do meu pensamento. Eu não poderia ser um homem, é claro que não.
Em meio a risos, escuto passos atrás de mim, seguido por uma voz calma e grave.
- O que tem tanta graça? – Perguntou-me Dean, entrando em meu campo de visão.
- Foi apenas um pensamento que eu tive. – Falei, ainda rindo.
- Conte-me!
- Bem... – Hesitei um pouco, mas logo falei. – Me veio à cabeça... Eu sou um homem?
- O que? – Questionou-me ele, fazendo careta, como se dissesse: “Você está louca? Fumou alguma coisa?” – Claro que você não é um homem. – Completou, rindo.
- Eu sei. Isso seria loucura e muito estranho também.
- Pode crer! – Disse ele, fazendo-me rir de sua expressão.
- Mas o que eu tenho para ser assim? – Perguntei, sabendo que ele não conhecia a resposta para aquilo.
- Eu não sei. Mas descobrirei, eu prometo. – Disse ele, dando um lindo sorriso.
- Quanto tempo será que eu vou passar no instituto?
- Spectros e Electros normais, passam em média um ano e meio. Mas você... – Disse ele, analisando-me. – Eu acho que irá passar uns dois, dois anos e meio. Nessa média.
- Por quê? – Perguntei, arregalando os olhos.
- Você ainda pergunta “por que”? – Disse ele, imitando-me. – Você não tem apenas um ou dois poderes. Você tem todos os poderes inimagináveis. Penso que levará alguns anos para você se desenvolver completamente. Mas não passará todos esses anos no instituto, claro.
- Eu vou passar dois anos e meio sem ver meus irmãos?
- Poxa, pensei que você iria sentir minha falta. – Disse ele, fazendo bico.
- Mas eu vou!
- Mentira.
- Eu vou.
- Passar dois anos... Por que não podemos ver?
- É um colégio interno, para todos os casos. Você tem que se concentrar. Aprendemos a nos defender, a ter paciência, aprendemos idiomas inimagináveis, além de tudo e muito mais do que é ensinado nas escolas. E ainda nos é ensinado a controlar nossos poderes. Não são poucas coisas.
- Percebi!
- Mas também têm festas, competições.
- Que tipo de competições?
- Luta, dança, música... Se você for lutar, eu acho que lutará com os homens. – Confidenciou-me ele, fazendo uma pequena careta. – Isso é só uma prova que você terá muito mais atividades, e se esquecerá de mim.
- Pára de dizer que eu vou me esquecer de você. Isso é quase impossível. – Falei, arrependendo-me um pouco depois.
- Então isso me torna uma pessoa inesquecível. – Ele me olhou fundo nos olhos, dando um sorriso de lado.
Não respondi, fiz sinal de “um pouco”, com as mãos.
- É eu sei, eu sou inesquecível! – Falou ele, um pouco convencido.
- E seu ego olha... – Fiz sinal com as mãos. – Lá em cima.
Dessa vez ele não falou. Abraçou-me inesperadamente, apoiando seu rosto no topo de minha cabeça. Eu, por minha vez, afundei meu rosto em seu peitoral, sentindo seu cheiro invadir minha mente. “Como ele cheira bem”. Pensei.
- Vou sentir sua falta. – Disse ele. – Olha.
- O que? – Perguntei, virando-me.
O céu a nossa frente estava ficando rosado e logo em seguida alaranjado, estava começando o pôr do sol. Eu ainda não tinha visto o pôr do sol dali, era lindo. Uma extensa área de céu, que refletia no mar, e lá no final, na linha do horizonte, descia o sol. Uma enorme bola amarela, que também refletia no mar.
Eu olhava, admirada com aquela imagem. Um sorriso me escapou.
- Vem. – Disse ele.
- Onde?
- Sobe nos meus pés.
- O que? Vai dar uma de Super-homem agora? – Perguntei incrédula.
- Quase isso. – Disse ele, com um sorriso.
Atendi o seu pedido, subi em seus pés. Eu estava de frente para ele. Eu fui um pouco burra, ou não. Eu deveria ter ficado de costas, para olhar a paisagem. Mas assim que subi, ele levantou vôo. Enquanto uma mão estava em minha cintura, a outra fez com as minhas segurassem em seu pescoço. Não fiquei por muito tempo sobre seus pés. Logo ele me levantou, sustentando meu peso e fazendo com que eu ficasse na sua altura.
Um sorriso sem graça apareceu em meu rosto, mas o sorriso dele estava radiante. Senti o sol esquentando-nos, na medida certa. Seus olhos miraram os meus. Prendendo-me, sustentando meu olhar, procurando algo. Em seus olhos eu pude ver confiança, dava-me a impressão de que eu podia olhá-lo na alma.
- Seus olhos são lindos. – Falei. “De onde eu tirei isso? Oh meu Deus!” Pensei logo em seguida.
