Fanfic: Roubando Corações *AyA* ( Terminada) | Tema: Alfonso e Anahí

- Está vazia - repetiu Alfonso.

- Naturalmente - intrometeu-se Rick. - Afinal, também conheço alguns truques diferentes. E sem precisar de computadores.

Por um instante, Anahí deu a impressão de que fora pintada de escarlate, ou que algum vaso sangüíneo rompera em seus olhos, conferindo ao mundo um tom avermelhado. Percebeu que fora seu elástico que arrebentara, soltando os cabelos loiros em frente aos olhos.

No segundo seguinte, estava saltando de sua posição para a poltrona do tio, logrando colocar as duas mãos no pescoço dele, até Alfonso conseguir retirá-las.

- Seu trapaceiro de uma figa, desleal, sorrateiro, verme...

- Sobrinha! Você quase amassou minha camisa... paguei quase duzentos dólares por ela na Harrod`s.

- Duas caras, mentiroso, dissimulado, traiçoeiro...

- Além do mais, você é péssima perdedora. Desde pequena.

- Traiçoeiro! Trapaceiro... trapaceiro...

Estava começando a repetir-se; não havia mais nada a dizer, não conseguia pensar em novos adjetivos, e tinha certeza de que existiam vários aplicáveis ao irmão mais velho de seu pai. No momento, porém, seu vocabulário limitara-se, fazendo com que ela se sentisse um papagaio sem imaginação. Porém, o que mais a irritava era que ele tinha toda a razão: ela era mesmo péssima perdedora. Não tinha vocação para o que eles chamavam de espírito esportivo, só se interessava em ganhar. Quando isso não acontecia, sua capacidade de raciocínio ficava embotada por algum tempo, e as emoções assumiam o controle.

- Vai pagar por isso, tio. Ainda vai se arrepender do que fez.

Toda aquela situação parecia ser muito interessante para o tio Rick, cujos olhos azuis apresentavam um brilho divertido, sem dúvida vindo do prazer secreto de frustrar os planos da sobrinha. Ele se acomodara na poltrona, puxando a calça para cima antes de cruzar a perna, num gesto típico de uma época na qual o vinco da calça se amassava e prejudicava a boa aparência do cavalheiro. Considerava-se um verdadeiro modelo de elegância, ainda que usasse os padrões de décadas anteriores para defini-la. Examinou detidamente as unhas antes de responder.

- Acho que você tem toda a razão, Anahí. Não tenho dúvida de que vou pagar tudo o que fiz de errado, ainda que tenha errado sempre com muita classe. É importante saber perder - acrescentou ele, com um olhar de censura para a sobrinha. - Só que não vou me arrepender. Um dia, com certeza, pagarei meus erros, mas não será hoje, portanto acalme-se. Mantenha a classe.

- Essa história de manter a classe é para quem tem sangue de barata. Para quem não reage quando é provocado - argumentou ela, quase gritando.

- Você precisa ler a Arte da Guerra, Anahí. Sempre é vantajoso se escolher o campo de batalha e evitar a iniciativa do inimigo - disse Rick, em tom de conversa.

- E eu já disse que não vou seguir as idéias de um chinês que morreu há tanto tempo - argumentou Anahí, em tom mais baixo.

- Como assim, evitar a iniciativa do inimigo? - perguntou Alfonso, interessado.

- Quando o outro exército provoca, de alguma forma, a intenção é que você reaja exatamente como ele quer. O adversário espera que você responda daquela forma, e está pronto para isso. Portanto, a vantagem é dele...

- Isso é besteira - comentou Anahí.

- Pode dizer o que quiser, mas é uma forma de você ser tão previsível quanto o outro queira. A melhor forma de levar vantagem é surpreender o inimigo. Ser pro-ativo, ao invés de reativo.

- Lá vêm as filosofias de novo - reclamou a sobrinha. - De grão em grão, a gente aumenta um ponto.

- Não pretendo me vangloriar, nem cantar vitória, mas foi exatamente o que fiz com minha sobrinha. Por isso, ela está irritada - disse ele, falando sobre Anahí como se ela não estivesse ali.