Fanfic: Map of the Problematique | Tema: Muse
Matt voltou para “casa” completamente atordoado, ao abrir a porta de madeira escura, e ouvir o ranger da mesma, ao deparar-se com a pequena casa limpa e escura, vazia como ele, ele percebeu que tinha voltado á realidade. Caminhou até ao fim do estreito corredor com paredes coberta de azulejos brancos até um terço da mesma, que se completava com tinta branca, porém a casa sempre fora escura. O chão gelado ladrilhado da casa não podia ser mais frio que o coração de Matt, ele entrou no quarto, e a visão que teve despertou-lhe o maior dos impulsos. Apenas se via a cabeleira loira e brilhante dela, o resto estava coberto com cobertores. Matthew nunca tinha odiado mais a sua vida, e a maneira como se mentia a si próprio, ele não tinha razão para estar com Kate, especialmente naquele momento. Matt, pela primeira vez, temeu a sua impulsividade, como se alguma da sua humanidade adormecida tivesse acordado, para ele, matar já não era algo banal, que ele fazia sem pensar. Era como se estivesse a ver e a pensar com o cérebro de um humano “matá-la? Isso é de loucos!” Matt não se reconhecia, e por um lado, queria voltar a ser o que era, afinal, a sua realidade era essa. Acabou por dormir no sofá, não se atreveu a deitar-se ao lado da loira. Desta vez, não foi o desejo de voltar a ver Dom, nem a vontade de ver os obstáculos do reencontro mortos que o manteve acordado, foi o momento que ambos partilharam, ele conseguia ouvir o seu coração bater num ritmo calmo, ele próprio estava calmo, não havia nenhuma raiva nem rancor no seu coração, não naquele momento, quando pensava no quão puros eram os seus sentimentos por Dom, no quão real o beijo foi, ele sabia o significado de tudo aquilo que lhe parecia tão distante e incompreensível: amor. Era claro, ele nunca o poderia entender, nem nunca iria entender sem encontrar Dom, pois não haveria ninguém para além dele que ele pudesse amar tão sinceramente. E Matt, observava o tecto, mas via muito mais que isso, imagens lhe passavam pela mente, e pareciam criar-se á sua frente, e ele esquecia-se da sua vida, esquecia-se do seu trabalho e daquela casa, era só ele e Dom, como se a distância entre eles era apenas a de um toque. E pela primeira vez em muito tempo, Matt sentiu as pálpebras pesarem, sem se debater para mante-las abertas, há muito tempo que ele não adormecia por si, tinha-se tornado um corpo, que as suas necessidades básicas tinham muitas vezes deixado de ser “necessidades”, especialmente dormir, que para Matt era uma dádiva a noite que ele pudesse dormir descansado. O seu espírito estava calmo, e puro, a sua consciência limpa, e tudo isso fê-lo adormecer. Na outra ponta da cidade, Dom encontrava alguma dificuldade a conseguir enfiar as chaves na porta, o beijo de Matt tinha-o deixado num transe, do qual ele não queria despertar, quando finalmente abriu a porta, desejou voltar atrás, o que tantos desejavam era o pior pesadelo de Dom, riqueza, ele não queria riqueza, ele não queria aquela graciosa mansão, ele não queria a “linda” mulher que era Dianne, ele não queria nada disso, ele poderia reviver o momento com Matt para o resto da sua vida e teria compensado tudo. Fez um esforço desumano para manter o silêncio, embora a casa fosse enorme, Dianne ouvia o mínimo ruído, muitas eram as noites em que ela se colava a ele só por ter ouvido um misero som e começar a pensar no pior. E se Dom pudesse evitar levar com uma panela na cabeça, então iria evitá-lo. Para sua surpresa, assim que a cozinha se apoderou do seu campo de visão, ele ficou surpreso com quem vira, Dianne estava sentada na mesa, parecia agitada, agarrava-se a uma caneca de tal maneira que mesmo através da escuridão, se podia ver a tensão dos músculos da sua mão, Dom aproximou-se, sentiu-se irritado, odiava a maneira como ela tinha de esperar por ele sempre, e ficar preocupada sem razão, quer dizer, como se ele fosse dormir com uma puta qualquer… Bem… ele não tinha feito isso, mas fora parecido… Dianne desviou o olhar para ele, aliviou-se, os olhos azuis dela foram iluminados ao ver Dom de tal maneira que mesmo no escuro, era possível ver a sua cor, correu e abraçou-o, Dom tentava afastá-la mas em vão. – Dianne, porque não ficas-te a dormir?- Dom perguntou chateado, ela olhou-o com preocupação, não compreendida pela parte de Dom – Dom, eu estava preocupada! Tentei ligar-te a noite toda! A polícia telefonou, o homem com quem tu estiveste hoje foi o mesmo que esteve na empresa hoje!