Fanfic: O Preço de uma Conquista - Vondy Adapatada. | Tema: Vondy

Os patrões de Dulce moravam em Wahroonga, que ficava mais longe do centro do que St.Ives, mas não muito distante da casa dos Harcourt. Wahroonga era um bairro de subúrbio de alta classe, estabelecido bem antes de St. Ives tornar-se um lugar concorrido. As casas eram grandes, impressionantes, e muitas tinham jardim, com árvores. E o melhor, do ponto de vista de Dulce, é que se tratava de jardins diferentes uns dos outros, alguns deles com formas muito criativas.

Gostava de passear por aquelas ruas bonitas com os meninos que cuidava.Às vezes, quando voltava para casa de um desses passeios, descobria uma combinação original de flores ou um ângulo da paisagem que lhe agradava mais. Um dia, quando tivesse seu próprio jardim, ia pôr em prática as muitas idéias que tinha.

No entanto, não havia plano algum na mente de Dulce enquanto seguia de táxi para longe dos acontecimentos catastróficos das últimas vinte e quatro horas. Seu futuro se apresentava vazio e gostaria que o passado fosse um vazio. Tentava, inutilmente, convencer-se que tudo aquilo não importava, que tanto Jeff Southgate quanto Christopher Uckermann estavam fora de sua vida e deviam ser esquecidos.

Suspirou, com certo alívio, quando o táxi parou diante da casa. Pagou e desceu,

desejando se trancar em seu apartamento nos fundos, aflita por deixar o mundo do lado de fora.

Caminhando para o portão, ela olhou para cima. John Stafford, seu patrão, trabalhava na Bolsa de valores e sua esposa, Paula, era desenhista de moda e dona de uma butique. Ambos vinham de famílias com dinheiro e viviam em grande estilo.

O enorme sobrado ficava numa área de dois acres que incluía uma quadra de tênis e

piscina. Além disso, as duas grandes garagens abrigavam um Rolls-Royce, um Range Rover, uma perua e dois carros esporte. Em cima das garagens ficava o apartamento do casal que trabalhava como motorista/auxiliar e cozinheira/ empregada. O jardineiro e a faxineira vinham duas vezes por semana. Os Stafford comandavam uma equipe bem entrosada.

Dulce seguiu pela passagem lateral que levava à porta de seu apartamento. Uma bola de tênis passou voando e se perdeu nas plantas ao seu lado. Chegava à porta quando Paula Stafford apareceu, num belo traje de tênis, sem dúvida à procura da bola.

Apesar do exercício na quadra, seus cabelos castanhos, curtos, estavam impecáveis, assim como a maquiagem.A desenhista de moda encontrava-se no final da casa dos trinta, uma mulher pequena,com movimentos e comportamento felinos que mantinham Dulce sempre a considerável distância.

Os Stafford nunca a tinham tratado como alguém da família, do modo que os Harcourt tratavam Marlee. Para os patrões, ela era apenas uma babá, não uma amiga. Tratava-se de uma diferenciação social com a qual Dulce estava acostumada, apesar de não concordar. Para ela, o valor de alguém não devia ser medido pela quantidade de dinheiro que possuía e relutava em aceitar que a sociedade pensasse e agisse segundo esse princípio. Na escala de importância em que os Stafford colocavam as pessoas, Dulce estava perto do grau mais baixo. Sem dúvida valia mais do que assassinos, estupradores, incendiários e outros que apareciam todos os dias nas

notícias policiais, porém não muito mais, pelo modo que a tratavam.

Se não fosse por ter conhecido Jeff, não teria ficado com essa família tanto tempo. A

relação com ele tornara a convivência com os patrões relativamente menos importante e achava conveniente porque morava perto de Marlee. Até agora.

— Dulce! — exclamou Paula, surpresa. — Pensei que você ia ficar fora todo o fim de

semana.

— Fiquei cansada demais para ir a qualquer lugar, sra. Stafford. — Dulce forçou-se a sorrir.

— Casamentos são exaustivos.

— Oh, sim! O casamento — os olhos verdes felinos se iluminaram e o tom de voz

demonstrou condescendência. — Foi tudo bem?

— Sim, tudo ótimo.

— Deve ter sido uma grande experiência fazer par com Christopher Uckermann.

Dulce fitou-a sem expressão alguma, sentindo uma onda de profunda aversão.

— Ele foi muito gentil comigo — disse, apenas.

A patroa riu:

— Christopher sabe ser um perfeito cavalheiro, quando é preciso. Não duvido que estivesse no melhor de sua forma para o casamento do irmão.

A senhora nem imagina quanto!, pensou Dulce. Ela gostaria de saber se Christopher Uckermann tinha aquele mesmo tipo de verniz dos Stafford. Provavelmente sim e a consideraria apenas como mais um caso rápido. Com certeza não gostaria de levá-la às festas de seus amigos: uma simples babá dificilmente seria a companhia adequada para um homem do seu nível. Dulce concluiu que tinha razão em evitar qualquer relacionamento com ele, pois seria como entrar em uma passagem com a

placa "sem saída".

— Bem, tenha um bom descanso, Dulce. Você está com cara de quem precisa.

Os olhos dela subiram para o cabelo de Dulce, desarrumado, fizeram uma parada

significativa nas roupas comuns e só então voltaram-se para os arbustos entre os quais a bola de tênis caíra.

Ao entrar em seu apartamento, Dulce mal controlou o impulso de bater a porta. Não

costumava ligar a mínima para o jeito esnobe de Paula, mas naquele dia a atitude desdenhosa dela a atingiu. E muito.

Estava na hora de mudar, disse a si mesma, pensativa. Trabalhava com os Stafford há

dois anos, cuidando de duas crianças pequenas. Era tempo demais, decidiu de súbito. Tinha resolvido que os avisaria que ia embora quando o noivado com Jeff fosse oficialmente anunciado.

Mas só porque ele arrumara outra mulher não queria dizer que tinha de ficar ali.

Talvez fosse hora inclusive de terminar com a carreira de babá e seguir novos rumos.