Fanfic: Os Guardiões do Pecado
— Era a pior coisa que já ti–nha visto. Era a pior noite de verão da minha vida, mesmo tendo apenas sete anos de idade. Olhávamos fixados – eu e papai – a casa de vidro infestada em um enorme fogaréu, meus olhos flamejavam diante à cena. Aparentemente flamejavam, porém, marejaram-se os olhos tristes. Tudo o que pude perceber era que mamãe estava dentro da casa de vidro. Não tive outra opção a não ser me esconder. As lágrimas cessavam, mas o desespero não. Ouvi alguns gritos de socorro, mas eu era apenas uma inocente criança e não poderia fazer nada. Até que, um barulho impactante caíra sob meus ouvidos: os escombros da casa onde estava mamãe caíram sobre a terra molhada feito barro. Não aguentei, puis-me a chorar novamente onde estava com a cabeça baixa apoiando nos finos joelhos de uma de pequena garota. Eu poderia ter a salvado. E agora, vou tentar viver. Só isso. – Contei a minha história de infância para Angeline, que tanto insistira em saber da minha vida. Sabia que papai estava atrás da porta escutando cada palavra que dizia. Então, completei: Papai ainda não aprendeu a conviver com isso. Se ele pelo menos tentasse, poderia sentir o gosto de ter uma vida. E esse é meu objetivo, o que eu tenho que fazer, afinal. Não quero viver pra sempre presa nisso, quero ser o que eu nunca fui.
— Nossa, sua infância foi dura! Meus pêsames. E, olhe, eu não deveria ter insistido para você contar isso... – A interrompi.
— Tudo bem, Angeline. Eu precisava mesmo desabafar. Quer mais alguns biscoitos?
— Já está tarde, Amber. Quem sabe amanhã? Eu vou indo. Tchau. – E saiu sorridente, como sempre. - Olá senhor John! - Curvou-se ao meu pai na porta.
— Ai, que meigo, hein?! Acho que vou contar para os meus amiguinhos de infância sobre a morte da minha esposa. Que tal? – disse, cheio de ironia, gritando. Seu cheiro de álcool tampouco se mascarava com os salgadinhos murchados da geladeira.
— Não grite comigo, John! – Disse com o tom mais elevado que o normal.
— Cala a boca, Amber! Você não vê o que aconteceu? Ela... Ela... Foi embora! Ela não vai voltar Amber, estamos sozinhos! – Dizia papai, tragando seu cigarro barato e aumentando ainda mais o tom, como eu suplicava para que não lhe fizesse, pois não queria nenhum fiscal em casa para justificar a gritaria ou mesmo ir para a delegacia antes de completar meus dezoito anos.
— E é exatamente por isso que você não pode mais se queixar. Por mais que doa e por mais que ela fosse importante pra gente, ela não volta, então temos que aprender a conviver com isso. Você não pode ficar se embebedando todo o sábado, estamos prestes a ser despejados dessa casa! Não vê o quanto você se estragou? O quanto você fuma? Eu não aguento mais isto! – Soltei tudo o que estava preso há anos em minha garganta, o que vinha se acumulando há dois anos após a morte de mamãe. Antes que ele pudesse debater, corri o mais rápido que até meu quarto, onde soltei as lágrimas que há tanto tempo acumuladas, se desfaleceram com temor.
Era muito tarde da noite. Ao menos umas três horas da manhã. Deitei de lado e acabei pegando no sono. Levantei no dia seguinte, o relógio marcava exatamente seis e meia da manhã. Arrumei-me correndo e desci as escadas enormes e espirais, em busca de algo para comer – tinha dormido sem comer nada na noite anterior. Comi e belisquei algumas torradinhas que John havia comprado na manhã anterior. Fui para a escola e nada parecia como antes. Tinha algo mudado. Todos me encaravam com um olhar misterioso, mas sempre fora desconhecida por aqui. Fui para a sala, às aulas passaram rapidamente, pois nem atenção eu prestava. Era a hora do intervalo. Relembro bem aquela cena, aonde as três meninas vinham em minha direção, com a cara mais esnobe que de costume. Logo, não demoraram muito para chegar e acabar com todo o sossego que restara.
— Um ano muito importante, não? Acho que caiu como planejávamos. Meus pêsames por sua mamãe, Moon Linn. Como foi a briga com o papai ontem à noite? – E foi aí que eu vi uma garota que ousava roupas futilmente, com aquela coloração de arder os olhos, e que arrancava olhares por todos os cantos. Ela encarava-me profundamente. Era Angeline Hells. Aquela quem por tanto tempo fingira sua honestidade.
