Fanfic: ˙·٠•●* Um casamento Diferente·٠•●* [Terminada]

- Se te for sincero, só venho aqui por compromisso. - Odeio esta casa, e me desagrada a maioria das pessoas que normalmente encontro aqui.
Any estava surpresa das confissões íntimas de Alfonso. Era a primeira vez que cortava  a distância emocional com ela.
Mas lhe inquietava saber que ele pudesse lhe ocultar tão bem as emoções.
       - Alfonso, deixa que se acostumem comigo. - Lizzie me dizia esta tarde que estão esperando que rompa comigo e volte com a Dulce.
       - Dulce está felizmente casada, assim não sei por que abrigam essas esperanças.
Any se deu conta então de que Alfonso não sabia nada da ruptura do casamento de Dulce.
       - Segundo sua sobrinha, Dulce se separou de seu marido.
Alfonso deixou de atar gravata e disse:
       - E desde quando?
       - Não sei – disse nervosamente Any.
       - Ariadne devia  pôr um cadeado na boca de sua filha.
Então se fez o silêncio. Any se levantou da cama e foi à suíte. Era evidente que a notícia sobre Dulce o tinha surpreendido e o tinha deixado em um estado de ensimesmento. O que significava para ele a notícia de que Dulce estivesse livre de novo?
Mas se disse que não devia dar rédea solta à imaginação.
Alfonso não a tinha esperado para descer ao salão. Any fazia sua aparição com um vestido de noite azul, a jogo com seus olhos, e que deixava ao descoberto seus ombros nus. E o primeiro que tinha visto tinha sido a Alfonso conversando com  Dulce em um rincão no final do salão. Pareciam muito imersos no bate-papo, e Dulce não tinha o gesto triste de uma mulher que acaba de romper seu casamento e busca as palavras de um amigo, mas sim a via feliz. Alfonso, em troca, tinha um gesto sério, grave.
Lizzie a saudou de longe com a mão, mas não pareceu disposta a interromper a conversação que mantinha com o jovem sentado frente a ela.
De repente Alfonso a viu e ficou de pé. Nesse momento, anunciaram que o jantar estava preparado.
       - Foste muito oportuna interrompendo a conversa. - Mas está encantadora.
Any não pôde resistir lhe perguntar:
      - Se separou Dulce?
      - Sim.
Mas um jantar formal não era o melhor momento para falar disso.
Para sua surpresa, encontrou-se sentada à direita da anfitriã, e na frente de Alfonso. E Dulce sentada no lugar mais à frente. Inclusive a senhora Herrera tinha tentado lhe dar conversação em perfeito inglês. Any lhe respondeu com generosidade, mas em seu interior sentia um certo desconcerto.
Foi um alívio levantar-se da mesa. Em seguida Lizzie se aproximou de Any e lhe disse:
       - Quero que conheça alguém.
Tratava-se do jovem que a tinha acompanhado. Chamava-se Dion, e, por seu gesto, parecia estar acostumado a que o mostrassem como um troféu.
      - Vamos comprometer nos no ano que vem.
Any  recordou o que havia sentido quando tinha conhecido a Alfonso. Parecia-lhe ter cem anos mais que então. Quem podia assegurar que Lizzie era muito jovem para saber o que queria?
       - Aos quatorze anos disse que ia se casar com ele – disse Alfonso ,que tinha aparecido por detrás, no momento em que o casal se afastava. - E me disse por que.
       - Por que?
       - Queria vê-lo sorrir, e ele sorri continuamente a seu redor. Tem vinte e dois anos, está terminando seus estudos no Harvard, e é muito sério, tanto como ela inconsciente. Lhe dá medo que ela se aborreça dele dentro de um ano.
       - Pensa que isso é possível?
       - Não – penso que tem as suficientes garra para fazer o que seu coração lhe dita. - Inclusive foi capaz de fazer frente à família dele, e não deixar-se levar pelo orgulho, quando eles subtraíram importância à relação entre eles. - Eu a invejo por essa força e essa claridade.
E Any  soube que falava de sua relação com Dulce, e se fez muitas perguntas a respeito dessa relação. Dulce o teria deixado romper a relação sem lhe importar realmente?
