Fanfics Brasil - Capítulo 2 Map of the Problematique

Fanfic: Map of the Problematique | Tema: Muse


Capítulo: Capítulo 2

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– Matthew!- Há muito que Chris já tinha desistido de chamá-lo ao mundo real, eram inúmeras as vezes que aquela situação se repetia, Chris sentava-se atrás da sua majestosa secretária naquele pequeno escritório mal iluminado em que a única fonte de luz era um pequeno candeeiro no canto da sala, não existiam janelas nem nada que proporcionasse luz natural, enquanto arrumava a secretária e colocava alguns papeis no centro da mesma, Matt, ficava sentado na cadeira na frente de Chris tentando fixar os seus olhos azuis apáticos nele. Eram raras as vezes que Chris começava a falar-lhe sobre a missão do dia e Matt não se perdia no seu mundo. Mas a experiência que Chris tinha para lidar com a situação fazia com que ele permanecesse calmo, chamando o seu nome ocasionalmente, há muito que ele se deixara de se perguntar o que passaria na mente de Matt fazendo-o perder-se de tal maneira.


Para ele, Matt era apenas mais um dos poucos trabalhadores da sua companhia criada para satisfazer os desejos mais negros e doentios que algum ser humano poderia ter: Matar. Cada pessoa que participava naquela empresa sabia o quanto essas vontades se poderiam tornar tentadoras, ao ponto de pagar para realizá-las. Era nisso que aquela pequena “empresa” se resumia, situada no lado perigoso da cidade, perfeitamente disfarçada, Chris liderava aquela empresa como o único membro da mesma que ainda possuía alguma sanidade mental.


Porém Matt, embora um trabalhador normal, era para Chris, o único que ele não poderia dar ao luxo de perder, Matt era o melhor que Chris poderia arranjar num negócio tão horroroso como aquele, ele era o único que podia matar a sangue frio e esquecer-se da missão segundos depois, Matt já tinha provado a Chris que era a única pessoa que ele tinha conhecido que não possuía qualquer sentimento. Chris acreditara toda a sua vida que, por mais negro que o passado de uma pessoa pudesse ser, por mais congelado que um coração pudesse estar, no fundo da alma mais negra, ainda existiam sentimentos, fracos e miseráveis sentimentos. Mas isso até Matt aparecer na sua vida, este, aos olhos de Chris, tinha deixado de ser considerado humano, era apenas um corpo perdido na eterna procura pela sua alma, e isso era para Chris, a sua melhor qualidade.


O ranger da porta quebrou o silêncio daquele escritório pequeno, por detrás da porta, apareceu um rosto sorridente e familiar, por segundos olhou para Matt e dirigiu-se a Chris, sentou-se no seu colo e cumprimentou-o com um beijo, sorriu mais uma vez para o marido e voltou o seu olhar para Matt.


– Matt, querido? Podes acordar agora? Tens muito tempo para voltar ao teu mundo depois da missão…- Kelly disse docemente, já não era a primeira vez que Matt ouvira algo assim, aliás, já tinha perdido a conta das vezes que Kelly lhe chamava a atenção. Porém fora o necessário, Matt ergueu finalmente o olhar para Chris que o olhou com alívio, e estendeu-lhe a fina folha de papel, pois se lhe descrevesse a missão com as suas próprias palavras, a cena iria repetir-se e Matt voltaria aos seus pensamentos. Matt seguiu as letras impressas na folha com o olhar, sem demonstrar aparente reacção. Colocou-a bruscamente na secretária, fazendo um estrondo.


– Não a vou fazer!- Matt pronunciou determinado, deixando Chris admirado por ser a primeira vez que Matt recusara uma missão de maneira tão explosiva, Matt era um ser imprevisível, Chris sabia que ele tanto poderia fazer a missão num espaço de minutos, como queimar a folha ou rasgá-la em pequenos pedaços de papel, e aguardava serenamente a sua reacção todos os dias. Matt olhava-o com a testa enrugada de tamanha desaprovação, forçando a folha contra a secretária como se esta pudesse fugir dali.


– Ok… Tratamos disso com outra pessoa- Chris respondeu em contraste com a reacção enraivecida de Matt.- Podes sempre tratar de outra…- Matt pressionou a mão contra a secretária agora com toda a sua força.


– Não, não vou fazer nenhuma!- Matt exclamou deixando o casal perplexo, eram naqueles momentos que Chris chegava até a temer Matt, ele sabia que a única razão que Chris ainda ser o líder daquela empresa era por Matt não ter qualquer interesse em liderar o quer que fosse, era por Matt não ter a capacidade de ter qualquer responsabilidade na sua vida, ele sabia que era uma questão de tempo ate Matt explodir de vez. Chris sabia o perigo que corria ao lidar com uma pessoa como ele, e que aquele homem poderia muito bem ser a razão da sua morte.


