Fanfic: Etéreo [Vondy] - Terminada

Muito provavelmente o câncer é a mais ordinária e traiçoeira de uma vasta lista de doenças que aflige o ser humano. Você faz todo um tratamento, interrompe a sua vida, se dedica com todas as suas forças e, se tiver “sorte”, ela some ou diminui.
E, quando você menos espera, ela retorna. Por vezes, com força total e você sabe que não há tratamento suficiente com que lutar. Se vê com mãos atadas e as pessoas que você tanto ama, sofrem junto com você, esperando o inevitável e indesejado final.
Com ele. claro, não seria diferente.
As batidas insistentes do antigo relógio soavam sem parar, como um aviso, o ameaçando levá-lo à loucura.
Estar naquele imaculado quarto de hospital, sabendo que no final não havia porquê estar ali, era sufocante. Só insistia com aquele tolo e dispensável tratamento, pelos seus parentes.
Afinal, ver a dor nos olhos deles não era algo muito fácil de lidar. E olha que quem estava marcado para morrer era ele, portanto, quem deveria estar sendo “consolado” era ele e não os outros.
Não que quisesse aquele consolo, muito pelo contrário! Não suportaria ter de aguentar isso vindo de pessoas que tanto amava.
― É, Christopher... as coisas não andam nada bem para o seu lado. ― ele disse e agarrou o controle remoto da televisão, tentando encontrar no aparelho algo que o distraísse, por menor que fosse essa distração.
Tinha tantos problemas para resolver, tantas pessoas para se despedir e tão pouco tempo... Seria um milagre se conseguisse resistir ao tratamento por mais dois meses.

Ainda se lembrava da visita do médico que recebera três dias atrás e de como sua mãe reagira a notícia: “― Sei que você está tentando superar pela segunda vez essa doença e isso é louvável. ― disse o médico. ― Mas precisamos ser honestos e estar preparados para todas as possibilidades. O tratamento não está surtindo o efeito desejado e... ― ele se calou por um momento, preparando os presentes antes de dar a notícia fatal: ― Não sabemos por quanto tempo seu organismo pode aceitar a medicação. Temos de lembrar que você ficou muito debilitado da primeira vez e não teve muito tempo para se recuperar antes da doença retornar. Sinto muito, Christopher, mas não sabemos dizer se continuará conosco nos próximos dois ou três meses.”
Notícia dada, teve de consolar sua mãe, dizendo que já sabia que isso aconteceria e que estava tudo bem.
Em seu íntimo, era assim mesmo que se sentia. Vivera tudo ao limite, sempre aproveitando tudo o que a vida lhe oferecia e, se não oferecia, ele dava um jeito de “roubar” da vida. Estava mesmo tudo bem.
Só uma pessoa, uma situação, o deixava com o coração na mão e aos pedaços... Com a certeza de que estava deixando esse mundo com um assunto inacabado e, isso sim, lhe dava raiva contra tudo o que estava passando.
Como poderia partir em paz, se seu coração estava nas mãos dela? Como a deixaria aqui sozinha, se o que ele mais desejava era poder viver toda sua vida ao lado dela?
A vida, por vezes, pode ser muito cruel. Ela lhe dava um amor tão intenso, tão cheio de vida e alegrias, para depois, arrancá-lo de suas mãos sem aviso prévio, sem se importar com a dor que isso causaria.
Triste fim.
Ao menos, quando partisse, Christopher teria a imagem dela em sua mente, com seu sorriso luminoso e olhos que pareciam expressar todos seus belos sentimentos.
Triste e doloroso fim para o amor...