Fanfic: Almas - Vondy* | Tema: Vondy

- É uma boa idéia, mas não sei como fazer para acordar, então, podemos por enquanto só conversar...

- E seus amigos? Ninguém aqui sabe? - perguntei apontando na direção as outras almas perdidas que eu via ali.

- Acham que almas não podem conversar entre si, ou então eles são do tipo, cada um cuida da sua vida, ou da sua morte, sei lá... - ele deu os ombros sem se importar.

- Porque você e eu conversamos então?

- Ué, você pediu duas vezes para que eu ficasse com você, o que esperava? Está arrependida?

- Não, não... quer dizer... sim, sim! Claro! Eu não pretendia colocá-lo numa situação tão esquisita como está...

- Não entendi!

- Olha, eu odeio ficar sozinha, odeio mesmo, deve ter sido por isso que pedi para que você ficasse comigo, não tinha intenção de te deixar nesse estado.

- A culpa não foi sua, nada acontece por acaso, você estava morrendo, depois eu estava morrendo, tudo isso é bem estranho... na verdade não importa, quem deu o tiro e me deixou nesse estado foi outra pessoa, não foi culpa sua, minha vida é minha profissão e eu sempre soube dos riscos.

- E nunca se importou?

- Acho que não de verdade... por isso não me apego muito as coisas ou as pessoas, na minha profissão tudo pode mudar de uma hora para outra.

- Por isso tem duas namoradas que não gosta? – nem fiz com intenção, mas quando percebi já tinha perguntado.

- Como sabe?

- Você me disse, no outro dia, quando seu coração parou na mesa de cirurgia...

- Eu disse isso? Não me lembro... – ele sorriu sem graça.

- Bem... eu estava tentando achar algo que te fizesse viver... você disse que tem duas namoradas, mas não gosta delas, que sua mãe é falecida e que não conversa com seu pai a quase um ano...

Cruzei os braços me arrependendo das últimas palavras não quis ser intrometida.

- Ah! Agora me lembro de alguma coisa... – ele gesticulou como se realmente lembrasse, colocando as mãos no bolso da calça, olhando à tarde lá fora pela janela.

- Fiquei sabendo que seu pai vem aqui te visitar...

- É ele tem vindo...

Ele me olhou e antes que eu pudesse impedir ele desatou a falar.

- Minha mãe faleceu há quase um ano e desde então não falo com meu pai, tivemos uma discussão no dia do enterro dela... – ele deu um longo suspiro antes de me olhar diretamente. - ...e agora ele vem aqui e conversa com meu corpo.

- Mas não conversa com sua alma?

- É... ele conversa comigo, mas eu não sei como me reconciliar com ele... não sou bom com os sentimentos.

- Sente saudade dele? Digo de abraçá-lo e de conversarem de verdade...

- Muita... – ele sorriu. - ele é um grande homem, sou quem sou, tudo graças a ele...

- Ele também é bombeiro?

- Não, ele era cirurgião, hoje é biomédico, um tipo de cientista que procura a cura de algumas doenças, ele procurava a cura para a doença da minha mãe, passava tanto tempo enfiado no laboratório que se esqueceu de estar ao lado dela enquanto ela ainda tinha vida, por isso brigamos... – ele confessou triste.

- Ele deveria amá-la muito, por isso procurava pela cura... – falei pensando o quanto deveria ter sido duro para o pai dele, ser médico e cientista, ter tantos conhecimentos e não poder livrar a pessoa que ama da morte.

- É acho que no fundo ele a amava mesmo, disse aqui mesmo no outro dia que ainda procura pela cura da doença que a matou... disse que não vai descansar enquanto viver, porque ele acha que se não pode salvá-la vai poder salvar outras pessoas...