Fanfic: Roubando Corações *AyA* ( Terminada) | Tema: Alfonso e Anahí

- Pois eu também tinha, quando adolescente, e por isso essa história nunca me saiu da cabeça. Voltando ao fabricante de velas, ele escutou aquilo e acreditou, pois o amigo era tão pobre quanto ele, e várias vezes haviam dividido com ele a pouca comida que tinham. A esposa do fabricante de velas também ficou impressionada e o apoiou quando o amigo ofereceu uma passagem no navio ao marido. Na verdade, foi ela quem fez questão de que ele fosse viajar, apesar do longo período que ficariam separados.

- Ou até por causa disso - interveio Alfonso, querendo brincar.

- Pode ser. Mas o fato é que o homem embarcou pouco tempo depois, com destino a essa ilha miraculosa, que ficava do outro lado do mundo conhecido. A viagem, cheia de aventuras, durou cerca de um ano. O que houve não vem ao caso, o que importa é que ao aportar, o fabricante de velas percebeu que seu amigo não  mentira, e mesmo de cima do navio era possível enxergar que as praias eram feitas de diamantes, com um brilho quase insuportável ao Sol. Ele desembarcou e começou a recolher os diamantes, sem prestar muita atenção à recomendação de que não demorariam muito ali. Partiriam antes do pôr-do-sol. O homem começou a andar pela praia enchendo os bolsos, depois tirando o turbante para fazer um saco a fim de recolher mais diamantes. Com o passar do tempo, completamente carregado, vai jogando fora as pedras menores para só ficar com os maiores e mais valiosas. Entretido em recolher toda aquela riqueza, foi se afastando pela praia, sempre avistando uma pedra que lhe despertava a cobiça para trocar por uma menor, e acabou se distanciando bastante do veleiro que o trouxera. Quando se deu conta, o Sol ia baixo no horizonte, e ele olhou na direção do porto.

- Deixe eu adivinhar - interrompeu Alfonso. - O navio estava indo embora.

- Exatamente. E nosso homem saiu correndo para o porto, mas sem a menor chance. Quando chegou lá, o navio era só um ponto no horizonte. Perguntando a um pescador quando haveria outro, o homem informou que apenas aquele navio vinha até ali, e que só voltaria em dois anos. Um para ir e outro para voltar. Desesperado, o homem chorou e arrancou os cabelos, mas acabou por se conformar. Se era necessário esperar dois anos, não havia outro remédio. Sentindo fome, perguntou ao pescador onde poderia comer, e o outro informou que havia uma vila logo atrás da colina, onde a estalagem vendia comida e vinho. Nosso viajante, com os bolsos cheios de diamantes, foi para lá, faminto. Entrou, cumprimentou o dono, e pediu comida e vinho. O estalajadeiro o serviu com peixe, carneiro e vinho, fornecendo o preço da refeição. O viajante colocou então, várias pedras sobre a mesa, dizendo que tirasse dali o valor combinado. "Está brincando?", perguntou o estalajadeiro. "Esses diamantes existem aos milhares na praia. Não valem nada".

- Que lugar interessante, não?

- Pois é. Mas é uma das leis da vida. O que existe em abundância não vale nada. Só que o homem estava com fome, e a comida cheirava bem, uma verdadeira tortura para um homem com os bolsos cheios de diamantes. Começava a escurecer. O viajante, então, para poder enxergar, retirou do bolso uma vela e a acendeu, perante os olhos maravilhados do estalajadeiro. "A luz!", dizia ele. "Você iluminou a escuridão!" Só então o fabricante de velas percebeu que não havia velas naquela cidade. Contente com isso, ofereceu a vela para pagar sua refeição e matou sua fome e sua sede, enquanto o outro não cessou de elogiar aquela coisa prodigiosa, que iluminava a noite. Muitas pessoas, enxergando aquele brilho incomum, foram até a estalagem para observar. Depois de comer e beber, o fabricante de velas resolveu exercer seu ofício, e se estabeleceu na vila, contando com o respeito e honras, por parte de todos os cidadãos. Durante o tempo em que permaneceu lá, dois anos, ele se tornou o homem mais famoso e admirado, simplesmente pelo fato de exercer seu ofício, como sempre fizera no país onde morava. Ficou conhecido como aquele que iluminou a noite, e foi acumulado de honrarias e títulos. Dois anos depois, o navio retornou, e ele embarcou de volta, com suas maiores riquezas, saudoso da esposa e da cidade natal. Mais um ano de aventuras na viagem, e ele aportou no local de onde saiu. Chegou em casa e abraçou a mulher. Mostrou seu baú de riquezas, e quando a esposa abriu, o que encontrou?

- Os maiores diamantes!

- Não. As melhores velas que ele pode encontrar. A coisa mais rara e preciosa da ilha!

Alfonso chegou a abrir a boca, mas não disse nada.