Fanfic: Starless Night - Temporariamente Parada =( | Tema: Amizade, Romance, Música, Amor, Anime, Drama, Songfic, Tragédia
“Minha mãe sempre disse que eu deveria tomar cuidado. Sempre fui distraída, atrapalhada, desajeitada e me machucava com frequência. Sempre tropeçava nas próprias pernas e batia o dedinho do pé nos locais mais improváveis. Caia dos brinquedos mais seguros e nunca conseguia correr sem me desequilibrar. Fui ao médico várias vezes por isso, mas nunca descobriram nada, fisicamente eu sou normal.
Minha mãe sempre dizia que de vez em quando nasciam pessoas que iriam se machucar muito pela vida e elas tinham duas opções, elas se tornavam fortes, destemidas e quase desumanas para simplesmente viver, ou não conseguiriam, pois a dor de um coração partido não podia ser comparado as várias topadas do dedinho do pé na quina da escada.
Minha mãe sempre teve medo por mim....”
Lucy tinha acabado de se formar no colégio e estava sem perspectivas para o futuro, era a filha mais nova de um casal de classe média, vivia em uma cidade pequena, onde todos se conheciam e todos sabiam da vida de todos.
Não foi difícil arrumar o trabalho temporário na única livraria da cidade, já que namora o filho do dono há mais de um ano.
Ele havia se mudado para a capital, onde estava trabalhando e havia ganhado uma bolsa de estudos em uma universidade muito conceituada, deixando para trás família e Lucy. Quando ele se mudou não havia mais ninguém interessado em cuidar da pequena loja, então Lucy se ofereceu para cuidar de tudo. Mas o verdadeiro desejo de Lucy era se juntar ao namorado, mas ainda não tinha dinheiro o suficiente para se mudar. Talvez com muita sorte e alguns meses ela teria uma quantia suficiente para viajar, alugar algum lugar pequeno e só seu, ou talvez Sam a chamaria para morar com ele, e ela cuidaria dele dia e noite, era um sonho.
Mas no momento sua situação financeira não permitia tal coisa, e a probabilidade de conseguir se dar bem na cidade era baixíssima, principalmente porque não conhecia ninguém além do namorado, e falta de contatos era um grande empecilho para conseguir um bom emprego, ou no caso, qualquer emprego...
Naquele dia como em todos os outros ela chegou atrasada demais para o trabalho. Sorriu de maneira desajeitada enquanto passava pelo chefe e foi direto para trás do balcão. Vestiu o uniforme, que na verdade era só um guarda-pó verde musgo que ela odiava, pois tinha um forte cheiro de mofo e algo não identificado, e começou o dia. Guardou a bolsa preta no armário logo abaixo do caixa, abriu a gaveta, organizou as poucas notas que estavam ali, abriu as caixas que haviam chegado na sexta a noite, com novos livros e se distraiu com um volume novo de uma longa série romântica que ela estava lendo há meses.
O pai de Samuel, namorado de Lucy era um senhor amável e muito velho, com cabelos brancos e fofos que lembravam bolas de algodão, o rosto era marcado por anos e anos de experiências, trabalho, amores, perdas... Marcado por tempos difíceis e momentos felizes. O passatempo favorito de Lucy quando não estava lendo era criar histórias fantasiosas e românticas do tempo em que o senhor David ainda era jovem. Nas histórias ele era sempre o mais bonito, romântico e desejado jovem da pequena cidade e quebrou vários corações, até encontrar o amor da sua vida, toma-la em seus braços e passarem o resto da vida juntos. Mas a história era sim fantasiosa, pois na realidade, a mãe de Sam o abandonou quando ele ainda era um bebe, e deixou pai e filho, sozinhos e desamparados. O senhor David teve uma vida difícil e cuidou da melhor maneira possível de Sam, que era muito grato pelo pai.
Lucy via muito do seu próprio pai no senhor David, a doçura e seriedade do olhar, o sorriso sincero e as duras palavras que eram ditas quando necessitadas.
Divagando em sonhos, Lucy esqueceu completamente do celular que não mais apitava incansavelmente em sua bolsa. O dia de trabalho começava, então ela se sentou confortavelmente atrás do caixa, pegou o livro novo e se perdeu em palavras.
Ocasionalmente dava ordens ou apontava direções aos clientes, sem nunca realmente ajuda-los ou encara-los. O dia se arrastou, Lucy leu várias páginas até se cansar, comeu salgadinhos e bolinhos recheados, conversou por alguns minutos com o ocupado namorado no lento e velho computador que havia na loja e se ocupou jogando paciência e lendo noticias em sites de fofocas.
