Fanfic: Carpe Diem | Tema: morte
Dois
Cara a cara com a Morte.
Meu corpo estava denso, pesado. Como se eu estivesse em um lugar paralelo, neutro, não havia chão, e nenhum ruído, apenas um silêncio cortante.
Eu estava levitando, dormindo e ao mesmo tempo consciente que não estava mais naquela praça. Eu apenas tentava levantar minhas pálpebras que era com certeza impossível ‘naquele plano astral’. Pesavam toneladas.
_ SERÁ QUE EU MORRI? _ONDE ESTOU?
_ QUE FAÇO AQUI? _SERÁ QUE ESTOU NUM HOSPITAL?
Essas eram uma dos milhões de perguntas que sobrevoavam minha mente ali.
Depois de um tempo caí num sono muito longo. Hora sonhava com coisas surreais, que despencava sem fim de um buraco, hora que caminhava em um chão ladrilhado seguido de relevo, hora não.
Até que após um longo tempo de sonhos e pesadelos, senti minha alma ser comprimida e chupada com muita força que chegava a doer à cabeça com um barulho muito agudo que se aproximava mais e mais. Tudo parou de repente, a compressão, o barulho ensurdecedor... Tudo. Quando notei estava abrindo os olhos de verdade, não era sonho, realmente estava lá, só reparei que havia chegado quando consegui sentir o calor do asfalto tocar meus dedos. _Muito esquisito. Eu disse. Lá estava eu, esparramado no meio da rua e me levantei lentamente desconfiado.
_ ninguém me notou desmaiado aqui?
Eu estava em uma metrópole sitiada e vasta de pessoas caminhando em direções opostas. Muitos deles vestiam ternos pretos, gravatas e uma maleta. De cara notei que não estava mais perto de casa; _ Mas que m... De lugar é esse. Murmurei estressado.
Tentei levantar duas vezes, meu corpo estava exausto, Me sentia magnetizado ao chão... Literalmente. Logo, por educação, estendi o braço e pedi ajuda a um jovem rapaz que se aproximava apressado.
_Ah... Por favor, o senhor... (Fui ignorado completamente)... Ei moço!_MOÇO! Ele fingiu nem ter me visto, quando passou por cima das minhas pernas. Fiquei injuriado com aquilo, o que custavam somente dois segundos de sua vida para ajudar um desconhecido (desmemoriado) jogado ao chão. _Ignorante!
A estranha sensação de estar colado no asfalto permanecia, mas eu ainda sentia meus dedos do pé mover dentro da minha botina preta, então não surtei. Outra pessoa aflita com o tempo se aproximava distraída, então desta vez eu levantei os dois braços e exclamei: _ Com licença senhor... Senhor, por favor._ AQUI EMBAIXO! Chacoalhava loucamente os braços para tentar ser notado, sem sucesso. Ele passou por cima das minhas pernas, como fez o outro, não deixei barato... Puxei o seu pé quando passava o senhor loiro quase caiu do meu lado. Fiquei meio sem jeito com meu ato impulsivo, pois ele logo virou a cara e gritou: _ Mas que coisa! Depois daquele rosto fechado, seu olhar mudou a me ver, eu acho. Seu olhar procurava algo que obstruía seus passos, estava óbvio, ‘eu’ permanecia cara a cara com ele, (e invisível pelo jeito), pois ele não via nada a sua frente... Então seguiu apressado ignorando o ocorrido como antes até desaparecer na floresta de terno.
Tudo aquilo me enfureceu mesmo, Estendi as mãos e comecei a gritar de desespero:
_Alguém, me ajuda aqui EMBAIXO!_Eu não sinto minhas pernas, não consigo levantar!
_GENTE POR FAVOR, EU NÃO SOU NENHUM MENDIGO!_ NÃO QUERO O DINHEIRO DE NINGUÉM, SOMENTE UM POUCO DE AJUDA PARA PODER LEVANTAR DESSE CHÃO QUENTE!!!
Era nítido que eu queria ser notado por alguém. Qualquer um.
_SOCORRO! _Me tirem daqui!
Meu corpo então finalmente se desprendeu do asfalto, e rapidamente me levantei. Logo fui ao encontro da primeira pessoa que passava, era um senhor barbado que falando ao celular, Também estava apressado e distraído então eu tentava seguir seus passos largos.
_Com licença senhor, SENHOR? Acenei para ver se ele me notava. Ele me respondeu, mas não me olhou nos olhos, e sim ao relógio de pulso:_ Pois não, pode falar. _SENHOR!? _ Pode falar... Claudio, ta me ouvindo?_Nossa, já são 13h15min. Fala pro pessoal da agência que vou me atrasar um pouco._Valeu, abraço. Ele acelerou mais ainda o passo, Eu dei um empurrão nele o fazendo parar e me notar, que nada ainda com o celular no ouvido e olhar vago, ele apenas pede desculpa e continua a falar. Com certeza ele não me viu. _Que será que aconteceu comigo? _Ninguém consegue me ver, me ouvir, não consigo tocar em nenhuma pessoa e nem me lembro de absolutamente nada.
_Será que ainda estou dormindo? _EU QUERO RESPOSTAS! É como se EU estivesse em câmera lenta, enquanto todos estivessem super rápidos, sem eu poder alcançá-los.
