Fanfic: O Preço de uma Conquista - Vondy Adapatada. | Tema: Vondy

Dulce acordou tarde no dia seguinte e ficou deitada, olhando em volta. Não havia mais vista do porto, nem jardim no terraço, nem um homem amoroso ao seu lado. Esse era o presente e o futuro. Aquele era um lugar só seu e o pouco espaço lhe bastava. O armário velho seria mais do que suficiente para suas coisas, sem falar nos gavetões da cama. A mesa sob a janela também era de bom tamanho; as cadeiras que a acompanhavam estavam ruinzinhas, mas havia uma poltrona bem confortável. E nada de televisão, é claro.Suas plantas davam um pouco de vida ao apartamento, o que ele bem precisava. O carpete também era velho e nas paredes viam-se marcas de fita adesiva. Quem morara ali devia gostar de pôsteres na parede. Dulce resolveu arranjar uns pôsteres também. As cortinas e a colcha da cama eram do mesmo algodão grosso, com desenhos geométricos. Não era um apartamento tão ruim, pensou ela. Podia ser bem pior. Não havia estante, por isso tinha deixado os livros no caixote e ali ficariam, pois não pretendia gastar dinheiro, se pudesse evitar.

Antes de começar a trabalhar no escritório de Ray, teria de comprar roupas de grávida, porque nenhuma das suas servia mais direito. Pelo menos o enjôo matinal diminuíra, pensou, enquanto se levantava. O banheiro só tinha o básico: pia, privada e chuveiro, mas era todo seu. Havia só um espelho, no armarinho sobre a pia.

Lavou-se, vestiu-se e foi para a cozinha comum, onde havia um armário seu, que podia manter trancado. Precisava colocar seu nome em qualquer coisa que deixasse na geladeira e no freezer. Pegou a caixa de cereais, o leite e sentou-se à mesa. Nenhum dos ocupantes dos outros três minúsculos apartamentos apareceu enquanto ela comia.

Um telefone público perto da porta chamou-lhe a atenção. Devia ligar para Marlee e contar que já estava separada de Christopher. Ela poderia ficar aborrecida se ligasse para o apartamento dele e visse que a amiga se fora sem avisar.

Dulce lavou o prato, os talheres, guardou tudo e foi pegar a bolsa, no apartamento.

Precisava comprar frutas e outras coisas que pudesse manter no quarto. Mas, primeiro, ia telefonar para Marlee.

Ao saber que era ela, Marlee ficou muito agitada:

— Graças a Deus! Estava tão preocupada com você! Onde está, Dulce? Deixe-me ir ajudála.

Ela surpreendeu-se ao ver que a amiga sabia da mudança: Christopher devia ter contado.

— Está tudo bem, Marlee — tratou de acalmá-la. — Não há motivo para se afligir. Arranjei um apartamentinho num prédio tranqüilo e estarei pronta para trabalhar no escritório de Ray quando chegar a hora.

— Arranjou uma casa boa, mesmo, Dulce? — insistiu Marlee. — Não está inventando isso?

— Juro que arranjei, Marlee.

— Eu quero ir aí ver você — determinou a amiga.

— Hoje, não. Tenho que arrumar tudo, fazer compras. Vamos almoçar juntas na semana que vem, depois de eu ajeitar tudo.

— Dulce... você não... — Marlee hesitou, confusa. — Você não foi precipitada demais

deixando o Christopher assim?

— Não. Eu disse que tinha de fazer isso, Marlee, e está feito.

— Mas, Dulce, ele veio procurar você aqui, ontem à noite. A princípio, não acreditou que eu não sabia para onde você tinha ido. Ele estava muito mal, Dulce. Foi embora e voltou horas depois, perguntando se você não tinha ligado. — Marlee esperou e como Dulce não disse nada, prosseguiu:

— Nunca o vi tão perturbado! Confessou que reagiu mal quando soube do bebê e quer cuidar de tudo. Pediu-me para lhe dizer isso, assim que soubesse onde você está.

Christopher está se sentindo culpado, pensou Dulce e respondeu:

— Diga-lhe que estou bem e que não preciso dele.

— Dulce...

— E diga para ele parar de incomodá-la, porque você é minha amiga e vai ficar do meu lado.

— Dulce hesitou: — Quer dizer, se você quiser ficar do meu lado.

— Oh, Dulce! Claro que sim! É só que... bem, pensei que você o amasse... E ele disse que quer cuidar de você.

— Christopher não tem direito de querer mais nada! — explodiu Dulce, com raiva. — Ele teve chance e não aproveitou, Marlee. Eu não vou voltar mais.

Cuidar de mim. Pensou ela. Só se for com dinheiro, é o único modo que ele consegue fazer as coisas. Muito bem, vai descobrir que não pode comprar uma consciência limpa com seu maldito dinheiro!

— Olhe, Marlee — prosseguiu, determinada —, pode dizer para ele que não sabe onde estou, porque não sabe mesmo.

— Dulce...

— E melhor assim, Marlee, acredite! — Mais calma Dulce tratou de sossegar a amiga. — E não se preocupe comigo. Estou bem. Ligo na semana que vem, para almoçarmos, se promete não falar no Christopher. Nunca mais. Não quero voltar a ouvir o nome dele.

Quando desligou, Dulce tremia tanto que teve de se sentar. Assim que se refez, saiu para fazer as compras e várias vezes pegou-se parada, olhando para o vazio. Numa dessas vezes, uma senhora lhe perguntou se estava bem e ela agradeceu, dizendo que sim.