Fanfic: Marido Por Acaso AyA [Finalizada] | Tema: AyA

Agora, ainda eram onze e meia, e ele sentia-se inquieto, olhando pela janela, para o imenso pátio dianteiro da mansão. Fazia frio, mas não nevava. Com certeza, as estradas estavam secas e seguras.

O turno da produção, na fábrica, seria trocado logo. Anahí estaria saindo de lá em alguns minutos e encaminhando-se para o ponto de ônibus. Pelo menos, não estaria usando o anel. Tão tarde assim, muitas pessoas já haviam sido mortas por estarem usando objetos muito menos valiosos.

Sem que sentisse, a ideia de que a joia fora guardada num vidro de iogurte o fez sorrir. Camila tinha razão: Anahí não era, de fato, em nada parecida com Sybil. Sem pensar mais, Alfonso apanhou o paletó e desceu os degraus, cruzou a cozinha e foi para a garagem. Se corresse, chegaria à Herrera a tempo de pegá-la no portão.
A ultima surpresa que Anahí esperava ter era ver o carro de Alfonso estacionado à saída dos funcionários. Por alguns segundos, imaginou se não estaria tendo uma miragem, por ter, no fundo, desejado tanto não precisar esperar pelo ônibus, sentindo o vento cortante. No entanto, ele estava lá de fato.

Anahí parou de andar de repente, e um homem acabou tropeçando e quase caindo por sobre ela, reclamando que não tinha um patrão com um veículo confortável para levá-lo para o doce lar.O comentário malicioso, porém, não a afetou. Caminhou até o carro e entrou, sem protestar.

— Pensei que tivesse dito meio-dia, não meia-noite, Alfonso.

— E disse, mas achei que iria gostar de ter uma carona.

— Sabe, vai acabar criando uma série de problemas para você mesmo.

— Bem, se não quiser que eu a leve…

— Não é isso, mas logo alguém vai começar a falar em discriminação.

— Ninguém pode me acusar de levar minha noiva aonde quer que seja.

— Porém, eles vão começar a reclamar do tratamento especial que venho tendo, por exemplo. Meu supervisor já anda bastante irritado, e quanto aos outros operários…

— Eu não ficaria aborrecido caso você deixasse de trabalhar. Sabe disso.

Anahí também não ficaria, já que as observações que vinha tendo de escutar de seus colegas estavam cada vez mais abusadas, mas não podia dar-se ao luxo de abandonar o emprego, pois, caso o plano de Alfonso falhasse em algo e não viesse a receber a quantia que ele lhe prometera, seu futuro estaria comprometido.

— Mas se eu deixasse a fábrica o pouparia de me dar uma carona. — Anahí achou melhor levar a situação na brincadeira. — Pretende tornar isso um hábito?

— Não sei. Vou ter de fazê-lo?

— Ninguém lhe pediu que o fizesse.
Alfonso preferiu não responder ao tom agressivo dela.

— A que horas chega quando toma o ônibus?

— De modo geral, às quinze para a uma. Por quê?

— Então dorme pouco. Depois vai para a universidade e volta para a fábrica às quatro da tarde. Quando estuda e faz suas tarefas da faculdade?

— Entre as aulas.

— Entendo. Como você mesma disse, o curso é bem caro, e isso em muitos aspectos. Eu não deveria ter feito aquela insinuação sobre gostar tanto de dinheiro.

— Isso significa que acredita, afinal, que não estou tentando me casar com você?

— É melhor que não esteja, mesmo. E não confunda o que estou afirmando. Apenas sinto um pouco de culpa porque, além de tudo o que já faz, aceitou me ajudar em meu projeto.

Alfonso olhou-o por alguns segundos. Depois, sem conseguir evitar, acariciou de leve os cabelos dele e respondeu:

— Não se aflija, Alfonso. Se eu mudar de ideia quanto a me casar com você, será o primeiro a saber.

O relógio marcava quase meio-dia, e Anahí ainda não conseguira ajeitar os cabelos como queria. Maria entrou no quarto, com uma rosquinha numa das mãos e uma caneca de café na outra.

— Quer levar consigo a receita de minha mãe para preparar o peru recheado? Vai uma quantidade tão grande de bebida nele que a velhinha ficaria chocada…

— Não, obrigada, Maria. A propósito, não ia almoçar com seus pais hoje?

— E vou, mas estou adiando o mais que posso, porque não é só o peru que fica muito recheado de bebida por lá…

Anahí olhou com certa preocupação para a colega, mas ela não parecia importar-se muito com o que dizia.

— Se eu pudesse, levaria você comigo.

— Não levaria, não — Maria rebateu. — Só está se fazendo de boazinha para que eu me sinta miserável.

Acostumada às brincadeiras da companheira, Anahí apenas riu.

— Você deve estar certa. Mas agora não tenho tempo para discutir o assunto.

— Ok, Anahí. Então vou cobrar uma descrição detalhada de tudo o que acontecer por lá. Quando disse que vai estar de volta? No domingo?

— Acho que sim. O convite não foi muito específico. Referia-se, apenas, ao fim de semana. Mas que droga! Ele já está batendo na porta, e ainda não terminei de me arrumar! Quer, por favor, atender e pedir a Sua Alteza que me espere um pouco?

— Deixe comigo.

Maria se foi, e Anahí pôde ouvir o murmúrio de vozes, embora não compreendesse o que estava sendo dito. Terminou de se maquiar, pegou a pequena valise que preparara e a mochila cheia de livros, e saiu para encontrar Alfonso. Ele estava parado no meio da sala, e trazia Annebelle no colo.
Anahí estranhou. Alfonso afirmara que seu maior motivo para estar fazendo tudo aquilo era ter mais tempo com sua filhinha, mas nada que tivesse feito na véspera mostrara mais o quanto era um pai afetuoso, do que quando deixara Annebelle em seu quarto a maior parte do tempo. Durante o almoço, fora Camila quem supervisionara o que a garota comia, avisando que ela já havia comido algo antes de descerem. E, mais tarde, embora Annebelle andasse de um adulto a outro enquanto brincava com seus cubos, fora ela própria, Anahí, quem parecera ter chamado mais a atenção da menina. Na verdade, Annebelle não demonstrara ciúme até o momento em que seu pai beijara Anahí…

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