— Olá, meninas! Olá, Amber. Presumo que deva estar se perguntando: "Mas o que fizeram?", pobre coitada. Faz um tempo que estamos tentando descobrir essa história toda de sua mãe e me parece que já conseguimos o que queríamos. Já tenho o que queria mesmo. – Angeline se tomou por um deboche completo ao falar junto às amigas. As quatro se foram, cada passo em alto e bom som. Uma saída surpreendente triunfal ao adejo de meu olhar. Encostei-me a um dos poucos armários que tinha o corredor. "Mentiras encobertas por verdades... É tão óbvio que vocês sempre tendem a parar justamente comigo?"
Minha vida social era pouco distinta do que eu era na escola. Apesar da aparência de uma garota boa e ingênua que sofria gozações, era pouco diferente disto. Tinha visões à noite e de vezes (um fato raro, sem dúvidas) e escapava de casa. Tinha acabado de voltar do meu "inferno particular" – como até hoje gosto de chamar a Overcoming Staler Sant School. Adentrei a porta e pude observar uma moça charmosa e aparentemente simpática. Seus cabelos eram negros como breu, destacavam perfeitamente os olhos oceânicos. Ela sentara ao lado de John. Fiquei feliz pelo ocorrido, pois as únicas garotas que frequentemente vinham para lá era Angeline Hells e eu. Posso dizer que a minha vida não era aquilo, era bem chata por sinal. O tédio dominava o local, cheguei a fitar as paredes de tanto estar enfada. Optei pela abertura da gaveta cor de marfim bem polido. Algumas bebidas sem marca definida. Dentre elas uma Bluestable totalmente empacotada, com o lacre preso e bem evidente. Era realmente prazeroso, apesar de não me fazer tão bem e ter uma proibição irrevogável de John. Fiquei algum tempo assim; estática. Até que notei um livro surrado em cima da cômoda – que por sinal não era meu – e vi que nele havia das mais informações inesperadas e que não faziam algum sentido. Folheei o livro com cuidado até que algo me chamou atenção. Era uma caligrafia velha, a página era desgastada e amarelada, uma das primeiras páginas. "Hortimun. E se ela souber? Não poderemos ficar juntos: É o que eu acho. A Guerra está próxima. Só espero que ela não se lembre disso, pois seria uma grande carga para ela. Se um dia ler isto, acho que ainda não saiba. Mas muitas coisas lhe aguardam. Espere para ver." Hortimun... Não me era estranho. Aí me lembrei dos tempos de infância, eu tinha um amigo Hortimun. Só que depois que me mudei para Nova Jersey não o vi mais. Estava intrigada com aquilo, até que meus pensamentos foram corrompidos quando papai bateu à porta.
— Pode entrar. Está aberta – Disse com certa amargura.
— Tem um livro na cômo... Já leu, pelo visto. Uma mulher pediu para entregá-lo a você. – Ele estava, de fato, muito desconcertado.
— Que mulher? A que estava na sala-de-estar com você?
— Essa mesmo. Ela lhe entregou isto. Somente. Disse umas coisas estranhas, que provavelmente você sabe que eu não entendi.
— Entendo. Qual o nome dela?
— Heidi. O filho dela fugiu de casa, e ela disse que isso era o diário dele e que tinha algo escrito sobre você aí. Hortimun não era aquele garotinho que brincava com você antes de virmos pra cá?
— Sim, é ele. Mas... Por que agora? Faz tanto tempo que não o vejo. A moça já foi? Preciso que falar com ela. - Não o deixei responder e logo corri até a sala. Ela não estava mais lá. Olhei em volta e vi papai seguindo o mesmo caminho.
— Ela disse que volta amanhã à noite para falar com você. – Tranquilizei com as notícias e logo voltei ao quarto, cansada. Dormi depois de algumas horas tentando sibilar o que havia acontecido.
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Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
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Era noite e tudo já estava apagado. O vento quente soprava sobre minha pele macia. Saí de casa pela janela notando que continha algum tipo de penas enormes penduradas na costela. Eu, no meio do nada, naquela noite serena. Eu estava com asas negras e por onde passava era notada, eu não entendi nada do que havia acontecido ali. No mesmo lugar onde estava, ...
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