Fanfic: Starless Night - Temporariamente Parada =( | Tema: Amizade, Romance, Música, Amor, Anime, Drama, Songfic, Tragédia
Ela parou na calçada, a chuva continuava forte, a seu ver, o céu resolveu fazer algo que ela nunca faria, expressar o que estava realmente sentindo. Ninguém conseguiria dizer se em sua face eram lágrimas ou só a chuva. Parada, continuava a encarar a entrada da casa que ela sempre chamou de lar. Não era exatamente uma casa, era um grande loft, possuía um banheiro e ela e Jon compraram uma banheira, onde gostavam de tomar banho juntos. Também construíram uma divisória e assim tinham uma pequena, mas funcional cozinha. “Preciso continuar” ela repetia para si mesma enquanto tomava coragem para tirar as chaves do bolso e entrar. As lágrimas continuavam a rolar e a chuva as escondia. Após o que lhe pareceu uma eternidade, ela se dirigiu até a fechadura, ouviu o tilintar das chaves, e ouviu a mesma se encaixando na fechadura, o “click” familiar de quando a porta é destrancada, nada parecia ter mudado, tudo parecia o mesmo, mas não era, e nunca mais seria. Enquanto caminhava mecanicamente até a banheira, formava poças de água da chuva no chão de madeira brilhante. Sentou-se na cadeira da pequena cozinha improvisada. O pequeno fogão estava lá, sujo do café da manhã, uma frigideira na pia e alguns talheres com os cabos coloridos encima da mesa. “Quando isso aconteceu? Hoje de manhã ou há mil anos atrás?” ela se perguntava sem parar. Abaixou a cabeça e bateu com ela na mesa, o barulho do copo de vidro batendo na tampa de fórmica da minúscula mesa ecoou pelo flat, ele rolou por apenas um segundo, mas que para ela, mais pareceu uma eternidade, e então veio a explosão do vidro estilhaçando. Não era assim que as coisas deveriam ser...
Lucy acordou com o som de uma mensagem que chegou no celular rosa. Quando pegou o aparelho, ouviu o tilintar suave do sino pendurado juntamente com um pingente de pedras brilhantes em forma de boca, a tela marcava 7 am, o quarto ainda estava escuro e para ela parecia ter dormindo por apenas dez minutos, os olhos insistiam em arder e o sono embaralhava o raciocínio. Ficou encarando o aviso de mensagem recebida por segundos, tentando decifrar de quem poderia ser aquele número desconhecido. E porque ela deveria se importar. Escondeu novamente o aparelho embaixo do travesseiro, cobriu a cabeça com o cobertor e fechou os olhos pensando “Só mais dez minutos”. O cobertor tinha cheiro de casa, e a cama estava deliciosamente quente e confortável. O mundo exterior no entanto estava frio e nada convidativo. “Nascer deve ser assim” o pensamento veio misturado a cores e formas indescritíveis que você só vê quando está perto de pegar no sono. “Nascer é como acordar, você sai da cama quente e acolhedora para enfrentar um banho morno, um dia frio, coisas que você não quer fazer, ligações que não quer atender e lições que não quer aprender. Quero ficar na cama para sempre.” As palavras começavam a perder o sentido enquanto mergulhava de volta para o mundo dos sonhos quando o já irritante barulho do celular insistia em incomodar trazendo ela de volta a realidade. Lucy pegou o celular, a tela, marcava 7:03, outra mensagem havia chegado, “Pelo menos o tempo parece estar me ajudando hoje”. Tirou a perna direita debaixo do coberto e se arrependeu no mesmo segundo quando sentiu o frio percorrer os pés e fazendo ela se arrepiar literalmente dos pés a cabeça. Instintivamente como um animal ferido, ela puxou a perna para debaixo do cobertor pensando “Definitivamente, hoje vou faltar ao trabalho, nada vai me tirar da cama!”. Pegou o celular colorido e encarou o display 7:47 e duas mensagens não lidas, no mesmo instante se sentou na cama, fazendo com que o cobertor de pelúcia sintética deslizasse para baixo, deixando a parte de cima do corpo, protegida somente por uma blusa de algodão vermelha e cinza com desenhos de doces e pirulitos, muito infantil para uma garota daquela idade, mas era sua favorita para dormir pois era muito confortável. No mesmo instante sentiu o frio, puxou o cobertor novamente até o pescoço. “Droga, estou atrasada... Vou contar até 3 e me levanto.”
