Fanfic: O Pecado Mora ao Lado | Tema: Rebelde

Contrastando com o zunido infernal das buzinas de motoristas pelo visto bem mais impacientes que eu, ouvi o celular tocar, ali ao lado. Estendendo o corpo, o peguei enquanto abaixava o rádio.

 Alfonso: fala.

 Maite: se de manhã você já está com esse humor, não quero nem ver como vai estar mais tarde, na hora do almoço.

 Maite, minha irritantemente querida irmã caçula, lhes apresento.

 Alfonso: não queira mesmo – brinquei. – O que você quer, nega?

 Maite: saber se você já decidiu. Você sabe que eu preciso muito que você vá comigo hoje a noite, maninho. Quem vai me livrar do assédio de todo aquele monte de homem que era apaixonado por mim no colégio se você não estiver ao meu lado para me defender? – choramingou, propositalmente exagerada.

 Alfonso: Christian?

 Maite: ele também vai, mas você sabe, eram muitos – pude sentir o sorriso em sua voz, e sorri junto, voltando a dar leves batidinhas no volante, instantaneamente tenso. – Preciso que os dois homens da minha vida estejam presentes para me proteger

 Desde a divulgação daquela festa, eu não tinha sossego. Sabe-se lá por idéia de quem, haviam decidido fazer uma confraternização (nome singelo tendo em vista a proporção da coisa, na minha opinião) entre os alunos de nossa classe para comemorar os dez anos de formatura, que aconteceria na própria quadra de esportes do Real School, em Chicago. Naquela noite.

 Maite: e, então, você vem? – questionou quando meu silêncio se prolongou demais.

 Pondo o motor em movimento, andei poucos metros antes de parar outra vez, em meio a confusão de carros.

 Alfonso: eu não sei, Mai - e realmente não sabia. Voltar àquele colégio, onde tantas coisas boas e ruins aconteceram, me traria lembranças que eu tentara por muito tempo esquecer. E, agora que parecia ter conseguido, não podia me arriscar a perder todo o progresso e voltar à estaca zero. Voltar a lembrar dela.

 Maite: Poncho, por favor. Ela nem vai estar aqui – pareceu adivinhar meus pensamentos, o que não era muito surpreendente. Além de sermos muito ligados, ela era a única que conhecia a minha verdadeira versão daquela história. Desde o início idiota, até o final doloroso. Ela era a única que sabia porque eu hesitava tanto em voltar ali.

 Alfonso: mas todo o resto vai. Não sei se estou disposto a lidar com tudo aquilo outra vez.

 Maite: você não era tão covarde assim – bradou, do outro lado da linha. – Qual é, Poncho, por favor – quase implorou. – São dez anos.

Alfonso: não sei, nega, me dá mais um tempinho. Daqui há umas horas eu te aviso, até porque tenho que ver se vou poder me ausentar do escritório mais cedo para pegar o jatinho até aí – desculpas, desculpas e mais desculpas, e. – Prometo te ligar antes do almoço, tudo bem?

 Maite: você já está pensando há um mês, mas tudo bem – resmungou. – Vou desligar, espero seu telefonema. Quero muito que você venha. Estou com saudades.

 Alfonso: tudo bem, eu vou tentar.

 Nos despedimos e eu deixei a cabeça recair sobre o encosto do banco. E aí eu lembrei dela.