Fanfic: Roubando Corações *AyA* ( Terminada) | Tema: Alfonso e Anahí

Alfonso jamais experimentara a sensação de chegar na hora certa. Para um contador, era uma característica incomum, no mínimo. A profissão exigia uma precisão e exatidão que geralmente produzia uma pessoa pontual. Alfonso Crusher, não: estava sempre atrasado.

Talvez fosse um traço de personalidade, talvez se tratasse apenas de um mecanismo interno de proteção, mas o fato é que se poderia dizer que ele sofria de atraso crônico. Ainda que fossem poucos minutos, chegava sempre atrasado a seus compromissos. Era como se o universo conspirasse contra ele nesses momentos, pois quando tudo parecia perfeito, ocorria algo fora do controle. Exatamente quando imaginava que não precisaria correr daquela vez, que não iria começar seu compromisso com desculpas esfarrapadas, ele conhecia uma verdadeira coleção delas, alguma coisa acontecia, e Alfonso retornava ao velho padrão: correr atrás dos relógios, escutar sermões sobre a virtuosidade da pontualidade ou até mesmo perder negócios realizados.

Naquela tarde, ocorrera o oposto, pela primeira vez na vida. Miraculosamente, chegara ao aeroporto com duas horas de antecedência. Assim que desceu do táxi, deparou com o relógio do saguão do aeroporto, que marcava três da tarde, e não cinco. Como teria sido possível uma coisa daquelas?

Ele não sabia, mas era um prenuncio de mudança em sua vida. Saiu apressado em direção ao balcão da companhia, a fim de confirmar sua passagem e o horário. Fora uma reação instintiva, e quando o cérebro registrou que não estava meia hora atrasado, e sim uma hora e meia adiantado, parou. O executivo apressado que vinha atrás dele bateu em sua valise, mas não se incomodou em pedir desculpas. Alfonso obrigou-se a caminhar normalmente. Chegou mesmo a parar em frente à vitrina da livraria para ver os títulos novos de romances policiais, o tipo de literatura que o distraía de sua vida corrida e previsível. Resolveu ir até o balcão antes de relaxar completamente, pois talvez o horário do vôo fosse diferente.

Não fora esse o caso. A bela morena de olhos verdes que atendia os passageiros informara que realmente o nome dele estava na lista de passageiros do vôo das cinco e meia. De repente, tinha duas horas e meia para gastar, uma coisa inédita para ele. Seria possível até mesmo assistir a um filme, isso se houvesse um cinema no aeroporto.

No instante em que se afastou do balcão, depois de confirmar a passagem, adivinhou que aquele dia seria diferente em sua vida. Quem sabe nunca mais chegasse atrasado? Quem sabe existisse um propósito maior, uma alteração no padrão que ele conhecia?

Surpreso por chegar a filosofar, caminhou até o bar do aeroporto, onde pediu um café expresso e ficou observando a correria dos homens e mulheres, todos parecendo sisudos e apressados, prontos a tomarem seus aviões para realizar seus negócios, tudo isso regido pelo tirano universal, o relógio.