Fanfic: Palavras, apenas palavras - AyA | Tema: RBD

Somente depois que Anahí já havia saído da U&H eu ficara sabendo do episódio do desmaio. E de certa forma, foi até melhor assim. Eu realmente não sei se conseguiria me manter imune a uma Anahí frágil, precisando ser cuidada. Acredito eu, que não pensaria duas vezes e a pegaria em meus braços, abraçando-a e jurando que nunca mais me afastaria. O que, claro, era uma atitude incabível, principalmente com a minha mulher ao meu lado.

E Ian... O que será que ele queria comigo? Há uns dois anos eu não o via, e ele não era o tipo de pessoa que viria a Nova Iorque apenas para uma visita cordial. Mudara-se há muito tempo para algum lugar na Espanha, e desde então vivia viajando sem uma morada fixa. Ian era assim, um moleque, apesar dos seus 26 anos, daquele tipo de cara irresponsável que não se apega. E fora justamente por isso que brigamos há exatos dois anos. Ele simplesmente não fora ao funeral de nosso pai, alegando estar longe demais para chegar a tempo. Depois viria a descobrir que ele não estava longe merda nenhuma. E óbvio, a briga foi feia, digamos que, bem feia. Então ele sumiu no mundo mais uma vez, e o último contato que tivemos, acompanhado de um pedido de desculpas da parte dele, fora no Natal passado.

No final da tarde, quando todos os meus esforços de não procurá-la foram em vão, eu me vi grudado ao telefone, rezando mentalmente para que ela me atendesse. Eu precisava saber como estava, se estava bem. Mas a verdade é que antes do quinto toque eu desliguei. Talvez não fosse uma boa opção que conversássemos. Talvez fosse eu o motivo de todos os seus problemas. Não era justo que eu telefonasse alimentando as esperanças dela e as minhas ilusões. Havia acabado e eu deveria colocar isso de uma vez por todas em minha cabeça.

Chegando em casa tomei um banho demorado, ainda tentando afastar Anahí de meus pensamentos. Estava enrolado em uma toalha quando Zuria abriu a porta do banheiro.

Zuria: Poncho... – Se aproximou ficando a dois passos de mim – O que você tem? – Como? 

Alfonso: Não tenho nada. – Dei de ombros, mentindo – Por quê?

Zuria: Saiu ontem à noite e não me disse aonde ia – Começou – Quando voltou estava triste. Eu sei que estava! E hoje passou o dia todo calado. – Concluiu. Ela nunca chegara ao ponto de me perguntar o que acontecia comigo ou onde eu estava. Eu pensei em uma resposta plausível o mais rápido que pude. E devo dizer que mentir para ela, naquele estado, doía-me.

Alfonso: Fui ao cemitério.

Zuria: Àquela hora?

Alfonso: Precisava ficar um tempinho sozinho, aproveitei para visitar o túmulo do meu pai.

Zuria: Ficar um tempo sozinho? – Encarou-me parecendo triste – Não está feliz com tudo o que está acontecendo? Com o nosso bebê?

Alfonso: Claro que eu estou feliz! – A puxei pelas mãos, abraçando-a – Eu só estava com saudades do meu pai – Beijei-lhe a testa e ela sorriu – Só isso.

Zuria: Ian vai chegar daqui a pouco. – Disse repousando a cabeça em meu peito.

Alfonso: Ele te disse o que queria?

Zuria: Não, só disse que passaria aqui. Eu também nem perguntei, com tudo aquilo da Anahí passando mal eu fiquei meio perdida. Mas não deve ser nada muito sério, você sabe como o Ian é...

Alfonso: Para ele ter vindo até aqui? Talvez eu deva me preocupar. – O interfone tocou – Falando no diabo... – Brinquei. Zuria soltou-me ainda sorrindo e partiu para a sala.

Coloquei uma roupa qualquer e fui receber Ian. O clima era estranho. Mas embora não fossemos os irmãos mais apegados do mundo, a verdade é que eu até sentia saudades.