Alfonso desceu com Any. Mas ela não podia relaxar-se. A idéia da possibilidade de perdê-lo alguma vez a aterrava. Porque a certeza de que ele não poderia abandoná-la se não encontrava o certificado não lhe servia de nada.
Lhe apresentaram aos pais de Dulce. Foram educados e amáveis, mas frios no fundo. Ao fim ela era a mulher que lhe tinha roubado o noivo de sua filha.
Any pediu desculpas para sair a tomar um ar fresco. Nesse momento Stavros se aproximou dela.
       - Não vi a Ariadne esta noite. - disse-lhe ela.
       - Infelizmente minha mulher não se encontrava muito bem. - Ficou descansando. – suspirou.
       - Está doente?
       - Está doente dos nervos. - Mas só lhe acontece aqui, com sua “adorável” família. - E a atitude de Alfonso, que a trata como se fosse a peste, não a ajuda absolutamente.
Any ficou rubra; não estava preparada para essa confissão.
       - Sinto muito... eu... – Any não sabia o que dizer.
       - Observei-lhes juntos. - Você e Alfonso estão muito unidos. - Prometi-lhe não falar contigo disso. - Assim falarei contigo para ver se pode fazer de intermediária.
       - Intermediária? 
       - Entre nós e Alfonso. - Alfonso sabe... - Posso te dizer exatamente a data em que mudou sua atitude com minha esposa. - Quis lhe falar então. - Queria saber o que ele sabia, que tolice lhe haviam dito que pudesse fazer que mudou tanto com ela. - Mas Ariadne teve um ataque de nervos quando o comentei, e tive que me calar, mas contra minha vontade.
       - Stavros, não sei do que me está falando – lhe disse Any incômoda.
       - Você também? – o homem suspirou com pesar. - É obvio que sabe. - Any se inteirou disso quando estavam recém casados. - Não acredito que não lhe haja isso dito. - Faz trinta anos Ariadne lhe deu, mas nunca renunciou a ele realmente, e por outra parte sempre pensou que fez o melhor para ele.

Any compreendeu de repente. Sentia-se como se uma onda a tivesse tomado por surpresa e a tivesse deixado atordoada. Ariadne não era a irmã de Alfonso, e sim sua mãe. - E tinha dado seu filho a seus pais para que o criassem como próprio, à vista dela, mas sem ocupar-se ela dele. E Alfonso sabia. A última peça do quebra-cabeças acabava de encaixar. Era este o segredo pelo que seu pai tinha podido chantageá-lo?
       - Quero estar seguro de que Alfonso sabe a verdade – disse Stavros, muito comovido para estar atento à reação de Any. - Toda a verdade, não só o que sua avó tenha querido lhe dizer. - Alfonso nunca foi adotado. - Fez-se um certidão de nascimento para que Evanthia e Alexos aparecessem como pais de Alfonso. Mas não puderam enganar às irmãs de Ariadne com a história da adoção. - Alexos queria um filho varão e insistiu em ficar com Alfonso, um filho a quem poderia criar como próprio e que era pelo menos um Herrera pela metade.
       - Você conhece a história completa...
       - Se a soubesse de tudo faz trinta anos, não teria permitido que o fizessem! – disse Stavros com raiva. - Fizemos mal as coisas. Mas deveriam deixar que nos casássemos quando souberam que Ariadne ia ter o nosso filho. - Isso é o que não posso lhes perdoar!
       - Você é o pai do Alfonso – sussurrou Any, olhando ao Stavros com assombro.
       - Não sabia? - Está-me dizendo que Alfonso não sabe tampouco?
       - É algo de que não falamos – disse Any  fracamente.
       - Talvez não saiba. - Talvez nos jogue a culpa de sua triste infância. - E tem motivos...
       - Poderia me contar a história desde o começo?
Stavros foi breve. Ele era estudante naquela época, quando se apaixonou por Ariadne Herrera. Não tinha dinheiro nem pertencia ao meio social que pudesse impressionar aos Herrera, e eles se haviam oposto a essa relação. E Ariadne não tinha a valentia de enfrentar-se a sua família. Quando descobriram a gravidez de Ariadne, esta fez uma viagem com sua mãe. Não disseram nada ao Stavros. Ele nem sequer conhecia a existência de Alfonso, até que se encontrou com o Ariadne dez anos mais tarde.
