Fanfic: ˙·٠•●* Um casamento Diferente·٠•●* [Terminada]

- Alfonso está trabalhando? – perguntou Lizzie.
 - Provavelmente – respondeu Any
Anahi acabava de dar-se conta da ausência de Alfonso. Cinco anos de solidão certamente a teriam acostumado a sentir falta dele. Mas a relação entre eles tinha mudado tão subitamente que Anahi desejava voltar para os velhos tempos em que se sentia separada dele.
       - Esta tarde esteve no botequim. - Comentou um dos pesca-dores. - Está zangado com algo, não? – Lizzie perguntou com um gesto de desgosto.
       - Sim, tivemos uma discussão.
       - Embora tenha um caráter muito forte, estranha quando perde o controle. - Mas dá no mesmo, já que minha família não sabe muito bem como manjar suas mudanças de humor. - Minha avó jamais eleva a voz. - Nenhum deles a levanta. - Não sabem o que fazer quando Alfonso fica assim. - A única vez que o vi, resultou-me fascinante.
Lizzie olhava atentamente a Any, para ver sua expressão e esperar sua resposta. Mas Any permaneceu em silêncio, embora com o cenho franzido.
       - Eu devia ter uns onze anos quando ouvi falar com minhas duas tias sobre  Alfonso. - Perguntavam-se então os quais eram seus pais naturais. - Eu nem sequer sabia o que queria dizer isso.
Any ficou pasmada.
      - Seus pais naturais...?
A cara da Lizzie ficou séria.
      - É obvio eu fui o suficientemente estúpida para ir perguntar a minha mãe e ela ficou furiosa. - Passaram anos até que pude compreender que em minha família a adoção era um tabu.
      - Sim – reconheceu Any, fingindo saber do que se tratava. Mas internamente não saía de seu assombro.
      - Ninguém fala disso nunca. - Todos os de fora pensam que Alfonso é filho de minha avó. - Se minha avó tinha então quarenta e oito anos!
Any se estava sentindo incômoda ante a conversação. Era evidente que a curiosidade de Lizzie não tinha sido satisfeita em seu momento, a não ser justamente o contrário.
       - Que fosse um segredo certamente o fez mais difícil para o Alfonso.
       - O tema da adoção é melhor aceito agora que a trinta anos atrás – disse Any respirando fundo. - Mas é um tema muito delicado, não devíamos falar disso, Lizzie - E, por outra parte, eu não sei nada mais que você.
       - Sinto muito, não sei como me ocorreu falar do tema..
       - Porque sou parte da família, suponho. - Mas acredito que Alfonso tem direito a manter uma certa confidencialidade a respeito disso. E pode ser que me equivoque, mas não acredito que goste que lhe fale do tema.
       - Não me ocorreria.
Depois de despedir-se de Lizzie, ficou pensando no que tinha descoberto nesse dia. Era algo que lhe inquietava. Não sabia nada a respeito de Alfonso, e isso lhe incomodava. Na habitação descobriu um enorme piano, e decidiu sentar-se na poltrona frente a ele.
Ou seja que Alfonso era um Herrera adotado. E Any não devia incomodar-se pelo fato de que Alfonso jamais o tivesse mencionado. Alfonso tinha três irmãs, mas certamente seus pais teriam querido ter um varão. Era evidente que a família o teria querido ocultar. Era certo que ninguém fora da família sabia. Ela mesma tinha lido muitas notícias sobre ele nos periódicos, e em nenhuma delas se fazia menção a isso. 

 
A que idade se teria informado Alfonso da verdade? Teriam sido mais sinceros com ele que com as pessoas de fora? Em caso de que o tivessem oculto, teria sido um choque certamente.
Any interpretava um concerto de Chopin, que era o tipo de música com a que estava acostumado a acompanhar seus pensamentos mais profundos.
Esperava que Lizzie fosse discreta. Certamente Alfonso não quereria que se inteirasse mais gente, e por isso não o havia dito a ela. Ou talvez era um tema que não lhe importava já, em sua vida de adulto.
Era evidente que ele estava muito unido a sua família. Inclusive tinha sido capaz de casar-se com alguém a quem não amava para protegê-los, deixando seus próprios desejos a um lado. Embora lhe fosse difícil apreciar seu sacrifício, tendo em conta que a ela também a tinha sacrificado.
“Meu Deus”, pensou. Como podia viver ela em um casamento em que não se compartilhava nada mais que uma cama?
Mas era tarde para essas reflexões. Não tinha escolha. Mas se tivesse tido escolha, realmente teria tido forças para deixar ao Alfonso? Era melhor aceitar estas migalhas que ficar sem pão?
Any, fora de si, levantou as mãos do teclado.
       - Não pares!
Any ficou rígida. Lentamente girou a poltrona, e se encontrou com  Alfonso na sombra, ao lado da janela. Parecia estar tenso. Brilhavam-lhe os olhos, usava a camisa meio desabotoada e uma barba incipiente e escura.
       - Toca para mim – disse cortante.
Any voltou para o teclado, e tocou nervosamente, expressando em cada nota discordante um certo desafio.
De repente umas mãos lhe capturaram os braços. Fez-se o silêncio, interrompido apenas por sua respiração entrecortada. Sentiu um calafrio em todo o corpo quando ele se inclinou por cima dela.
       - Por que? – perguntou ele, lhe soltando os braços.
       - Não sou sua pulseira – murmurou tremendo. Mas não era esse o motivo de sua agressividade no piano. Any recordava a primeira vez que havia tocado para ele. A música era para ela uma forma muito pessoal de expressão. Tanto que não a podia compartilhar com ele.
       - Toca – disse ele novamente.
       - Não tenho partitura.
       - Pode tocar durante horas sem elas –lhe recordou ele.
Any, intimidada e desgostada pela presença de Alfonso começou a tocar com desenfreio, uma parte daqui, outra de lá. Mas não queria tocar, por isso cometeu vários enganos, e finalmente abandonou.
       - É muito obstinada. - Detrás desse aspecto frágil, esconde-se uma personalidade forte.
Entretanto, Anahi se sentia muito fraca nesse momento. Levantou-se lentamente, sem olhar ao redor.

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