Fanfic: Roubando Corações *AyA* ( Terminada) | Tema: Alfonso e Anahí

- As colheres compridas - confirmou tio Rick. - O homem perguntou ao anjo se a comida era verdadeira, porque os humanos pareciam não comer nunca pela aparência. Metatron respondeu que era verdadeira, e deliciosa. Disse também que havia apenas uma regra a ser cumprida: era preciso comer com as colheres. O som de trombeta que escutaram era o chamado para a hora da refeição, e o homem ficou observando as tentativas desesperadas e inúteis de cada um, para levar à boca a deliciosa comida, com as colheres compridas. Apesar de não ser o fogo eterno que ele imaginara, pediu para sair dali, pois era uma coisa aflitiva para se ver. O anjo atendeu, e logo foram transportados para outro lugar, idêntico, mas que de alguma forma não era o mesmo. As cores pareciam mais claras e brilhantes, talvez os caldeirões fossem de cobre, ao invés de ferro, mas o resto parecia igual. Era o mesmo salão sem fim, cheio de caldeirões, que exalavam um cheiro delicioso de comida. As colheres eram iguais.

- Era o céu - sugeriu Alfonso, intrigado.

- Era o céu - confirmou Rick. - O homem perguntou então como aqueles seres faziam para terem a aparência feliz e bem alimentada que tinham, pois essa era a maior diferença entre os dois ambientes. O anjo não precisou responder, porque também ali a trombeta soou, assinalando a hora da refeição. Todos se moveram ordenadamente, ficando ao lado dos caldeirões, que abaixaram, como no Inferno. Quando isso aconteceu, cada homem pegou sua colher, encheu de comida, e começou a alimentar seu vizinho, que logo em seguida fazia a mesma coisa. Todos dividiam. Partilhavam.

- Puxa... - foi o que Alfonso conseguiu dizer, emocionado.

- Pois é. Meu pai continuava contando, dizendo que o homem acordou nessa hora. Contou que nesse dia ele preparou uma grande refeição para o café-da-manhã, abriu as portas da casa e dividiu com todos que passavam por ali. Na noite seguinte, o anjo Metatron apareceu e disse que naquela manhã ele dera um passo maior na direção do Paraíso, do que em muitos meses de oração solitária.

- Uma história muito bonita - comentou Alfonso.

- É mesmo. Mas eu sempre pensei nela como uma parábola religiosa, apesar de meu pai dizer que não era sobre religião. Dizia que era uma filosofia de vida. Que não era para ensinar verdades sobre Deus, mas sobre o que a gente pode fazer com o que tem. Isso eu nunca entendi. Achei que era sobre amar o próximo...

- E não é?

- Também é. Mas o ponto mais importante dessa história, a solidão. Se a gente tiver com quem dividir as coisas, nunca vai ficar sozinho. Esse é o verdadeiro inferno: a solidão. E só agora estou entendendo isso - terminou tio Rick, olhando para o vazio. - Não é para ser uma história bonita. É para ser colocada na prática. Para a gente aprender a dividir o que temos de bom, não guardar para nós mesmos.

- O ser humano não foi feito para viver sozinho - concluiu Alfonso.