       - Queria morrer ao saber tudo o que ela tinha tido que atravessar sozinha. E ao saber que tinha um filho que não podia reclamar. - Mas dessa vez estava decidido a não deixar que me separassem de Ariadne. - Inclusive fiz que se casasse comigo face à oposição deles! – disse Stavros com satisfação. - Alexos estava furioso e Evanthia não queria nem me ver, e ainda hoje não quer nem me ver. - Mas o que podiam fazer frente aos fatos consumados? - As aparências são algo muito importantes para esta família.
       - E então?

       - Então a felicidade se mesclava com a desdita. - Ariadne pensava que devíamos estar agradecidos por poder ver nosso filho. - Se o tivéssemos dado em adoção, jamais o teríamos encontrado, jamais o teríamos conhecido... - Mas algumas vezes penso que talvez teria sido menos doloroso. - Evanthia não o queria, não o tratava como a um filho, e o resto da família estava ressentido com ele, já que herdaria tudo em primeiro lugar.
       - E ainda estão ressentidos – murmurou Any afetada.
       - Entretanto ele multiplicou cem vezes sua riqueza. - Alexos... era um homem bom. - Ocupou-se de Alfonso. - Mas pensava que Ariadne era uma pessoa débil, e por isso foi muito duro com seu filho. - Mas Ariadne não é débil. - Ela levava mais ou menos bem a situação, até que viu que Alfonso começou a evitá-la, e então nos demos conta de que sabia algo.
       - Faz cinco anos, há dito...
       - Deve ter sido um choque terrível, mas esperamos tanto que suspeitasse algo ou descobrisse algo... - Não se tratava de que o disséssemos se ele não suspeitava nada. - Ariadne tinha prometido a seus pais que  nunca o diria. - Esse tinha sido o preço. - Mas jamais nos tivesse ocorrido que Alfonso se pudesse comportar tão sem piedade com ela ao inteirar-se dos quais eram seus pais.
Any se perguntava o que sentiria Alfonso realmente. A quem protegia? A sua avó ou a Ariadne?
       - Devemos encontrar uma solução a tudo isto, para que Ariadne fique com a consciência tranqüila. - Por isso te peço que fale com o Alfonso e averigue se souber toda a verdade. - Porque é evidente que ele não vai se aproximar de nós.
       - Sim.
       - Ela o quer muito. - Sempre o desculpa. - Mas já é um homem. Por que está assim com ela e não comigo? - Tampouco dissimula seu carinho pela Lizzie. - Se não fosse pela promessa que fiz a sua mãe, já lhe teria jogado na cara.
       - Não acredito que Alfonso saiba que você é seu pai.
       - É um pouco egoísta por minha parte te colocar em semelhante confusão... – disse Stavros ao descobrir os rastros de preocupação no rosto de Any.
       - Não.
Esteve tentada de lhe dizer que ela já era parte dessa grande confusão desde muito antes. Teria tido Max esse certificado em suas mãos? Faria-se menção nele a respeito de quem era seu pai? O que estava claro era que tinha descoberto quem era sua mãe. Mas não tinha feito mais pergunta.
Any suspirou fundo.
       - Falarei com ele quando voltarmos a Londres, aqui não.
       - Seja como for, estou-te muito agradecido.
Quando Stavros se afastou dela, Any sentiu o peso que lhe tinha deixado. Não se tratava de uma notícia fácil de dar. E Alfonso era imprevisível.
Alfonso a olhava do outro lado do salão. Any se perguntava se ele teria se dado conta de que tinha tido uma longa e íntima conversa com o Stavros. Sentia-se culpada por guardar tantos segredos sobre sua vida. Tivesse deslocado a lhe contar tudo, mas tinha que encontrar o momento oportuno. E embora Any havia devolvido o olhar a Alfonso, ele já não a olhava, e em troca se dava a volta para sorrir a algo que havia dito Dulce.

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