A água estava quente, Anna mergulhou a cabeça juntamente com o corpo, encarando o teto de tinta descascada do Loft. Poderia prender a respiração e ficar ali até tudo voltar a fazer algum sentido, ou até não mais conseguir segurar mais e deixaria a agua invadir seus pulmões e não mais teria preocupações. A banheira branca parecia tão grande sem Jon. Quando ele estava ali, mal conseguiam ficar ambos na banheira, mas ela, ali sozinha parecia uma imensidão branca, tão vazia. Será que algum dia ele realmente esteve ali? Algumas semanas atrás estavam ambos dentro daquela banheira, onde a agua estava quase fria, ele insistia em fazer desenhos com os dedos em suas costas, enquanto ela tagarelava sem parar sobre o ultimo ensaio da banda, e o quanto eles estavam indo bem. As mãos de Jon eram grandes, ele era grande, magro, com cabelos pretos e arrepiados, olhos castanhos que eram muito doces, mas você teria que olha por trás da pose de rockstar, dos piercings, da falsa confiança e as piadas sujas para descobrir o quanto ele podia ser, e o quanto ele era doce. Ele se esticou até a mesinha que ficava ao lado da banheira, onde haviam sais perfumados, uma esponja de banho verde clara, sabonetes com cheiros variados, várias velas acesas, um Zippo prateado com uma estrela negra, e um maço de cigarros de canela. Ele pegou um dos cigarros e acendeu, ela sentiu o cheiro da canela sobrepondo-se ao cheiro de amoras e baunilha dos sais escolhidos naquela noite. “Poderia viver assim para sempre”. Ele tragou profundamente e soltou a fumaça no ar, o cheiro de canela e fumo queimando era um dos seus favoritos. “Eu sei que você poderia viver assim para sempre, você odeia trabalhar.” Ela retrucou sorrindo, Jon sorria de volta timidamente, “você é a pessoa mais preguiçosa do mundo!” Ele a agarrou pelos ombros e puxou para junto de si abraçando-a por trás, ela pode sentir o coração dele batendo, o cigarro de canela preso nos lábios e os braços apertavam sua barriga, ela inclinou a cabeça para trás, encontrando seu ombro, beijou o pescoço e disse em voz baixa “Eu não vou trabalhar para bancar você vagabundo” e riu alto. Ele fechou os olhos, sua voz era apenas um sussurro no ouvido dela “Idiota... Poderia viver para sempre aqui, com você...” havia algo de estranho no tom da voz dele, ela não conseguiu reconhecer o que exatamente “bom, não estou pensando em ir para lugar nenhum, podemos ficar aqui enquanto você quiser, enquanto pudermos ficar...” os braços dele se apertaram mais em torno dela, era como se algo o machucasse, como se as palavras dela o machucasse. “Sabe, acho que deveríamos ter um filho”, ele sempre dizia aquilo, mas ela sabia como era ser criada com dificuldade, e já haviam discutido sobre o assunto, não havia espaço para um filho em seu futuro, em sua vida, em seus sonhos. Ela suspirou e se soltou do abraço dele, se preparou para levantar, mas ele a pegou pelo braço, puxou a para si “Tudo bem, sem filhos por enquanto”...
Anna se sentou na banheira abraçando as pernas, Jon não estava mais lá e a conversa sobre filhos não iria acontecer novamente. Ela se inclinou até a mesinha ao lado da banheira, lá estava o cigarro e o isqueiro de Jon, ela se surpreendeu por um minuto enquanto as ultimam palavras dele ecoavam em sua mente “Vai ser como se eu nunca tivesse existido... Promete?”, mas ele existiu, e lá estava a prova. O cheiro de mel e menta dos sais daquela noite foram ofuscados pelo cheiro de canela e fumo queimado quando ela acendeu o cigarro, deu um longo trago e quando soltou a fumaça, o peso de todo aquele dia pareceu se dissipar com a mesma. “Prometo”, foram as ultimas palavras que ela disse naquela noite.
Lucy se olhou no espelho. Tinha estatura mediana, magra, e tinha o rosto arredondado, grandes olhos castanhos e cabelos no mesmo tom, a pele era branca com um leve bronzeado dourado, a boca, quando fechada formava um coração quase perfeito, e quando sorria as covinhas na bochecha se tornavam muito aparentes. Estava trajando uma saia que ia até os joelhos, xadrez, amarela a branca, uma camiseta preta simples, um cachecol pêssego, pequenos brincos prateados, um relógio prateado com a pulseira preta e sapatos baixos. Terminou de passar o rímel nos cílios, agarrou a bolsa preta encima da cama e correu porta a fora, quase tropeçando na mãe no meio do caminho. Desceu as escadas pulando de dois em dois degraus, enquanto a mãe reclamava sobre a pressa da garota. Com a mão na maçaneta da porta, gritou para trás um rápido “Desculpe” e ouviu um abafado “humpf” quanto a batia, um pouco mais forte do que gostaria, e saia da casa.
O céu estava azul e o dia frio, e a primeira rajada de vento que tomou logo que chegou a rua a despertou e aniquilou completamente qualquer vestígios de sono que ainda restava. Enquanto corria até o ponto de ônibus, ouviu novamente o som que significava que havia outra mensagem a sua espera no celular quando tivesse tempo de lê-las. Por poucos segundos não perdia o ônibus, entrou apressadamente e sorriu para si mesma se sentindo orgulhosa de não ter perdido novamente o ônibus naquele primeiro dia de primavera.
Autor(a): stardust777
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“Minha mãe sempre disse que eu deveria tomar cuidado. Sempre fui distraída, atrapalhada, desajeitada e me machucava com frequência. Sempre tropeçava nas próprias pernas e batia o dedinho do pé nos locais mais improváveis. Caia dos brinquedos mais seguros e nunca conseguia correr sem me desequilibrar. Fui ao ...
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