Fanfics Brasil - IV- Please, Please let me get what I want Delusional

Fanfic: Delusional | Tema: Muse


Capítulo: IV- Please, Please let me get what I want

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Acordei de uma forma diferente, e devo dizer, bastante mais agradável que nos últimos dias. Tinham passado duas semanas desde que Matt soube sobre o meu pai, e desde aí os seus gritos vindos da cozinha acordavam-me. Ele gritava com todas as suas forças que ainda sobravam no seu estado morto para a minha mãe, denunciando as atitudes do meu pai. O seu gesto deixava-me bastante comovido, mas não podia deixar de ficar agradecido pela minha mãe não lhe conseguir ouvir. Depois de desistir, vinha para o meu quarto, Matt estava bastante diferente desde que tinha assistido aquele episódio com o meu pai. Não sei bem explicar como, já não estava tão alegre como antes, era de esperar, mas parecia exceder um pouco o limite da tristeza que eu esperava dele naquela situação. Mas nunca vou conseguir poder imaginar o sentimento de impotência que ele devia sentir depois de perceber que nunca vai ter voz para o exterior, e que era inutil tentar ajudar-me. Sentava-se na berma da cama, os seus olhos azulados já não brilhavam mais, poderia jurar que nalguns dias, eles tomavam a minha cor. Olhava-me com profunda tristeza nos confins do seu olhar e perguntava bem baixinho.


“- Vais á escola hoje?”


Vou admitir que vê-lo assim partia-me o meu coração já bastante amolgado, mas é difícil de explicar como me sintia ao ver Matt daquela maneira, especialmente desde a manhã de três dias antes…


Flashback on


Era mais um dia normal, os gritos de Matt soavam pouco nítidos, como quando gritamos debaixo de água… Vinham da cozinha, já estava habituado a ouvi-lo gritar, mas já não me incomodava mais, rebolava no colchão e encolhia-me nos lençóis, esperando adormecer outra vez. Os olhos pesavam já bastante e eu estava bastante satisfeito com a ideia de voltar a adormecer. Foi aí que Matt entrou, movi rapidamente os lençóis para cima e olhei para ele, quis esboçar um sorriso e dar-lhe os bons dias de uma forma alegre, pois ficava sempre feliz por vê-lo. Mas a cena que assisti roubou-me qualquer vontade de sorrir. Matt fitava a madeira pintada a spray da secretária, não percebi ao início a sua nova fascinação com a secretária, mas Matt estava algo imóvel, sentado na cadeira cabisbaixo.


– Matt?- Balbuciei ainda com a voz sonolenta da manhã, mas ele não me respondeu, o que era preocupante o suficiente, Matt respondia-me sempre… Depois paralisei com o seu gesto seguinte, foi bastante subtil, mas eu observava-o tão atentamente que não pude deixar de notar… ele tinha soluçado. Saltei da cama e dirigi-me a ele. Finas lágrimas igualmente transparentes como o seu corpo escorriam lentamente pelo seu rosto, e as suas gotas não deixavam qualquer marca na secretária.- Matt! Estás bem?- Ele soltou um dos risos mais cínicos que já ouvi na minha vida e abanou a cabeça, sem ter a coragem de fingir um sorriso. Senti o meu coração cair para as minhas mãos, nunca na vida tive alguém com que me importasse o suficiente para ter cuidado com as minhas ações.


– Não posso fazer nada… - Matt disse, secando as lágrimas, que por um lado já eram secas, mas a ciência dos fantasmas não era algo que me passasse pela cabeça no momento. Coloquei uma expressão triste, mas Matt não reparou, ele ainda nem tinha conseguido erguer a cabeça para me olhar.- Trocava o dom de poder falar contigo só para dizer à tua mãe o que se passa…- Matt murmurou, senti as minhas mãos tremerem, foi a única vez que consegui entender minimamente o sentimento de impotência de Matt… porque não havia nada que eu conseguisse fazer para lhe colocar um sorriso na cara naquele momento, quer dizer, havia… mas eu não podia…- E acredita que seria muito difícil para mim deixar de te falar, porque eu am…- Matt calou-se imediatamente, não entendi o porquê do silencio repentino, ele fitou-me algo hesitante, mas assim que reparou na minha cara completamente confusa, acalmou-se… Quem me dera saber o que ele queria dizer…


Flashback off


Fora a primeira vez que vi Matt triste, ele tinha morrido, visto a sua família desolada sentindo a sua falta. Mas permanecia alegre, não o considerava um fantasma, mas sim um anjo, o seu sorriso era única coisa eficaz o suficiente para me fazer ir à escola com alguma vontade. Porque tinha de ir à escola todos os dias, a carta que continha o meu futuro após o acidente tinha chegado há bastante tempo, dizia apenas que tinha de parar de beber, o que já tinha deixado de fazer. E ir todos os dias para a escola, para se assegurarem disso, procuraram algum voluntário da minha turma para me acompanhar a todas as aulas, eu lembro-me de rir à gargalhada quando soube essa parte, quem, no seu perfeito juízo, iria voluntariamente, acompanhar-me às aulas?