Ian: Poncho, cara! – Veio em minha direção, abraçando-me – É bom te ver!

Alfonso: Quanto tempo, Ian! – Disse retribuindo o abraço – Você cresceu! – Brinquei.

E logo nós dois estávamos conversando como nos velhos tempos. Como se nunca estivéssemos longe. Na verdade, era sempre assim, antes da briga que resultara em um ano sem nos falarmos. Ian ficava meses viajando, e quando voltava parecia-me que nunca houvera partido. E como a nossa diferença de idade era pouca, eu era dois anos mais velho, de uma maneira ou de outra, nos entendíamos.

Mas embora tudo estivesse muito agradável, eu sabia que por trás daquela visita havia alguma intenção. E eu não deixaria de perguntar.

Ian: E é isso. Estou no Brasil agora. – Terminou de contar sobre os últimos 3 meses de sua vida agitada, enquanto desfrutávamos de um delicioso coquetel que Zuria preparara.

Zuria: Brasil. Uau!

Alfonso: E o que trouxe você do Brasil até aqui? Não diga que foi a saudade que sentia dos meus lindos olhos verdes, porque isso não cola! – Intimei-o, divertido.

Ian: Mas eu senti saudades dos seus lindos olhos, bonitão! – Rebateu brincalhão – Tá legal. Você me conhece! – Eu assenti – Dona Ruth!

Alfonso: O que tem ela? – Perguntei já preocupado.

Ian: Está com um novo namorado. – E daí? Desde que meu pai morrera, ela vivia trocando de namorado. Aquilo não era novidade e nem motivo de preocupação para mim – E ele não é pra ela.

Alfonso: Está com ciúmes da nossa mãe, Ian?

Ian: Antes fosse. – E eu percebia que ele estava meio irritado/enojado/chateado – O cara quer que ela venda a casa para abrir um negócio.

Alfonso: O que? – E a minha expressão tornou-se ainda mais irritada/enojada/chateada que a dele.

Ian: Ele quer investir o dinheiro em um restaurante, eu acho. Da última vez que estive em Newark ela veio falar comigo sobre isso, parecia estar pedindo permissão. – Rolou os olhos.

Alfonso: E você? – Perguntei irritado. Não nego, aquilo me deixara puto.

Ian: Disse que não. Que aquilo não fazia sentido. – Assenti. Era óbvio que não fazia sentido – Ela conhece o sujeito a menos de dois meses. – Minha mãe estava louca. Ótimo! – Vim falar com você porque sei que no aniversário dela ela vai aproveitar para falar com nós dois – Ou seja, dali a pouco mais de um mês – E sei lá, ela sempre te escuta...

Alfonso: Mas que merda! – Bati as mãos com força na mesinha de centro – Ela está louca ou o que?

Ian: Calma, Poncho. Ela está apaixonada.

Alfonso: Ela está alienada! 

Ian: Também. – Disse, mudando um pouco o tom, como se tentasse amenizar toda a minha tensão – Bom, eu vim te avisar de tudo isso para você falar com ela com calma. Sei bem que você não teria cabeça fria o suficiente para tentar conversar quando recebesse essa bomba. – Não mesmo.

Alfonso: Ela não pode fazer essa merda, Ian. A casa é o maior, para não dizer o único, bem que ela tem. Puta merda. – Ian olhou-me como quem diz ‘Eu sei’ – Obrigado por ter me avisado. – Disse mais ameno – Vai ficar na cidade até quando? – Mudei o rumo da conversa.

Ian: Até o aniversário. – Sorriu-me.

Zuria: Pode ficar aqui se quiser.

Ian: Ah, eu vou para um hotel, não se preocupem!

Alfonso: Hotel? Faça-me o favor, Ian! Não vou deixar o meu irmão dormindo em um hotel enquanto eu posso acolhê-lo na minha casa! – Ele tentou contestar, mas no fim, eu venci, como sempre. Sendo assim, Ian ficaria.