Fanfic: Se Houver Amanhã

O tempo era horrível em Seattle. Doris Whitney andava de um lado para o outro em seu pequeno apartamento, vez ou outra abrindo a cortina para contemplar a tempestade que caía e os relâmpagos que cegavam seus olhos.

Caminhou até próximo a penteadeira, fitou os diversos frascos de remédios que tomara nos últimos três meses. Aqueles desgraçados íam um dia pagar pelo que fizeram. Mas, isso não cabia mais a ela. Ela ía encerrar sua vida aquela noite, estava cansada demais para continuar lutando contra uma coisa que - ela sabia - não ía dar em nada.

Pegou o telefone e discou para a Filadélfia, precisava falar com Tracy uma última vez.

O telefone chamou uma vez, sentiu sua boca ressequida e sua garganta com um nó enorme, no segundo toque a voz familiar da filha pareceu segurá-la de pé.

— Alô?

— Tracy, é você querida?

— Mamãe! Que surpresa maravilhosa! Como vai tudo por aí?

— Por aqui tudo ótimo querida! - ela mentira - e você? Como está Charles?

— Nós estamos ótimos mamãe! Estávamos agora mesmo assistindo a um filme de romance.

— Ora, mas isso é ótimo! Ele tem feito você feliz, querida?

— Feliz? - A voz dela era entuasiasmada - Mais que isso mamãe! Charles é um perfeito cavalheiro! Um gentleman! Você vai adorá-lo!

— Tenho certeza que sim, querida. - Ela não ía adorá-lo porque não ía conhecê-lo.

— Como está o tempo por aí? Aqui tem feito uns dias terríveis!

— Aqui... - ela parou um instante. A última vez que ouviria a voz da filha e estavam falando sobre o tempo? - Está chovendo um bocado, querida.

— Tem que se proteger então, mamãe. Quando vem nos visitar?

Ela tinha vontade de responder "nunca", mas não podia.

— Assim que os negócios melhorarem eu irei.

— Está precisando de dinheiro, mamãe? Talvez Charles e eu possamos...

— Ora Tracy! Assim você me ofende! - interrompeu ela.

— Tudo bem mamãe, tudo bem...

— Eu... - ela respirou fundo - eu preciso desligar agora, Tracy. Não esqueça que eu a amo muito, minha filha. E eu tenho certeza que será uma vitoriosa. Meu raio de sol... mamãe te ama.

— Eu também te amo, mãe. Qualquer dia desses eu e Charles vamos surpreendê-la com uma visita.

— Isso seria... - impossível, pensou - realmente maravilhoso.

— Fique bem, mamãe. Se cuide.

— Você também.

E a linha ficou muda.

Doris Whitney nunca foi um exemplo de coragem, mas conseguiu caminhar até a beirada da cama onde tirou um antigo revólver calibre 22, respirou fundo e apontou-o contra uma das têmporas.

Sem hesitar, puxou o gatilho.