Fanfic: Almas - Vondy* | Tema: Vondy

A sensação não era de um beijo comum, era como ser envolvida por uma corrente fria que sopra no outono enquanto caminhamos agasalhados na rua, pude sentir seus dedos frios entre os meus cabelos, devagar fui fechando os olhos querendo que aquela sensação diferente que me envolvia nunca acabasse.

- Meu Deus como aqui está frio, olha a janela, deve estar aberta! - minha mãe disse ao meu pai enquanto esfregava os braços, provavelmente a sensação de frio que ela tinha era pelo Christopher estar tão perto, ao ouvi-la falar ele foi se afastando, ficou acariciando meu rosto enquanto falava.

- Não deixe que o espelho te engane, você é mais forte do que qualquer um desses machucados, acredite em você... Reaja!

Coloquei minha mão sobre a dele tentando fazer com que ele entendesse que eu queria que ele ficasse.

- Não posso ficar, você vai acabar sendo transferida para ala psiquiátrica porque fica fazendo coisas estranhas enquanto estou aqui... só quero que saiba que sinto sua falta... - ele foi se afastando e eu o segui com os olhos até que ele saísse do quarto.

Fiquei encantada transbordando felicidade, apesar de insano eu sabia que era verdadeiro a alma do Christopher esteve aqui, ele veio me ver.

Lentamente fui relaxando e sorri fechando os olhos como uma adolescente apaixonada, foi apenas um segundo o suficiente para buscar energias e enfrentar agora os pensamentos dos meus pais que já começavam a me incomodar, minhas pálpebras mal se fecharam e eu vi nitidamente um par de olhos me encarando e nesse momento palavras ecoaram na minha cabeça, “faça o acordo” foi extremamente rápido como um relampear, mas eu tenho certeza que aconteceu.

Abri os olhos assustada olhando em volta a procura de alguma coisa sinistra, mas tudo parecia normal, meu pai atento a tv e minha mãe se agasalhando.

Voltei a me encostar, descartei qualquer possibilidade de fechar os olhos novamente, vaguei em pensamentos até que me parei pensando no Christopher e em sua condição, ainda em coma e sozinho na UTI, meu coração apertou como se minha 
alma clamasse pela dele, fiquei envergonhada, imaginando que com esses pensamentos agora a loucura seria minha melhor amiga.

Afinal, estar atraída por uma cara que nem conheço e pior está preso no mundo dos mortos... só pode ser loucura mesmo!

Algum tempo depois, meu pai dormiu no sofá e seus pensamentos foram substituídos por seu ronco e eu sorri aliviada, assim que comecei a ouvi-los.

- Dulce... filha... – virei olhando para minha mãe.

- Vou até a lanchonete comer alguma coisa, se importa em ficar sozinha com seu pai?

Mexi a cabeça para que ela entendesse que poderia sair sossegada, mesmo porque seus pensamentos deixavam claro que ela estava brava em ouvir meu pai roncar.

Enquanto ela se arrumava para sair, uma enfermeira entrou e se aproximou sorrindo, não era a mesma que eu havia visto no outro dia, essa irradiava simpatia e assim que me olhou imediatamente começou a pensar.

- Pobrezinha! Tão novinha nesse estado... é o fim dos tempos, uma garota tão bonita, meu Deus... – seus pensamentos iam longe enquanto ela aplicava a medicação no soro. - todos têm seu fardo para carregar, o que vai ser desses pais, já velhos com uma filha inválida! – virei o rosto para que ela não me visse chorar, ela estava certa, o que seria dos meus pais para cuidar de mim nesse estado.

- Prontinho! – sequei as lágrimas rápido e olhei tentando sorrir como forma de agradecimento. - está chorando? - neguei com a cabeça, tentando acabar logo com aquela conversa. - sente dor menina? - ela quis saber sendo gentil e eu fiz que sim com a cabeça, mesmo sem entender se era possível sentir dor pelo corpo se não conseguia mexê-lo. – os medicamentos vão ajudar... eu sei que tudo parece complicado agora, mas com o tempo tudo se ajeita, tenha fé, nada acontece por acaso... – havia carinho em sua voz e seus pensamentos diziam que ela realmente acreditava naquilo e desejava que eu melhorasse, por isso sorri tentando também acreditar que com o tempo as coisas se ajeitariam.