Fanfic: Etéreo [Vondy] - Terminada

As duas semanas seguintes foram do paraíso ao verdadeiro e mais profundo inferno.
Christopher aguentou bem até dois dias depois do casamento, mas, ao terceiro dia, já demonstrava sinais de um cansaço extremo e, temendo que a doença avançasse antes do tempo, Dulce o levou de volta para o hospital.
A cada hora que se passava, todos tinham a nítida impressão de que o fim para Christopher se aproximava. E a cada minuto, Dulce sofria com a visão de um futuro sem ele.
Seu coração se apertava ao ponto dela não conseguir respirar direito. A dor era tanta, que por mais que tentasse não demonstrar, o pânico e desespero a alcançavam todos os segundos do dia.
Se ela se sentia assim, não conseguia nem imaginar como estava sendo para Christopher. Deveria ser essa dor multiplicada por mil.
Isso sem levar em conta a dor da própria doença. Nem as altas doses de morfina conseguiam afastar por muito tempo a dor que Christopher sentia.
Ouvindo um gemido de dor, Dulce se voltou para a cama do hospital e correu até Christopher. Ele tentava respirar e, na luta, levava suas mãos para a máscara de oxigênio, tentando retirá-la.
― Calma, meu amor... ― ela sussurrou, enquanto segurava as mãos dele e o fitava nos olhos. ― Fica calmo. ― disse, com mais firmeza, tentando fazer com que ele se concentrasse nas palavras que dizia. ― Respire devagar. Mantenha a calma.
Depois de um bom tempo, ele pareceu compreender o que ela dizia e a fitou nos olhos, tentando respirar o mais devagar que conseguia e a se manter calmo, apesar da dor rasgante que o atormentava.

― Isso, meu amor. ― ela sorriu levemente e o acariciou no rosto.
Deus!, como seria doloroso não ter mais aqueles olhos para fitar, aquele rosto para tocar, as mãos para segurar e os braços para a envolver...
Por mais que lutasse, dessa vez Dulce não conseguiu ser forte e uma lágrima desceu por seu rosto. Sabia, pelo olhar que recebia de Christopher, que aquela lágrima doeu mais nele do que nela.
― Queria... ― ele começou, aspirando fortemente o ar para dentro do peito. ― que tudo... fosse... diferente...
Dulce assentiu com a cabeça e uma enxurrada de lágrimas lavou seu rosto sem que ela conseguisse se conter.
― Eu sei, meu amor... ― ela sussurrou, enquanto se inclinava e depositava um demorado beijo na testa dele.
Ao se afastar para fitá-lo, Dulce viu, pela primeira vez desde que o conhecia, uma lágrima escorrendo no canto dos olhos dele.
― Não chore, meu amor. ― disse, enxugando a lágrima dele, sentindo seu coração se apartar ainda mais.
― Não quero... ― ele fez uma pausa, para respirar. ― te ver... chorar...
― Eu sei. E juro, tento com todas minhas forças. Mas não suporto te ver sofrendo assim.
Christopher deu um sorriso débil e respirou fundo.
― Logo... acaba...
― Não diz essa bobagem, Christopher! ― ela o censurou com cuidado e suavemente. ― Não gosto de te ver falando essas coisas.
Ele assentiu com a cabeça e logo ficou em silêncio, os olhos perdidos no espaço.
Dulce aproveitou o silêncio e o fitava com atenção. Os olhos dele pareciam tão vazios... E o coração dela tão cheio de dor...

Alguns minutos se passaram, ambos em silêncio, até que Christopher voltou a fitá-la nos olhos e Dulce teve a impressão de que foi como se ele a visse pela primeira vez, tamanho era o vazio em seus olhos.
― Chris...? ― ela sussurrou, o pânico voltando ao seu coração. Nunca tinha visto ele a fitar de tal forma e isso a assustava.
― Dulce... ― ele disse depois de um tempo, as palavras saindo roucas e forçadas. ― Não se esqueça...
― De que, meu amor?
― O envelope... depois... morrer...
Dulce fechou os olhos e suspirou, assentindo com a cabeça.
― Não vou esquecer, meu amor. Mas ― ela voltou a sorrir delicadamente, sentindo seus lábios tremerem involuntariamente. ―, isso vai demorar muito para acabar.
Christopher deu outro sorriso débil e apertou levemente a mão dela.
― Eu... te amo... meu coração. Minha vida.
Dulce sentiu outra enxurrada de lágrimas e sussurrou:
― Eu também te amo, meu amor. Minha vida.
Não querendo que ele visse mais suas lágrimas e se agitasse com isso, Dulce se inclinou e depositou um leve e carinhoso beijo em cada um dos olhos dele, para, logo depois, depositar novamente um deles em sua testa.
Esse foi mais longo que o primeiro e, ao se afastar, Christopher mantinha os olhos fechados.
― Chris...? ― ela o chamou, vacilante.
No segundo seguinte, o aparelho que acompanhava os batimentos cardíacos de Christopher começou a apitar, fazendo o pior som do mundo. Dulce olhou para o monitor, vendo uma linha reta aparecer nele e nunca em sua vida sentiu tanto desespero, tanta dor. Como se sua alma estivesse sendo arrancada a força de seu corpo, levando o que restava de sua vida.
― Não... ― ela sussurrou e, então, percebendo o que acontecia, gritou com toda sua alma: ― Não!. ― sem pensar, envolveu seus braços no corpo inerte de Christopher, o abraçando com força, negando-se a deixá-lo ir.
Ele não podia ir... Ainda tinha toda uma vida pela frente.
Ela ainda não estava preparada para ficar sem ele... Nunca estaria!

OMG chorando loucamente só de postar esse cap!