- Os seus são mais. – Retrucou, encostando a testa na minha.
Senti seu nariz roçar levemente no meu. Fechei os olhos por reflexo. E logo a seguir, senti seus lábios macios tocarem os meus. Hesitando inicialmente, percebi que ele queria ver minha reação, mas rapidamente ele continuou. Seu beijo foi lento, apaixonado. Minhas mãos agarram-se a seus cabelos, fazendo carinho involuntariamente. Suas mãos apertavam-me, me aproximando mais de seu corpo e ao mesmo tempo não me deixando cair.
Voamos até o fim do por do sol, e quando escureceu, nós descemos. Eu estava ansiosa por poder voar assim, com meus próprios poderes.
Um sorriso estava estampado em meu rosto, e pelo que percebi no dele também. Andamos vagarosamente pela noite, demorando um pouco para chegarmos a casa. No caminho, me foram roubados alguns beijos. Beijos doces, afetuosos... Combinamos de fingir que nada havia acontecido, pelo menos por enquanto.
Ao entramos em casa o Luca logo falou:
- Katrina, você vai para o instituto daqui a uma semana.
- Mas já? – Perguntei, franzindo o cenho. – Só tenho uma semana?
- Sim. – Disse-me Damon. – Você passará dois anos e alguma coisa lá.
- Eu disse. – Dean falou, confirmando sua afirmação anterior.
- Pensei que não ia voltar mais! – Disse Júlia enquanto descia as escadas. – O que faziam?
- Admirávamos o pôr do sol apenas!
- Uhum... – Disse ela, em um tom um pouco suspeito. – Não esqueça que temos de comprar novas roupas para você.
- Claro. – Enquanto falava me dirigi à cozinha, peguei um copo de água e voltei para a sala.
- Iremos amanhã. – Informou-me ela.
- Katrina, seja um pouco mais delicada. – Jason alertou.
- Por quê?
- Por que você é forte! – Disse-me Damon.
Quando escutei isso, senti que o copo protestava em minha mão e após alguns segundos ele se despedaçou, caindo no chão.
- Ah, que merda! – Falei.
- Eu avisei! – Disse Jason.
Direcionei-me à cozinha novamente, pegando o material para limpar aquela sujeira. Após limpar aquilo, fui para meu quarto. Escutei a porta se abrindo vagarosamente, virei-me para ver quem era.
- Posso entrar? – Perguntou-me Júlia.
- Você já entrou.
- Sim, entrei...
- O que você quer?
- Quero conversar.
- Sobre?
- Tudo. – Ela arregalou um pouco os olhos, sentando-se a meu lado, na cama. – Eu queria conhecer você um pouco mais.
- Por quê?
- Por que você é minha irmã agora. – Ela sorriu.
- Pode ser!
- Ansiosa para ir ao instituto?
- Sim, e não.
- Explique! – Ordenou ela.
- Sim por que quero saber como é esse mundo. E não, por que não quero me afastar de vocês.
- Entendi. Então... Que tipo de roupas você gosta?
- Você gosta muito dessas coisas não é?
- Claro, e tenho que saber os seus gostos, afinal, vamos fazer compras amanhã! – Ela estava radiante com a idéia.
- Como é no instituto?
- É enorme. – Seus olhos fixaram o vazio, lembrando-se do passado. - Os quartos são grandes, você pode enfeitar a sua área como quiser. Temos aulas o dia todo. Nos dormitórios têm a área de Spectros, que são apenas homens, todos maravilhosamente lindos. E a ala dos Electros, é mista, mas os dormitórios são separados por sexo.– Completou ela, fazendo careta. – Todos também são muito lindos. Aprendemos muitas coisas, você vai amar.
- Em que ala eu vou ficar?
- Não sei, o Daniel vai dizer quando você chegar lá.
- Ah...
- O que você acha do Dean? – Ela mudou rapidamente de assunto.
- Eu o acho legal! – Falei, dando um sorriso um pouco sem graça.
- Hum... – Murmurou ela, serrando os olhos de modo suspeito.
- O que?
- Eu acho que ele gosta de você! – Sussurrou ela.
- Você acha? – Acompanhei seu tom de voz.
- Por quê? Está interessado? – Ela deu um sorriso sugestivo.
- Eu? Imagina! – “Ela não faz idéia.” Pensei! – E você? O que acha dos meus irmãos?
- Eu os acho legais.
- Sério?
- Sim... – Ela estava um pouco nervosa, seu sorriso desapareceu.
- Você está nervosa? – Sorri sugestivamente, como ela havia feito antes.
- Claro que... Não. – Falou, gaguejando um pouco.
- Sei... Nenhum deles te atrai?
Ela fez sinal de “um pouco” com as mãos. Eu ri.