- Dom ficou perplexo, para além de ter de pensar no momento que tinha passado com Matt e o que isso significava para ele, tinha agora de enfiar na sua mente, que ele tinha tentado matar um dos seus empregados naquela manhã. “ O Matt?” Era-lhe surreal, nunca na vida ele imaginava que Matt podia ser capaz de fazer uma coisa daquelas, mas também não era assim tão difícil de perceber, a sua ingenuidade levou a melhor. A maneira como Matt desviava o assunto da sua vida pessoal… era algo óbvio, os seus gestos, linguagem corporal, como parecia não ter noção das coisas… O seu melhor amigo, ou algo mais, era um psicopata… – Dom! Ele fez-te alguma coisa? Estás bem?! Eu já fiz queixa!- Dom olhou-a enfurecido, ele não queria ser racional, não queria fazer a escolha certa. – Dianne! Isso não é assunto teu! Quem devia fazer queixa era eu, isso não é da tua conta- Dianne ficou perplexa ao ver a resposta do noivo á sua preocupação. – Mas… tu estives-te com ele…- Dom agarrou nos pulsos dela afastando-a, Dianne olhava-o sem perceber nada, ela não reconhecia o seu próprio noivo. – Não, não estive, não era ele, tu viste mal… Se pensasses um bocadinho nas coisas antes de te atirares de cabeça talvez pudesses evitar muitas chatices…- seria assim tão errado mentir? Quer dizer, era por uma boa causa… era por amizade… era por amor… Ele sabia que era inútil, Dom tinha de fazer queixa de Matt no dia seguinte. – Vai dormir! Já chega de arruinares as coisas por hoje- Dom gritou apontando para a escadaria, Dianne nem pronunciou nenhuma palavra, estava abismada com o comportamento de Dom. Dom ficou a noite acordado, procurando na lua respostas sobre como fugir ás suas responsabilidades… longe dele querer fazer queixa de Matt… E o sol iluminou aquela cidade, contra a vontade de uns, como Dom e para Matt, que tinham de enfrentar as consequências de todos os seus actos, bastou um dia para mudar as suas vidas, assim como há 18 anos, quando se separaram. Matt colocou o casaco e saiu de casa, sem querer enfrentar Kate, muito menos Chris, ele teria de encarar todos depois da sua primeira missão falhada, o tão prestigiado “prodígio da empresa” tinha falhado a sua primeira missão, uma misera missão, ele já tinha feito piores, mas o destino teve de fazer a sua vontade, Matt não se arrependia nem um bocado disso, mas enfrentar Chris era algo que dispensava. Abriu a porta, Chris já estava á secretária, sem tirar a sua atenção dos papéis, para surpresa de Matt, que esperava uma reacção diferente. – Matt... temos de ter uma conversa- Matt sentiu-se estremecer, ele só tinha falhado uma missão, uma simples missão, e já tinha de ouvir um sermão? Quantas eram as vezes que os outros as falhavam e escapavam.- E não, não te vou castigar por teres falhado uma missão… é pior que isso.- Os pensamentos de injustiça de Matt desapareceram, substituídos por perguntas sem resposta, se não era sobre a missão, o que era tão importante para Chris? Matt sentou-se aguardando ansiosamente o início da conversa. – Sabes Matthew, esperava que fosses mais cuidadoso… sabes que a tua identidade está prestes a ser descoberta…- Chris estendeu um jornal na frente de Matt, que não pode desviar a atenção das letras animalescas no topo da folha. “Tentativa de homicídio falhada na Howard Corp. Dominic Howard terá de apresentar queixa hoje” Matt tentava esconder a surpresa, nem queria acreditar que Dom, iria mesmo apresentar queixa contra ele. – Não quero saber a razão, mas encontraste-te com o Dominic ontem, o que foi das atitudes mais idiotas que alguma vez podias ter tido… mas enfim, vou-te dar uma oportunidade para um segundo encontro- Chris esboçou um sorriso, e Matt sentiu-se horrível, ele sabia muito bem o que aquele sorriso significava – Tens de apanhar esse ricaço até ao meio dia, que é a hora que ele vai apresentar queixa. Depois sabes o que fazer, não me falhes esta…
Prévia do próximo capítulo
É claro que Chris tinha desconfiado do comportamento de Matt, especialmente porque conhecia Matt melhor que ninguém, pelo menos a faceta psicopata dele, não a maneira aterrorizada que lhe olhou no minuto em que esboçou o seu famoso sorriso. Mesmo que Matt escondesse, Chris percebeu, arrancar algum sentimento de Matt era algo fascinante para ele ...
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