Fanfic: Melhor amiga. | Tema: Independente.

Toquei-me, que ter ligado para ela foi pior ainda, só fez com que eu me sentisse mais horrível e minha dor aumentasse. Eu não precisava falar mais nada, ela tinha ido embora. Talvez minha história tivesse acabado. Durante esses 21 dias eu recebi vários torpedos da Amanda, perguntando-me porque eu teria “sumido”. Eu não teria respondido a nenhuma é claro, eu tinha a quase certeza que o torpedo que a Sophia tinha recebido aquela noite, teria vindo dela. Mas como todas às vezes, eu acabei respondendo a um dos seus torpedos e ligações uma semana depois, e eu tinha concordado em sairmos para tomar um sorvete. 
Eu tinha me arrumado como qualquer dia normal, de merda, que agora era desde o dia que ela se foi. Estava de calça, camisa de uma banda de rock, meu casaco preto e branco pendurado aos braços e all star, passei pela sala comum e a de estar onde meus pais estavam me direcionando a porta.
— Vou andar! — 
— Pra on... —
Bati a porta interrompendo a voz do meu pai, fiquei parada a frente da porta e olhei para trás como se tivesse olhando através da porta diretamente pro meu pai dizendo um “desculpa”. 
Minutos depois eu estava sentada em um murinho baixo de uma casa abandonada ao lado da sorveteria que tínhamos marcado, sentindo o ar gélido de São Paulo em meu rosto, minhas mãos estavam enfiadas aos bolsos do meu casaco que agora estava em meu corpo.

Balançava meus pés para frente e para trás, batendo meus calcanhares na parede, suspirei profundamente, atrasos me davam medo agora. Onde eu estava sentada era uma parte mal iluminada, as únicas residências bem iluminadas do local era a sorveteria que estavam bem ao lado, mas a iluminação boa ficava toda centralizada dentro da sorveteria. Não era a melhor sorveteria da cidade, mas era pra mim o melhor sorvete. 
Um carro preto parou de frente a sorveteria, a Amanda ela beijou o rosto do seu pai antes de sair do carro, ela não tinha me visto sentada no fim do muro da casa ao lado, porque ela foi direta pra entrada da sorveteria, ela estava com um casaco bem fofo, daqueles grandões sabem, com uma calça apertada e havaiana, seus cabelos cacheados solta caídos sobre os ombros, linda. Ela parou em frente a sorveteria e deu uns pulinhos como se quisesse dizer “que frio” enquanto limpava os pés no tapete que estava-lhe escrito “Bem-vindo”, eu sorri para mim mesma.
— Psiu! — 
Disse baixinho com um tom brincalhão, ela olhou rapidamente, e fez cara de surpresa e confusa ao mesmo tempo, mostrou as mãos e apontou pra mim e pra sorveteria com sua sobrancelha erguida. Balancei a cabeça positivamente para ela.
— Está cheia! —
— Nesse frio? Pessoas loucas não? —
— É... —
Concordei com um sorriso enorme no rosto, um sorriso sincero depois de muitos dias sem rir, ela me fazia rir. Ela sentou-se ao meu lado em um pulo, equilibrando-se no murinho, e passou seu braço em volta de mim me abraçando, eu passei o meu pela sua cintura respondendo seu carinho. Ela me soltou em seguida e eu fiz o mesmo, ela colocou suas mãos no muro e me olhou.

