Fanfic: O Preço de uma Conquista - Vondy Adapatada. | Tema: Vondy

Os olhos dela arregalaram-se, fixos nele, enquanto Dulce se perguntava se tinha

ouvido direito. Os olhos dele  a fitavam com franqueza e ela desviou os seus, voltando a olhar pela janela.

Casamento!

Um marido amoroso, crianças felizes, uma boa casa e um belo jardim... Mas tudo que

sabia sobre Christopher garantia que essa imagem não passava de um sonho.

Quem não joga...

A frase dita uma vez por ele ameaçava sua auto-proteção. Mas Christopher era risco demais: devia lembrar-se que ele agia levado pelo senso de responsabilidade que lhe impunha cuidar dela porque ia ter seu filho. Depois viria a dor, a incompreensão e o desencontro. Christopher não gostava de crianças e iria reclamar pelo tempo que ela dedicasse ao bebê, fazendo-a ficar dividida entre os dois. Que felicidade poderia vir de uma situação assim? Não, não daria certo casar com ele.

— Você disse que nunca se casaria Christopher — lembrou-o, para dizer alguma coisa.

— Com você eu me caso Dulce.

— Por causa do bebê?

— Não, porque quero você sempre comigo, porque não quero viver sem você, porque a sua felicidade é a minha felicidade, e eu fui um idiota ao dizer que não me casaria com você.

Ele parecia sincero, mas não mencionara o bebê.

— Agradeço o pedido, Christopher, mas...

— Mas a resposta é não? — completou ele, ao ver que ela hesitava.

— Exato — confirmou ela, baixinho.

— Por quê?

— Porque eu ficaria pensando, o resto da vida, que o forcei a casar. Um dia você atiraria isso na minha cara e seria o fim.

— Não vai acontecer — garantiu ele, sincero.

— Oh, vai sim. Vou ter um filho que você não quer e não há mais confiança entre nós:

lembre-se das minhas mentiras. Fazer de mim uma mulher honesta não vai apagá-las.

— Dulce — Christopher se esforçava por manter a calma —, entendi que você não tinha saída a não ser esconder a gravidez de mim o mais possível. Sinto-me muito mal por ter colocado você nesse dilema e depois culpá-la por ter agido assim. Acredite, nunca mais vou lhe dar motivos para esconder nada de mim. Me dê a chance de provar que estou falando a verdade, Dulce!

Ela se sentiu tentada. Mas Christopher era tão bom com as palavras! Por exemplo, evitava cuidadosamente falar no filho deles, concentrando-se apenas nela, pois sabia o quanto o amava, a ponto de esquecer seus princípios para ir morar com ele, como havia feito.

Pagara o preço dele e agora ele se oferecia para pagar o preço dela. Mas estaria mesmo aceitando tudo? Não iria pôr a culpa nela, quando acontecesse algo de ruim? E, sem dúvida, ia acontecer algo ruim assim que o bebê nascesse. Talvez até antes...

O vestido desenhado por Kate escondia a gravidez, de forma que ela parecia a mesma para Christopher, mas duvidava que ele a considerasse atraente quando seu ventre começasse a se distender. Decidiu, então:

— Não, Christopher, prefiro ficar sozinha, será melhor assim. Não posso aceitar o que me oferece, porque iria acabar comigo.

— Dulce, deixe-me contar-lhe sobre meu primeiro casamento — pediu ele, angustiado.

— O que aconteceu entre você e ela não tem nada a ver com nós dois, Christopher. Sou outra pessoa. — Ela sorriu, triste. — Vivemos juntos quase quatro meses e você duvidou quando eu disse que o filho que espero é seu.

Ele ficou pálido.

— Dulce, por favor, se me deixar explicar...

O ônibus se aproximava do ponto dela, que exclamou:

— Diga o que disser,Christopher, nunca vou esquecer! — Estava determinada e desviou o olhar do rosto querido, que demonstrava dor. — Vou descer, agora, e não quero que venha comigo.

— Eu sinto tanto! — murmurou ele e se levantou para que ela passasse.

As pessoas ao redor os observavam, atentas, e Dulce ficou vermelha ao notar que tinham escutado a conversa.

— Dulce, se precisar de qualquer coisa, por favor, me ligue. — Havia um pedido intenso nos olhos dele. — Não estou falando por pena, é sério.

Ela hesitou. Amava-o, mas isso não mudava nada. Lembrou que ele jamais procurava ver o filho do primeiro casamento e não iria ser melhor para o bebê que trazia em si.

— Adeus, Christopher — disse, com voz embargada.

Ela desceu do ônibus, dolorosamente consciente de que ele não a seguia. Teria aceitado a recusa? Ao sair andando, ela pensou que fora um erro descer ali, mostrando que morava por perto.

Bem, de qualquer modo, Ray podia dar seu endereço a ele.Ray e Marlee. Sem dúvida eles haviam achado que iriam ajudar tentando uni-los novamente. Principalmente, se Christopher lhes dissera que pretendia casar-se com ela. Não podia condenar Marlee.

O ônibus passou, alguns rostos nas janelas observando-a com curiosidade, enquanto

Christopher continuava de pé no corredor. E lá se foi, levando-o para longe dela.

Dulce caminhou sem notar o que fazia e quando viu estava no seu prédio.

Olhou-o, de baixo a cima. Ele não tinha qualquer pretensão arquitetônica; era uma

construção de concreto de dois andares, pintada no mesmo tom salmão que o interior, atrás da qual fora acrescentada uma lavanderia comunitária.

Não havia jardim, nem na frente nem atrás. Apenas concreto.

Nada que pudesse ser comparado, nem de longe, com o apartamento de Christopher, mas era limpo e respeitável. Glebe era um dos mais antigos subúrbios de Sydney, mas não era uma favela.

Seu filho teria um começo melhor do que o dela; teria todo o amor, cuidado, proteção e segurança que pudesse lhe dar.