A reacção de Matt não passava de mais um dos seus caprichos, qualquer reacção de uma pessoa como ele não passava de um mero instinto, não existia nenhum sentimento nas suas reacções, não havia nenhuma consciência a segredar-lhe o que era certo ou errado. Matt apenas sentia que não iria realizar a missão, e não havia discussão possível.


Matt estava ali por mera obra do destino, ele não tinha sítio para ir quando finalmente fugiu daquele orfanato, não havia ninguém que quisesse um marginal psicopata na sua família, Chris encontrou-o porque o destino assim o quis. Chris viu todo o seu potencial na primeira avaliação que fez a Matt, ele viu o mais oculto rancor e ódio nos seus olhos e usou-o a seu favor, nesse dia, em que Matt vagueava perdido nos lugares errados da cidade, Chris encontrou o seu maior tesouro, ele era tudo o necessário para o seu negócio, uma alma perdida que cujo corpo não passava de um veículo para seus instintos, ele já nao era mais humano, trabalhava para satisfazer as suas necessidades, e os sentimentos perdidos no fundo da sua mente seriam facilmente apagados.


Mas Chris sabia o perigo que corria ao trazer alguém como Matt para o negócio, ele podia tanto ser o seu maior tesouro como o seu pior pesadelo num curto espaço de tempo, Chris sabia o risco que corria, todos os dias quando se encontrava perante Matt, ele sabia que o beijo de despedida que dava a Kelly de manhã poderia ser o último. Mas Matt não fazia qualquer intenção de matar Chris, para ele não era errado nem certo, era tudo à vontade do seu instinto, se um dia acordasse com vontade de terminar a sua vida, iria faze-lo.


– Não vais fazer nada hoje, Matthew, é isso?- Chris disse num tom autoritário e provocador, Matt perdeu lentamente a força no braço que até ao momento pressionava fortemente a folha contra a secretária. E voltou a sentar-se.


Enquanto o seu cérebro mecanizava uma resposta, o processo foi interrompido por mais uma visita, Matt olhou-a insatisfeito, odiava vê-la ali, mas também, não se lembrava de nenhum momento em que tivesse ficado feliz por vê-la. Ela entrou, todos os olhares da sala foram desviados para a elegante loira que olhava Matt com ternura, ela não sabia porque o amava tanto, não era normal uma pessoa doente como Matt ser amado tao intensamente por uma rapariga como ela, mas era, e Kate estava disposta a fazer tudo para ter o amor de Matt, ela sabia no fundo do seu coração que Matt nunca iria retribuir qualquer sentimento, nem a ela, nem a ninguém, e as noites que ambos partilhavam não significavam nada para ele.


Mas Kate estava satisfeita com o facto de Matt não amar ninguém, Kate arranjava sempre desculpas para prosseguir com aquela relação, mas ela sabia que era impossível ela possuir o amor de alguém como ele, na verdade, era impossível ter qualquer sentimento da parte dele, desde ódio a amor, Matt não sentia nada por ninguém, Kate não era nada para ele, Chris não era nada para ele, não havia nada que lhe fizesse seguir em frente, não havia nada na sua vida para que ele se sentisse disposto a lutar.


Talvez uma coisa, uma pequena e mínima coisa que todos os dias o fazia revisitar o seu passado, só havia um único objectivo na sua vida, inalcançável objectivo do qual Matt apenas conquistava em sonhos, há muito que tinha desistido dele.


Ele era Dom, mais especificamente Matt sentia desejo de matar aqueles que alguma vez o afastaram da única pessoa capaz de despertar a felicidade profundamente adormecida no seu coração, mais precisamente os pais adoptivos de Dom, era nisso que Matt passava horas a fantasiar, sempre que imaginava aquela mulher esbelta e sorridente com ar angelical e aquele homem de ar simpático esboçarem um sorriso ao afastarem-se de Matt com o seu amigo.


Isso era a única coisa que despertava os sentimentos negros no coração perdido de Matt, ele imaginava todas as maneiras de os fazer sofrer, queria que a sua morte fosse tão dolorosa como a vida dele, mas Matt tinha inteligência suficiente para perceber que nada iria compensar os anos que passara perdido e a dor que já tinha sentido, nenhuma forma de dor física que lhes pudesse infligir iria compensar a sua, especialmente se no fim lhe iria dar a eterna paz que a morte trazia.


“ Sossega Matthew, um dia, vais encontrá-lo, vais voltar a vê-lo, e essas criaturas vão ter o que merecem” Esta era a frase que repetia na cabeça de Matt sempre que ele terminava mais uma sessão de visita ao seu passado.


 



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