- Qual? – Perguntei.
Infelizmente ela não respondeu a pergunta. Acho que a intimidei um pouco.
- Eu acho que vou para o meu quarto. – Ela estava sem graça.
- Tchau. – Falei simplesmente.
Depois que Júlia saiu do quarto, eu fiquei observando. Aquele quarto era lindo, era enorme, mas era tão simples. Não tinha muitas coisas. Aquele provavelmente era um quarto de hóspedes que eu havia “tomado” para mim. Pensei em redecorá-lo, mas de nada serviria, eu iria embora daquela casa em pouco tempo.
Sai dali, eu ainda não havia explorado àquela casa. Ainda tinha um andar acima de mim. Subi as escadas, ansiando por ver o que tinha naquele andar. A primeira coisa que pude ver foi um quadro enorme, com várias fotos. Ali estava presente toda a família Sonnenschein, algumas pessoas que eu não conhecia e alguns integrantes de minha família.
Continuei observando, havia apenas cinco portas em todo o andar. Fui abrindo cada uma delas. Na primeira porta que abri havia vários tipos diferentes de jogos, vídeo-game, mesa de sinuca, armas de paint-ball penduradas na parede... Era uma sala de jogos. Por trás da próxima porta, estavam instrumentos musicais – guitarras, baixos, violões, baterias... Em outro cômodo, havia apenas instrumentos clássicos – violinos, violoncelos, piano...
A seguir, veio uma sala com espadas afiadas, adagas e outros tipos de armas brancas. Ali era o salão de lutas. E na ultima porta, espelhos, as paredes eram cobertas por espelhos. E grande aparelho de som estava ao canto da sala. Aquele era o salão de dança.
Naquela ultima sala, estavam Júlia e Luca, dançavam despreocupadamente o que parecia ser hip-hop. Seus corpos estavam grudados enquanto se moviam em sincronia, lentamente.
Eles não me escutarem entrar, pois continuaram a dançar como se só houvesse os dois na sala. Afastei-me lentamente, não fazendo barulhos.
- O que você faria se eu te beijasse agora? – Perguntou Luca, sussurrando em seu ouvido.
Eu tinha saído da sala, mas eu ainda os podia ver. Eu queria dar a eles uma privacidade, mas eu era curiosa demais para não bisbilhotar, pelo menos um pouco. Escondi-me parcialmente, olhando pela porta entreaberta. Eles estavam ocupados demais para me perceber ali.
- Eu te beijaria também? – Aquilo foi mais uma pergunta. Ela estava um pouco nervosa.
- Está nervosa? – Ele havia percebido.
Vi que as mãos de Júlia suavam um pouco, ela passou-as na roupa, as enxugando discretamente.
Eles ainda dançavam durante a conversa, Júlia estava de costas para ele. Após alguns segundos, ele a virou, ficando frente a frente com ela. Enquanto a música tocava, eles movimentavam-se, porém com menos intensidade. Aquela música era conhecida, lembrei-me de quantas vezes a escutei.
- Não, eu não estou nervosa. – Ela estava sim, nem que fosse um pouco.
- Não é que parece! – Ele a encarava profundamente, sustentando os olhos dela. Um sorriso surgia no rosto do meu irmão.
- Você quem sabe. – Ela deu de ombros.
Eles aproximavam os rostos cada vez mais, lentamente. Estavam tão próximos que respiravam em sincronia, como se fossem um só.
Vi Júlia pelo espelho, ela sorria enquanto ele apoiava uma de suas mãos na base das costas dela, grudando os seus corpos com firmeza.
Nos momentos restantes, já não havia espaço entre eles. O sorriso de Júlia desapareceu imediatamente quando ela sentiu os lábios de Luca encontrar os dela.
Impressionei-me. Eu podia ouvir seus corações. Ri com o fato. Ambos estavam acelerados.
Peguei-me sorrindo sozinha, admirando aquela cena. Estranhamente eu havia gostado do que aconteceu. “Eles fazem um lindo casal!”. Pensei. A música havia parado, porém, outra começara. O sim não vinha da sala de dança. Sai à procura daquela voz, afinal, eu havia ficado tempo demais os observando, dei a merecida privacidade aos dois, fechando a porta. Andei pelo corredor, aproximando-me cada vez mais daquela música. Vinha de uma das salas de música, claro.
Eu conhecia aquela letra. Eu ajudara a compor. Porém nunca tinha ouvido esta voz interpretá-la. Abri a porta lentamente.
Meu rosto de iluminou de imediato.
Ele estava de costas. Tocava um violão preto e cantava lindamente. Caminhei vagarosamente, ficando a sua frente. Seus olhos estavam fechados, um enorme sorriso embelezava ainda mais seu rosto. Eu podia sentir a emoção em sua voz. Aquela canção me fazia lembrar o passado. Às vezes é bom recordas, e nesse caso, era ótimo.