Mas houve alguém… Fiquei um bocado surpreendido porque me tinha esquecido dele nos últimos dias, era Chris Wolstenholme, ele era capitão da equipa de futebol (que era uma das suas maiores paixões). E a única pessoa que me tratava bem depois do acidente, ou em geral. Ele era o mais perto que eu tinha de um amigo naquela espelunca. Mas raramente me lembrava dele, não queria que ninguém se aproximasse de mim, pois era inútil. Chris bem tentou, mas não conseguiu. Não queria que ficasse como Matt…


Voltando ao início, naquela manhã, fora a primeira que Matt não tinha gritado para a minha mãe em semanas. Basicamente, eu dormi com um fantasma, era estranho como ele se tinha tornado tão real, e… sólido... desde aquele abraço, o lençol cobria-o da mesma maneira como me cobria a mim, era como se ele não fosse um fantasma, mas apenas invisível. Ele não dormia, mas abraçou-me e passou a noite toda comigo. Nunca pensei que dormir com um fantasma fosse das experiências mais aconchegantes da minha vida. O seu abraço poderia não ser literalmente caloroso, nem podia ouvir o seu bater de coração o sentir o seu respirar. Mas havia algo no seu abraço… Que me deixava a desejar ser eterno… Acordei, sentia o seu olhar sobre mim, mas ainda não o tinha fitado, mas seria ótimo que aquele azulado fosse a primeira coisa que visse ao acordar. Apressei-me a olhar para ele, ele sorriu e acariciou os meus cabelos, não os podia mover, as suas caricias não passavam de festinhas, mas eu não poderia pedir melhor.


– Bom dia…- Ele disse enquanto me afastava dele e ele se levantava da cama. Fitei o roupeiro enorme que ser erguia no canto do quarto. Não me apetecia levantar… Nunca me apetecia.- Levanta-te! Não queres deixar o teu amiguinho pendurado pois não?- Matt disse com um tom algo cínico, enfatizando a palavra “amiguinho”, nunca percebi a sua atitude com o Chris, mas era bem visível que não gostava dele.


– O que tens contra o Chris?- Já tinha perdido a conta das vezes que lhe tinha perguntado aquilo, em vão, pois Matt arranjava maneira de desviar o assunto. Ele estava estranho ultimamente… Queria tanto o antigo Matt de volta… Mas não conseguia olhar a minha mãe nos olhos e dizer-lhe, mesmo que significasse ver o sorriso de Matt de novo, não aquele que ele me dava ultimamente, o verdadeiro… esse era verdadeiramente encantador…


– Despacha-te…




A conversa entre mim e Matt até foi algo animada enquanto caminhávamos para a escola, mas assim que avistámos o portão da escola, e Chris acenou para mim, Matt calou-se.


– “O que foi?”- Perguntei, algo irritado com a sua atitude, mas Matt apenas amarrou a cara e fitou Chris com desdém. Chris aproximou-se com um sorriso, abandonando o grande círculo de amigos em que estava, futebol era algo importante na escola.


– Bom dia Dom! Como estás?- Chris sorriu contradizendo a expressão emburrada de Matt. Acenei com a cabeça positivamente com um sorriso para Chris, Matt soltou um suspiro pesado de desprezo, cruzando os braços.- Ótimo, oh! A Kelly está ali, desculpa Dom, já venho ter contigo, as aulas começam daqui a cinco minutos de qualquer das formas.- Chris disse com um brilho nos olhos dirigido para a rapariga recém-chegada à escola.


– Aleluia…- Matt suspirou assim que Chris me deixou sozinho, franzi a testa e fitei-o.


– “Qual é a tua com o Chris?!”- Se pudesse falar, iria soar bastante irritado, já estava um pouco farto da sua atitude imatura. – “ Era suposto ficares feliz comigo por ter um amigo!”- Matt arregalou os olhos com a minha atitude. Mas rapidamente voltou a cruzar os braços e a soltar um longo suspiro.


– Desde que não passe disso…- Matt não queria dizer aquilo, pois rapidamente mostrou uma expressão alertada. Ergui as sobrancelhas.


– “ Do que é que estás a falar?”- Matt recompôs-se e fitou-me algo aterrorizado.


– Nada… esquece, o teu amigo está a voltar…- Disse Matt mudando de assunto, não queria, mas esqueci o que ele tinha dito quando as aulas começaram. Já não falavam tão mal de mim assim que tinha começado a andar com o Chris, pois este era considerado o macho alfa da escola. Os idiotas da escola admiravam-no tanto que, se Chris dissesse que o céu era amarelo, toda a gente iria acreditar e jurar a pés juntos o mesmo que ele, apenas para terem a sua atenção.