— É melhor ficarmos aqui, sentadas... — Olhei para trás fitando a casa abandonada e fiz uma careta. —... Neste lugar lindo! — 
Ela sorriu alto, virando-se para olhar também e sua careta foi à melhor, eu ri com ela.
— Na verdade, está bastante frio pra um sorvete. —
— Talvez um café seja bem melhor. —
Ela concordou acenando com a cabeça. Eu me movi pra descer do muro, mas sua mão segurou meu braço, eu a olhei com uma linha torta formada em meus lábios.
— Eu tava com saudades. —
— Eu também tava, tinha esquecido o quanto é bom tua presença. — 
— Me desculpa pelo torpedo? —
— Então foi você mesmo? —
Ela apenas balançou a cabeça, eu suspirei olhando para um carro que passava na rua. Virei-me para ela tentando rir de novo. 
— Talvez sim! —
— Sophia está na Inglaterra agora, estudando, aproveitando... —
— Se sentindo traída. —
Continuei seus argumentos. Ela suspirou.
— Tem que continuar Bianca, não pode parar de viver, você tem que viver de novo. —
Eu olhei novamente para rua, sem responder sua pergunta, respirei fundo e dei um pulo do murinho, ficando de pé ao chão, eu estendi minha mão para ela com um sorriso enorme no rosto, a convidando para segura-la e ajudar a mesma a descer do murinho.
— Então, o que acha de viver comigo? —
Meu coração acelerou e ela me olhou surpresa e depois riu nervosa, então segurou a minha mão, descendo do muro, depois nos abraçamos forte.

Saímos andando pelas ruas frias e desertas de São Paulo, o único movimento eram carros e algumas, algumas mesmo, pessoas andando pelas calçadas. Minha mão estava entrelaçada a dela, e nossos braços estavam colados, riamos muitos, conversando assuntos aleatórios, não sei o quanto andamos, mas eu já estava cansada, o frio ajudava muito também, e eu adorava aquele clima, então eu supus que parecemos em algum ligar pra beber alguma coisa quente, ao contrário do sorvete. 
Estávamos sentadas a uma mesa redonda e pequena de madeira no canto esquerdo do bar, bem ao lado do balcão. O bar estava movimentado, pessoas de classe média e alta eu chutei, pelo que observei, todas riam, bebiam e fumavam. Idades variadas, mas a maioria maior de idade, eu estava muito interessada na qualidade do ambiente analisando com atenção, quando ouvi a voz da Amanda, o que me fez virar-me rapidamente com um impulso.
— É um lugar bom, concordo. —
— Para com isso. —
Disse com uma sobrancelha erguida, depois abaixando meu rosto pra encarar a xícara de chocolate quente que cuja sua fumaça esquentava meu queixo e pescoço.
— O que eu fiz amor? —
— Sorriu, e me incomoda de tão lindo que é. —
Sua face ficou um pouco avermelhado, ela desviou o olhar e levou a xícara aos lábios, fechando os olhos enquanto tomou um gole, ela voltou a me olhar.
— Eu fiquei surpresa, sua calma comigo do lance do torpedo. —
— Você tem uma mente mal, isso é legal... Quando não me envolvi. —
— É... Eu tive ajuda. —
Fiz uma careta como um “quem?” e ela respondeu baixo.
— Pietro. —

Aquele nome me fez respirar fundo de raiva, eu olhei sem acreditar pra ela, balançando minha cabeça negativamente.
— Não acredito que pediu ajuda daquele canalha pra isso! —
— Ah, sabe ele também queria foder com a Sophia... —
— E você queria foder com ela? —
— Não tanto, mas... —
— Mas? —
— Foi por amor, coe... —
Eu suspirei, baixando minha cabeça novamente fitando o liquido cremoso dentro da xícara.
— Não fica chateada falow? Eu to sendo sincera, é isso que você quer não é? —
Ela pousou sua mão em cima da minha que estava na mesa, olhei para ela.
— Sim. —
Ela riu pra mim.
— Não sabia que ele tinha saído do hospital. —
— É eu fiquei surpresa também, foi cedo. —
— Ele não vai mais estudar lá não é? —
— Não, parece que foi expulso. —
— Foi pouco! —
— Também achei, e parei pra pensar um dia desses, que tudo foi culpa mim. —
Eu parei por um momento olhando pra ela, ela ficou séria e seu olhar demonstrava tristeza. Eu me arrastei pelo sofá em volta da mesa e fui pro seu lado, passei meu braço rapidamente pelos seus ombros e a puxei pra perto de mim, ela lentamente encostou sua cabeça em meu ombro e ficou a suspirar, então segurei em sua mão que estava em seu colo.
— Acredita em destino? —
— Sim! —
— Bom, a culpa é dele, você não fez nada, apenas acontece. —
Disse baixinho beijando sua testa, então ficamos ali sentadas, abraçadas.