Eu olhei pra ela de olhos arregalados, meu deus, eu queria morrer naquela hora, como ela sabia, como ela tinha visto, meu deus, minha mãe sabia que eu ficava com o meu irmão. Eu não falava nada, tinha ficado muda. Ela continuou:
-Sexta eu estava em casa, vim falar com ele no quarto pra ver se ele já tinha te contado, pra dizer que eu ia te falar que ele ia embora, e quando eu fui abrir a porta vocês dois discutiam, você falava que não tinha ido no jogo por não ver ele como irmão. Depois vi vocês se beijando, depois deitando juntos, você com ciúmes da Geovanna, ele te segurando, te beijando, você dando um tapa na cara dele... Vi tudo Bruna.
Eu não falei nada, só olhava ela, meu deus, como a gente tinha se descuidado, o que eu podia falar? Era impossível lidar com aquela situação.
-Olha, eu fiquei abalada quando fui ouvindo as coisas, fui vendo as cenas, mas depois pensando melhor, vi que minha filha tava chorando tanto, tinha mudado tanto porque tem um amor impossível com o irmão, e que meu filho tava tendo problemas no time, tinha largado o que mais gostava por culpa do mesmo amor. Vi que ele foi embora só por causa disso, e que apesar de errado, se vocês tivessem tomado outra atitude, não teriam brigado tanto, ele não teria ido embora... É díficil falar o que eu vou te falar Bruna, acho que nenhuma mãe falaria isso, mas se fosse pra não ver você chorando e pra ter ele hoje aqui tomando café da manhã com nós duas, eu daria todo apoio do mundo pro amor de vocês....
-Eu sei que é errado mãe, não sei como começou, só sei que começou sabe, eu não podia ver ele com a Geovanna, fiquei com ódio da minha melhor amiga, e eu sei que é errado, que é horrível. Acho que foi preciso ele ir embora pra cair na real de que essa briga ai só nos prejudicou, que na verdade, esse amor, besta, só nos prejudicou. E eu não quero mais mãe, eu errei, ele errou, isso não podia ter acontecido, se ele não tivesse me beijado no primeiro dia ele ia tá aqui hoje e eu não ia tá chorando...
Ela ficou calada, chorava junto comigo.
-Tu nem deu tchau pra ele né?
-Do jeito que eu queria dar não...
Fazia tempo que não nos deitavamos juntas, era o momento mais díficil da nossa relação de mãe e filha, nunca me droguei, nunca repeti de ano, nunca roubei, nunca matei, nunca menti, mas tinha ficado com meu irmão e isso é pior do que a maioria dos crimes que eu poderia ter cometido. Mas ela, incrivelmente, estava me dando apoio.
Depois de muito tempo caladas ela resolveu abrir a boca. Eu já não chorava mais, e ela parecia mais tranquila.
-Porque tu não procura ele?
-E falar o que? "olha, eu nao paro de pensar em ti e como tu não é capaz de me deixar um recado no Facebook dizendo como tá, eu tenho que correr atrás, e falar com você pra saber se tá vivo ou morto". Para né mãe, é demais pra mim.
-Fica em casa hoje, e pensa bem nisso, pensa se não pode ligar pra ele, se o que tu tá fazendo tá certo. Tu deu um tapa na cara dele aquele dia filha, nem tchau deu pra ele direito... Pensa bem tá?
Falou enquanto se levantava, me deu um beijo na testa e saiu.
Passei aquela manhã pensando no que minha mãe falara, eu tinha pego pesado realmente, tinha sido uma imbecil, dando um tapa na cara dele, fiquei muito impressionada com a reação dela, e a tristeza no olhar quando disse que se fosse pra ter ele perto e pra eu parar de chorar, aceitaria um namoro nosso, vi naquela hora que realmente estavamos errados, não queria ver ela sofrer, e ela sofria muito com Gabriel longe, minha vontade era ligar e implorar pra que ele voltasse, dizer que eu namoraria com ele, que a mamãe tinha concordado e que poderíamos viver o nosso amor, mas isso não era verdade, ela estava triste e aquilo não podia acontecer.
Eu não ia lhe telefonar.