Pode soar desagradável da minha parte, mas não era nada contra o Chris, de todo, seria bastante feio da minha parte falar mal do único amigo que tinha na escola. Mas era ridícula a maneira como as pessoas lutavam para poder andar com ele… E eu tenha conseguido a sua atenção, mesmo sem o desejar, sem esforço algum. Apenas porque Chris tinha um coração de ouro, ao contrário do estereótipo normal dos miúdos populares, Chris não era superficial nem fútil, não se gabava todos os dias aos idiotas dos amigos sobre ter comido três putas no dia anterior. Pelo contrário, Chris só tinha olhos para a Kelly. Longe de mim partilhar pensamentos positivos sobre Chris com Matt… pois este ainda crescia um ódio por ele que eu não entendia…


Se Chris andava comigo, de repente já não era assassino, alcoólico e deprimido… Mas sim um coitadinho… De repente todos eram meus amigos, cheios de pena repugnante, afastava-os imediatamente. Matt odiava quando alguém me abordava. E eu odiava que tivessem pena de mim.


O toque final soou e a sala esvaziou-se num espaço de microssegundos, levantei-me com o intuito de acompanhar o mar de pessoas que se dirigia para a saída, mas um puxão no braço interrompeu a minha correria. Matt também parou, e assim que viu quem me tinha puxado, fez uma cara tão enraivecida que tive medo. Virei-me e só pela expressão de Matt poderia ter adivinhado que era Chris, ele olhou-me um pouco sério.


– Posso falar contigo?- Matt arqueou a sobrancelha chateado quando Chris me fez a pergunta.


– Não, não podes!- Matt quase gritou atrás de mim, mas obviamente Chris não ouviu.


– Podes…- Disse ainda surpreso com o tom sério que Chris me tinha perguntado, o que teria tamanha urgência para ter de esperar até ao fim das aulas, quando estivesse sozinho? Chris assentiu com a cabeça e olhou em redor, assegurando-se de não haver ninguém por perto, a irritação e curiosidade de Matt era tanta que podia sentir-se mesmo se estivesse a olhar para Chris no momento.


– Só te consegui dizer isto hoje… Sabes… as pessoas nunca me largam, tive de arranjar uma desculpa para poder estar sozinho contigo.- Matt mordeu o lábio inferior com a raiva, nunca vou entender porque estava tão agitado. Acenei positivamente com a cabeça, cheio de curiosidade.- Eu vi… - Arqueei a sobrancelha, viu o quê? Porque é que ele tinha parado tão de repente? Espero que não estivesse a falar de alguma coisa a ver com o Matt, partilhei a expressão aterrorizada de Matt. Chris fitou-me, como se de certa forma entendesse o facto de estar tão aterrorizado. Chris sorriu algo atrapalhado e coçou a parte de trás da cabeça.- Tu e o teu pai… há umas semanas atrás.- Não devia, mas fiquei extremamente aliviado assim que Chris me confirmou desconhecer da minha insanidade mental. Mas depressa fitei Matt, que olhava Chris de uma maneira impossível de descrever, por um lado estava curioso e aliviado, por outro ainda irritado… Eram muitas emoções para uma simples face conseguir demonstrar.- Era para avisar a tua mãe, ou alguém imediatamente… E ainda vou avisar, mas… Quis dizer-to primeiro, porque acho que deverias saber que não vou ficar calado…- Chris olhou-me sério, Matt fitava-o cúmplice e bastante irritado, os sentimentos dele eram demasiado contraditórios para descrever. Senti um grande terror assim que digeri o que Chris me tinha acabado de dizer.


– Não! Não o faças por favor!!!- Chris fitou-me perplexo, depressa coloquei uma expressão falsamente descontraída.- Quer dizer… ela sabe…- Matt pela primeira vez ficou do lado de Chris, soltou um suspiro e tentou gritar a Chris que lhe estava a mentir. Mas em vão. Chris soltou um riso atrapalhado.


– Não… não sabe…- Chris fitou a minha cara espantada com um ar bastante sério. Matt pareceu aliviado.


– Pelo menos não é tão idiota assim…- Ironizou Matt, não lhe consegui responder com nenhuma expressão, pois Chris iria achar que era doido.


– Desculpa Dom…- Chris largou a parte de trás da cabeça e colocou a mão no meu ombro, Matt depressa ficou bastante incomodado com o toque. Chris saiu do corredor, deixando-me perplexo sem conseguir pensar no que iria mudar na minha vida a partir daquele momento. E para me fazer companhia tinha um Matt extremamente irritado apenas com o fato de Chris se ter aproximado de mim…




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– Sai daqui!- gritei, pouco me importando se a minha mãe ouvia ou não… aliás, entre os soluços dela deveria ser impossível ouvir qualquer coisa. Apertei a almofada com tanta força, força que desconhecia ter. Matt olhava-me magoado, era para ele que tinha gritado. Não sei se lhe queria ter gritado ou n&ati ...


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