Fanfic: Se Houver Amanhã

O que esperar de um necrotério? Não era colorido e nem era aconchegante. Era frio e cinzento. Todas aquelas gavetas continham corpos que haviam sido deixados para trás por assassinos crueis, psicopatas, estupradores ou insanos. Também haviam aqueles que abandonaram suas próprias vidas. Esse era o caso de Doris Whitney.

Quando Tracy se aproximou da gaveta onde jazia um corpo frio, inexpressivo e completamente vazio, sentiu uma pontada de solidão prolongar-se em seu peito. Haveria de ser forte, tinha de suportar essa maldita dor de perder o seu porto seguro.

As lágrimas escorriam involuntariamente. Seus olhos estavam fixos num ponto: uma das têmporas da mãe estava recheada com alguma coisa semelhante a maquiagem. Fora ali que Doris Whitney havia efetuado o tiro que a arrancara a vida. Mas, segundo Tracy presumiu, sua mãe já estava morta antes de ter feito o que fez.

Saiu de lá com um pesar ainda maior. Ela não queria crer que aquio estava acontecendo com ela, justo ela que foi tão amparada pela mãe quando resolveu se mudar. Agora que estava financeiramente estável e com um noivo que a amava, queria partilhar sua felicidade com a mãe.

— Oh meu Deus, preciso ligar para Charles! - dissera ao comissário de polícia.

Grant encaminhou-a até um hotel simpático no centro do Seattle. Assim que se instalou, Tracy pegou o telefone na suíte em que estava hospedada e resolveu telefonar para Charles.

— Alô? Tracy, é você? Caramba, eu estive te procurando o dia todo. Onde você está?

— Eu... é complicado... Eu... Estou em Seattle querido.

— Você está onde? Mas, que diabos foi fazer em Seattle?

— Vim visitar a minha mãe...

— Tracy, você fala isso como se sua mãe morasse na esquina. Seattle é do outro lado do país!

Sentiu sua voz baixar para um murmúrio quase inaudível.

— Ela se foi Charles...

— Como?! Não estou entendo Tracy, fale mais alto...

— Minha mãe... ela... ela está morta.

Houve um silêncio na linha, Charles ficou profundamente embaraçado.

— Eu sinto muito querida... eu... eu realmente sinto muito, você sabe disso... Quer que eu pegue um avião e vá até aí?

— Não há mais nada que se possa fazer, Charles. Eu vou providenciar tudo por aqui e retorno o mais rápido possível.

— Tem certeza querida? Eu posso muito bem pegar um avião e...

— Eu agradeço muitíssimo, mas nas circunstâncias em que tudo está acontecendo só ía te dar trabalho...

— Não! Não é trabalho nenhum - ele interrompeu-a.

— Não será necessário. Assim que chegar aí vamos nos encontrar, está bem?

— Tudo bem. Promete que vai se cuidar?

— Prometo. - E ela desligou o telefone.

Deitou em sua cama macia, mas parecia que algo a incomodava. A história contada pelo comissário de polícia estava bagunçada demais para ser verdade. Ouvia dizer sobre pessoas que entram num ciclo depressivo e que cometem suicídio, mas conhecendo sua mãe como ela conhecia, certamente Doris Whitney não era uma dessas pessoas. Ela precisava saber o real motivo da morte da mãe, mas sabia que não podia contar com a ajuda da polícia para isso. Ela teria que resolver tudo sozinha.

— Vou descobrir quem fez isso... E quem fez vai pagar. Ou eu não me chamo Tracy Whitney.

Apagou as luzes do seu quarto, a viagem havia deixado-a exausta. Ela adormeceu.