Então eu corri, como se minha vida dependesse disso, fui com toda a força e rapidez que pude e consegui sentir uma pequena gota de lágrima descer no canto d’olho, foi o único momento em que me senti que realmente estava vivo. Ali então eu corria, era como em um pesadelo que você foge do monstro; ele por mais que fosse grande e desajeitado corria rápido, enquanto você se desgasta usando o ultimo suspiro para correr o máximo possível dele... Ele sempre te alcança. Eu me sentia assim, corria com toda minha fúria e parecia não me locomover dali. Os homens de preto passavam batidos, era quase um borrão... Por mais que não houvesse espaço pra passar entre eles eu conseguia, sem ninguém sentir cotovelada, joelhada, empurrão... Nada! Não me esbarrava em ninguém. Como pode!
De repente cansei, fiquei ali de pé parado sem saber para onde ir, o que fazer... Eu só queria ir pra casa. Em seguida me veio um estalo:_ vou pegar um ônibus, já que estou invisível mesmo ninguém vai me ver e não precisarei pagar a passagem. Lá fui eu ao primeiro ponto de ônibus que encontrei. Como sempre, ninguém me notou, me olhou chegar. Mesmo assim ainda persisti, acenando com a mão no rosto de um senhor do meu lado, estalei os dedos várias vezes... Sem sucesso. Chega a ser desanimador você ser ignorado por completo.
Muito estranho, Todos os ônibus que passavam as pressas não tinham ‘destinos’, sabe, os nomes dos locais que fará o turno o dia inteiro... Destino até tinham, só que eu não conseguia enxergar nenhum deles, estavam TODOS com defeito no visor. Parecia que era pra dificultar mais ainda minha missão, Mesmo assim não desisti. Até que enfim, um ônibus parou no ponto, a porta se abriu e todos entraram, quando eu tentei subir um degrau, meu pé passou direto, como se a escada fosse invisível. Eu tentei novamente, mas a porta logo se fechou. Notei que era impossível entrar em um ônibus para ir para casa. Como eu farei pra pedir ajuda, se ninguém sabe que eu existo... De tanto me esforçar senti fome.
Continuei ali perto, do outro lado do ponto de ônibus sentado em um caixote de papelão, Até que...
De repente literalmente tudo parou ficou preto e branco, menos eu e um jovem rapaz de cabelos loiros, eu o reconheci, foi o segundo senhor que tentei me comunicar. Ele agora estava com fones de ouvido, e com aquele olhar longe de antes. Uma névoa densa cobriu e escureceu todo o local, estava tão frio que saia fumaça gelada ao respirar. Foi aí que ‘ELE’ apareceu, A morte vinha ao seu encontro, era terrivelmente assustador, um esqueleto com longas vestes negras que se misturavam e se desfaziam com a névoa cortante. Caminhando firme ele se aproximava do pobre rapaz que nada via porem ele sentiu o mesmo que eu, um forte frio na espinha que sufocavam os pulmões. Em seu peito suas vestes eram abertas para dar para ver suas costelas, e foi do mesmo que ele colocou sua mão esquelética e de lá retirou uma enorme foice com um cabo de madeira.
Eu estava apavorado com o que via, tentava me mexer o mínimo possível para ele não notar que eu estava ali assistindo tudo (de camarote). Isso nem foi o começo, após toda aquela cerimônia, A morte introduz sua outra mão cadavérica no peito do rapaz, que logo se sente zonzo. De dentro de seu peito ele cospe sua alma para fora de seu corpo ainda interligado por um fio de prata de umbigo a umbigo. O corpo sente uma imensa fisgada no coração, um princípio de infarto, e a alma logo enxerga tudo e grita:
_ NÃO, O QUE HOUVE?
Logo aquela voz rouca que ecoa comenta:_ Olá Victor, chegou sua hora!
_Vo-você é a. Mo - morte?
_... Seu tempo nesse plano acabou, virás comigo.
_Mas eu não posso, acabei de ser pai, e ainda sou jovem demais para morrer, me deixe ficar um pouco mais,... Po-por favor?
_Ah... Você não faz idéia o quanto já ouvi essa história, Por que ninguém nunca aceita que sua hora chegara e pronto. Por que a SUA... Termina agora!
Com sua foice desproporcional ele corta o único ligamento entre corpo e alma. Em seguida, ele puxa o fio de prata sem nenhum esforço como um troféu, enquanto Victor se arrasta, grita e chora: _Não me leve!! _POR FAVOR, AINDA TENHO MUITO QUE VIVER... NÃÃÃÃÃOOO!!! ...SOCORROO!! E no meio da densa neblina uma cortina negra se abre engolindo os dois, o grito alto se esvai junto com o nevoeiro e o efeito pause preto e branco. E tudo volta ao “normal”.
Todos que estavam ao redor do corpo, que logo despencou sem motivos aparente, tentaram ajudar o jovem e assim um circulo de curiosos se formou sobre ele.
_Infarto fulminante! _Ele esta morto! Era o que se comentava quando outro senhor sentiu sua veia aorta sem batimentos cardíacos.
Foi a primeira pessoa que vi morrer na minha vida. Eu ainda estava ali, congelado, o medo me paralisou, não acreditava em meus olhos. Meus olhos se embaçaram de lágrimas que escorreram pelo meu rosto petrificado.
_Acabei de ver “A MORTE” fazer uma execução na minha frente.
_Por que só eu consegui ver isso?
_Quero ir pra casa.
_Eu não quero ver isso novamente. Será que estou no mundo dele?_tenho que saber como fugir desse lugar antes que ele saiba que estou aqui. Mas como farei se ninguém fala comigo, nem consegue me ouvir?
A mesma névoa surge no local, o mesmo efeito das cores sumindo aos poucos. Logo me desesperei, chorava de temor, pavor... As mãos suavam e tremiam.
_Ele me descobriu!
Eu tinha que fugir imediatamente dali.
Autor(a): Wallace Lopes
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