Pouco antes das 18 horas, Lucy se lembrou do celular, a loja já há muito vazia, ela deu-se a liberdade de pegar o aparelho, o visor mostrava 17:45 e 3 mensagens não lidas. Todas as mensagens eram do mesmo número, mas o número, não era reconhecido, não era de nenhum dos contatos da imensa lista de Lucy, e isso a intrigou. A primeira mensagem recebida as 6:59 dizia “Desculpe mandar tão cedo, mas senti sua falta.” Lucy fez uma careta e balançou a cabeça, imaginando quem estaria fazendo aquela brincadeira, não tinha graça, pois ela era muito curiosa e todos sabiam disso. A segunda mensagem recebida as 7:03 dizia “Lucy depois de tanto tempo, foi um erro o que eu fiz. Sinto a sua falta”. O coração de Lucy se acelerou enquanto em sua mente, os rostos de centenas de pessoas passavam como um filme, muito acelerado, tentando descobrir quem havia enviado aquelas mensagens. A terceira mensagem, ela havia recebido enquanto entrava no ônibus, marcava 8:42 como horário de entrega, o conteúdo fez com que seu coração disparasse “Vou passar no seu trabalho hoje antes de ir para casa, preciso ver você, preciso falar com você. Daniel”. Um turbilhão de imagens vieram na mente de Lucy. O sorriso de Daniel, os cabelos rebeldes e negros, o corpo esguio e muito alto, suas mãos fortes, a aliança de ouro na mão esquerda, os lábios beijando lhe o corpo, os dedos ágeis que a faziam enlouquecer, o cheiro apimentado da sua pele, o modo como ele se encaixava perfeitamente a ela, desde a primeira vez....
A história com Daniel era muito antiga, ele era o professor substituto de artes, que deixou ser seduzido pela jovem aluna, ou talvez a jovem e inocente aluna de 15 anos tenha sido seduzida pelo jovem e descolado. A verdade é que Lucy o amara. Daniel foi o seu primeiro amor, seu primeiro homem, seu primeiro coração partido. Depois de meses juntos, ele havia terminado tudo por medo de perder o emprego e a mulher, e deixou uma Lucy quebrada e deprimida para se curar sozinha. Ela nunca pôde confidenciar a ninguém, pois a história colocaria toda a vida e carreira dele em risco, por isso tudo foi muito difícil. Mas por fim, ela conheceu e amou Sam...
Ainda submersa em imagens, sentimentos e machucados, Lucy não percebeu quando a porta se abriu, não ouviu o tilintar do sino que significava que havia clientes no estabelecimento, mergulhada em palavras obscuras e segredos dolorosos, ela não ouviu os passos que se aproximavam do balcão calmamente, e quando já estava bem perto, perto demais, ela sentiu aquele perfume... Aquele perfume que ela já sentira milhares de vezes e que outras tantas ficou impregnado em sua pele, que em outra época ela amaria sentir, que um dia, fez com que ela cometesse loucuras. Seu coração doeu tanto que poderia morrer, e por um momento e o cérebro lutou bravamente para se manter funcionando, ela tentava forçar os olhos a não se levantarem e encarar ele que estava ali, parado a encarando, ela podia sentir as palmas das mãos molhadas de suor, ouviu a respiração pesada, um suspiro tão perto dela que ela pode sentir o cheiro de menta que exalava daqueles tão conhecidos lábios. Um turbilhão de memórias vieram a tona e seu cérebro ainda brigava bravamente contra o coração que exigia dos olhos um vislumbre. Aqueles poucos segundos se arrastavam tão lentamente que pareciam parados no tempo e espaço. Então veio o golpe fatal “Boa Noite Lucy”, aquela voz rouca e suave acionou o gatilho e ela não mais podia lutar, os olhos já marejados se levantaram do celular que ela não mais via ou sentia em suas mãos e encararam aqueles olhos verdes perfeitos...
No dia em que Daniel pôs um fim em tudo, Lucy estava com um pequeno ramalhete de flores azuis na mão, ela havia colhido perto do canteiro do colégio, eram chamadas de “não-me-esqueças” e eram usadas nos jogos de “bem me quer – mal me quer”, e enquanto o amor de sua vida enumerava as diversas razões pelo qual a estava abandonando, lagrimas rolavam pelo rosto de Lucy e seu cérebro e mãos trabalhavam nas pétalas da flor.”Lucy, por favor me perdoe pelo que preciso lhe dizer agora” “...mal me quer...” “... sabe como foram importantes todos os momentos que passamos juntos” “... bem me quer...” “... sou um homem casado Lucy, sei que você consegue entender...” “mal me quer...” “Você é tão especial para mim...” “... bem me quer” “... se alguém descobrir, eu posso perder tudo...” “mal me quer...” “... eu gosto de você, e quero o seu bem” “bem me quer...” “ estou fazendo isso por você...” “...mal me quer” “Lucy por favor, me perdôe...” “... bem me quer” “Mas isso tem que terminar aqui e agora, sem que você é madura o suficiente para entender...” “mal me quer...” enquanto a última pétala caia lentamente no chão, o mundo de Lucy se despedaçava e tudo que ela pensava ter, amor, proteção, alegria se afastava mais e mais dela a cada passo que Daniel dava em direção oposta a Lucy.
Autor(a): stardust777
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