-Não desiste do seu sonho, eu vou estar contigo pra tudo que você precisar. - Falei olhando-a nos olhos.
Ela parecia não acreditar no que eu dizia, me beijou no rosto e sorriu limpando suas lágrimas logo em seguida.
-E você tá fazendo alguma peça? - Perguntei olhando-a.
-To. Mas nem me pergunta qual é.
-Porque?
-Porque não conto pra ninguem.
-Me conta poxa, me dá um ingresso pra ir assistir...
-É uma peça infantil tu não ia gostar.
-Para de bobeira e me diz qual peça!
-Faço Alice no país das maravilhas. É num teatrinho pequeno, aqui perto do colégio.
-Você é o coelho? - Falei rindo.
-Não idiota! Sou a Alice né... - Falou me dando outro tapa.
-Sério? - Perguntei sorrindo.
-Sim... Adoro estar lá, no palco, fazendo crianças sorrir. - Falou olhando pro longe e sorrindo.
-Sei do que você tá falando, é ótimo alegrar as pessoas né?
-É. - Falou se virando para mim.
-Mesmo que isso custe a tristeza de quem a gente mais ama...
-Verdade.
Ficamos olhando para o nada, eu pensava em Bruna e ela certamente imaginava o seu pai, eu sabia exatamente o que ela sentia. A saudade que eu sentia de Bruna me corroia, me matava por dentro. A última coisa que vivemos juntos, nossa última cena foi um tapa dela na minha cara, só, simples assim. Eu amava muito ela ainda, mas não iria procura-la, não depois do tapa...
-Posso te perguntar uma coisa? - Falou ela me encarando de novo.
-Claro.
-Se não quiser responder, não precisa.- Ela parecia embaraçada.
-Já falei pra perguntar. Não escondo nada de ti, não tenho motivos, confio em ti!
Ela ficou feliz e sorriu antes de finalmente perguntar:
-Porque tu sempre fala da tua irmã com tristeza?
Eu fiquei um tempo calado, jamais contaria a ela que eu e minha irmã nos amamos de outro jeito, mas nada impedia de ela saber do resto, até mesmo do tapa.
-Eu namorei a melhor amiga da minha irmã e ela ficou com muito ciúme, pois eu me distanciei dela e a amiga dela também se distanciou, porque viviamos sempre grudados. E ai eu até parei de jogar, minha irmã e eu brigavámos direto e depois eu tive esse convite, pra jogar aqui e veio bem a calhar, eu não queria mais brigar com ela e ia voltar a jogar bola também ai eu vim. E ela não descobriu por mim que eu viria, descobriu pela amiga e ficou braba obviamente, ai no meu último dia lá discutimos feio, eu falei coisas que não devia, ela me deu um tapa na cara e desde então nunca mais nos falamos...
-Nossa, desculpa, não sabia que era tão punk a coisa. - Falou arrependida de ter tocado no assunto, vendo a minha tristeza.
-Não precisa se desculpar, é bom poder conversar com alguem, aqui eu só tenho você. - Falei parando de olha-la.
Fiquei calado, ela não era das pessoas mais carinhosas do mundo, pelo contrario, era seca, mas me abraçou forte, beijou meu ombro e alisou minhas costas.
-Tenho treino, tenho que ir. - Falei me levantando.
-Eu tenho ensaio também, preciso ir.
Ela beijou meu rosto e dissemos até logo, indo cada um para um lado do colégio. Neste dia o treino foi mais pegado eu não conseguia correr, aquelas lembranças definitivamente, tinham me feito mal.