Lembrei-me de quando os meus irmãos me mostraram o projeto dessa música. Aquela melodia havia tocado meu coração de imediato, assim como certas música faziam comigo. Quando as escutava, fechava meus olhos e um sorriso involuntariamente aparecia em meu rosto. E naquele momento, ao escutar aquela voz, isso havia acontecido.
Eu não iria me contentar com ouvir apenas. Rapidamente comecei a acompanhá-lo. Ao ouvir minha voz, ele abriu os olhos imediatamente, e por mais incrível que me parecia, seu sorriso conseguiu ficar ainda maior. Parei de cantar por um momento, porém aqueles olhos verdes convidaram-me a acompanhá-lo novamente. Fechei os meus e continuei. Não consegui entender, mas senti lágrimas invadirem lentamente minhas pálpebras, deixando-as úmidas. Porém, se contrapondo as lágrimas, um sorriso florescia em meu rosto.
Continuamos a cantar, e ao final, ele se levantou, encostou o violão no pedestal e abraçou-me sem nada a dizer.
- Como conhece essa música? – Eu estava surpresa.
- Seus irmão... – Dean falou, interrompendo-se.
- Só podia. – Sorri. – Sua voz é linda.
- Prefiro a interpretação original, a que vocês gravaram. A voz do Rafa.
- Sim, a voz dele também é linda.
- Ainda não tinha vindo aqui! – Eu olhava a meu redor.
- Gosta?
- Sim. Lembra-me a minha casa.
- Mas essa é sua casa!
- Corrigindo: Lembra-me a minha antiga casa! – Sorri. – Satisfeito agora?
- Sim. Muito. – Ele retribuiu o sorriso. – Você só tem mais uma semana aqui. Precisa aproveitar! – Ele me olhava sugestivamente.
- O que você me sugere?
- Tenho muitas idéias em mente. – Disse ele, piscando.
- Conte-me.
- Prefiro te mostrar. Mas não agora. Amanhã talvez.
- Amanhã serei raptada por Júlia.
- Ah sim, eu tinha me esquecido. Ela vai te fazer passar o dia em lojas...
- Eu acho que estou com medo! – Arregalei meus olhos.
- Ainda bem que você tem noção do perigo.
- Sim. Eu tenho.
- Bem que você podia dar o bolo na Júlia.
- Como você disse: Eu tenho noção do perigo.
- Vamos para a sala?
- Sim, vamos.
- Mas antes... – Ele parou, olhou-me profundamente nos olhos e me beijou. – Agora vamos.
Saímos do salão de música, passando pelo corredor escuto o Luca falar:
- Ei, o que vocês faziam aí? – Ele arqueou uma sobrancelha.
Eu e Dean nos viramos.
- E o que vocês faziam aí? – Perguntou Dean ao ver Júlia saindo da mesma sala que Luca.
- Nada demais, apenas dançávamos! – Júlia falou.
- E nós apenas cantávamos. – Dean sorriu.
- Dançando. Sei bem como é. – Falei sarcasticamente, piscando para meu irmão.
Ele sorriu, vindo em minha direção.
- Vamos. – Júlia montou nas costas do Dean enquanto ele corria.
- Eu vi... – Sussurrei para meu irmão.
- Você não viu nada! – Ele serrou os olhos, passando o braço em volta de mim.
- Vou fingi que não vi. Assim está bom para você?
- Está sim. Mas é só por enquanto.
- Tudo bem, só ficarei aqui por mais uma semana. Seu segredo ficará em segurança.
- Isso é uma merda, sabia?
- Por quê?
- Por que eu fui para o instituto, passei um ano longe de você. E agora você quem vai, e passará dois anos e quebradinhos lá.
- Mas pra você ainda foi bom. Você tinha os outros dois lá! Então não pode reclamar. Eu vou chegar lá sozinha, sem nenhum conhecido.
- É. O seu caso pode ser pior!
- Eu sei.
Chegamos à sala. Todos estavam ali. Jason estava ao piano, acompanhado por Lilian. Ele a estava ensinando algo. Mas logo parou, e começou a cantar. Sorri. Eu havia gostado do que escutava.
Fiquei ali parada, olhando.
Eu havia me acostumado me acostumado com a harmonia daquele lugar, a harmonia daquelas pessoas. Mas logo aquilo me fugiria, eu iria embora.
Autor(a): Bia Vieira
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
- Vamos Katrina, acorde. – Disse Júlia, abrindo a porta em um rompante. - Hum... – A única coisa que consegui fazer foi murmurar, meus olhos pareciam estar pregados. - Vamos. – Falou, abrindo as janelas. – Temos muitas coisas para fazer hoje. - Hum... – Murmurei novamente, levantando a mão e fazendo sina ...
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